Até ao final da década, a nossa querida EU pretende impor por decreto, entre outras coisas mirabolantes, como proibir a matança do porco e o queijo da Serra não-pasteurizado em Portugal (mas não os toiros de morte, os jaquinzinhos e as betingas em Espanha), a rádio digital, a televisão digital terrestre (que não é o mesmo que HDTV) e as fontes comutadas nos aparelhos electrónicos. Estas, sobretudo, porque além de introduzirem menos ruído na rede eléctrica, poupam energia. Os chamados “switching amplifiers”, também conhecidos por “Classe D”, como os NuForce, e todos os outros baseados nos módulos de amplificação Hypex, ICE (BelCanto, Jeff Rowland) e Tripath, têm uma eficiência superior a 80%.
A “Classe D” não implica obrigatoriamente uma daquelas fontes comutadas levezinhas isentas de transformador: os CIA, Channel Island Audio, baseados nos Hypex, de Bruno Putzeys, utilizam transformadores toroidais na fonte de alimentação. Há quem considere que os módulos Hypex são os únicos realmente audiófilos, porque todos os outros, incluindo os Nuforce, têm demasiada THD e a resposta em frequência acima dos 20kHz dispara aí uns 10dB, resultando numa falsa sensação de claridade e transparência.
Na revista Vídeo&DVD de Abril 2006, foi publicado um artigo de Bruno Putzeys onde ele defende a sua dama. O artigo técnico em inglês pode ser lido na net em pdf (ver links no final do texto). Claro que a presunção é como a água benta e, nos testes técnicos aos CIA publicados na Stereophile, verifica-se que os módulos Hypex sofrem dos mesmos problemas de todos os outros amplificadores de Classe D, nomeadamente ringing e overshootpresente nas ondas quadradas de alta frequência.
Ou seja, os CIA deixam passar a distorção e a RFI por entre os dedos do mesmo modo que a sua homóloga CIA deixou passar os terroristas. A vantagem dos Hypex é que podemos comprá-los muito mais baratos directamente em kit DIY.
Os Hypex e os Nuforce são muito parecidos, na medida em que, sendo ambos de Classe D, são, no fundo, amplificadores analógicos. Bruno Putzeys explica tudo muito bem no site da Hypex e, no site da Nuforce, também está lá tudo tim-tim por tim-tim, mas optemos pela explicação de Sander Sassem, da Hardware Analysis, que, além de ser independente, é também mais fácil de entender por todos:
Although class-D is often referred to as being a 'digital amplifier' that's not an accurate statement at all. There's nothing digital about these amplifiers, so the 'D' in class-D has no relevance to the word digital. In essence the amplifier works much like an AM-radio. The amplifier oscillates at a given frequency, usually around 400KHz, which is called the carrier-frequency. The audio-signal is then mixed in with this carrier-frequency, so the carrier-frequency becomes amplitude modulated (AM) by the audio-signal, similar to AM-radio signals.
This mixed signal is then amplified and fed through an output filter. This output-filter, which is a classical 12dB/oct. low-pass L/C filter, will filter out the carrier-frequency; hence the net result available at the amplifier's output will be the amplified audio-signal. Class-D offers a number of advantages over the established amplifier technologies such as class-AB. A distinct advantage of this technology is the fact that distortion is kept at a set level across all frequencies. Another advantage is the high efficiency (~90%) requiring less cooling, less stringent power-supply constraints and enabling smaller amplifiers to be built.
Os Nuforce funcionam, portanto, segundo este princípio com algumas variantes. Sendo a principal vantagem o facto de a portadora ser analógica e não a habitual onda triangular que introduz jitter no sinal, também conhecida por “dente de serra”, dos amplificadores de Classe D, que esses sim podem considerar-se “digitais”, se bem que o único verdadeiramente digital seja o TACT (Lyngdorf) Millennium . Há, contudo, características, dos NuForce, longamente enumeradas aqui, que são únicas. Debrucemo-nos apenas sobre aquelas que têm imediatas e óbvias implicações auditivas: a banda larga, o elevado factor de amortecimento e a ausência de filtro de saída, logo de rotação de fase, que se alega na especificações ser: zero!
A primeira sensação que temos quando ouvimos um amplificador NuForce é a de excepcional transparência dos registos médios e o controlo férreo ao nível dos graves que são explosivos e parecem descer mais uma oitava em relação aos amplificadores convencionais. Colunas monitoras de pequeno porte, que antes pareciam limitadas nos graves e anémicas no departamento dinâmico são como que injectadas por esteróides anabolisantes.
Tudo aquilo que se escreveu sobre como os NuForce conseguem separar, diferenciar, dividir, evidenciar as diferentes camadas acústicas nas misturas de estúdio complexas, ou na interacção sala/conteúdo nos registos ao vivo, ao ponto de passarmos a ouvir distintamente “coisas” que antes “não estavam lá”, é também verdade e demonstrável numa audição informal.
Já tenho algumas dúvidas sobre a alegada “limpeza” do agudo, embora não desminta liminarmente a justiça de outros termos utilizados com frequência na imprensa internacional, como “doçura” e “pureza cremosa”. É, aliás, aqui que eu tenho mais dificuldade em perceber como é que um “agudo”, que não perdoa a “sibilância” e a “metalização”, presente em certos registos, pode ao mesmo tempo soar “doce” e “correcto”. A verdade é que soa: sendo incisivo, ninguém de bom senso pode alegar que o agudo dos NuForce é agressivo.
Ao optar pela “rotação de fase zero” em detrimento de uma filtragem mais eficaz para eliminar a presença da portadora, a NuForce deixa-me perante um dilema. Por um lado, desejo que a RFI desapareça, por outro lado, a linearidade de fase favorece de tal forma o enfoque e estabilidade da imagem estereofónica que têm sido uma revelação diária em termos audiófilos. Tal como na imagem fotográfica ou vídeo, detesto a sensação de fuzziness, de ausência de definição, detalhe, recorte. O enfoque aqui tem a precisão dos feixes laser das espingardas de precisão dos snipers: não foge um milímetro do alvo, acerta sempre entre os olhos, ou melhor entre os ouvidos…é tiro e queda.
Contudo, ao contrário de outros críticos, já não fiquei tão deslumbrado com a profundidade do palco sonoro (talvez as válvulas exagerem esta dimensão e eu precise de redefinir os meus conceitos). Do que não restam dúvidas, é que todos os sons ganham autonomia à nascença, libertando-se do jugo das colunas que passam apenas a ser um meio para atingir um fim: a reprodução exacta do conteúdo integral do disco. No plano lateral, o que com muitos amplificadores não passa de: esquerda, centro, direita, ganha aqui uma inesperada evolução geométrica. Mesmo com as colunas próximas uma da outra e ouvidas no campo próximo, como eu gosto, torna-se fácil fazer o mapa mental do palco em papel milimétrico, e apreciar assim melhor o trabalho do engenheiro de som sentado aos comandos da consola de mistura, na busca de espaço para colocar cada instrumento num ambiente sonoro sobrelotado. Com os Nuforce não há sobreposição de planos em nenhuma das três dimensões: largura, altura e profundidade. E cada casulo de ar que envolve os músicos tem cor e forma distintas, como se o timbre deixasse de ser exclusivo dos instrumentos.
Hélas, não posso negar que a RFI está lá e afecta a recepção de rádio. Na presença dos “9”, o meu Tivoli One só reproduz o ruído da portadora. Com rádio, “noves” fora, portanto. Admito até que possa haver quem se sinta afectado subliminarmente pela presença de RFI e a identifique como grão. Que, aliás, tem também um efeito de auto-indução, pois substituindo os cabos de corrente de sector pelos Siltech, que são blindados, é possível, se não eliminar, pelo menos limitar, uma vaga sensação de “oxidação” no espectro superior dos sons metálicos, que inclui as cordas do piano.
No capítulo da dinâmica, entendida enquanto capacidade de “acelerar” entre um nível mínimo de sinal e um nível máximo, sem necessidade de alterar o volume de audição; ou no sentido mais vulgar de “energia”musical, este amplificador é absolutamente espantoso. Neste particular, lembra-me Cèline Dion, uma cantora, também aparentemente anoréctica, que eu detestava, até que a ouvi cantar ao vivo, em Las Vegas. Além da presença elegante, da empatia com o público, da técnica vocal, dicção e respiração perfeitas, o que mais me surpreendeu foi a reserva de energia e a extensão em frequência: quando se pensa que ela já não tem capacidade para ir mais longe numa nota final, ela vai, e vai e vai… e somos nós que ficamos sem fôlego no fim.
Com os Nuforce os crescendos orquestrais…eh…“crescem” indefinidamente, na verdadeira acepção da palavra, como se não houvesse limite do tecto dinâmico. Neste particular, lembram-me os Krells, embora no carácter estejam mais próximos dos Halcro, o que é dizer muito de um amplificador tão pequeno, tão leve e que, sendo igualmente hot stuff, quase não aquece…
O “9” não é “quente” no tom, é “quente” na energia musical que dele emana. Aliás, tanto os tons como os timbres residem no limite da fronteira da neutralidade. O problema é que termos vulgarmente utilizados, como “seco”, que se aplicam amiúde a certos amplificadores convencionais, aqui não significam o mesmo. As vozes e instrumentos soam naturais, cheias, encorpadas, ainda que sem “adiposidades”. Não soando “a transístores”, o Nuforce situa-se nos antípodas das “válvulas”. É esta “terra-de-ninguém” que me deixa perplexo e impotente para o descrever: a audição deve ser, pois, feita sem juízos prévios ou ideias preconcebidas, e exige todo um novo léxico para se poder transmitir a experiência auditiva sem soar a déja vu/entendu.
Até agora, havia os “frutados” e os “secos”, os “eufónicos” e os “analíticos”, os “analógicos” e os “digitais”, os “emotivos” e os “cerebrais”. O Nuforce é tudo isso sem ser nada disso. Ora, quando isto acontece, há logo quem defenda que alguma coisa de muito errado se passa, porque nada nem ninguém pode ser algo e o seu contrário. E assim nasceu a versão SE, que é um claro compromisso para agradar aos críticos. O grave está no limite do “seco”? Vamos dar-lhe mais corpo. Os médios estão no limite do glare? Vamos torná-los mais cremosos. Os agudos são demasiado incisivos? Vamos “limá-los” um pouco…aproximá-los das válvulas. Como se ao adicionar mais manteiga e açúcar ao bolo perfeito se melhorasse a receita. E o que fez a Nuforce para conseguir isso? No site da Nuforce pode ler-se:
· The Reference 9 SE incorporates an improved power supply board with a low-ESR capacitor bank. Further enhancements include a separate switching power supply for the analog front-end, and improvements to the signal input section, including higher performance input capacitors, and the installation of premium 6-nines, PCOCC oxygen-free copper input wiring. To accommodate these enhancements, the maximum continuous output power was lowered slightly as compared to the standard Reference 9.
· Ou seja: agudos ainda mais doces sem comprometer a resposta em frequência; médios mais macios e palpáveis, sem alterar a estrutura harmónica; apresentação musical mais natural e relaxada; graves com a mesma tensão e textura mas com mais corpo. E…menos potência.
Uma vez mais a crítica entrou em parafuso. O que já era perfeito passou a ser mais-que-perfeito. E é aqui que eu discordo em parte. Admito sem medo de me contradizer que os objectivos foram atingidos: o grave é agora mais encorpado, os médios mais palpáveis e os agudos ainda mais refinados. Mas os SE perderam alguma “visceralidade”, eu diria mesmo “maldade”, a que não é alheia a ligeira baixa de potência. É que eu gosto de os ouvir “at the top of their lungs” e aqueles “wattzinhos” fazem-me falta. O grave está mais gostoso e sumarento, sem dúvida, mas perdeu um-tudo-nada no capítulo do ritmo, definição, transparência, extensão, poder e controlo. Se a memória não me está a pregar uma partida (a memória é falível e tem destas coisas…), fiquei mais impressionado com a “crueza dinâmica”, a “claridade deslumbrante” e o “feitio irascível” do grave do 9.02. O súbito “bom comportamento” do SE deixa-me, de novo, perplexo. Ou então, foi porque, desta vez, eu já estava preparado para o que aí vinha e não fui apanhado de surpresa.
Dito assim, o leitor pode até ficar com a ideia de que as diferenças são enormes. Não, elas são mínimas. Mas só há uma forma de as descrever: exagerando-as para as realçar. Aliás, o próprio fabricante chama a atenção para o seguinte:
The Reference 9 SE adds refinement and delicacy to the already excellent-sounding Ref 9. The tonal balance remains unaltered, and when used in less than the most revealing and transparent systems, the advantages of the SE may not be fully realized.
Raramente prefiro a versão standard de um amplificador à special edition. A contradição é ainda maior quando eu sou o primeiro a admitir que a versão SE é “melhor” em todos os aspectos particulares referidos. Quando é que se pode considerar uma personalidade excessivamente exuberante ou apenas cheia de vida? Correndo o risco de ser considerado the fool on the hill, eu não trocava os 9.02 pelos SE. A Nuforce corrigiu, de facto, nos SE tudo (ou quase: continuam a ter o desagradável ruído de comutação e RFI) o que alegadamente estaria, não mal, mas menos bem, nos 9.02 - por mim podia ter mantido a cor preta (ugh!, pior só os DarTzeel que são dourados por fora e azuis e vermelhos por dentro…).
Depois do choque inicial da primeira audição do 9.02, que abalou todas as minhas convicções audiófilas (há coisas que são reproduzidas de forma única pelos NuForce) talvez seja eu que tenha agora que me adaptar lentamente à nova realidade do SE. São demasiadas emoções em tão curto espaço de tempo…
No fim, cabe-lhe a si, caro leitor, decidir como sempre qual deles se adapta melhor ao seu perfil audiófilo (e económico), comparando ambos no seu sistema, nem que seja para concluir, como o Alberto Silva, que eu desta vez não tenho razão. Seja qual for a sua decisão, duvido que se arrependa. Até porque eu não quero ter sempre razão, eu só quero que você seja feliz…
Nota:
Em abono da verdade, declaro que os Nuforce 9SE não foram testados nas melhores condições logísticas e de equipamento complementar. O meu actual sistema de referência, que inclui um par de Martin Logan Summit, não pôde ser utilizado por indicação de Jim Powers, da Martin Logan. De facto, tendo sido alertado pela Nuforce de que existia alguma incompatibilidade entre os NuForce e as ML com graves activos, contactei-o, e Jim informou-me que as Summit e Vantage produzidas até final de 2005 tinham de sofrer um “upgrade” na fonte de alimentação (simples substituição de uma resistência). Segundo ele, a incompatibilidade não implica qualquer perigo para o equipamento, apenas a performance não é tão boa. Aliás, não tem lógica casar um amplificador, cuja principal virtude reside nos graves, com colunas activas. Assim sendo, utilizei no teste auditivo dos “9SE” apenas um par de Sonus Faber Concertino Home e um par de Martin Logan Clarity, apesar de ter disponível um par de Anthony Gallo Ref 3, que ficam para segundas núpcias. Se e quando se justificar será publicado no Hificlube um “Follow Up”.
Em termos tonais, os melhores resultados foram obtidos ligando um leitor-CD Marantz CD63 “Ken Ishiwata”, que tem saídas variáveis, directamente aos amplificadores com cabos Nordost Valhalla. Com o prévio McIntosh MC2200, no modo balanceado, com cabos Siltech longos (3 metros) para evitar interferências da RFI nas válvulas, achei o som mais artificial. Arrisco-me a concluir, sem carácter vinculativo, que os Nuforce soam melhor com prévios passivos (não testei o prévio NuForce).
Mais constatei que ambos os 9SE são “alérgicos” a filtros de corrente de sector como o excelente Isotek Titan, que lhes altera o equilíbrio tonal (o ligeiro “uptilt” que referi no meu teste do Titan, é aqui tudo menos… ligeiro). Do mesmo modo, os 9SE não beneficiam tanto como os 9.02 dos cabos de corrente da Siltech.
Com tantas variáveis, este teste deve ser lido com uma pitada de sala e considerado não mais que um relato pessoal de uma experiência auditiva, estando sujeito a ser revisto no futuro próximo, logo que estejam criadas outras condições de trabalho. Acontece que eu não podia prolongar por mais tempo a sua publicação, por exigência dos leitores, e respeito pelo importador Artaudio.
Links:
Channel Islands Audio
Nuforce
Nuforce reviews
Hypex
Bruno Putzeys white paper
Stereophile: Hypex measurements
Hardware Analysis
Tecnologia Halcro, 'white paper' de Bruce Candy em pdf
A “Classe D” não implica obrigatoriamente uma daquelas fontes comutadas levezinhas isentas de transformador: os CIA, Channel Island Audio, baseados nos Hypex, de Bruno Putzeys, utilizam transformadores toroidais na fonte de alimentação. Há quem considere que os módulos Hypex são os únicos realmente audiófilos, porque todos os outros, incluindo os Nuforce, têm demasiada THD e a resposta em frequência acima dos 20kHz dispara aí uns 10dB, resultando numa falsa sensação de claridade e transparência.
Na revista Vídeo&DVD de Abril 2006, foi publicado um artigo de Bruno Putzeys onde ele defende a sua dama. O artigo técnico em inglês pode ser lido na net em pdf (ver links no final do texto). Claro que a presunção é como a água benta e, nos testes técnicos aos CIA publicados na Stereophile, verifica-se que os módulos Hypex sofrem dos mesmos problemas de todos os outros amplificadores de Classe D, nomeadamente ringing e overshootpresente nas ondas quadradas de alta frequência.
Ou seja, os CIA deixam passar a distorção e a RFI por entre os dedos do mesmo modo que a sua homóloga CIA deixou passar os terroristas. A vantagem dos Hypex é que podemos comprá-los muito mais baratos directamente em kit DIY.
Os Hypex e os Nuforce são muito parecidos, na medida em que, sendo ambos de Classe D, são, no fundo, amplificadores analógicos. Bruno Putzeys explica tudo muito bem no site da Hypex e, no site da Nuforce, também está lá tudo tim-tim por tim-tim, mas optemos pela explicação de Sander Sassem, da Hardware Analysis, que, além de ser independente, é também mais fácil de entender por todos:
Although class-D is often referred to as being a 'digital amplifier' that's not an accurate statement at all. There's nothing digital about these amplifiers, so the 'D' in class-D has no relevance to the word digital. In essence the amplifier works much like an AM-radio. The amplifier oscillates at a given frequency, usually around 400KHz, which is called the carrier-frequency. The audio-signal is then mixed in with this carrier-frequency, so the carrier-frequency becomes amplitude modulated (AM) by the audio-signal, similar to AM-radio signals.
This mixed signal is then amplified and fed through an output filter. This output-filter, which is a classical 12dB/oct. low-pass L/C filter, will filter out the carrier-frequency; hence the net result available at the amplifier's output will be the amplified audio-signal. Class-D offers a number of advantages over the established amplifier technologies such as class-AB. A distinct advantage of this technology is the fact that distortion is kept at a set level across all frequencies. Another advantage is the high efficiency (~90%) requiring less cooling, less stringent power-supply constraints and enabling smaller amplifiers to be built.
Os Nuforce funcionam, portanto, segundo este princípio com algumas variantes. Sendo a principal vantagem o facto de a portadora ser analógica e não a habitual onda triangular que introduz jitter no sinal, também conhecida por “dente de serra”, dos amplificadores de Classe D, que esses sim podem considerar-se “digitais”, se bem que o único verdadeiramente digital seja o TACT (Lyngdorf) Millennium . Há, contudo, características, dos NuForce, longamente enumeradas aqui, que são únicas. Debrucemo-nos apenas sobre aquelas que têm imediatas e óbvias implicações auditivas: a banda larga, o elevado factor de amortecimento e a ausência de filtro de saída, logo de rotação de fase, que se alega na especificações ser: zero!
A primeira sensação que temos quando ouvimos um amplificador NuForce é a de excepcional transparência dos registos médios e o controlo férreo ao nível dos graves que são explosivos e parecem descer mais uma oitava em relação aos amplificadores convencionais. Colunas monitoras de pequeno porte, que antes pareciam limitadas nos graves e anémicas no departamento dinâmico são como que injectadas por esteróides anabolisantes.
Tudo aquilo que se escreveu sobre como os NuForce conseguem separar, diferenciar, dividir, evidenciar as diferentes camadas acústicas nas misturas de estúdio complexas, ou na interacção sala/conteúdo nos registos ao vivo, ao ponto de passarmos a ouvir distintamente “coisas” que antes “não estavam lá”, é também verdade e demonstrável numa audição informal.
Já tenho algumas dúvidas sobre a alegada “limpeza” do agudo, embora não desminta liminarmente a justiça de outros termos utilizados com frequência na imprensa internacional, como “doçura” e “pureza cremosa”. É, aliás, aqui que eu tenho mais dificuldade em perceber como é que um “agudo”, que não perdoa a “sibilância” e a “metalização”, presente em certos registos, pode ao mesmo tempo soar “doce” e “correcto”. A verdade é que soa: sendo incisivo, ninguém de bom senso pode alegar que o agudo dos NuForce é agressivo.
Ao optar pela “rotação de fase zero” em detrimento de uma filtragem mais eficaz para eliminar a presença da portadora, a NuForce deixa-me perante um dilema. Por um lado, desejo que a RFI desapareça, por outro lado, a linearidade de fase favorece de tal forma o enfoque e estabilidade da imagem estereofónica que têm sido uma revelação diária em termos audiófilos. Tal como na imagem fotográfica ou vídeo, detesto a sensação de fuzziness, de ausência de definição, detalhe, recorte. O enfoque aqui tem a precisão dos feixes laser das espingardas de precisão dos snipers: não foge um milímetro do alvo, acerta sempre entre os olhos, ou melhor entre os ouvidos…é tiro e queda.
Contudo, ao contrário de outros críticos, já não fiquei tão deslumbrado com a profundidade do palco sonoro (talvez as válvulas exagerem esta dimensão e eu precise de redefinir os meus conceitos). Do que não restam dúvidas, é que todos os sons ganham autonomia à nascença, libertando-se do jugo das colunas que passam apenas a ser um meio para atingir um fim: a reprodução exacta do conteúdo integral do disco. No plano lateral, o que com muitos amplificadores não passa de: esquerda, centro, direita, ganha aqui uma inesperada evolução geométrica. Mesmo com as colunas próximas uma da outra e ouvidas no campo próximo, como eu gosto, torna-se fácil fazer o mapa mental do palco em papel milimétrico, e apreciar assim melhor o trabalho do engenheiro de som sentado aos comandos da consola de mistura, na busca de espaço para colocar cada instrumento num ambiente sonoro sobrelotado. Com os Nuforce não há sobreposição de planos em nenhuma das três dimensões: largura, altura e profundidade. E cada casulo de ar que envolve os músicos tem cor e forma distintas, como se o timbre deixasse de ser exclusivo dos instrumentos.
Hélas, não posso negar que a RFI está lá e afecta a recepção de rádio. Na presença dos “9”, o meu Tivoli One só reproduz o ruído da portadora. Com rádio, “noves” fora, portanto. Admito até que possa haver quem se sinta afectado subliminarmente pela presença de RFI e a identifique como grão. Que, aliás, tem também um efeito de auto-indução, pois substituindo os cabos de corrente de sector pelos Siltech, que são blindados, é possível, se não eliminar, pelo menos limitar, uma vaga sensação de “oxidação” no espectro superior dos sons metálicos, que inclui as cordas do piano.
No capítulo da dinâmica, entendida enquanto capacidade de “acelerar” entre um nível mínimo de sinal e um nível máximo, sem necessidade de alterar o volume de audição; ou no sentido mais vulgar de “energia”musical, este amplificador é absolutamente espantoso. Neste particular, lembra-me Cèline Dion, uma cantora, também aparentemente anoréctica, que eu detestava, até que a ouvi cantar ao vivo, em Las Vegas. Além da presença elegante, da empatia com o público, da técnica vocal, dicção e respiração perfeitas, o que mais me surpreendeu foi a reserva de energia e a extensão em frequência: quando se pensa que ela já não tem capacidade para ir mais longe numa nota final, ela vai, e vai e vai… e somos nós que ficamos sem fôlego no fim.
Com os Nuforce os crescendos orquestrais…eh…“crescem” indefinidamente, na verdadeira acepção da palavra, como se não houvesse limite do tecto dinâmico. Neste particular, lembram-me os Krells, embora no carácter estejam mais próximos dos Halcro, o que é dizer muito de um amplificador tão pequeno, tão leve e que, sendo igualmente hot stuff, quase não aquece…
O “9” não é “quente” no tom, é “quente” na energia musical que dele emana. Aliás, tanto os tons como os timbres residem no limite da fronteira da neutralidade. O problema é que termos vulgarmente utilizados, como “seco”, que se aplicam amiúde a certos amplificadores convencionais, aqui não significam o mesmo. As vozes e instrumentos soam naturais, cheias, encorpadas, ainda que sem “adiposidades”. Não soando “a transístores”, o Nuforce situa-se nos antípodas das “válvulas”. É esta “terra-de-ninguém” que me deixa perplexo e impotente para o descrever: a audição deve ser, pois, feita sem juízos prévios ou ideias preconcebidas, e exige todo um novo léxico para se poder transmitir a experiência auditiva sem soar a déja vu/entendu.
Até agora, havia os “frutados” e os “secos”, os “eufónicos” e os “analíticos”, os “analógicos” e os “digitais”, os “emotivos” e os “cerebrais”. O Nuforce é tudo isso sem ser nada disso. Ora, quando isto acontece, há logo quem defenda que alguma coisa de muito errado se passa, porque nada nem ninguém pode ser algo e o seu contrário. E assim nasceu a versão SE, que é um claro compromisso para agradar aos críticos. O grave está no limite do “seco”? Vamos dar-lhe mais corpo. Os médios estão no limite do glare? Vamos torná-los mais cremosos. Os agudos são demasiado incisivos? Vamos “limá-los” um pouco…aproximá-los das válvulas. Como se ao adicionar mais manteiga e açúcar ao bolo perfeito se melhorasse a receita. E o que fez a Nuforce para conseguir isso? No site da Nuforce pode ler-se:
· The Reference 9 SE incorporates an improved power supply board with a low-ESR capacitor bank. Further enhancements include a separate switching power supply for the analog front-end, and improvements to the signal input section, including higher performance input capacitors, and the installation of premium 6-nines, PCOCC oxygen-free copper input wiring. To accommodate these enhancements, the maximum continuous output power was lowered slightly as compared to the standard Reference 9.
· Ou seja: agudos ainda mais doces sem comprometer a resposta em frequência; médios mais macios e palpáveis, sem alterar a estrutura harmónica; apresentação musical mais natural e relaxada; graves com a mesma tensão e textura mas com mais corpo. E…menos potência.
Uma vez mais a crítica entrou em parafuso. O que já era perfeito passou a ser mais-que-perfeito. E é aqui que eu discordo em parte. Admito sem medo de me contradizer que os objectivos foram atingidos: o grave é agora mais encorpado, os médios mais palpáveis e os agudos ainda mais refinados. Mas os SE perderam alguma “visceralidade”, eu diria mesmo “maldade”, a que não é alheia a ligeira baixa de potência. É que eu gosto de os ouvir “at the top of their lungs” e aqueles “wattzinhos” fazem-me falta. O grave está mais gostoso e sumarento, sem dúvida, mas perdeu um-tudo-nada no capítulo do ritmo, definição, transparência, extensão, poder e controlo. Se a memória não me está a pregar uma partida (a memória é falível e tem destas coisas…), fiquei mais impressionado com a “crueza dinâmica”, a “claridade deslumbrante” e o “feitio irascível” do grave do 9.02. O súbito “bom comportamento” do SE deixa-me, de novo, perplexo. Ou então, foi porque, desta vez, eu já estava preparado para o que aí vinha e não fui apanhado de surpresa.
Dito assim, o leitor pode até ficar com a ideia de que as diferenças são enormes. Não, elas são mínimas. Mas só há uma forma de as descrever: exagerando-as para as realçar. Aliás, o próprio fabricante chama a atenção para o seguinte:
The Reference 9 SE adds refinement and delicacy to the already excellent-sounding Ref 9. The tonal balance remains unaltered, and when used in less than the most revealing and transparent systems, the advantages of the SE may not be fully realized.
Raramente prefiro a versão standard de um amplificador à special edition. A contradição é ainda maior quando eu sou o primeiro a admitir que a versão SE é “melhor” em todos os aspectos particulares referidos. Quando é que se pode considerar uma personalidade excessivamente exuberante ou apenas cheia de vida? Correndo o risco de ser considerado the fool on the hill, eu não trocava os 9.02 pelos SE. A Nuforce corrigiu, de facto, nos SE tudo (ou quase: continuam a ter o desagradável ruído de comutação e RFI) o que alegadamente estaria, não mal, mas menos bem, nos 9.02 - por mim podia ter mantido a cor preta (ugh!, pior só os DarTzeel que são dourados por fora e azuis e vermelhos por dentro…).
Depois do choque inicial da primeira audição do 9.02, que abalou todas as minhas convicções audiófilas (há coisas que são reproduzidas de forma única pelos NuForce) talvez seja eu que tenha agora que me adaptar lentamente à nova realidade do SE. São demasiadas emoções em tão curto espaço de tempo…
No fim, cabe-lhe a si, caro leitor, decidir como sempre qual deles se adapta melhor ao seu perfil audiófilo (e económico), comparando ambos no seu sistema, nem que seja para concluir, como o Alberto Silva, que eu desta vez não tenho razão. Seja qual for a sua decisão, duvido que se arrependa. Até porque eu não quero ter sempre razão, eu só quero que você seja feliz…
Nota:
Em abono da verdade, declaro que os Nuforce 9SE não foram testados nas melhores condições logísticas e de equipamento complementar. O meu actual sistema de referência, que inclui um par de Martin Logan Summit, não pôde ser utilizado por indicação de Jim Powers, da Martin Logan. De facto, tendo sido alertado pela Nuforce de que existia alguma incompatibilidade entre os NuForce e as ML com graves activos, contactei-o, e Jim informou-me que as Summit e Vantage produzidas até final de 2005 tinham de sofrer um “upgrade” na fonte de alimentação (simples substituição de uma resistência). Segundo ele, a incompatibilidade não implica qualquer perigo para o equipamento, apenas a performance não é tão boa. Aliás, não tem lógica casar um amplificador, cuja principal virtude reside nos graves, com colunas activas. Assim sendo, utilizei no teste auditivo dos “9SE” apenas um par de Sonus Faber Concertino Home e um par de Martin Logan Clarity, apesar de ter disponível um par de Anthony Gallo Ref 3, que ficam para segundas núpcias. Se e quando se justificar será publicado no Hificlube um “Follow Up”.
Em termos tonais, os melhores resultados foram obtidos ligando um leitor-CD Marantz CD63 “Ken Ishiwata”, que tem saídas variáveis, directamente aos amplificadores com cabos Nordost Valhalla. Com o prévio McIntosh MC2200, no modo balanceado, com cabos Siltech longos (3 metros) para evitar interferências da RFI nas válvulas, achei o som mais artificial. Arrisco-me a concluir, sem carácter vinculativo, que os Nuforce soam melhor com prévios passivos (não testei o prévio NuForce).
Mais constatei que ambos os 9SE são “alérgicos” a filtros de corrente de sector como o excelente Isotek Titan, que lhes altera o equilíbrio tonal (o ligeiro “uptilt” que referi no meu teste do Titan, é aqui tudo menos… ligeiro). Do mesmo modo, os 9SE não beneficiam tanto como os 9.02 dos cabos de corrente da Siltech.
Com tantas variáveis, este teste deve ser lido com uma pitada de sala e considerado não mais que um relato pessoal de uma experiência auditiva, estando sujeito a ser revisto no futuro próximo, logo que estejam criadas outras condições de trabalho. Acontece que eu não podia prolongar por mais tempo a sua publicação, por exigência dos leitores, e respeito pelo importador Artaudio.
Links:
Channel Islands Audio
Nuforce
Nuforce reviews
Hypex
Bruno Putzeys white paper
Stereophile: Hypex measurements
Hardware Analysis
Tecnologia Halcro, 'white paper' de Bruce Candy em pdf