Admito que as regras eram algo confusas e, portanto, foram feitos alguns esclarecimentos a todos os que, tendo-se esforçado, não tinham percebido que, independentemente do tratamento do tema principal, o Hificlube e o Hifishow tinham de ser referidos.
Restava assim a originalidade e, por último, a qualidade da escrita (e não a quantidade), com ênfase na correcta exposição das ideias e alguma tolerância sintáctica e ortográfica, como prometido.
Como sempre acontece nesta circunstâncias, lidas atentamente as dezenas de textos enviados, a dificuldade estava na escolha, em especial decidir a quem atribuir o 1º Prémio, pois a diferença do valor é muito superior à diferença, por vezes mínima - e sempre subjectiva - da qualidade média dos textos entre si.
A originalidade é algo de muito controverso, porque muito do que é 'original' já foi dito e escrito milhares de vezes por outros antes de nós. Forçar a nota pode dar fífia. A originalidade reside tanto no arrojo e irreverência do tema como na exposição clara e fluida das ideias. Tentei assim avaliar os diferentes tipos de originalidade: estéticas e de conteúdo, incluindo-se nestas últimas o correcto enquadramento no tema proposto da criação de situações de humor, que, em pelo menos dois dos casos, rivalizam com o 'Gato Fedorento', de forma a obter uma classificação equilibrada e, na medida do possível, justa.
Porque justo mesmo seria oferecer uma par de Elipsas a cada um dos participantes...
Claro que o concorrente que lograsse conciliar no seu texto a originalidade e a qualidade da escrita seria o vencedor. E assim foi.
Rui Valdiviesso recebe na loja TRANSOM, em Campolide, o par de colunas B&W CM1 correspondente ao 1º PRÉMIO do Concurso de Escrita Audiófila promovido pelo HIFICLUBE, no âmbito do HIFISHOW 2007.
1º PRÉMIO
O AR
Eis o texto vencedor, que eu próprio não me importaria de ter assinado: cumpre integralmente o regulamento, é original, sucinto, e a escrita, que, sendo sobre música, utiliza a técnica do leit-motif, é simples, correcta, elegante e fluida. A Arte de escrever pouco e dizer muito.
O ar. Coisa sublime pensar que o mesmo ar que respiramos é aquele que nos permite ouvir. Leis da Física à parte, permito-me metaforizar o ar como a escultura do músico e o Hifi como a sua mais sentida homenagem: a imitação.
Só é possível respeitar o trabalho do artista imitando-o o mais próximo da sua essência. Sem tirar nem pôr. É esse o verdadeiro prazer de ouvir música: sentir a proximidade do músico e da sua obra, mesmo que separados por tempo e espaço.
Não se trata só de ouvir. O Hifi coloca-nos num mundo à parte. Situa-nos na realidade tangencial das ideias e emoções da composição. Leva-nos em viagens indescritíveis pelos campos de batalha de 1812 onde, em êxtase, Tchaikovsky faz ribombar canhões. À mente obscura de Mussorgsky, penetrando em quadros de uma exposição. Dos ritmos quentes de Cuba, à coolness do sax de Coltrane.
Neste sentido, o equipamento Hifi é uma orquestra em segunda-mão. Cada cabo, cada célula, cada transístor é um instrumento musical ao serviço da arte e da sua finalidade: tocar as pessoas.
Há fabricantes que entendem esta missão e militam reverentemente pela criação de peças de culto que leiam, amplifiquem e traduzam a magia da música.
Outra Arte não menor é divulgar estas ideias com clarividência. Então, o Hificlube é, antes de mais, um serviço público na demanda do prazer da reprodução musical. E uma referência em termos de qualidade, informação, abrangência de conceitos e independência.
Das ideias aos projectos, das palavras à pureza do som, espero do Hifishow 2007 que seja como uma exposição de Arte. Cada peça, uma obra. Cada sistema, uma interpretação da realidade.
Rui Valdiviesso, Porto
2º PRÉMIO
Carlos Cavaco, Massamá
Carlos Cavaco, JVH e a equipa da HDMC. Carlos ganhou um saco de imprensa modelo exclusivo da CES, Las Vegas
Carlos Cavaco escreveu um interessante e bem humorado conto do quotidiano, quase um 'script' de 'sketch' de televisão, recorrendo aos diálogos vivos e verosímeis de um casal a caminho do Hifishow, sem nunca se desviar do regulamento, narrando de forma original os temas propostos.
A MINHA MÚSICA É OUTRA
O caminho parecia sempre infindável, o pára-arranca mesmo ao Sábado é de fazer roer as unhas até ao sabugo, menos-mal que o locutor da Marginal nesse Sábado estava virado para a Ella. Passava uma música com 'big band', quando chegar a ver se lhes telefono a pedir o nome e a editora, talvez fosse a tempo de procurar no Hifishow.
- Mas para que raio vais tu todos os anos para essa berraria, santo Cristo? Não te chega a que lá tens em casa? Aquilo é sempre a mesma coisa todos os anos…
A companhia de tantos anos não tinha ainda adoçado a aversão da Laura pelas exibições e demonstrações dos, como eu lhes chamo, 'equipamentos'; sim, porque para a 'sua' música e o bailarico a moça estava sempre pronta, benza-a Deus!
- Não é a mesma coisa, não senhor!! Este ano até parece que estão previstas muitas novidades, ainda mais que o gira discos já tem 20 anos e tenho de começar a pensar num substituto que aguente os próximos 20.
- Ai, lá vêm as rodelas pretas, mais as lupas para afinar a 'cabeça' porque já não vês bem ao perto e as arranhadelas nas prateleiras aos 'andares', ele há cada mania que se agarra, faz como eu, que quando estou a passar a ferro ponho o computador a tocar um CD ou o MP3 com as músicas da miúda, não andes às voltas com essas coisas do milénio passado...
Não pude deixar de rever algumas das figuras tristes que faço desde há trinta anos e sorrir das mesmas, enquanto metia mais uma primeira; de cócoras às 2 da manhã à procura de parafusos e porcas diminutos que deixei cair, em tardes de Sábado chuvosas a 'lavar' vinilos de empreitada, as angústias depois de refazer ligações pela enésima vez ou de substituir mais alguma peça de 'equipamento', não fosse o diabo tecê-las e estar alguma coisa em curto-circuito. Só que já perdi a conta das vezes que dei comigo com as lágrimas a alagarem os olhos quando a Banda do Casaco, ou a Billie, ou o Amadeu, ou o Paredes rodam a 33 e 1/3 e emoções saltam do plástico para o meu colo sem pedir licença.
- Anda lá homem, o gajo de trás já está a apitar. O que é que você quer, está com pressa?... Olhe que aqui na cidade só se pode andar a 50!!...
- Deixa Laura, vou passar umas horas num local de prazer e não me apetece ir irritado.
- Pois, para ti até pode ser um prazer, mas eu também tenho que aguentar a seca.
- Ora, dizes que é uma seca mas passas sempre uma data de tempo a abanar a carola nos vídeo-clips, a mexer nos equipamentos e a vasculhar nos CD's, olha vê lá se consegues encontrar é o dos Buraka Som Sistema, a miúda está farta de pedir...
Se fosse eu a mexer nos equipamentos como faz a Laura de certeza que me punham fora dos 'stands', mas nestas coisas, como em muitas outras, ser mulher e gira dá direito a alguns privilégios. Para mim, o que gosto é de ouvir, quase sempre de olhos fechados, por isso a estética é secundária. Já quanto à qualidade de construção, aí temos outra conversa, tantas vezes que me olharam com cara de poucos amigos porque dou pancadinhas nos laterais das colunas, ou levanto algum componente para ver se se deforma e range, ou me ponho em posições pouco recomendáveis para observar os paralelismos e empenos…Este ano vou comportar-me melhor, prometo.
- Ufa, já chegámos, estava a ver que tinha que cá ficar a dormir para amanhã.
- 'Bora, que a demonstração da Imacústica já deve estar a abarrotar, a ver se desta vez tenho mais sorte que o ano passado, fiquei encostado a uma parede lateral e não tinha estéreo nenhum.
- Ficas lá tu, que essas demonstrações do estéreo são para aqueles teus amigos chanfrados lá do Hificlube; eu cá vou à procura de música para mim e cocar uns vídeo-clips nas demonstrações dos plasmas.
- Ok, deixa lá o Hificlube sossegado, encontramo-nos aqui no carro a que horas?
A vida a dois é mesmo assim, as concessões mútuas e a tolerância são a base das relações duradouras, já nem me lembro onde, ou a quem, é que ouvi isto! O Hificlube sempre foi um dos portos de abrigo quando tenho vontade de vender a parafernália toda e comprar um iPod. Por sinal até já ouvi umas músicas num ou dois que não me desgostaram…
- Ouué, Caaarlos!!
- Ó pá, Hélder, não te via há tanto tempo, ainda bem que te encontro, queres fazer a volta comigo?
- Tá, mas tenho de passar primeiro na Linn, porque preciso de uma correia e óleo para o gira discos.
- Não sei se te safas, ainda tens o Axis?
- Ná, comprei um…
Ainda bem que vos encontro, em pessoa ou por outro qualquer meio mais tecnológico, amigos e amantes da música. Sim, porque o nosso elo comum é apreciar música, reproduzida o mais próximo possível de como ela é na realidade; nunca o esquecerei, porque só esse objectivo final justifica a busca de equipamentos complexos, caros, temperamentais tantas vezes, o tempo gasto na busca de soluções para incompatibilidades, o aguentar horas para chegar, entrar e esperar no HifiShow pelas 'demonstrações' que julgamos serem a porta de entrada para mais perto do paraíso. Mesmo quando algumas acabam por ser apenas antevisões do inferno…
Carlos Cavaco, Massamá
3º PRÉMIO
Vítor Moreira, Maia
Vitor Moreira faz a fotografia da praxe depois de receber o Blu-Ray de James Bond.
O texto de Vítor Moreira revela a arte da escrita moderna: rápida, descritiva e sem pontuação, a opinião séria (outros houve bem mais elogiosos à minha pessoa que não venceram) e a sugestão válida.
A importância do hifi na minha vida em flashback
Tenra idade - avô paterno rádio a válvulas osciloscópio verde sintonia fascínio vozes claras ritmos suaves transístor a pilhas prático estridente adolescência gira discos EPs bailes piqueniques namoro sofá aparelhagem em órbita tropa primeiro ordenado vadeca estereosom clave primeiro sistema stereo receiver ARs castro armindo fio telefónico thorens LPs o vagar das válvulas a transístores o prazer de ouvir música emprego novos auditórios outra vez válvulas luz electricidade a jorros o aroma luxuoso da queima dos componentes a importância da fonte modas&marketing casamento filhos VHSs V8s CDs telecomandos hifinews hifishows internet downloads ipods sem fios sem cheiro cinema em casa futebol em casa jogos em casa... E, no futuro próximo, super servers globais, projecções virtuais e controladores mentais do som, da imagem, das emoções, dos pensamentos e das acções. Sem écrans, nem telas, cabos, comandos, armários, suportes e outras parafernálias do passado. Tudo montado e ajustado às especificações de cada um (auditivas e outras) e a usar fora de casa.
Hificlube uma janela aberta para o mundo do áudio: o prazer de ler JVH
Com uma escrita leve, estruturada, rigorosa e na medida adequada, partilha com os seus leitores uma informação filtrada, sintetizada e servida ao domicílio sem 'posts' despropositados, publicidade inadequada nem subscrições a pagar. Com frases 'simples' como 'a estranha liquidez cintilante das válvulas', proporciona aos seus leitores o privilégio de, com um pouco de imaginação, perceberem os pormenores ínfimos, as subtis diferenças, as logarítmicas vantagens de um som sobre outro. É uma página web descomplicada, de aspecto limpo e com um acervo fácil de aceder. O posicionamento quanto à panóplia de interesses em jogo, adjacentes às opiniões emitidas, parece-me correcto. E deve ser um equilíbrio bem difícil de manter. Uma palavra a mais ou uma referência a menos, podem ferir susceptibilidades. Enfim, é um 'endereço' que se recomenda guardar nos 'Favoritos', consultar amiúde e 'Pesquisar' quando necessário.
Hifishow 2007
É uma experiência que surge pertinentemente, após o mau exemplo das 'Feiras de electrodomésticos' e dos primeiros ensaios, bem sucedidos, no rumo certo. Três jovens empresários perceberam que não se devem misturar alhos com bugalhos e arrojaram-se a organizar shows audio e vídeo com qualidade consentânea à dos produtos apresentados. E foi um sucesso. Porque quer os consumidores, quer os profissionais do meio, depois do que já 'provaram' em tempo de vacas gordas e do nível de cultura audiófila que atingiram, querem ser tratados com dignidade e respeito. Julgo que a adesão ao Hifishow 2007, em Lisboa, de alguns representantes que falharam o Hifishow 2006, no Porto, é o reconhecimento deste facto. A não ser que seja por uma questão de escala...
Agora, cabe ao público comparecer e participar. Será um justo prémio para todos os intervenientes, organizadores e participantes e um sinal de que as coisas vão 'andar para a frente', evoluindo naturalmente. Ao menos neste sector.
Vitor Moreira
4º PRÉMIO
Luís Neiva, Barcelos (não compareceu)
Luis Neiva descreve o seu quotidiano com música e as suas angústias audióflas, num registo confessional.
18:30
Acabou o dia no trabalho, mas começou o trabalho na obra permanentemente inacabada, a obra que dá prazer construir e usufruir. Vamos mudando, ouvindo, um passo à frente e por vezes outro atrás. O acto de ouvir música conscientemente tornou-se de há uns anos para cá no meu part-time a tempo inteiro com horário indefinido. Ouvir música leva-nos para onde queremos ir, deixa-nos sonhar e imaginar os cenários que compôem a obra, o que nem sempre é um processo linear nem tão pouco um com final feliz.
A mim atrai-me a tragédia, só a tristeza cantada ou tocada é bela, por isso ouço Puccini e não Scissor Sisters ou outros artistas arrebatados pelos poderes da beat-box, que mecanicamente e sem alma cria a base de um cenário músical. É aqui que se me revela o prazer de ouvir música, ouço até que os pêlos dos braços se levantem, nem que seja preciso subir muito o volume, trocar o cd, apagar a luz, fechar os olhos, ou mudar as colunas de posição.
Uma vez aqui chegados queremos mais, e para isso procuramos mais, procuramos o que pode estar escondido e que por milagre torne os albums de Led Zeppelin em autênticas pérolas audiófilas de resolução superior. Hummm, talvez o problema esteja nos cabos, se o cobre transporta a alma é bom que este cobre tenha uma receita especial, uma fórmula inventada por cientistas para deixar passar a poesia. Por isso troco os cabos e passo os solid-core para os graves e os multifilares para os agudos, e agora procuro as diferenças que me permitam ver a luz.
O único senão de ver a luz, é que a partir daí não a queremos deixar fugir, e tentamos encontrar as nuances perdidas numa cópia mal efectuada ou numa gravação deslavada de alma sem nunca nos passar pela cabeça que aquele disco pode não ter salvação. Se calhar umas monitoras resolviam isto...
Se me sai a taluda compro um sistema para Rock, outro para Clássica, outro para Jazz, e ainda um para a tv.
É esta fome de palcos sonoros fiéis que me move e me faz pesquisar e ouvir novos elementos que me possam levar ao meu nirvana. Entre tantas opções que inundam o mercado, cada uma delas é meticulosamente analisada e sentenciada, no meio deste julgamento procuro aquele que me transmita som no papel.
Normalmente é aqui que a porca torçe o rabo, as especificações técnicas a mim não me interessam para nada, privilegio pois uma leitura com aroma, com coração, e obviamente com sentido de humor. Apesar de passar por alguns forums e ler alguns dos tópicos é sempre com curiosidade que clico no link do Hificlube, pois é aqui que os textos me cativam e movem à procura do meu Sonic Graal. Para muita pena minha não é todos os dias que são publicados novos textos, o que não posso levar a mal. Se eu também tivesse acesso a todos esses equipamentos, certamente que ouviria muito mais do que escreveria.
Tentamos manter o tal 'part-time' a par com as últimas novidades e também por isso não perdemos a oportunidade de as ver ao vivo. Se o High-End Show foi para mim uma óptima surpresa é com alguma curiosidade que espero ver as novidades que vão surgir no HiFi Show em Abril. Não estou à espera de ver a luz, mas estou certamente à espera de mais um conjunto que me deixe a sonhar como o que a Top Audio apresentou no High-End Show: JM Lab Grand Utopia / Chord. Apesar de na minha opinião as potencialidades do sistema não terem sido todas demonstradas, nem o baixo volume cortou a magia que pairava à volta do sistema (àquele preço é realmente uma utopia).
Na vida como no audio há experiências que nos marcam, e se tivermos a sorte de poder comprar um 'repetidor' de experiências como uma aparelhagem Hi-Fi que nos forneça alimento para a alma, então aí sim sabemos que estamos a expremer o sumo da vida.
Luis Neiva, Barcelos
5º PRÉMIO
Pedro Costa, Lisboa
Pedro (à direita na foto) posa com JVH e dois concorrentes agraciados com menção honrosa: Edgar Rodrigues, do Funchal; e à esquerda na foto Edgar Valente, de Évora
Num registo burlesco, Pedro Costa compara a performance sexual entre parceiros diferentes, quantificadas por um prazerímetro, com a audição musical, na busca de sinergias entre corpos que possam ser adaptadas aos equipamentos de som.
A Relatividade do prazer
Como tudo na vida, o prazer de ouvir música estará sujeito à relatividade. Sim! É dessa mesmo que está a pensar.
A minha ideia é fazer um ensaio científico de modo a entender se o prazer é uma grandeza absoluta como a velocidade da luz, ou se, pelo contrário, é uma grandeza relativa e, portanto, sujeita a outras variáveis. Aliás, como Einstein teorizou e muito bem, antes de mim, embora para uma outra questão. Digamos que ele tratou da luz e eu trato do som.
A minha experiência é todavia mais exequível.
Suponhamos dois indivíduos A e B. Um deles será lindo, louro e irresistível, daqueles que aparecem nos anúncios de perfumes e capaz de tirar do sério qualquer dona de casa menos assistida. O outro, um trolha, estilo emplastro.
Escolhidos estes dois sujeitos, passemos ao casting feminino. Escolheríamos uma voluptuosa participante do reality em curso e para contraste… qualquer coisa feiosa. Preferencialmente adversa à depilação.
Casting feito, avança-se para 'laboratório'.
Se confrontássemos o rapaz charmoso com a tal que não reconhece a imagem de Camões no ecrã, seria teoricamente possível atingirmos o índice 100 no nosso 'prazerímetro' de ensaio (um máximo na escala).
No ensaio ao lado teríamos o trolha com a coitada e caso este não 'compareça' há uns tempos, hipótese a não envidar, teríamos também um valor elevado. Apostaria nuns 90, depende se a moça é desdentada ou não.
Fazia-se agora um 'swing' e novo ensaio.
Aposto que o tal rapaz giraço não passava do índice 10 numa perspectiva já muito optimista. Por outro lado, o tal moço que dá pelo nome de emplastro, ao ver-se com a miúda da Tv, muito possivelmente passava-se e avariava-nos o equipamento de medida, mas seria aí coisa para uns 350.
Ao fazer a média como no 'Dança Comigo' teríamos a média das duas performances: de 60 para o mais bonito e uma média de 220 para o mais foleiro.
Se não fosse a gozar, deste ensaio poder-se-ia concluir uma de duas coisas. Ou os gajos foleiros conseguem muito mais prazer que os giros, ou então o prazer é então uma grandeza absoluta.
Como a velocidade da luz, que não é mais rápida por nenhuma outra razão.
Por analogia, como será para si o prazer de ouvir música? Dependerá assim tanto do equipamento?
Será, porventura, relativa a muitas outras variáveis, como disposição e tolerância dos vizinhos. Mas para mim, música é música e oiço-a nem que seja em mp3.
Claro que tenho um excelente sistema em casa, mas quero acreditar que é apenas mais uma variável nesta equação da relatividade. Como o será, um bom sofá. De pouco me servem umas Martin Logan se tiver de ficar sentado num banco de cozinha a escutá-las.
Os shows de Hi-Fi servirão (à parte da divulgação comercial) como painéis de referência. E referências são fundamentais na nossa evolução.
Nunca esteve em cocktails em que os croquetes têm o tamanho de chouriços? Ou encontrou camarões com casca num jantar volante? Pois bem! São exemplos do que não deve fazer nas suas recepções.
O requinte, entendido como mais uma variável da tal equação, aprende-se: Observando, escutando opiniões e nisso o Hificlube é inquestionavelmente um pilar. Engana-se quem tentar olhar para este portal como uma 'wizard' de aquisições. O Hificlube estará muito para além disso. É, acima de tudo, uma fonte de discernimento e é com ele, que você, leitor, poderá descobrir as suas próprias variáveis. As da relatividade do seu prazer de ouvir música.
Eu, no que me toca, inspirei-me na estilo peculiar do JVH para desenvolver esta chalaça.
Espero, muito sinceramente, que o Hifishow deste ano, mais do que um evento comercial, seja um despertar de sensibilidades, que mais tarde se traduzam em bons resultados nas vendas.
É certo também que a galinha da vizinha será sempre melhor do que a minha… Mas não estamos na 'Ovibeja-Show'.
Pedro Costa, Lisboa
MENÇÕES HONROSAS
Nota: pode ler os textos premiados com menção honrosa na secção 'Correio'.
Restava assim a originalidade e, por último, a qualidade da escrita (e não a quantidade), com ênfase na correcta exposição das ideias e alguma tolerância sintáctica e ortográfica, como prometido.
Como sempre acontece nesta circunstâncias, lidas atentamente as dezenas de textos enviados, a dificuldade estava na escolha, em especial decidir a quem atribuir o 1º Prémio, pois a diferença do valor é muito superior à diferença, por vezes mínima - e sempre subjectiva - da qualidade média dos textos entre si.
A originalidade é algo de muito controverso, porque muito do que é 'original' já foi dito e escrito milhares de vezes por outros antes de nós. Forçar a nota pode dar fífia. A originalidade reside tanto no arrojo e irreverência do tema como na exposição clara e fluida das ideias. Tentei assim avaliar os diferentes tipos de originalidade: estéticas e de conteúdo, incluindo-se nestas últimas o correcto enquadramento no tema proposto da criação de situações de humor, que, em pelo menos dois dos casos, rivalizam com o 'Gato Fedorento', de forma a obter uma classificação equilibrada e, na medida do possível, justa.
Porque justo mesmo seria oferecer uma par de Elipsas a cada um dos participantes...
Claro que o concorrente que lograsse conciliar no seu texto a originalidade e a qualidade da escrita seria o vencedor. E assim foi.
Rui Valdiviesso recebe na loja TRANSOM, em Campolide, o par de colunas B&W CM1 correspondente ao 1º PRÉMIO do Concurso de Escrita Audiófila promovido pelo HIFICLUBE, no âmbito do HIFISHOW 2007.
1º PRÉMIO
O AR
Eis o texto vencedor, que eu próprio não me importaria de ter assinado: cumpre integralmente o regulamento, é original, sucinto, e a escrita, que, sendo sobre música, utiliza a técnica do leit-motif, é simples, correcta, elegante e fluida. A Arte de escrever pouco e dizer muito.
O ar. Coisa sublime pensar que o mesmo ar que respiramos é aquele que nos permite ouvir. Leis da Física à parte, permito-me metaforizar o ar como a escultura do músico e o Hifi como a sua mais sentida homenagem: a imitação.
Só é possível respeitar o trabalho do artista imitando-o o mais próximo da sua essência. Sem tirar nem pôr. É esse o verdadeiro prazer de ouvir música: sentir a proximidade do músico e da sua obra, mesmo que separados por tempo e espaço.
Não se trata só de ouvir. O Hifi coloca-nos num mundo à parte. Situa-nos na realidade tangencial das ideias e emoções da composição. Leva-nos em viagens indescritíveis pelos campos de batalha de 1812 onde, em êxtase, Tchaikovsky faz ribombar canhões. À mente obscura de Mussorgsky, penetrando em quadros de uma exposição. Dos ritmos quentes de Cuba, à coolness do sax de Coltrane.
Neste sentido, o equipamento Hifi é uma orquestra em segunda-mão. Cada cabo, cada célula, cada transístor é um instrumento musical ao serviço da arte e da sua finalidade: tocar as pessoas.
Há fabricantes que entendem esta missão e militam reverentemente pela criação de peças de culto que leiam, amplifiquem e traduzam a magia da música.
Outra Arte não menor é divulgar estas ideias com clarividência. Então, o Hificlube é, antes de mais, um serviço público na demanda do prazer da reprodução musical. E uma referência em termos de qualidade, informação, abrangência de conceitos e independência.
Das ideias aos projectos, das palavras à pureza do som, espero do Hifishow 2007 que seja como uma exposição de Arte. Cada peça, uma obra. Cada sistema, uma interpretação da realidade.
Rui Valdiviesso, Porto
2º PRÉMIO
Carlos Cavaco, Massamá
Carlos Cavaco, JVH e a equipa da HDMC. Carlos ganhou um saco de imprensa modelo exclusivo da CES, Las Vegas
Carlos Cavaco escreveu um interessante e bem humorado conto do quotidiano, quase um 'script' de 'sketch' de televisão, recorrendo aos diálogos vivos e verosímeis de um casal a caminho do Hifishow, sem nunca se desviar do regulamento, narrando de forma original os temas propostos.
A MINHA MÚSICA É OUTRA
O caminho parecia sempre infindável, o pára-arranca mesmo ao Sábado é de fazer roer as unhas até ao sabugo, menos-mal que o locutor da Marginal nesse Sábado estava virado para a Ella. Passava uma música com 'big band', quando chegar a ver se lhes telefono a pedir o nome e a editora, talvez fosse a tempo de procurar no Hifishow.
- Mas para que raio vais tu todos os anos para essa berraria, santo Cristo? Não te chega a que lá tens em casa? Aquilo é sempre a mesma coisa todos os anos…
A companhia de tantos anos não tinha ainda adoçado a aversão da Laura pelas exibições e demonstrações dos, como eu lhes chamo, 'equipamentos'; sim, porque para a 'sua' música e o bailarico a moça estava sempre pronta, benza-a Deus!
- Não é a mesma coisa, não senhor!! Este ano até parece que estão previstas muitas novidades, ainda mais que o gira discos já tem 20 anos e tenho de começar a pensar num substituto que aguente os próximos 20.
- Ai, lá vêm as rodelas pretas, mais as lupas para afinar a 'cabeça' porque já não vês bem ao perto e as arranhadelas nas prateleiras aos 'andares', ele há cada mania que se agarra, faz como eu, que quando estou a passar a ferro ponho o computador a tocar um CD ou o MP3 com as músicas da miúda, não andes às voltas com essas coisas do milénio passado...
Não pude deixar de rever algumas das figuras tristes que faço desde há trinta anos e sorrir das mesmas, enquanto metia mais uma primeira; de cócoras às 2 da manhã à procura de parafusos e porcas diminutos que deixei cair, em tardes de Sábado chuvosas a 'lavar' vinilos de empreitada, as angústias depois de refazer ligações pela enésima vez ou de substituir mais alguma peça de 'equipamento', não fosse o diabo tecê-las e estar alguma coisa em curto-circuito. Só que já perdi a conta das vezes que dei comigo com as lágrimas a alagarem os olhos quando a Banda do Casaco, ou a Billie, ou o Amadeu, ou o Paredes rodam a 33 e 1/3 e emoções saltam do plástico para o meu colo sem pedir licença.
- Anda lá homem, o gajo de trás já está a apitar. O que é que você quer, está com pressa?... Olhe que aqui na cidade só se pode andar a 50!!...
- Deixa Laura, vou passar umas horas num local de prazer e não me apetece ir irritado.
- Pois, para ti até pode ser um prazer, mas eu também tenho que aguentar a seca.
- Ora, dizes que é uma seca mas passas sempre uma data de tempo a abanar a carola nos vídeo-clips, a mexer nos equipamentos e a vasculhar nos CD's, olha vê lá se consegues encontrar é o dos Buraka Som Sistema, a miúda está farta de pedir...
Se fosse eu a mexer nos equipamentos como faz a Laura de certeza que me punham fora dos 'stands', mas nestas coisas, como em muitas outras, ser mulher e gira dá direito a alguns privilégios. Para mim, o que gosto é de ouvir, quase sempre de olhos fechados, por isso a estética é secundária. Já quanto à qualidade de construção, aí temos outra conversa, tantas vezes que me olharam com cara de poucos amigos porque dou pancadinhas nos laterais das colunas, ou levanto algum componente para ver se se deforma e range, ou me ponho em posições pouco recomendáveis para observar os paralelismos e empenos…Este ano vou comportar-me melhor, prometo.
- Ufa, já chegámos, estava a ver que tinha que cá ficar a dormir para amanhã.
- 'Bora, que a demonstração da Imacústica já deve estar a abarrotar, a ver se desta vez tenho mais sorte que o ano passado, fiquei encostado a uma parede lateral e não tinha estéreo nenhum.
- Ficas lá tu, que essas demonstrações do estéreo são para aqueles teus amigos chanfrados lá do Hificlube; eu cá vou à procura de música para mim e cocar uns vídeo-clips nas demonstrações dos plasmas.
- Ok, deixa lá o Hificlube sossegado, encontramo-nos aqui no carro a que horas?
A vida a dois é mesmo assim, as concessões mútuas e a tolerância são a base das relações duradouras, já nem me lembro onde, ou a quem, é que ouvi isto! O Hificlube sempre foi um dos portos de abrigo quando tenho vontade de vender a parafernália toda e comprar um iPod. Por sinal até já ouvi umas músicas num ou dois que não me desgostaram…
- Ouué, Caaarlos!!
- Ó pá, Hélder, não te via há tanto tempo, ainda bem que te encontro, queres fazer a volta comigo?
- Tá, mas tenho de passar primeiro na Linn, porque preciso de uma correia e óleo para o gira discos.
- Não sei se te safas, ainda tens o Axis?
- Ná, comprei um…
Ainda bem que vos encontro, em pessoa ou por outro qualquer meio mais tecnológico, amigos e amantes da música. Sim, porque o nosso elo comum é apreciar música, reproduzida o mais próximo possível de como ela é na realidade; nunca o esquecerei, porque só esse objectivo final justifica a busca de equipamentos complexos, caros, temperamentais tantas vezes, o tempo gasto na busca de soluções para incompatibilidades, o aguentar horas para chegar, entrar e esperar no HifiShow pelas 'demonstrações' que julgamos serem a porta de entrada para mais perto do paraíso. Mesmo quando algumas acabam por ser apenas antevisões do inferno…
Carlos Cavaco, Massamá
3º PRÉMIO
Vítor Moreira, Maia
Vitor Moreira faz a fotografia da praxe depois de receber o Blu-Ray de James Bond.
O texto de Vítor Moreira revela a arte da escrita moderna: rápida, descritiva e sem pontuação, a opinião séria (outros houve bem mais elogiosos à minha pessoa que não venceram) e a sugestão válida.
A importância do hifi na minha vida em flashback
Tenra idade - avô paterno rádio a válvulas osciloscópio verde sintonia fascínio vozes claras ritmos suaves transístor a pilhas prático estridente adolescência gira discos EPs bailes piqueniques namoro sofá aparelhagem em órbita tropa primeiro ordenado vadeca estereosom clave primeiro sistema stereo receiver ARs castro armindo fio telefónico thorens LPs o vagar das válvulas a transístores o prazer de ouvir música emprego novos auditórios outra vez válvulas luz electricidade a jorros o aroma luxuoso da queima dos componentes a importância da fonte modas&marketing casamento filhos VHSs V8s CDs telecomandos hifinews hifishows internet downloads ipods sem fios sem cheiro cinema em casa futebol em casa jogos em casa... E, no futuro próximo, super servers globais, projecções virtuais e controladores mentais do som, da imagem, das emoções, dos pensamentos e das acções. Sem écrans, nem telas, cabos, comandos, armários, suportes e outras parafernálias do passado. Tudo montado e ajustado às especificações de cada um (auditivas e outras) e a usar fora de casa.
Hificlube uma janela aberta para o mundo do áudio: o prazer de ler JVH
Com uma escrita leve, estruturada, rigorosa e na medida adequada, partilha com os seus leitores uma informação filtrada, sintetizada e servida ao domicílio sem 'posts' despropositados, publicidade inadequada nem subscrições a pagar. Com frases 'simples' como 'a estranha liquidez cintilante das válvulas', proporciona aos seus leitores o privilégio de, com um pouco de imaginação, perceberem os pormenores ínfimos, as subtis diferenças, as logarítmicas vantagens de um som sobre outro. É uma página web descomplicada, de aspecto limpo e com um acervo fácil de aceder. O posicionamento quanto à panóplia de interesses em jogo, adjacentes às opiniões emitidas, parece-me correcto. E deve ser um equilíbrio bem difícil de manter. Uma palavra a mais ou uma referência a menos, podem ferir susceptibilidades. Enfim, é um 'endereço' que se recomenda guardar nos 'Favoritos', consultar amiúde e 'Pesquisar' quando necessário.
Hifishow 2007
É uma experiência que surge pertinentemente, após o mau exemplo das 'Feiras de electrodomésticos' e dos primeiros ensaios, bem sucedidos, no rumo certo. Três jovens empresários perceberam que não se devem misturar alhos com bugalhos e arrojaram-se a organizar shows audio e vídeo com qualidade consentânea à dos produtos apresentados. E foi um sucesso. Porque quer os consumidores, quer os profissionais do meio, depois do que já 'provaram' em tempo de vacas gordas e do nível de cultura audiófila que atingiram, querem ser tratados com dignidade e respeito. Julgo que a adesão ao Hifishow 2007, em Lisboa, de alguns representantes que falharam o Hifishow 2006, no Porto, é o reconhecimento deste facto. A não ser que seja por uma questão de escala...
Agora, cabe ao público comparecer e participar. Será um justo prémio para todos os intervenientes, organizadores e participantes e um sinal de que as coisas vão 'andar para a frente', evoluindo naturalmente. Ao menos neste sector.
Vitor Moreira
4º PRÉMIO
Luís Neiva, Barcelos (não compareceu)
Luis Neiva descreve o seu quotidiano com música e as suas angústias audióflas, num registo confessional.
18:30
Acabou o dia no trabalho, mas começou o trabalho na obra permanentemente inacabada, a obra que dá prazer construir e usufruir. Vamos mudando, ouvindo, um passo à frente e por vezes outro atrás. O acto de ouvir música conscientemente tornou-se de há uns anos para cá no meu part-time a tempo inteiro com horário indefinido. Ouvir música leva-nos para onde queremos ir, deixa-nos sonhar e imaginar os cenários que compôem a obra, o que nem sempre é um processo linear nem tão pouco um com final feliz.
A mim atrai-me a tragédia, só a tristeza cantada ou tocada é bela, por isso ouço Puccini e não Scissor Sisters ou outros artistas arrebatados pelos poderes da beat-box, que mecanicamente e sem alma cria a base de um cenário músical. É aqui que se me revela o prazer de ouvir música, ouço até que os pêlos dos braços se levantem, nem que seja preciso subir muito o volume, trocar o cd, apagar a luz, fechar os olhos, ou mudar as colunas de posição.
Uma vez aqui chegados queremos mais, e para isso procuramos mais, procuramos o que pode estar escondido e que por milagre torne os albums de Led Zeppelin em autênticas pérolas audiófilas de resolução superior. Hummm, talvez o problema esteja nos cabos, se o cobre transporta a alma é bom que este cobre tenha uma receita especial, uma fórmula inventada por cientistas para deixar passar a poesia. Por isso troco os cabos e passo os solid-core para os graves e os multifilares para os agudos, e agora procuro as diferenças que me permitam ver a luz.
O único senão de ver a luz, é que a partir daí não a queremos deixar fugir, e tentamos encontrar as nuances perdidas numa cópia mal efectuada ou numa gravação deslavada de alma sem nunca nos passar pela cabeça que aquele disco pode não ter salvação. Se calhar umas monitoras resolviam isto...
Se me sai a taluda compro um sistema para Rock, outro para Clássica, outro para Jazz, e ainda um para a tv.
É esta fome de palcos sonoros fiéis que me move e me faz pesquisar e ouvir novos elementos que me possam levar ao meu nirvana. Entre tantas opções que inundam o mercado, cada uma delas é meticulosamente analisada e sentenciada, no meio deste julgamento procuro aquele que me transmita som no papel.
Normalmente é aqui que a porca torçe o rabo, as especificações técnicas a mim não me interessam para nada, privilegio pois uma leitura com aroma, com coração, e obviamente com sentido de humor. Apesar de passar por alguns forums e ler alguns dos tópicos é sempre com curiosidade que clico no link do Hificlube, pois é aqui que os textos me cativam e movem à procura do meu Sonic Graal. Para muita pena minha não é todos os dias que são publicados novos textos, o que não posso levar a mal. Se eu também tivesse acesso a todos esses equipamentos, certamente que ouviria muito mais do que escreveria.
Tentamos manter o tal 'part-time' a par com as últimas novidades e também por isso não perdemos a oportunidade de as ver ao vivo. Se o High-End Show foi para mim uma óptima surpresa é com alguma curiosidade que espero ver as novidades que vão surgir no HiFi Show em Abril. Não estou à espera de ver a luz, mas estou certamente à espera de mais um conjunto que me deixe a sonhar como o que a Top Audio apresentou no High-End Show: JM Lab Grand Utopia / Chord. Apesar de na minha opinião as potencialidades do sistema não terem sido todas demonstradas, nem o baixo volume cortou a magia que pairava à volta do sistema (àquele preço é realmente uma utopia).
Na vida como no audio há experiências que nos marcam, e se tivermos a sorte de poder comprar um 'repetidor' de experiências como uma aparelhagem Hi-Fi que nos forneça alimento para a alma, então aí sim sabemos que estamos a expremer o sumo da vida.
Luis Neiva, Barcelos
5º PRÉMIO
Pedro Costa, Lisboa
Pedro (à direita na foto) posa com JVH e dois concorrentes agraciados com menção honrosa: Edgar Rodrigues, do Funchal; e à esquerda na foto Edgar Valente, de Évora
Num registo burlesco, Pedro Costa compara a performance sexual entre parceiros diferentes, quantificadas por um prazerímetro, com a audição musical, na busca de sinergias entre corpos que possam ser adaptadas aos equipamentos de som.
A Relatividade do prazer
Como tudo na vida, o prazer de ouvir música estará sujeito à relatividade. Sim! É dessa mesmo que está a pensar.
A minha ideia é fazer um ensaio científico de modo a entender se o prazer é uma grandeza absoluta como a velocidade da luz, ou se, pelo contrário, é uma grandeza relativa e, portanto, sujeita a outras variáveis. Aliás, como Einstein teorizou e muito bem, antes de mim, embora para uma outra questão. Digamos que ele tratou da luz e eu trato do som.
A minha experiência é todavia mais exequível.
Suponhamos dois indivíduos A e B. Um deles será lindo, louro e irresistível, daqueles que aparecem nos anúncios de perfumes e capaz de tirar do sério qualquer dona de casa menos assistida. O outro, um trolha, estilo emplastro.
Escolhidos estes dois sujeitos, passemos ao casting feminino. Escolheríamos uma voluptuosa participante do reality em curso e para contraste… qualquer coisa feiosa. Preferencialmente adversa à depilação.
Casting feito, avança-se para 'laboratório'.
Se confrontássemos o rapaz charmoso com a tal que não reconhece a imagem de Camões no ecrã, seria teoricamente possível atingirmos o índice 100 no nosso 'prazerímetro' de ensaio (um máximo na escala).
No ensaio ao lado teríamos o trolha com a coitada e caso este não 'compareça' há uns tempos, hipótese a não envidar, teríamos também um valor elevado. Apostaria nuns 90, depende se a moça é desdentada ou não.
Fazia-se agora um 'swing' e novo ensaio.
Aposto que o tal rapaz giraço não passava do índice 10 numa perspectiva já muito optimista. Por outro lado, o tal moço que dá pelo nome de emplastro, ao ver-se com a miúda da Tv, muito possivelmente passava-se e avariava-nos o equipamento de medida, mas seria aí coisa para uns 350.
Ao fazer a média como no 'Dança Comigo' teríamos a média das duas performances: de 60 para o mais bonito e uma média de 220 para o mais foleiro.
Se não fosse a gozar, deste ensaio poder-se-ia concluir uma de duas coisas. Ou os gajos foleiros conseguem muito mais prazer que os giros, ou então o prazer é então uma grandeza absoluta.
Como a velocidade da luz, que não é mais rápida por nenhuma outra razão.
Por analogia, como será para si o prazer de ouvir música? Dependerá assim tanto do equipamento?
Será, porventura, relativa a muitas outras variáveis, como disposição e tolerância dos vizinhos. Mas para mim, música é música e oiço-a nem que seja em mp3.
Claro que tenho um excelente sistema em casa, mas quero acreditar que é apenas mais uma variável nesta equação da relatividade. Como o será, um bom sofá. De pouco me servem umas Martin Logan se tiver de ficar sentado num banco de cozinha a escutá-las.
Os shows de Hi-Fi servirão (à parte da divulgação comercial) como painéis de referência. E referências são fundamentais na nossa evolução.
Nunca esteve em cocktails em que os croquetes têm o tamanho de chouriços? Ou encontrou camarões com casca num jantar volante? Pois bem! São exemplos do que não deve fazer nas suas recepções.
O requinte, entendido como mais uma variável da tal equação, aprende-se: Observando, escutando opiniões e nisso o Hificlube é inquestionavelmente um pilar. Engana-se quem tentar olhar para este portal como uma 'wizard' de aquisições. O Hificlube estará muito para além disso. É, acima de tudo, uma fonte de discernimento e é com ele, que você, leitor, poderá descobrir as suas próprias variáveis. As da relatividade do seu prazer de ouvir música.
Eu, no que me toca, inspirei-me na estilo peculiar do JVH para desenvolver esta chalaça.
Espero, muito sinceramente, que o Hifishow deste ano, mais do que um evento comercial, seja um despertar de sensibilidades, que mais tarde se traduzam em bons resultados nas vendas.
É certo também que a galinha da vizinha será sempre melhor do que a minha… Mas não estamos na 'Ovibeja-Show'.
Pedro Costa, Lisboa
MENÇÕES HONROSAS
Nota: pode ler os textos premiados com menção honrosa na secção 'Correio'.