Na CES 1999 ou 2000 (ou terá sido no Stereophile Show, de Nova Iorque?) já não me lembro bem, Ray Kimber chamou-me de parte e demonstrou-me, com um par de colunas de duas-vias, as vantagens de um “crossover tweak” inventado por Eric Alexander, da Kimber Kable, que designou por Diaural.
Este “tweak”, segundo Kimber, que é mais um “by-pass”, pois substitui na integra o filtro original, podia ser aplicado a qualquer coluna de som de qualquer marca, e eliminava aquilo a que ele chamou “efeito de Doppler”, além de aproveitar a EMF, electro motional feedback, dos altifalantes, que é em parte absorvida nos filtros convencionais. E o que é o efeito de Doppler?, pergunta o leitor.
Tudo começa no processo de gravação, explicou Ray. Vamos imaginar um microfone que capta simultaneamente duas notas de dois instrumentos diferentes: um orgão e um trompete. A nota grave obriga o diafragama do microfone a uma muito maior amplitude de movimento do que a necessária para captar a nota alta, pelo que esta é modulada por aquela, um fenómeno a que se chama distorção de Doppler.
Durante a reprodução, a distorção de Doppler é cancelada se os transdutores utilizados forem de diafragam único, como o das colunas electrostáticas e auscultadores, pois o seu movimento e o do diafragama do microfone são complementares, daí que os “ouvidos de ouro” considerem que são as únicas que reproduzem o original. Contudo, na colunas de altifalantes múltiplos, as frequências são separadas no filtro para os diferentes altifalantes e, ao separarem-se os graves dos agudos, estes perdem a referência eléctrica da modulação presente na captação original, logo a distorção por efeito de Doppler torna-se audível como distorção IM (distorção por intermodulação), que resulta acusticamente num efeito de véu e de falta de transparência e coerência.
Ora, como as Quad têm algumas limitações e as Soundlab são colunas a mais para as nossas próprias limitações de espaço, o ideal seria conseguir eliminar o efeito de Doppler nas colunas dinâmicas de altifalantes múltiplos (duas ou mais vias), de tal modo que fosse possível reproduzir o som original tal como a tecnologia electrostática.
O filtro DiAural restaura a compensação Doppler das colunas de diafragma único, resultando num som mais puro e natural. E qual é o truque? Bom, na altura Ray obrigou-me a assinar um termo de responsabilidade, assim como a todos os fabricantes e distribuidores de cabos Kimber, proibindo-me de revelar as especificações do filtro. António Almeida, da Ajasom, é um dos detentores do segredo e está habilitado a substituir o filtro das suas colunas (convém que já estejam fora da garantia) por um filtro DiAural. Os interessados podem contactá-lo (21 474 87 09) e combinar as condições do “transplante”.
Contudo, passados quase 10 anos, e com a patente já registada, o segredo deixou de o ser e está disponível na net, pelo que o Hificlube resolveu divulgar os seus princípios básicos, estando os leitores que decidirem aplicá-los por sua conta e risco.
Fundamentalmente, Eric Alexander descobriu que a distorção por efeito de Doppler nas colunas multivias se devia, não ao facto de utilizarem altifalantes múltiplos, mas ao facto de cada altifalante ser alimentado apenas por parte do sinal: agudos para o tweeter, médios para o altifalante de médios e graves para o woofer. Não admira que os ouvidos de ouro prefiram também os filtros de 1ª ordem que têm mais sobreposição de sinal entre altifalantes.
O segredo reside pois na solução radical de todos os altifalantes receberem o sinal full-range, limitando-se o filtro a controlar o nível do sinal adaptado a cada tipo de transdutor. Ou seja, o tweeter também recebe graves, só que a um nível suficientemente baixo para não ir desta para melhor. Mas o filtro DiAural tem ainda outras vantagens. Ao eliminar os condensadores do filtro divisor, elimina uma das fontes de desvios de fase, e melhora drasticamente a resposta off-axis e os padrões polares garantindo uma dispersão mais uniforme em toda banda áudio, pois o DiAural elimina as rotações de fase em função da frequência, além de aumentar drasticamente a potência admissível, pois o tweeter e o woofer protegem-se mutuamente. A resposta em frequência melhora também à vista, pois nos testes de laboratório surge quase plana e sem as típicas depressões centradas nas frequência de corte seguidas de picos.
O mais curioso que é que Eric Alexander não inventou nada de novo, e Ray Kimber limitou-se a registar a patente de uma técnica de conhecimento comum e já utilizada, por exemplo, por Franco Serblin no filtro Sinecap das famosas Extrema.
Eis o diagrama de um filtro Diaural do tipo Sinecap para colunas de 3-vias. Mas eu, pelo sim, pelo não, deixava que fosse a Ajasom a tratar do transplante, até porque A. Almeida tem a tabela dos valores para cada coluna específica.
AJASOM
Nota: Os especialistas em electrónica já devem ter reparado que isto não passa de um filtro divisor simples em série. A única vantagem é ver-se livre dos condensadores, cuja variação afecta a qualidade da reprodução.Bem vistas as coisas, nem sequer é um filtro, pois tanto o tweeter como o woofer reproduzem todas as frequências.
Ora isto também tem os seus inconvenientes, pois a resistência em série limita o sinal que chega ao tweeter apenas em nível não em frequência, o que significa que ele vai tentar reproduzir o que não deve, logo vai distorcer. Mas talvez Kimber tenha outro truque na manga que eu desconheço...
LINKS INTERESSANTES:
Design of passive Crossovers
Enviado por Augusto Gonçalves da Silva, que publicou recentemente um artigo sobre crossovers na revista Audio, onde se põe em causa as vantagens do filtor Diaural
Mea culpa, de Ray Kimber
Muito mais polémico é o disclaimer, no qual Ray Kimber pede desculpa por ter associado os bons resultados obtidos pelo seu filtro ao efeito de Doppler...
Nada disto deve impedir os DIY que o pretendam de tentar montar um filtro como o referido neste artigo. Desde que se utilizem bobinas de qualidade (núcleo de ar), os resultados são muito positivos em termos de transparência e coerência. Claro que, volto a frisar, o Hificlube limita-se a divulgar as técnicas. Mesmo quando os seus pressupostos estejam alegadamente errados, os resultados é que contam. Cabe aos leitores a decisão de as aplicar ou não.
Este “tweak”, segundo Kimber, que é mais um “by-pass”, pois substitui na integra o filtro original, podia ser aplicado a qualquer coluna de som de qualquer marca, e eliminava aquilo a que ele chamou “efeito de Doppler”, além de aproveitar a EMF, electro motional feedback, dos altifalantes, que é em parte absorvida nos filtros convencionais. E o que é o efeito de Doppler?, pergunta o leitor.
Tudo começa no processo de gravação, explicou Ray. Vamos imaginar um microfone que capta simultaneamente duas notas de dois instrumentos diferentes: um orgão e um trompete. A nota grave obriga o diafragama do microfone a uma muito maior amplitude de movimento do que a necessária para captar a nota alta, pelo que esta é modulada por aquela, um fenómeno a que se chama distorção de Doppler.
Durante a reprodução, a distorção de Doppler é cancelada se os transdutores utilizados forem de diafragam único, como o das colunas electrostáticas e auscultadores, pois o seu movimento e o do diafragama do microfone são complementares, daí que os “ouvidos de ouro” considerem que são as únicas que reproduzem o original. Contudo, na colunas de altifalantes múltiplos, as frequências são separadas no filtro para os diferentes altifalantes e, ao separarem-se os graves dos agudos, estes perdem a referência eléctrica da modulação presente na captação original, logo a distorção por efeito de Doppler torna-se audível como distorção IM (distorção por intermodulação), que resulta acusticamente num efeito de véu e de falta de transparência e coerência.
Ora, como as Quad têm algumas limitações e as Soundlab são colunas a mais para as nossas próprias limitações de espaço, o ideal seria conseguir eliminar o efeito de Doppler nas colunas dinâmicas de altifalantes múltiplos (duas ou mais vias), de tal modo que fosse possível reproduzir o som original tal como a tecnologia electrostática.
O filtro DiAural restaura a compensação Doppler das colunas de diafragma único, resultando num som mais puro e natural. E qual é o truque? Bom, na altura Ray obrigou-me a assinar um termo de responsabilidade, assim como a todos os fabricantes e distribuidores de cabos Kimber, proibindo-me de revelar as especificações do filtro. António Almeida, da Ajasom, é um dos detentores do segredo e está habilitado a substituir o filtro das suas colunas (convém que já estejam fora da garantia) por um filtro DiAural. Os interessados podem contactá-lo (21 474 87 09) e combinar as condições do “transplante”.
Contudo, passados quase 10 anos, e com a patente já registada, o segredo deixou de o ser e está disponível na net, pelo que o Hificlube resolveu divulgar os seus princípios básicos, estando os leitores que decidirem aplicá-los por sua conta e risco.
Fundamentalmente, Eric Alexander descobriu que a distorção por efeito de Doppler nas colunas multivias se devia, não ao facto de utilizarem altifalantes múltiplos, mas ao facto de cada altifalante ser alimentado apenas por parte do sinal: agudos para o tweeter, médios para o altifalante de médios e graves para o woofer. Não admira que os ouvidos de ouro prefiram também os filtros de 1ª ordem que têm mais sobreposição de sinal entre altifalantes.
O segredo reside pois na solução radical de todos os altifalantes receberem o sinal full-range, limitando-se o filtro a controlar o nível do sinal adaptado a cada tipo de transdutor. Ou seja, o tweeter também recebe graves, só que a um nível suficientemente baixo para não ir desta para melhor. Mas o filtro DiAural tem ainda outras vantagens. Ao eliminar os condensadores do filtro divisor, elimina uma das fontes de desvios de fase, e melhora drasticamente a resposta off-axis e os padrões polares garantindo uma dispersão mais uniforme em toda banda áudio, pois o DiAural elimina as rotações de fase em função da frequência, além de aumentar drasticamente a potência admissível, pois o tweeter e o woofer protegem-se mutuamente. A resposta em frequência melhora também à vista, pois nos testes de laboratório surge quase plana e sem as típicas depressões centradas nas frequência de corte seguidas de picos.
O mais curioso que é que Eric Alexander não inventou nada de novo, e Ray Kimber limitou-se a registar a patente de uma técnica de conhecimento comum e já utilizada, por exemplo, por Franco Serblin no filtro Sinecap das famosas Extrema.
Eis o diagrama de um filtro Diaural do tipo Sinecap para colunas de 3-vias. Mas eu, pelo sim, pelo não, deixava que fosse a Ajasom a tratar do transplante, até porque A. Almeida tem a tabela dos valores para cada coluna específica.
AJASOM
Nota: Os especialistas em electrónica já devem ter reparado que isto não passa de um filtro divisor simples em série. A única vantagem é ver-se livre dos condensadores, cuja variação afecta a qualidade da reprodução.Bem vistas as coisas, nem sequer é um filtro, pois tanto o tweeter como o woofer reproduzem todas as frequências.
Ora isto também tem os seus inconvenientes, pois a resistência em série limita o sinal que chega ao tweeter apenas em nível não em frequência, o que significa que ele vai tentar reproduzir o que não deve, logo vai distorcer. Mas talvez Kimber tenha outro truque na manga que eu desconheço...
LINKS INTERESSANTES:
Design of passive Crossovers
Enviado por Augusto Gonçalves da Silva, que publicou recentemente um artigo sobre crossovers na revista Audio, onde se põe em causa as vantagens do filtor Diaural
Mea culpa, de Ray Kimber
Muito mais polémico é o disclaimer, no qual Ray Kimber pede desculpa por ter associado os bons resultados obtidos pelo seu filtro ao efeito de Doppler...
Nada disto deve impedir os DIY que o pretendam de tentar montar um filtro como o referido neste artigo. Desde que se utilizem bobinas de qualidade (núcleo de ar), os resultados são muito positivos em termos de transparência e coerência. Claro que, volto a frisar, o Hificlube limita-se a divulgar as técnicas. Mesmo quando os seus pressupostos estejam alegadamente errados, os resultados é que contam. Cabe aos leitores a decisão de as aplicar ou não.