Já os distribuidores desmontavam a tenda do circo do Hifishow 2007, quando Alberto Silva, que optara pelas B&W 802D para representar a ARTAudio, na categoria de absolutos, acolitando-as com os amplificação Nuforce P9/9SE e fonte Classé, resolveu brindar alguns privilegiados com a demonstração das Signature Diamond, que tinham estado durante todo o certame em banho-maria, no hall de entrada, fazendo companhia ao piano.
A sala da ARTAudio, no rés-do-chão, pautou-se como a que apresentou melhor acústica: não tão ampla que o som se agigantasse, nem tão pequena que o limitasse. O tratamento “tube trap” completava o cenário sóbrio, sorvendo um ou outro modo de ressonância nos cantos e apaziguando o “snapping effect” do revestimento de madeira polida (sintética?) (das paredes.
Sala da ARTaudio com B&W 802 em palco (Sábado, 21)
As B&W 801D e 802D são utilizadas em muitos estúdios de gravação, por esse mundo fora para monitorizar a mistura de som. Os engenheiros não são conhecidos por serem grandes exemplos de ortodoxia audiófila (salvo raras excepções, nas quais, consta por aí, porque eu pessoalmente não conheço, se inclui o nosso João Ganho).
Os discos que vendem mais são misturados de forma a soar bem no rádio do carro e nos iPods, logo não é fundamental utilizar colunas monitoras de banda larga. Por outro lado, uma boa matriz original tem a vantagem de poder ser reproduzida em equipamentos de elevada qualidade ou processada posteriormente para aplicações menos exigentes e mais lucrativas.
Se a filosofia sonora da B&W agrada ao “cozinheiro”, o “gourmet” não deve fazer juízos prévios antes de provar a comida, menos ainda juízos precipitados antes de a mastigar bem. Ora, nos “shows”, há tanta coisa boa para provar que temos tendência a engolir sem mastigar com a pressa de passar ao próximo prato. E depois, há os condimentos e as especiarias utilizadas nos têmperos, leia-se os discos, que nem sempre são do agrado de todos: há quem goste de música erudita, de jazz, de pop, de funk ou apenas “mainstream”. Acresce que os discos ditos audiófilos, apesar de bem gravados, são normalmente chatos. O ideal seria que eu pudesse levar um disco meu para ouvir as mesmas faixas em todas as salas. Algo que por cortesia ninguém me negaria, mas que eu evito para não me tornar incómodo.
Por outro lado, já tive excelentes surpresas ao ouvir faixas de discos que desconhecia, pelo que os “shows” são também uma boa oportunidade para descobrir música nova. E eu confio no bom gosto musical do Alberto, apesar de, como bom profissional que é, ele seleccionar as faixas que melhor evidenciam as qualidades dos equipamentos que vende. Como dizia a minha avó, quem não sabe ser caixeiro fecha a loja...
Os pianos. Os pianos. Os pianos. Ouvi muitos pianos de todos os tipos a tocarem bem na ARTaudio. Fui lá no Sábado. O som estava ainda um pouco opaco. No Domingo, foi dia santo e o som estava em estado de graça. Os Nuforce 9SE têm limitações de potência (ver o meu teste aqui) mas, naquelas circunstâncias, chegaram para as encomendas. Aliás, nunca lhes foi exigido que fossem além das suas capacidades. Apesar de tudo, soaram melhor que a referência que eu tenho deles guardada na memória. Ou foram, entretanto, revistos ou o P9 teve aqui uma palavra a dizer...
As 802D são algo escuras nos registos médios mas, no agudo, o sorriso é aberto e franco com informação abundante. O grave tem uma personalidade complexa. Mas o 9SE tem um factor de amortecimento elevado e o tradicional baixo de uma nota só com os Classé multiplicou-se como os pães e peixes no milagre de Cristo. Gostei do som do ar vibrando com cada nota do piano, e morrendo depois solidário com ela como a cauda de um cometa que se afasta. E gostei sobretudo do facto de, mesmo sentado de lado, cara a cara com uma das colunas, conseguir sempre ouvir a outra, o que é sintoma de excelente dispersão lateral e contribui muito para a correcta topografia e estabilidade do palco sonoro.
Quando os pianos soam bem, tudo o resto parece encaixar-se correctamente no espectro audível. Numa ou outra nota de piano mais martelado, julguei ter ouvido um som metálico, típico de uma captação “em cima” e que, talvez por isso, não ousei atribuir ao sistema.
Muito bem a percussão, aqui e ali um pouco túrgida, e o mesmo se pode dizer dos metais que se apresentaram à chamada com boa estrutura “óssea”. Delicioso o trompete com surdina. Sólidas também as vozes, algo peitudas nos homens e frágeis nas mulheres, como manda a lei de Deus. Faltava talvez aquele grau último de transparência do envelope acústico. É um som que prima pela honestidade mais que pela espectacularidade exigida pelo público do circo da fórmula áudio.
B&W SIGNATURE DIAMOND
As B&W Signature Diamond no lugar onde antes tocaram as 802D
Alberto Silva optou por fazer alinhar as 802D e deixou no banco as Signature Diamond. No fim do jogo, no tempo de descontos, quando o resultado já estava decidido, resolveu fazer a vontade aos “sócios”.
E o que eu ouvi na ARTaudio foi o som de um perfume de mulher. Vestidas de branco como uma noiva, as Signature Diamond brilharam no palco qual pedra preciosa. Sendo de duas-vias, não têm a mesma estrutura harmónica das 802D: o altifalante de médio-graves em kevlar teve de correr o campo todo para servir o jovem ponta-de-lança montado numa caixa sólida de mármore, contando na base apenas com o apoio do tubo reflex que mergulha nas profundezas do som como o tubo de um orgão de Catedral, mas sem o De profundis litúrgico deste.
Em relação às 802D, há um ligeiro up-tilting tonal que enfatiza as cordas de guitarra, o sussurro do ar na passagem por gargantas femininas, e recorta com traço mais fino a crista harmónica que se segue às fundamentais de sons de percussão.
Testemunhas da confissão da noiva, no Domingo 22, na igreja da ARTaudio. Terão ouvido o mesmo que eu?...
A transparência, claridade e elegância etérea do som lembra de imediato a delicadeza assertiva do som electrostático, leve como um vestido de noiva ao vento. A ligeira neblina do palco das 802D desvaneceu-se soprada por uma brisa fresca, deixando expostos os intervenientes no palco sonoro, de tal forma que, no caso dos registos dramatizados de ópera, o resultado sonoro chegou a ser perturbantemente real.
Frágeis e ingénuas (leia-se, ainda verdes) como uma noiva na noite de núpcias. Mas deixem-nas casar e ficar maduras e vão ver quem passa a mandar lá em casa!...
A sala da ARTAudio, no rés-do-chão, pautou-se como a que apresentou melhor acústica: não tão ampla que o som se agigantasse, nem tão pequena que o limitasse. O tratamento “tube trap” completava o cenário sóbrio, sorvendo um ou outro modo de ressonância nos cantos e apaziguando o “snapping effect” do revestimento de madeira polida (sintética?) (das paredes.
Sala da ARTaudio com B&W 802 em palco (Sábado, 21)
As B&W 801D e 802D são utilizadas em muitos estúdios de gravação, por esse mundo fora para monitorizar a mistura de som. Os engenheiros não são conhecidos por serem grandes exemplos de ortodoxia audiófila (salvo raras excepções, nas quais, consta por aí, porque eu pessoalmente não conheço, se inclui o nosso João Ganho).
Os discos que vendem mais são misturados de forma a soar bem no rádio do carro e nos iPods, logo não é fundamental utilizar colunas monitoras de banda larga. Por outro lado, uma boa matriz original tem a vantagem de poder ser reproduzida em equipamentos de elevada qualidade ou processada posteriormente para aplicações menos exigentes e mais lucrativas.
Se a filosofia sonora da B&W agrada ao “cozinheiro”, o “gourmet” não deve fazer juízos prévios antes de provar a comida, menos ainda juízos precipitados antes de a mastigar bem. Ora, nos “shows”, há tanta coisa boa para provar que temos tendência a engolir sem mastigar com a pressa de passar ao próximo prato. E depois, há os condimentos e as especiarias utilizadas nos têmperos, leia-se os discos, que nem sempre são do agrado de todos: há quem goste de música erudita, de jazz, de pop, de funk ou apenas “mainstream”. Acresce que os discos ditos audiófilos, apesar de bem gravados, são normalmente chatos. O ideal seria que eu pudesse levar um disco meu para ouvir as mesmas faixas em todas as salas. Algo que por cortesia ninguém me negaria, mas que eu evito para não me tornar incómodo.
Por outro lado, já tive excelentes surpresas ao ouvir faixas de discos que desconhecia, pelo que os “shows” são também uma boa oportunidade para descobrir música nova. E eu confio no bom gosto musical do Alberto, apesar de, como bom profissional que é, ele seleccionar as faixas que melhor evidenciam as qualidades dos equipamentos que vende. Como dizia a minha avó, quem não sabe ser caixeiro fecha a loja...
Os pianos. Os pianos. Os pianos. Ouvi muitos pianos de todos os tipos a tocarem bem na ARTaudio. Fui lá no Sábado. O som estava ainda um pouco opaco. No Domingo, foi dia santo e o som estava em estado de graça. Os Nuforce 9SE têm limitações de potência (ver o meu teste aqui) mas, naquelas circunstâncias, chegaram para as encomendas. Aliás, nunca lhes foi exigido que fossem além das suas capacidades. Apesar de tudo, soaram melhor que a referência que eu tenho deles guardada na memória. Ou foram, entretanto, revistos ou o P9 teve aqui uma palavra a dizer...
As 802D são algo escuras nos registos médios mas, no agudo, o sorriso é aberto e franco com informação abundante. O grave tem uma personalidade complexa. Mas o 9SE tem um factor de amortecimento elevado e o tradicional baixo de uma nota só com os Classé multiplicou-se como os pães e peixes no milagre de Cristo. Gostei do som do ar vibrando com cada nota do piano, e morrendo depois solidário com ela como a cauda de um cometa que se afasta. E gostei sobretudo do facto de, mesmo sentado de lado, cara a cara com uma das colunas, conseguir sempre ouvir a outra, o que é sintoma de excelente dispersão lateral e contribui muito para a correcta topografia e estabilidade do palco sonoro.
Quando os pianos soam bem, tudo o resto parece encaixar-se correctamente no espectro audível. Numa ou outra nota de piano mais martelado, julguei ter ouvido um som metálico, típico de uma captação “em cima” e que, talvez por isso, não ousei atribuir ao sistema.
Muito bem a percussão, aqui e ali um pouco túrgida, e o mesmo se pode dizer dos metais que se apresentaram à chamada com boa estrutura “óssea”. Delicioso o trompete com surdina. Sólidas também as vozes, algo peitudas nos homens e frágeis nas mulheres, como manda a lei de Deus. Faltava talvez aquele grau último de transparência do envelope acústico. É um som que prima pela honestidade mais que pela espectacularidade exigida pelo público do circo da fórmula áudio.
B&W SIGNATURE DIAMOND
As B&W Signature Diamond no lugar onde antes tocaram as 802D
Alberto Silva optou por fazer alinhar as 802D e deixou no banco as Signature Diamond. No fim do jogo, no tempo de descontos, quando o resultado já estava decidido, resolveu fazer a vontade aos “sócios”.
E o que eu ouvi na ARTaudio foi o som de um perfume de mulher. Vestidas de branco como uma noiva, as Signature Diamond brilharam no palco qual pedra preciosa. Sendo de duas-vias, não têm a mesma estrutura harmónica das 802D: o altifalante de médio-graves em kevlar teve de correr o campo todo para servir o jovem ponta-de-lança montado numa caixa sólida de mármore, contando na base apenas com o apoio do tubo reflex que mergulha nas profundezas do som como o tubo de um orgão de Catedral, mas sem o De profundis litúrgico deste.
Em relação às 802D, há um ligeiro up-tilting tonal que enfatiza as cordas de guitarra, o sussurro do ar na passagem por gargantas femininas, e recorta com traço mais fino a crista harmónica que se segue às fundamentais de sons de percussão.
Testemunhas da confissão da noiva, no Domingo 22, na igreja da ARTaudio. Terão ouvido o mesmo que eu?...
A transparência, claridade e elegância etérea do som lembra de imediato a delicadeza assertiva do som electrostático, leve como um vestido de noiva ao vento. A ligeira neblina do palco das 802D desvaneceu-se soprada por uma brisa fresca, deixando expostos os intervenientes no palco sonoro, de tal forma que, no caso dos registos dramatizados de ópera, o resultado sonoro chegou a ser perturbantemente real.
Frágeis e ingénuas (leia-se, ainda verdes) como uma noiva na noite de núpcias. Mas deixem-nas casar e ficar maduras e vão ver quem passa a mandar lá em casa!...