O crítico não é um jornalista “politicamente assexuado”, para utilizar uma expressão agora tão na moda. Tem o dever de informar com isenção, é certo. Mas a informação não tem de ser inodora, incolor e sem sabor como a água pura. O crítico tem gostos, interesses, tendências, sensibilidades, fidelidades, amizades. O crítico é uma pessoa. Que conhece outras pessoas. Acontece que sabe mais (res audiophila) coisas audiófilas do que a vã filosofia conhece. E por isso escreve. Para espalhar a palavra.
Os conhecimentos e a experiência são parte da complexa equação a que se chama “análise auditiva”, que não é mais que uma opinião sobre determinados produtos num determinado contexto. Que diz pouco sobre o produto em si. E ainda menos sobre o contexto. Mas diz muito sobre as pessoas: a pessoa que ele é, e o Outro, aquele que lhe proporcionou a experiência que relata.
Toda a demonstração no contexto de um hifishow é uma luta entre dois espíritos: o que monta o circo mágico do som e o que tenta reduzir a magia à realidade - a sua realidade. A empatia perfeita acontece quando ambos os espíritos se encontram num estágio de conhecimento tal que lhes permite chegar a conclusões semelhantes, ainda que julgando ouvir coisas diferentes, e defendendo interesses por vezes antagónicos.
ARTAUDIO
Já tinha sido apresentado às Final 300, quando do cocktail de antevisão da ArtAudio. Som muito limpo e ultradefinido com amplificação Rotel de Classe D e 'subs' dedicados da Final. Lembro-me de ter comentado com o João Rodrigues que os “subs” estavam tão discretos que parecia que nem estavam activados. Sendo um modelo de dimensões reduzidas, as 300 precisam de um pouco mais de base de sustentação. Mas o Alberto Silva não pode estar em todas. Eu sei que, nestes casos, tanto se pode ser preso por ter cão como por não ter: se o deixamos ladrar muito woof, woof, interfere na transparência electrostática; se o mandamos calar, elas tornam-se tímidas e frágeis. São precisas semanas, ou até meses, para acertar na mouche. Ora nos shows não há tempo para isso - e já é milagre o que se consegue...
B&W/LINN
A Linn gosta pouco de misturas. Mas o Domingos defendeu-se dizendo que a Linn não se importa de se “misturar” com coisas boas: as 803 D fazem parte do lote de produtos que nunca ficam mal na fotografia acústica (ficaram mal na outra:sorry guys, o flash não disparou): som cheio e com drive, talvez a precisar de um pouco mais de espaço para se expandir e integrar.
AUDIOELITE
Sala (ou melhor: quarto) da Audioelite
José Júdice e Jorge 'Maître' Gaspar fizeram tudo para trazer para Portugal os amplificadores ASR. E, sendo a AudioElite representante da Mark Levinson, não foi com certeza para ficarem ricos. Tal como eu, ouviram-no em Munique e gostaram do que ouviram. Foi quanto bastou.
ASR Emitter II Exclusive
Posto isto, o ASR Emitter Exclusive, ou a versão Blue, porque um toque de azul fica sempre bem, é um grande amplificador integrado. Tem a liquidez e a densidade de carácter de um amplificador a válvulas sem os inconvenientes destes. O som é sólido mas ágil, e o excipiente atmosférico que rodeia os intervenientes em palco é transparente e isento de grão.
Mesa de iguarias da Audioelite
Estava a tocar com uma Revel F52, mais ou menos em apertos, no quarto esconso que lhes coube, com fontes McCormack UDP1 e Mark Levinson 390S (não cheguei a ouvir o Oracle). Como sempre o Jorge não “põe” discos, passa música - there's a hell of a difference!
Dois bons amigos: Rui Calado e Jorge Gaspar
Quando entrei, ouvia-se Pink Floyd: We don't need no education, cantava o coro de crianças. Pareciam tão reais, que me apeteceu dizer-lhes que estavam enganados, mas soavam tão determinados que me abstive. A separação das vozes bastava para definir o Emitter como um amplificador highend. Alguma dureza dos registos médio-altos devia-se provavelmente à proximidade das paredes laterais não-tratadas (às vezes, um painel difusor é quanto basta). Mas o 'Maître' é assim: paredes nuas e nada na manga.
Eu ando muito crítico do som dos tweeters afinados para o gosto americano, já a contar com as salas grandes, os tectos altos, os cortinados, tapetes e sofás múltiplos. Com a minha idade, já não devia ligar a essas coisas, mas o último audiograma diz-me que sim, que, por enquanto, ainda devo...
O grave soou tenso como pele de tambor ao sol. E as Danças Concertantes, de Stravinsky, exploraram os limites da paleta tímbrica e dinâmica. Boa imagem estereofónica, excelente posicionamento espacial. Com Ghost In the House, da banda sonora de Unforgivable Blackness, de Wynton Marsalis, a casa ficou assombrada: os trombones de vara lavraram o ar da sala com sulcos profundos, num registo “in your face”embrulhado em papel de celofane tonal. Já de pé, fui brindado com os coros da banda sonora de Rosewood. Senti-me no balcão do Carneggie Hall a olhar cá para baixo para o palco. Quem é que foi que disse que as dimensões do palco sonoro dependem das dimensões da sala de audição?...
DELAUDIO
Na ampla sala de concertos da Delaudio, actuaram as Monitor Audio GS60
Delfim Yanez é um dos decanos da distribuição áudio/vídeo em Portugal. A sua capacidade para “sentir” o mercado é notável: sabe sempre encontrar o produto certo para o momento certo (veja-se o actual êxito da Hitachi). Tem consciência de que o highend não “dá nada”, como ele diz, mas não resiste ao seu sortilégio, porque no fundo é um audiófilo inveterado com sentimento de culpa por gostar de coisas que dão mais trabalho que dinheiro. A quem o diz...
Advance Acoustics MAP407 e Esoteric X-01
Já o ano passado, nesta mesma sala, se a memória não me falha, tinha apresentado no II Forum Hifi Event as belíssimas Monitor Audio Gold Studio 60, de braço dado com o bom gigante, o Advance Acoustics MAP407. Mas o som este ano estava muito melhor. Não devo errar muito se atribuir a melhoria à fonte Esoteric X-01-D2, uma espécie de jóia da coroa da TEAC. De tal forma que também eu não resisti, e já o tenho aqui comigo para analisar e gozar. E com ele veio a mesa da Spectral, porque o Delfim jura que o segredo está na firmeza da base...
Quando entrei, Caetano cantava Paloma, da banda sonora de Hable con Ella, de Almodovar. Em castelhano, claro, embora o Delfim seja galego, o reino é o de Castela, hombre, e viva o Rei! Mas foi o duelo de timbres entre o barítono de Gerry Mulligan e o tenor de Johny Hodges que me deixou rendido: o melhor som de sempre da Delaudio em shows. Depois da Pass, Pathos e Sonic Frontiers, será que Delfim descobriu a pólvora com a Advance? Foi na China que inventaram a pólvora, não foi?...
IMACÚSTICA/MARTIN LOGAN
Sala Imacústica: Martin Logan Vantage/Audio Analogue Duocento
A verdade é que ouvi o conjunto Martin Logan Vantage/Audio Analogue CD 192/24/Duocento apenas durante o tempo suficiente para tirar a foto da praxe. Também eu não resisto à tentação da novidade e as Vantage, que se recomendam, já passaram pelo meu estúdio (podem ler o teste aqui), por isso - e apenas por isso - passei à frente.
O Audio Analogue Duocento é novidade, de facto, mas já o tinha visto em Las Vegas.
Ambiente agradável, som limpo com o tom e o timbre típico das novas híbridas com painéis xStat e woofers de alumínio da Martin Logan.
JM AUDIO
Amphion Xenon
As Xenon são as mais bela colunas da Amphion. Uma escultura de arte moderna com o toque clássico da “cama” (uma corneta que não funciona como tal, mas apenas como guia de onda) do tweeter, que parece sentir-se feliz em todos os ambientes.
A unidade de graves colocada lateralmente permite optar por um baffle estreito que favorece a dispersão e a imagem estéreo. Aliás, é a aparente facilidade de acoplamento estético e acústico com a sala a sua principal virtude. Adoro a forma com os agudos se integram no resto do espectro. Sendo uma 3-vias, a frequência de corte do tweeter a 1 200Hz é um pouco mais abaixo que a norma para evitar cair na zona onde o ouvido humano é particularmente sensível a descontinuidades: entre os 2 e os 5kHz. O suave “funil” tem ainda o condão de guiar e integrar a onda fresca dos agudos até aos nossos ouvidos sem sobressaltos controlando assim a tendência para a direccionalidade.
Sala da JM Audio
A imagem é ampla graças à tecnologia hipercardioidal que aproveita parte da energia em inversão de fase dos altifalante de médios (um pouco como as Elipsa, aliás), que se escapa sob controlo pelos furos dos painéis laterais em triângulo. Very clever , indeed!
Antique Sound Lab Hurricane Mk II DT
As Amphion que vieram da escandinávia em busca de calor levaram que contar, pois havia um grelhador de sardinhas para cada uma delas: monoblocos Antique Sound Lab Hurricane MKll DT. O prévio era o Flora EX DT também da ASL. Fontes: Belcanto.
O mercado está mau, dizem. Mas não é por falta de qualidade da oferta. Só tive pena não poder estar lá mais tempo.
NIVEL SÓNICO/LINDEMANN
Na reportagem do Highend Show 2004, escrevi isto:
Mais uma marca alemã que me deixou boa impressão: construção, tecnologia e, last but not least, som de grande qualidade.
Na reportagem do Highend Show 2005, escrevi isto:
Em verdade vos digo, esta é outra grande marca alemã de áudio highend. As colunas B60 e 90, que, creio, já tinham sido demonstradas o ano passado, voltaram a reproduzir som de qualidade com a nova electrónica Lindemann: o amplificador dual-mono 850, o prévio 830 e o leitor-SACD 820. Os preços andam na casa dos 5000 euros (a peça)...
Na reportagem do Highend Show 2006, escrevi isto:
Ano após ano repito a mesma coisa: a Lindemann e, já agora, a Behold, mereciam mais atenção da parte dos nossos (aflitos) importadores. Mas o nosso mercado também não ajuda lá muito, pois não?… Já é tão difícil vender o que cá temos…
E, de novo no Highend Show 2005, escrevi isto sobre os Melody:
Uma marca francesa desconhecida para mim. O prévio a válvulas SHW1600 II (na foto) que utiliza as raríssimas válvulas 101D fabricadas em 1920 (!) está considerado pela imprensa japonesa como um dos três melhores do mundo. O potenciómetro é de resistências. Os condensadores são os Aerovox com banho de óleo e os Jensen com armadura de prata...
Finalmente alguém percebeu o que eu queria dizer, e repito: lá porque agora chegou a Portugal, a Lindemann não deixou de ser quem era. E gostei de a ouvir com colunas Revel F32.
Na Nível Sónico também não se fizeram rogados em “passar música”: ouvi discos “normais”, daqueles que nem sempre “vendem som”: Massive Attack, palco expansivo, grave controlado, algum brilho nas sibilantes, típico do tweeter da Revel. Mas como dizia a canção: “Be thankful for what you've got”. E eu fiquei agradecido.
Seguiu-se “Walk up Dead Man”, de M.João e Laginha, e eu, que já estava mais morto que vivo, levantei-me e saí. Não porque não tenha gostado, mas apenas porque queria visitar todas as capelinhas, o que acabou por se revelar impossível.
No dia anterior, tinha lá estado também de passagem, mais como fotógrafo do que audiófilo, e ouvi os Melody a atacar Beethoven , não o dito, mas as Vienna Acoustics Beethoven Baby Grand. Preferi o conjunto Lindemann/Revel mas não ouvi o suficiente para poder chegar a conclusões válidas.
Claro que a Nível Sónico também vai perceber com o tempo o que eu queria dizer com 'o nosso mercado não ajuda lá muito...'. Mas para já estão de parabéns. Mais um revendedor que passa a distribuidor. Felicidades.
VIDEOACÚSTICA
La chambre au noir da Videoacústica: KEF/McIntosh
Depois da grandiosa era de Eduardo Rodrigues, o demonstrador por excelência das grandes massas sonoras, que nos deixava a “bater mal”e com os dedos dos pés encarquilhados, a nova filosofia da Videoacústica é a de mostrar mais do que demonstrar. Numa sala ampla e à média luz para realçar o azul dos olhos dos McIntosh, a última versão das KEF Reference 207 II, apresentadas na CES 2007, em Las Vegas, e cuja primeira foto foi publicada no Hificlube, iluminavam de música a exposição do vasto acervo da rica colecção de marcas da Videoacústica.
No meio das novidades sabe sempre bem ver os eternos clássicos: McIntosh MC275
O potencial das novas 207 sentia-se como o de um motor V8 a trabalhar ao ralenti debaixo do capot. Negras como panteras, pareciam aguardar o momento certo para se lançarem sobre os visitantes desprevenidos.
Depois da surpresa das KEF Austin, apresentadas no HighEnd Show 2006, de Munique, será que este ano vamos ter as inacreditáveis KEF Muon: 115 quilos de alumínio puro!
Os conhecimentos e a experiência são parte da complexa equação a que se chama “análise auditiva”, que não é mais que uma opinião sobre determinados produtos num determinado contexto. Que diz pouco sobre o produto em si. E ainda menos sobre o contexto. Mas diz muito sobre as pessoas: a pessoa que ele é, e o Outro, aquele que lhe proporcionou a experiência que relata.
Toda a demonstração no contexto de um hifishow é uma luta entre dois espíritos: o que monta o circo mágico do som e o que tenta reduzir a magia à realidade - a sua realidade. A empatia perfeita acontece quando ambos os espíritos se encontram num estágio de conhecimento tal que lhes permite chegar a conclusões semelhantes, ainda que julgando ouvir coisas diferentes, e defendendo interesses por vezes antagónicos.
ARTAUDIO
Já tinha sido apresentado às Final 300, quando do cocktail de antevisão da ArtAudio. Som muito limpo e ultradefinido com amplificação Rotel de Classe D e 'subs' dedicados da Final. Lembro-me de ter comentado com o João Rodrigues que os “subs” estavam tão discretos que parecia que nem estavam activados. Sendo um modelo de dimensões reduzidas, as 300 precisam de um pouco mais de base de sustentação. Mas o Alberto Silva não pode estar em todas. Eu sei que, nestes casos, tanto se pode ser preso por ter cão como por não ter: se o deixamos ladrar muito woof, woof, interfere na transparência electrostática; se o mandamos calar, elas tornam-se tímidas e frágeis. São precisas semanas, ou até meses, para acertar na mouche. Ora nos shows não há tempo para isso - e já é milagre o que se consegue...
B&W/LINN
A Linn gosta pouco de misturas. Mas o Domingos defendeu-se dizendo que a Linn não se importa de se “misturar” com coisas boas: as 803 D fazem parte do lote de produtos que nunca ficam mal na fotografia acústica (ficaram mal na outra:sorry guys, o flash não disparou): som cheio e com drive, talvez a precisar de um pouco mais de espaço para se expandir e integrar.
AUDIOELITE
Sala (ou melhor: quarto) da Audioelite
José Júdice e Jorge 'Maître' Gaspar fizeram tudo para trazer para Portugal os amplificadores ASR. E, sendo a AudioElite representante da Mark Levinson, não foi com certeza para ficarem ricos. Tal como eu, ouviram-no em Munique e gostaram do que ouviram. Foi quanto bastou.
ASR Emitter II Exclusive
Posto isto, o ASR Emitter Exclusive, ou a versão Blue, porque um toque de azul fica sempre bem, é um grande amplificador integrado. Tem a liquidez e a densidade de carácter de um amplificador a válvulas sem os inconvenientes destes. O som é sólido mas ágil, e o excipiente atmosférico que rodeia os intervenientes em palco é transparente e isento de grão.
Mesa de iguarias da Audioelite
Estava a tocar com uma Revel F52, mais ou menos em apertos, no quarto esconso que lhes coube, com fontes McCormack UDP1 e Mark Levinson 390S (não cheguei a ouvir o Oracle). Como sempre o Jorge não “põe” discos, passa música - there's a hell of a difference!
Dois bons amigos: Rui Calado e Jorge Gaspar
Quando entrei, ouvia-se Pink Floyd: We don't need no education, cantava o coro de crianças. Pareciam tão reais, que me apeteceu dizer-lhes que estavam enganados, mas soavam tão determinados que me abstive. A separação das vozes bastava para definir o Emitter como um amplificador highend. Alguma dureza dos registos médio-altos devia-se provavelmente à proximidade das paredes laterais não-tratadas (às vezes, um painel difusor é quanto basta). Mas o 'Maître' é assim: paredes nuas e nada na manga.
Eu ando muito crítico do som dos tweeters afinados para o gosto americano, já a contar com as salas grandes, os tectos altos, os cortinados, tapetes e sofás múltiplos. Com a minha idade, já não devia ligar a essas coisas, mas o último audiograma diz-me que sim, que, por enquanto, ainda devo...
O grave soou tenso como pele de tambor ao sol. E as Danças Concertantes, de Stravinsky, exploraram os limites da paleta tímbrica e dinâmica. Boa imagem estereofónica, excelente posicionamento espacial. Com Ghost In the House, da banda sonora de Unforgivable Blackness, de Wynton Marsalis, a casa ficou assombrada: os trombones de vara lavraram o ar da sala com sulcos profundos, num registo “in your face”embrulhado em papel de celofane tonal. Já de pé, fui brindado com os coros da banda sonora de Rosewood. Senti-me no balcão do Carneggie Hall a olhar cá para baixo para o palco. Quem é que foi que disse que as dimensões do palco sonoro dependem das dimensões da sala de audição?...
DELAUDIO
Na ampla sala de concertos da Delaudio, actuaram as Monitor Audio GS60
Delfim Yanez é um dos decanos da distribuição áudio/vídeo em Portugal. A sua capacidade para “sentir” o mercado é notável: sabe sempre encontrar o produto certo para o momento certo (veja-se o actual êxito da Hitachi). Tem consciência de que o highend não “dá nada”, como ele diz, mas não resiste ao seu sortilégio, porque no fundo é um audiófilo inveterado com sentimento de culpa por gostar de coisas que dão mais trabalho que dinheiro. A quem o diz...
Advance Acoustics MAP407 e Esoteric X-01
Já o ano passado, nesta mesma sala, se a memória não me falha, tinha apresentado no II Forum Hifi Event as belíssimas Monitor Audio Gold Studio 60, de braço dado com o bom gigante, o Advance Acoustics MAP407. Mas o som este ano estava muito melhor. Não devo errar muito se atribuir a melhoria à fonte Esoteric X-01-D2, uma espécie de jóia da coroa da TEAC. De tal forma que também eu não resisti, e já o tenho aqui comigo para analisar e gozar. E com ele veio a mesa da Spectral, porque o Delfim jura que o segredo está na firmeza da base...
Quando entrei, Caetano cantava Paloma, da banda sonora de Hable con Ella, de Almodovar. Em castelhano, claro, embora o Delfim seja galego, o reino é o de Castela, hombre, e viva o Rei! Mas foi o duelo de timbres entre o barítono de Gerry Mulligan e o tenor de Johny Hodges que me deixou rendido: o melhor som de sempre da Delaudio em shows. Depois da Pass, Pathos e Sonic Frontiers, será que Delfim descobriu a pólvora com a Advance? Foi na China que inventaram a pólvora, não foi?...
IMACÚSTICA/MARTIN LOGAN
Sala Imacústica: Martin Logan Vantage/Audio Analogue Duocento
A verdade é que ouvi o conjunto Martin Logan Vantage/Audio Analogue CD 192/24/Duocento apenas durante o tempo suficiente para tirar a foto da praxe. Também eu não resisto à tentação da novidade e as Vantage, que se recomendam, já passaram pelo meu estúdio (podem ler o teste aqui), por isso - e apenas por isso - passei à frente.
O Audio Analogue Duocento é novidade, de facto, mas já o tinha visto em Las Vegas.
Ambiente agradável, som limpo com o tom e o timbre típico das novas híbridas com painéis xStat e woofers de alumínio da Martin Logan.
JM AUDIO
Amphion Xenon
As Xenon são as mais bela colunas da Amphion. Uma escultura de arte moderna com o toque clássico da “cama” (uma corneta que não funciona como tal, mas apenas como guia de onda) do tweeter, que parece sentir-se feliz em todos os ambientes.
A unidade de graves colocada lateralmente permite optar por um baffle estreito que favorece a dispersão e a imagem estéreo. Aliás, é a aparente facilidade de acoplamento estético e acústico com a sala a sua principal virtude. Adoro a forma com os agudos se integram no resto do espectro. Sendo uma 3-vias, a frequência de corte do tweeter a 1 200Hz é um pouco mais abaixo que a norma para evitar cair na zona onde o ouvido humano é particularmente sensível a descontinuidades: entre os 2 e os 5kHz. O suave “funil” tem ainda o condão de guiar e integrar a onda fresca dos agudos até aos nossos ouvidos sem sobressaltos controlando assim a tendência para a direccionalidade.
Sala da JM Audio
A imagem é ampla graças à tecnologia hipercardioidal que aproveita parte da energia em inversão de fase dos altifalante de médios (um pouco como as Elipsa, aliás), que se escapa sob controlo pelos furos dos painéis laterais em triângulo. Very clever , indeed!
Antique Sound Lab Hurricane Mk II DT
As Amphion que vieram da escandinávia em busca de calor levaram que contar, pois havia um grelhador de sardinhas para cada uma delas: monoblocos Antique Sound Lab Hurricane MKll DT. O prévio era o Flora EX DT também da ASL. Fontes: Belcanto.
O mercado está mau, dizem. Mas não é por falta de qualidade da oferta. Só tive pena não poder estar lá mais tempo.
NIVEL SÓNICO/LINDEMANN
Na reportagem do Highend Show 2004, escrevi isto:
Mais uma marca alemã que me deixou boa impressão: construção, tecnologia e, last but not least, som de grande qualidade.
Na reportagem do Highend Show 2005, escrevi isto:
Em verdade vos digo, esta é outra grande marca alemã de áudio highend. As colunas B60 e 90, que, creio, já tinham sido demonstradas o ano passado, voltaram a reproduzir som de qualidade com a nova electrónica Lindemann: o amplificador dual-mono 850, o prévio 830 e o leitor-SACD 820. Os preços andam na casa dos 5000 euros (a peça)...
Na reportagem do Highend Show 2006, escrevi isto:
Ano após ano repito a mesma coisa: a Lindemann e, já agora, a Behold, mereciam mais atenção da parte dos nossos (aflitos) importadores. Mas o nosso mercado também não ajuda lá muito, pois não?… Já é tão difícil vender o que cá temos…
E, de novo no Highend Show 2005, escrevi isto sobre os Melody:
Uma marca francesa desconhecida para mim. O prévio a válvulas SHW1600 II (na foto) que utiliza as raríssimas válvulas 101D fabricadas em 1920 (!) está considerado pela imprensa japonesa como um dos três melhores do mundo. O potenciómetro é de resistências. Os condensadores são os Aerovox com banho de óleo e os Jensen com armadura de prata...
Finalmente alguém percebeu o que eu queria dizer, e repito: lá porque agora chegou a Portugal, a Lindemann não deixou de ser quem era. E gostei de a ouvir com colunas Revel F32.
Na Nível Sónico também não se fizeram rogados em “passar música”: ouvi discos “normais”, daqueles que nem sempre “vendem som”: Massive Attack, palco expansivo, grave controlado, algum brilho nas sibilantes, típico do tweeter da Revel. Mas como dizia a canção: “Be thankful for what you've got”. E eu fiquei agradecido.
Seguiu-se “Walk up Dead Man”, de M.João e Laginha, e eu, que já estava mais morto que vivo, levantei-me e saí. Não porque não tenha gostado, mas apenas porque queria visitar todas as capelinhas, o que acabou por se revelar impossível.
No dia anterior, tinha lá estado também de passagem, mais como fotógrafo do que audiófilo, e ouvi os Melody a atacar Beethoven , não o dito, mas as Vienna Acoustics Beethoven Baby Grand. Preferi o conjunto Lindemann/Revel mas não ouvi o suficiente para poder chegar a conclusões válidas.
Claro que a Nível Sónico também vai perceber com o tempo o que eu queria dizer com 'o nosso mercado não ajuda lá muito...'. Mas para já estão de parabéns. Mais um revendedor que passa a distribuidor. Felicidades.
VIDEOACÚSTICA
La chambre au noir da Videoacústica: KEF/McIntosh
Depois da grandiosa era de Eduardo Rodrigues, o demonstrador por excelência das grandes massas sonoras, que nos deixava a “bater mal”e com os dedos dos pés encarquilhados, a nova filosofia da Videoacústica é a de mostrar mais do que demonstrar. Numa sala ampla e à média luz para realçar o azul dos olhos dos McIntosh, a última versão das KEF Reference 207 II, apresentadas na CES 2007, em Las Vegas, e cuja primeira foto foi publicada no Hificlube, iluminavam de música a exposição do vasto acervo da rica colecção de marcas da Videoacústica.
No meio das novidades sabe sempre bem ver os eternos clássicos: McIntosh MC275
O potencial das novas 207 sentia-se como o de um motor V8 a trabalhar ao ralenti debaixo do capot. Negras como panteras, pareciam aguardar o momento certo para se lançarem sobre os visitantes desprevenidos.
Depois da surpresa das KEF Austin, apresentadas no HighEnd Show 2006, de Munique, será que este ano vamos ter as inacreditáveis KEF Muon: 115 quilos de alumínio puro!