Os perfumes são 90% inspiração - a embalagem e o marketing - e 10% transpiração (salvo seja!...). Os cabos de áudio também. E com algumas crenças à mistura (há quem lhes chame banha-da-cobra): as altas frequências (em áudio?!) propagam-se à superfície, logo condutores ocos fazem mais sentido (Ocos); ou que deve optar-se por condutores de secção rectangular, porque assim os electrões ficam confusos (?), e já não se dividem entre o centro e a superfície (Tara Labs). Mas a minha preferida é a do enrolamento segundo a espiral de Fibonacci, a sectio aurea, a proporção divina (1618…), que inspirou o Vitrúvio, de Da Vinci (Cardas) e o código do dito, de Dan Brown.
Deus utilizou-a para criar plantas, animais, insectos e o próprio homem à sua imagem. Das pirâmides egípcias aos templos gregos, da arte renascentista à arquitectura moderna, tudo se regeu a partir daí pela “secção dourada” - até a matemática: de Pitágoras e Euclides a Keppler. Porque havia de ser diferente com os cabos?
Para a ciência a qualidade dos cabos depende, não tanto dos materiais: cobre, prata ou ouro; da geometria de condutores e enrolamentos, ou da textura e cor do dieléctrico (o revestimento), mas sobretudo da correcta relação entre capacidade, resistência e impedância. Por isso, quando os leitores me perguntam qual o cabo que devem comprar, tenho vontade de responder: fio de candeeiro serve perfeitamente - o som chega lá na mesma…
Um cientista japonês afirmou ter descoberto uma fórmula química para “arredondar” os taninos do tinto, envolvendo as moléculas de vinho em moléculas de água. Ora eu, que acabei de beber ao jantar uma garrafa de moléculas do Douro, pergunto: mas há alguma coisa que substitua a mãe natureza criada por Deus?
A ciência também pode ser desmancha-prazeres, e até no áudio um pouco de crença nunca fez mal a ninguém: eu adoro experimentar cabos caros. E provar bons tintos…
Já toda a gente sabe que eu utilizo preferencialmente cabos Nordost Valhalla e Siltech (vários). Por razões opostas: os primeiros por serem neutros; os segundos por não o serem. Pode parecer estranho, mas, por vezes, um cabo capaz de “puxar” os registos médios para a boca de cena, ao “secar” os graves, sem lhes roubar a extensão; e de “domar” os agudos, sem lhes “dourar” demasiado o brilho, como é o caso dos Siltech, pode ser uma boa solução, em especial quando se pretende aumentar o recorte, pois funcionam quase como um filtro polarizador, que realça as nuvens, leia-se nuances, ao escurecer o céu, leia-se fazendo baixar o patamar de silêncio. E, como diz Wynton Marsalis, as nuances são tudo na música...
Nos Valhalla, cativa-me a neutralidade, a isenção e o sentido de justiça: não há discriminações pelo tom ou pela cor; não se “cortam as pernas” aos elementos mais dinâmicos do processo musical em curso e a liberdade de expressão é total, mesmo quando o que se ouve pode soar a disparate.
Por outro lado, a minha profunda admiração por estes cabos é também de natureza estética, e não me refiro apenas à beleza física, mas sobretudo à elegância do conceito que consigna em si num equilíbrio perfeito todos os elementos reputados como fundamentais para um bom resultado: oferece as vantagens dos unifilares sendo multifilar, tem o dieléctrico perfeito (ar inerte) e consegue manter a separação uniforme entre condutores em todas as circunstâncias (ler O cabo das Tormentas).