É trágico que o mercado tenha optado pela quantidade em detrimento da qualidade. As editoras, respeitando a Lei de Murphy, sabiam que algo iria correr mal e, antes que fosse tarde, não os podendo vencer, juntaram-se a todos os que consomem música via internet e deram a volta por cima ao impôr um preço ao que antes era grátis. É fácil, é rápido e dá milhões.
Neste contexto, o LP corresponde ao “slow cooking”: ainda há alguns carolas que têm paciência para esperar que a música cozinhe numa fritura branda; e o CD já só é defendido por cotas com mais de trinta anos. Ipod é que é! E quanto mais memória tiver, melhor, pois alimentam-se de milhares de faixas de discos sem mastigar engordando a olhos vistos. Tal como os miúdos obesos que adoram a “fast food”.
Hoje tudo tem de ser rápido. Nunca houve tanta pressa para chegar a lugar nenhum. Antes saboreava-se o tempo à espera de Godot. Agora Godot está ao alcance de uma simples tecla. Já não se espera, procura-se por ele num labirinto electrónico sem fim. E nunca se encontra. Continua sem saber-se quem é. Talvez seja o desconhecido que existe dentro de cada um de nós. Há quem oiça a mesma sinfonia centenas de vezes, descobrindo nela significados sempre diferentes; e há quem oiça centenas de discos apenas uma vez sem lhes atribuir significado nenhum.
Em Portugal, na era da imagem deslumbrante da HDTV e do Blu-ray, caminha-se para a televisão digital terrestre. Uma vez mais não é a qualidade que se procura, é a quantidade: dez, vinte canais disponíveis onde antes cabia apenas um no apertado espaço rádio-eléctrico. Ou, como cantava Roger Waters: “Got thirteen channels of shit on the T.V. to choose from.”
De tanto esperar por Godot, Pozzo ficou cego e Lucky surdo. Enquanto Vladimir e Estragon partem para lugar nenhum, sentados imóveis frente ao computador - a engordar, a vegetar, a morrer lentamente...