A Parte 4 devia ser a primeira. Por razões óbvias, amplamente divulgadas em textos anteriores, não posso ter a veleidade de ter visto ou ouvido nada que já não esteja disponível em centenas de sites sobre a CES que, em alguns casos, contêm até mais informação que a possível de obter in loco. Assim sendo, qual é o interesse de voar 20 000 quilómetros quando podia ter ficado em casa a navegar na net, poupando tempo e dinheiro?
A resposta está no gozo de estar lá, de ser testemunha privilegiada, de participar, de poder formar uma opinião baseada numa experiência pessoal e única.
Eu sou como S. Tomé: ver - e sobretudo ouvir - para crer. É que nem sempre acredito naquilo que leio. Ler o que se escreveu na Stereophile, Enjoy The Musics ou Soundstage, etc., sobre isto ou aquilo e estar lá para poder confirmar in loco se é assim tão bom (ou mau) como dizem, é o maior desejo de qualquer audiófilo. E nem sempre o que parece é. Chego mesmo a ter a desagradável sensação, ao assistir involuntariamente a certas conversas e encontros de corredor, que tudo não passa de campanhas orquestradas para lançar marcas que procuram distribuidores internacionais.
Amplificador a válvulas Audio Space
Dou o exemplo da Audio Space. Podia dar muitos outros exemplos: são às centenas as novas marcas, com nomes desconhecidos e exóticos de proveniência duvidosa, de equipamento a válvulas genuinamente californiano mas de origem... oriental. A construção da Audio Space é muito boa - e o som também, admito. Mas não nos traz nada de novo pelo preço. É um som tipicamente a válvulas: grave redondo, agudos doces, médios naturais mas sem grande resolução.
Basta desfolhar a The Absolute Sound ou ler a Stereophile online para constatar que vai ser uma das novas coqueluches que, tal como nos jornais desportivos, tanta falta fazem para cativar os leitores. Duram o tempo que duram, como os amores de Verão. São assim uma espécie de Freddy Adu, que o Pelé afirmava ser um dos melhores jogadores do mundo, provavelmente porque também bebe Pepsi ou veste Nike. Lá joga 10 minutos, lá marca um golito - e até é simpático, mas daí a ser um Cristiano Ronaldo vai uma distância tão grande como de Lisboa a Las Vegas, como a distância que vai do verdadeiro highend aos genéricos que tentam sê-lo e nunca serão.
No final, o que fica sempre as marcas com provas dadas ao longo de décadas: Audio Research, Cary, Jadis, Joule, Manley, VTL, etc. Às vezes resulta como foi o caso da Prima Luna que com a nova aposta nos Hedo (solid state), uma cópia chinesa dos Plinius, talvez esteja a esticar demasiado a corda.
No próprio Venetian, ouvi amplificadores a válvulas muito melhores que os Audio Space, como os Mastersound, que são italianos, logo europeus, e estavam em várias salas, soando invariavelmente bem com qualquer coluna. Ora isto sim, isto é um bom cartão de visita.
Amplificador a válvulas Master Sound, som de mestre
MasterSound+ASW
MasterSound+Audes
MasterSound+Gradiente
O mesmo se passa com as colunas de som. É verdade que as novidades não eram muitas. Mas se eu tivesse que escolher a melhor, voltava a escolher as mesmas do ano passado: Soundlab e TAD. Até podia utilizar as mesmas fotos, que ninguém dava por isso. O que é bom, é sempre bom.
Krell Modulare Duo
A que acrescento as Krell Modulare Duo (desta vez fiquei embasbacado com o som que produzem),
Nola Baby Grand Ref
as Nola (que baixo!)
Hansen Prince
e as Hansen Prince (que dinâmica, que coerência!, que ataque!). É curioso como preferi o Príncipe em 2008 ao Imperador em 2007. Talvez fosse pela escolha de música. O negro que seleccionava os LP de jazz para os colocar no prato do fabuloso gira-discos sabia o que fazia: cada faixa era melhor que a outra.
Sala da Gallo Acoustics
Adorei voltar a ouvir as esbeltas Gallo 5LS com electrónica McIntosh e amplificação de Classe D Spectron.
As grandiosas Soundlab Pro Stat 922
Estar sentado perante as Soundlab é uma experiência única na vida. O setup era igual ao do ano passado: quatro pares de Pro Stat 922, encostadas duas a duas, dois canais frontais e dois traseiros, com amplificação Pass, conversores Emm Labs e um computador ligado a um disco rígido que continha os registos Isomike em surround: 4-canais. Em equipa que ganha não se mexe.
O termo mais ouvido à saída é “spooky” (fantasmagórico) e é de facto essa a sensação auditiva. A de que todos os sons estão a ser produzidos por seres invisíveis que vivem dentro daqueles monstros negros que a qualquer momento vão aparecer. Eu sei que me estou a repetir. Mas eu também gosto de repetir os meus pratos favoritos. Além disso, para quê mudar o que já é perfeito. E será que são perfeitas as Soundlab?
Bom, vamos esquecer que serão poucas as pessoas no mundo com uma sala capaz de as acomodar, além, claro, do dinheiro necessário para tal. E dessas apenas uma minoria teria coragem para as colocar lá, Só quem tem uma sala dedicada na cave onde não entra mulher (que horror!) ou crianças (que medo!), e tem amigos audiófilos fiéis e dedicados, que não vêm cá para fora dizer que ele está louco (este gajo é maluco!), é que se pode candidatar.
TAD Reference One
Depois, aquilo tem algumas limitações dinâmicas, apesar do tamanho, O poder está lá, o grave está lá, aliás está tudo no seu devido lugar, tanto em termos de fase como de equilíbrio tonal, pureza tímbrica e precisão da imagem estereofónica. Mas toca baixinho. Quer dizer, não nos dá aquela sensação de impacte, de luminosidade acústica, que se experimenta com as TAD Reference One, desta feita com amplificação Ayre MXR. São dois conceitos diferentes, ambos muito bons, o que só prova que a perfeição na reprodução sonora nunca será alcançada.
Mastertapes do Prof. Keith Johnson, Reference Recordings
As TAD estavam a tocar logo na porta em frente. O que me permitiu sair da sala da Soundlab, onde tinha sido sujeito a um sessão de espiritualidade zen, com base em matrizes Isomike, para enfrentar um prova de resistência física (é de ficar agarrado à cadeira), ouvindo matrizes a 24 bit-192kHz registadas pelo génio do professor Keith Johnson, da Reference Recordings; ou a faixa “School”, dos Supertramp, como nunca a ouvi, remasterizada em alta resolução.
Melhor do que isto, só ao vivo. E, mesmo assim, é raro experimentar num concerto esta desarmante sensação de que não há nada que se possa apontar ao som e mereça ser alterado.
Quando saí de lá pensei: eu tenho dois amores, que em nada são iguais, e não sei de qual eu gosto mais...
Também tive algumas desilusões, claro. Que só não foram maiores porque confirmaram as minhas suspeitas de outras audições anteriores. Eu sei que vou ferir, nuns casos, susceptibilidades, noutros, amizades. Mas este é o meu prisma: foi isto que vi/ouvi. Quem não gostar, passa à frente.
Vienna Acoustics The Musik
O Jorge Gaspar que me perdoe mas o som das Viena Acoustics Reference The Musik não justificou a espera de um ano. O ano passado a Sumiko só tinha mostrado o que este ano foi demonstrado. As colunas estavam demasiado afastadas talvez. Para compensar viraram para dentro o módulo superior articulado. O resultado foi catastrófico: som agressivo, sem substância acústica. Tshs-tshh lá em cima, pup-pum cá em baixo, sem nada que se ouvisse no meio. Isto em nada afecta a minha opinião positiva dos modelos “normais” da marca. Esta, além de feia, sobretudo quando está desarticulada, estava a tocar malzinho, benza-a Deus. Além disso, os tipos da Sumiko precisavam de umas lições de “Maitre” Gaspar sobre como se montam e demonstram colunas e se atendem pessoas...
Sala da Thiel+Bryston+Torus
O que eu já não sei é se ele me vai perdoar eu não ter ficado tão rendido perante as Thiel 3.7 como o resto da crítica. Jim Thiel é uma excelente pessoa, todo os seu staff é inultrapassável de simpatia e hospitalidade, mas ouvir Ricky Martin a abrir numa sala escura e vazia foi uma desilusão. E eu até gosto dos amplificadores Bryston. Talvez fosse daquela parafernália de condicionadores de corrente Torus. Seria condicionamento a mais?...
Sala da Bolzano Villetri
Mas havia pior. As Bolzano Villetri, por exemplo. Cá está mais um exemplo de uma marca levada ao colo pela crítica americana. Caramba!, meus amigos, aquilo não é só esquisito, soa esquisito. E estou-me a borrifar para as explicações técnicas que, no papel, garantem um som perfeito. Era incapaz de viver com um sistema destes.
As Analysis, ou a desilusão acústica
Querem mais um exemplo? As Analysis Audio, umas gregras bonitas que se parecem (parecem apenas não são full-ribbon, são planar/ribbon) com as americanas (agora australianas) Apogee. Mas como é que alguém, no seu juízo perfeito, pode afirmar que aquilo toca bem? Comparar aquilo com uma Apogee, é uma ofensa à doce memória da minha convivência com elas durante vários anos. Uma separação estúpida de que ainda não estou recomposto. Felizmente, o Rui Calado andou parte do percurso comigo e foi testemunha, ou eu poderia pensar que estava afectado pelo jet lag. Alimentadas por uma artilharia impressionante de amplificadores Ypsilon SET, soaram como uma gata a miar: nem dinâmica, nem ataque, nem presença, nem tom, nem timbre, nem imagem, nada, nicles! Com um modesto Prima Luna Dialogue e uma Sonus Faber Concertino obtenho melhores resultados acústicos e musicais.
Podium: eu acho que não merecem o pódio. Por mim eram até desclassificadas da maratona do highend
O mesmo se pode dizer das Podium. Não são ribbons, nem electrostáticas, nem isodinâmicas. Nem sequer têm crossover. Um painel full-range de metal vibra modulado por ondas tranversais (??) e produz som. Teoricamente é o sonho tornado realidade. Na realidade soa como parece: uma folha de alumínio (ou lá o que é aquilo) a vibrar. Sentado ao meu lado, Rui Calado suspirava: minhas ricas Magneplanar. E eu pergunto de novo: como é possível alguém afirmar que aquilo é o som na sua pureza original?
Sala da Rethm
A estranha Rethm em pormenor
Mas também tive que engolir alguns sapos. Andei anos a dizer mal das Rethm e desta vez fiquei rendido. Aliás, foi o único altifalante full-range que me soou bem no The Show. Tudo o resto não passa de ilusões. Também é verdade que a Rethm tem um módulo de graves acoplado atrás da coluna propriamente dita. Mas o som estava excepcional. A imagem estéreo então era superlativa. E a electrónica era do mais simples: leitor-CD Consonance, amplificador Mod Wright.
MBL 101 X-treme
Outra das facetas curiosas da crítica americana é escolher a qualidade do som pela coluna da direita, como quem escolhe sem critério os pratos e os vinhos nos restaurantes. Refiro-me ao preço, claro. Veja-se o caso das MBL 101 X-treme. Nem que me saísse o Euromilhões, eu comprava este sistema que é claramente uma tentativa de “americanizar” os ananazes originais que, tendo limitações, são contudo bem mais saborosos ao natural. Colocar um ananaz em cima do outro a fazer o pino, e juntar-lhes umas torres de graves, pode dar mais som mas não melhor som. O resultado é uma amálgama incoerente de sons desfasados no tempo e no espaço. A não ser que o comprador potencial seja um tipo de 70 anos que andava no Bellagio, vestido à cowboy, todo de vermelho, chapéu e botas incluídas (por falar em incoerência, o casaco era da Ferrari...), e com dois cachuchos em cada dedo...
Os ananazes nem sequer estavam bem alinhados. Será que sou só eu que oiço (e vejo) os erros de fase nas colunas? Será por isso que as Soundlab (electrostáticas) e as TAD (médios e agudos concêntricos) me soam tão bem?
Siltech Pantheon
Também apontadas aos americanos endinheirados são as Siltech: 130 000 dólares o par, edição limitada a 36 pares. Bom, mas estas já me agradaram mais este ano. Ou talvez seja porque me lembram umas colunas que eu construí, há tanto tempo que até tenho vergonha de dizer, com base num painel electrostático Schackman e um médio-grave KEF montado numa linha de transmissão Bailey. O som tem dignidade audiófila, embora pelo preço haja opções bem mais interessantes em termos acústicos. Uma vez mais, sinto que falta coerência de fase ao conjunto. Apesar de terem encurtado a distância entre o módulo superior e as caixas de graves (comparem com a foto do ano passado).
As YG Kipod ao lado das Anat Reference: amplificação Krell
Sem problemas de fase mas com problemas de atitude está a YG Acoustics que anuncia as Anat Reference como “The Best Loudspeaker on Earth”. Give me a break! Caixa de metal por caixa de metal, prefiro de longe as Krell Modulare Duo. Mas aqui parece que sou eu contra todos, incluindo o Rui Calado que gostou do que ouviu. Eu acho que aquela gama média precisa de se libertar do “full metal jacket”: soa comprimida. A primeira vez que as ouvi em Munique eram mais feias mas tinham um som mais bonito.
Acreditem. Só há uma vintena de grandes fabricantes, cujos produtos são realmente highend a sério. O resto são fantasias alimentadas pela imprensa.
Hoje fico por aqui. Amanhã sou capaz de os levar ao The Show para se rirem um bocado. E ainda há distribuidores em Portugal que se queixam de que vai pouca gente aos shows. No The Show não havia alma nem vivalma...
A resposta está no gozo de estar lá, de ser testemunha privilegiada, de participar, de poder formar uma opinião baseada numa experiência pessoal e única.
Eu sou como S. Tomé: ver - e sobretudo ouvir - para crer. É que nem sempre acredito naquilo que leio. Ler o que se escreveu na Stereophile, Enjoy The Musics ou Soundstage, etc., sobre isto ou aquilo e estar lá para poder confirmar in loco se é assim tão bom (ou mau) como dizem, é o maior desejo de qualquer audiófilo. E nem sempre o que parece é. Chego mesmo a ter a desagradável sensação, ao assistir involuntariamente a certas conversas e encontros de corredor, que tudo não passa de campanhas orquestradas para lançar marcas que procuram distribuidores internacionais.
Amplificador a válvulas Audio Space
Dou o exemplo da Audio Space. Podia dar muitos outros exemplos: são às centenas as novas marcas, com nomes desconhecidos e exóticos de proveniência duvidosa, de equipamento a válvulas genuinamente californiano mas de origem... oriental. A construção da Audio Space é muito boa - e o som também, admito. Mas não nos traz nada de novo pelo preço. É um som tipicamente a válvulas: grave redondo, agudos doces, médios naturais mas sem grande resolução.
Basta desfolhar a The Absolute Sound ou ler a Stereophile online para constatar que vai ser uma das novas coqueluches que, tal como nos jornais desportivos, tanta falta fazem para cativar os leitores. Duram o tempo que duram, como os amores de Verão. São assim uma espécie de Freddy Adu, que o Pelé afirmava ser um dos melhores jogadores do mundo, provavelmente porque também bebe Pepsi ou veste Nike. Lá joga 10 minutos, lá marca um golito - e até é simpático, mas daí a ser um Cristiano Ronaldo vai uma distância tão grande como de Lisboa a Las Vegas, como a distância que vai do verdadeiro highend aos genéricos que tentam sê-lo e nunca serão.
No final, o que fica sempre as marcas com provas dadas ao longo de décadas: Audio Research, Cary, Jadis, Joule, Manley, VTL, etc. Às vezes resulta como foi o caso da Prima Luna que com a nova aposta nos Hedo (solid state), uma cópia chinesa dos Plinius, talvez esteja a esticar demasiado a corda.
No próprio Venetian, ouvi amplificadores a válvulas muito melhores que os Audio Space, como os Mastersound, que são italianos, logo europeus, e estavam em várias salas, soando invariavelmente bem com qualquer coluna. Ora isto sim, isto é um bom cartão de visita.
Amplificador a válvulas Master Sound, som de mestre
MasterSound+ASW
MasterSound+Audes
MasterSound+Gradiente
O mesmo se passa com as colunas de som. É verdade que as novidades não eram muitas. Mas se eu tivesse que escolher a melhor, voltava a escolher as mesmas do ano passado: Soundlab e TAD. Até podia utilizar as mesmas fotos, que ninguém dava por isso. O que é bom, é sempre bom.
Krell Modulare Duo
A que acrescento as Krell Modulare Duo (desta vez fiquei embasbacado com o som que produzem),
Nola Baby Grand Ref
as Nola (que baixo!)
Hansen Prince
e as Hansen Prince (que dinâmica, que coerência!, que ataque!). É curioso como preferi o Príncipe em 2008 ao Imperador em 2007. Talvez fosse pela escolha de música. O negro que seleccionava os LP de jazz para os colocar no prato do fabuloso gira-discos sabia o que fazia: cada faixa era melhor que a outra.
Sala da Gallo Acoustics
Adorei voltar a ouvir as esbeltas Gallo 5LS com electrónica McIntosh e amplificação de Classe D Spectron.
As grandiosas Soundlab Pro Stat 922
Estar sentado perante as Soundlab é uma experiência única na vida. O setup era igual ao do ano passado: quatro pares de Pro Stat 922, encostadas duas a duas, dois canais frontais e dois traseiros, com amplificação Pass, conversores Emm Labs e um computador ligado a um disco rígido que continha os registos Isomike em surround: 4-canais. Em equipa que ganha não se mexe.
O termo mais ouvido à saída é “spooky” (fantasmagórico) e é de facto essa a sensação auditiva. A de que todos os sons estão a ser produzidos por seres invisíveis que vivem dentro daqueles monstros negros que a qualquer momento vão aparecer. Eu sei que me estou a repetir. Mas eu também gosto de repetir os meus pratos favoritos. Além disso, para quê mudar o que já é perfeito. E será que são perfeitas as Soundlab?
Bom, vamos esquecer que serão poucas as pessoas no mundo com uma sala capaz de as acomodar, além, claro, do dinheiro necessário para tal. E dessas apenas uma minoria teria coragem para as colocar lá, Só quem tem uma sala dedicada na cave onde não entra mulher (que horror!) ou crianças (que medo!), e tem amigos audiófilos fiéis e dedicados, que não vêm cá para fora dizer que ele está louco (este gajo é maluco!), é que se pode candidatar.
TAD Reference One
Depois, aquilo tem algumas limitações dinâmicas, apesar do tamanho, O poder está lá, o grave está lá, aliás está tudo no seu devido lugar, tanto em termos de fase como de equilíbrio tonal, pureza tímbrica e precisão da imagem estereofónica. Mas toca baixinho. Quer dizer, não nos dá aquela sensação de impacte, de luminosidade acústica, que se experimenta com as TAD Reference One, desta feita com amplificação Ayre MXR. São dois conceitos diferentes, ambos muito bons, o que só prova que a perfeição na reprodução sonora nunca será alcançada.
Mastertapes do Prof. Keith Johnson, Reference Recordings
As TAD estavam a tocar logo na porta em frente. O que me permitiu sair da sala da Soundlab, onde tinha sido sujeito a um sessão de espiritualidade zen, com base em matrizes Isomike, para enfrentar um prova de resistência física (é de ficar agarrado à cadeira), ouvindo matrizes a 24 bit-192kHz registadas pelo génio do professor Keith Johnson, da Reference Recordings; ou a faixa “School”, dos Supertramp, como nunca a ouvi, remasterizada em alta resolução.
Melhor do que isto, só ao vivo. E, mesmo assim, é raro experimentar num concerto esta desarmante sensação de que não há nada que se possa apontar ao som e mereça ser alterado.
Quando saí de lá pensei: eu tenho dois amores, que em nada são iguais, e não sei de qual eu gosto mais...
Também tive algumas desilusões, claro. Que só não foram maiores porque confirmaram as minhas suspeitas de outras audições anteriores. Eu sei que vou ferir, nuns casos, susceptibilidades, noutros, amizades. Mas este é o meu prisma: foi isto que vi/ouvi. Quem não gostar, passa à frente.
Vienna Acoustics The Musik
O Jorge Gaspar que me perdoe mas o som das Viena Acoustics Reference The Musik não justificou a espera de um ano. O ano passado a Sumiko só tinha mostrado o que este ano foi demonstrado. As colunas estavam demasiado afastadas talvez. Para compensar viraram para dentro o módulo superior articulado. O resultado foi catastrófico: som agressivo, sem substância acústica. Tshs-tshh lá em cima, pup-pum cá em baixo, sem nada que se ouvisse no meio. Isto em nada afecta a minha opinião positiva dos modelos “normais” da marca. Esta, além de feia, sobretudo quando está desarticulada, estava a tocar malzinho, benza-a Deus. Além disso, os tipos da Sumiko precisavam de umas lições de “Maitre” Gaspar sobre como se montam e demonstram colunas e se atendem pessoas...
Sala da Thiel+Bryston+Torus
O que eu já não sei é se ele me vai perdoar eu não ter ficado tão rendido perante as Thiel 3.7 como o resto da crítica. Jim Thiel é uma excelente pessoa, todo os seu staff é inultrapassável de simpatia e hospitalidade, mas ouvir Ricky Martin a abrir numa sala escura e vazia foi uma desilusão. E eu até gosto dos amplificadores Bryston. Talvez fosse daquela parafernália de condicionadores de corrente Torus. Seria condicionamento a mais?...
Sala da Bolzano Villetri
Mas havia pior. As Bolzano Villetri, por exemplo. Cá está mais um exemplo de uma marca levada ao colo pela crítica americana. Caramba!, meus amigos, aquilo não é só esquisito, soa esquisito. E estou-me a borrifar para as explicações técnicas que, no papel, garantem um som perfeito. Era incapaz de viver com um sistema destes.
As Analysis, ou a desilusão acústica
Querem mais um exemplo? As Analysis Audio, umas gregras bonitas que se parecem (parecem apenas não são full-ribbon, são planar/ribbon) com as americanas (agora australianas) Apogee. Mas como é que alguém, no seu juízo perfeito, pode afirmar que aquilo toca bem? Comparar aquilo com uma Apogee, é uma ofensa à doce memória da minha convivência com elas durante vários anos. Uma separação estúpida de que ainda não estou recomposto. Felizmente, o Rui Calado andou parte do percurso comigo e foi testemunha, ou eu poderia pensar que estava afectado pelo jet lag. Alimentadas por uma artilharia impressionante de amplificadores Ypsilon SET, soaram como uma gata a miar: nem dinâmica, nem ataque, nem presença, nem tom, nem timbre, nem imagem, nada, nicles! Com um modesto Prima Luna Dialogue e uma Sonus Faber Concertino obtenho melhores resultados acústicos e musicais.
Podium: eu acho que não merecem o pódio. Por mim eram até desclassificadas da maratona do highend
O mesmo se pode dizer das Podium. Não são ribbons, nem electrostáticas, nem isodinâmicas. Nem sequer têm crossover. Um painel full-range de metal vibra modulado por ondas tranversais (??) e produz som. Teoricamente é o sonho tornado realidade. Na realidade soa como parece: uma folha de alumínio (ou lá o que é aquilo) a vibrar. Sentado ao meu lado, Rui Calado suspirava: minhas ricas Magneplanar. E eu pergunto de novo: como é possível alguém afirmar que aquilo é o som na sua pureza original?
Sala da Rethm
A estranha Rethm em pormenor
Mas também tive que engolir alguns sapos. Andei anos a dizer mal das Rethm e desta vez fiquei rendido. Aliás, foi o único altifalante full-range que me soou bem no The Show. Tudo o resto não passa de ilusões. Também é verdade que a Rethm tem um módulo de graves acoplado atrás da coluna propriamente dita. Mas o som estava excepcional. A imagem estéreo então era superlativa. E a electrónica era do mais simples: leitor-CD Consonance, amplificador Mod Wright.
MBL 101 X-treme
Outra das facetas curiosas da crítica americana é escolher a qualidade do som pela coluna da direita, como quem escolhe sem critério os pratos e os vinhos nos restaurantes. Refiro-me ao preço, claro. Veja-se o caso das MBL 101 X-treme. Nem que me saísse o Euromilhões, eu comprava este sistema que é claramente uma tentativa de “americanizar” os ananazes originais que, tendo limitações, são contudo bem mais saborosos ao natural. Colocar um ananaz em cima do outro a fazer o pino, e juntar-lhes umas torres de graves, pode dar mais som mas não melhor som. O resultado é uma amálgama incoerente de sons desfasados no tempo e no espaço. A não ser que o comprador potencial seja um tipo de 70 anos que andava no Bellagio, vestido à cowboy, todo de vermelho, chapéu e botas incluídas (por falar em incoerência, o casaco era da Ferrari...), e com dois cachuchos em cada dedo...
Os ananazes nem sequer estavam bem alinhados. Será que sou só eu que oiço (e vejo) os erros de fase nas colunas? Será por isso que as Soundlab (electrostáticas) e as TAD (médios e agudos concêntricos) me soam tão bem?
Siltech Pantheon
Também apontadas aos americanos endinheirados são as Siltech: 130 000 dólares o par, edição limitada a 36 pares. Bom, mas estas já me agradaram mais este ano. Ou talvez seja porque me lembram umas colunas que eu construí, há tanto tempo que até tenho vergonha de dizer, com base num painel electrostático Schackman e um médio-grave KEF montado numa linha de transmissão Bailey. O som tem dignidade audiófila, embora pelo preço haja opções bem mais interessantes em termos acústicos. Uma vez mais, sinto que falta coerência de fase ao conjunto. Apesar de terem encurtado a distância entre o módulo superior e as caixas de graves (comparem com a foto do ano passado).
As YG Kipod ao lado das Anat Reference: amplificação Krell
Sem problemas de fase mas com problemas de atitude está a YG Acoustics que anuncia as Anat Reference como “The Best Loudspeaker on Earth”. Give me a break! Caixa de metal por caixa de metal, prefiro de longe as Krell Modulare Duo. Mas aqui parece que sou eu contra todos, incluindo o Rui Calado que gostou do que ouviu. Eu acho que aquela gama média precisa de se libertar do “full metal jacket”: soa comprimida. A primeira vez que as ouvi em Munique eram mais feias mas tinham um som mais bonito.
Acreditem. Só há uma vintena de grandes fabricantes, cujos produtos são realmente highend a sério. O resto são fantasias alimentadas pela imprensa.
Hoje fico por aqui. Amanhã sou capaz de os levar ao The Show para se rirem um bocado. E ainda há distribuidores em Portugal que se queixam de que vai pouca gente aos shows. No The Show não havia alma nem vivalma...