A resposta a esta pergunta seria invariavelmente sim. Mas quando se tentou integrar o audioshow na FIL, apesar do elevado número de visitantes, os expositores, especialmente os dedicados ao áudio highend, tenderam a considerar a sua participação um fracasso. Já nem os chamados “tyrekickers”, os famigerados “caçadores de catálogos”, se sentem atraídos por um acontecimento cujas novidades conhecem bem da internet, incluindo fotos, brochuras e manuais.
E estar (mal) sentado (ou de pé) numa sala às escuras a ouvir em silêncio excertos de discos estranhos de música que não lhes diz nada, como quem ouve um sermão em latim numa igreja, já não arrasta multidões. As igrejas estão vazias. De fiéis e de padres. A não ser que seja anunciado um milagre. E mesmo assim só aparecem os que têm fé que um dia um sistema de som lhes vai permitir ouvir a voz dos anjos, quando não mesmo de Deus. Expectativas irrazoáveis dão lugar a razoáveis frustações, nas quais os ímpios se comprazem. Quanto?! O sistema que comprei na Worten soa melhor do que aquilo...
Num hifishow, o que conta será então não a quantidade mas a qualidade dos visitantes?
A primeira dispersa-se em vastos motivos de interesse: a informática, ver um Fórmula 1 a acelerar na Av. da Liberdade, cumprir a obrigação legal de passear aos fins-de-semana no jardim com os filhos de casamentos anteriores, ou visitar um salão erótico com sexo ao vivo acompanhado pela esposa.
Talvez integrar o audioshow na semana do erotismo em alternativa à decoração fosse a solução para o problema da quantidade. Não é por acaso que o “Porno Show” de las Vegas se realiza no Hotel Venetian na mesma semana da mostra de “Specialist Audio”, enquanto o certame highend paralelo “The Show” tem mais expositores que visitantes...
O Hifishow podia ter tido 10 000 visitantes se a PT tivesse contratado os “Gatos” e as “Girls” para apresentar o meo, em vez de um tipo simpático que se esforçava por justificar a qualidade da imagem como sendo HD. Mas teria isso sido uma mais valia para quem vende equipamentos que custam tanto como um andar na alta de Lisboa, quando não mesmo um palacete na Lapa?
A qualidade pressupõe cultura audiófila. E a cultura é algo que exige esforço. E algum sacrifício pessoal. Ser culto em qualquer área do conhecimento dá muito trabalho. E custa dinheiro. Ora o que é bom não abunda nem na natureza, nem na sociedade. Os audiófilos são como os índios: resistem à extinção socorrendo-se da tradição. E das instituições que os apoiam e mantêm vivos durante o ano, que são os distribuidores e revendedores. E dos assistentes sociais, que são todos aqueles que trabalham para manter a tenda de pé. Como o Hificlube.
Só há estes, e é com estes que temos de aprender a viver.
Quando vir muita gente estranha aos meios audiófilos num 'show', desconfie. A tribo audiófila nacional será por alto composta, diz-se, por dois a três mil membros de raça pura. Os outros só lá vão fazer horas para o jantar. Estão ali como podiam estar nas Docas, a olhar para os barcos que nunca poderão comprar, atirando beatas para a água, enquanto bebem coca cola por uma palhinha e mandam sms aos amigos. Ou a fumar um charro.
Al Stiefel and Marjorie Baumert were compiling attendance stats for this year's show. Although the fact that there were far more rooms this year, with exhibits spread over two hotels, left some exhibitors thinking that attendance was down, attendance was actually up just over 7%. Almost 3500 people attended this year's RMAF. The Sunday walk-ins were 407—almost 150 over last year.
Este excerto da Stereophile dá conta do “enorme” sucesso do Rocky Mountain Audio Fest, em Denver, no Colorado, que se espalhou por dois hotéis e durou 3 dias! “Quase” 3 500 visitantes, no total. E no Domingo ainda foram lá 407 pessoas. Mais 150 que no ano passado...
O problema da quantidade é a falta de qualidade. E à qualidade falta quantidade. De pessoas. E de dinheiro. Chama-se a isto um círculo vicioso. Só uma percentagem residual da quantidade entende o highend or gives a damn about it. Só uma percentagem residual da qualidade tem dinheiro para o comprar or feels so inclined.
No actual contexto económico e social, o Hifishow pode considerar-se um sucesso razoável. Segundo a HDMC, no Sábado, estiveram lá “quase” 2 000 pessoas. E no Domingo, mais de 407...
Para o ano há mais? Let’s hope so, porque o número de visitantes do Hificlube foi, neste período, muito superior ao número de visitantes do Hifishow. Será que há por aí tribos de audiófilos escondidas nas montanhas?