A minha experiência diz-me que quando uma marca opta pela distribuição ibérica com sede em Espanha, a empatia pessoal com a crítica independente nacional representada pelo Hificlube se perde. Ora isto significa que a minha relação de longa data com a B&W vai sofrer um rude golpe, provavelmente irreversível.
Mas foi bom enquanto durou, e deixo aqui um excerto de um texto sobre as B&W801, republicado em 1999, além de links para outros artigos publicados (o dossier é vastissimo e pode ser consultado no Arquivo/Pesquisa Avançada), tudo momentos altos registados para a posteridade nas páginas do novo e do antigo Hificlube:
B&W Nautilus 801
Têm aquela ambiguidade entre o divino e o diabólico, que as torna tão próximas de nós humanos. Podem soar sublimes ou delicadas, as vozes elevando-se ao céu em suspensão; ou violentas e autoritárias, os metais dilacerando a carne, as percussões exorcizando no seu frenesim os males de alma que nos afligem. Os agudos cantam hossanas nas alturas, enquanto os graves descem ao inferno, chafurdando sem remorso na lava incandescente da oitava perdida, lá onde muitos «subwoofers» não ousariam sequer entrar...
As BW Nautilus 801 respiram, sopram, arfam, com uma sensualidade que prende desde o primeiro sussurro, insuflando no ouvinte a paixão e o desejo de posse, mas também o respeito e o temor reverencial perante a evidência da superioridade. É isso: chegam a assustar, tal a demonstração de poder e dinâmica.
Os metais rasgam com um realismo atroz o espesso tecido percutivo a golpes violentos de cutelo, e não com as finas e delicadas incisões cirúrgicas a que o «hifi» nos habituou; os violinos desenham no ar, com movimentos certeiros de arco, um palco amplo e profundo, acomodando num abraço solidário todos os outros intervenientes, sem desrespeitar a individualidade tímbrica e iluminando-os a todos por igual.
Notas:
Ler pdf da ARTAudio em Media
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