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2009

Audioshow 2009 _ Parte 1: Sons E Imagens Comentadas

Audioshow 2009 _ Parte 1: Sons E Imagens Comentadas



  • CRÓNICA DO SOM



    A história só deve ser escrita depois de respeitado o necessário distanciamento. Deixem-se arrefecer as emoções no lume brando de comentários ditos, publicados, repetidos à exaustão. Analisem-se os factos disponíveis, e dê-se então início ao processo narrativo pelo caminho da isenção possível quando a temática é a inefável arte da reprodução sonora, substituindo-se a sensação do momento pela perenidade da sensatez e do pragmatismo crítico.



    Primeiro dá-se ao povo o que o povo quer: a imediatez crua e factual de sons e imagens sobre as quais pode exercitar o seu imaginário sem o condicionamento das baias de uma interpretação redutora; só depois vem a escrita que não se compadece com agendas mediáticas e tem o seu tempo de maturação.


O Hificlube vai publicar em breve em 'fascículos' diários, as notas de JVH sobre o Audioshow 2009, que se realizou nos dias 13 a 15 de Março, no Hotel Palácio do Estoril, preenchendo assim os “espaços em branco” entre as fotos e os vídeos já publicados com enorme sucesso. Espaços em branco que não impediram que se atingisse um record absoluto de visionamentos. Não é tanto uma narrativa factual como se exigiria a um cronista do som, é antes um cruzamento de experiências vividas.


Em que medida o passado auditivo pode influenciar as audições no presente? Será possível transmitir factos reais através de sensações subjectivas como são as proporcionadas por audições públicas em condições em constante mutação: de espaço, de tempo, de equipamento, de pessoas, de discos; de temperatura, de humidade, de disposição física e de espírito, de disponibilidade pessoal? Ou até de empatia com um produto, de simpatia pessoal por um fabricante ou distribuidor? Ninguém é imune ao ambiente social e cultural em que vive e se movimenta.


Da leitura das notas de JVH, o leitor não deve esperar pois nem análises definitivas, nem refutações indefinidas, nem classificações rígidas, apenas um esforço genuíno de isenção crítica dentro dos condicionalismos do seu longo relacionamento com as pessoas e as coisas do mundo do áudio, agora num espaço que lhe suscitou uma girândola de recordações pessoais.
 

 

HOTEL PALÁCIO, ESTORIL
 
Numa época de crise financeira só comparável à do pós-guerra, o Hotel Palácio do Estoril serviu de novo de refúgio à aristocracia (do áudio). Se era de um ambiente de luxo e dignidade que o highend precisava para mostrar a sua classe, il n’y a plus rien...
 


AJASOM
 

Na Ajasom, o cinema não passava no Éden, onde se ouvia Diana Krall (ver video em Media) sem imagem, mas sim na sala Sintra. Fui lá na Sexta, achei que a sala se dava mal com o grave das Indra. E a culpa não era delas, coitadas!, conheço-as bem e sei que são boas raparigas.


No Sábado, o António Almeida mudou a mobília e colocou as colunas “à largura”. Juntou-lhe um “sub” desconhecido com bom aspecto de génese “car-audio”, que eu pedi para desligar. O som estava mais baixo e a sala, apesar do mau feitio, não reclamou tanto como na sexta. E eis que com a fonte DCS Scarlatti - Transporte, Conversor e Relógio; e amplificação: Conrad Johnson – Pré Amplificador CT5 e Amplificador ET250S, ouvi algo de muito raro.


Deolinda o i o ai
 


DCS/CONRAD-JOHNSON/AVALON (ver video em Media)



Pondo mentalmente de parte tudo o que de “grave” se passava ali, a Deolinda (reparem que era a saloia da Deolinda e não a cosmopolita Jacintha, cantora de lounge de hotel de 5 estrelas em Singapura, gravada com microfones a válvulas e consolas vudu em versão XRCD) cantava uma espécie de fado folclórico, e o sistema deixou passar inteirinho o sarcasmo benigno e a ironia patente na entoação.


Sentimentos, emoções, inflexões, insinuações, sensações; humor, amor, dor, choque, pavor e calor; ódio, raiva, paixão, alegria e tristeza, isso é que é difícil de reproduzir. Graves, médios e agudos são como a água benta, cada qual toma a que quer...


 





Disparei a câmara às cegas no escurinho do cine-AJASOM, e logo surgiram estes seres videófilos atentos aos Transformers que se exibiam no ecrã (ver video em Media) 


Na sexta, tinha assistido a um excerto dos Tranformers na sala Sintra. O som pareceu-me apenas um complemento da imagem que era excelente. Notei, contudo alguma instabilidade na focagem. Voltei lá no Sábado. Nunca tinha visto o filme, embora tivesse encontrado uma das personagens em Las Vegas, em “carne e osso” (não, não foi a bela de serviço, foi um dos “transformers”...), e achei graça ao registo bem humorado sem descambar para a palermice pura e simples.





Um dos bonecos originais do filme exposto no stand da Dolby (CES 2008)


 




A imagem do Meridian MF10 estava espantosa: incrível nitidez, cores saturadas (um pouco ao gosto americano), com extraordinária riqueza cromática, relevo e profundidade. O ligeiro excesso de saturação correspondia grosso modo ao ênfase do grave na sala ao lado mas conseguia-se ver a alma nos olhos das personagens. E os olhos (ao contrário dos ouvidos) não mentem... 
 
DELAUDIO
 

ESOTERIC/PASS/MONITOR AUDIO (ver video em Media)

 
 
Depois do Salão Imperial, onde pontificavam as Avantgarde, era esta, sem dúvida, a sala mais bonita do Hotel Palácio. E estava recheada de 'mobiliário' de luxo de marcas famosas como Esoteric, Monitor Audio e Pass. Delfim Yanez era o sacerdote oficiante, e via-se-lhe no rosto que recuperou a fé no highend, depois de um período de dúvida existencial, mais imposto pelas incertezas do mercado que pelas suas próprias convicções. Já o disse várias vezes, Delfim é um audiófilo genuíno sob a capa de um comerciante pragmático, que sabe medir o pulso do mercado como um amplificador de Classe A reproduz as ondas sinusoidais: com altos e baixos, com meios ciclos positivos e meios ciclos negativos, mas evitando rupturas de transição.



No Palácio o som era de alto nível, em especial sempre que o 'relógio' batia as horas certas, o Esoteric G 0Rb funciona como um maestro que dá os tempos de entrada correctos aos músicos. A pauta é a mesma, a interpretação é que é outra...
 
Mas, sendo a equipa a mesma, eu preferi o memorável som do jogo em casa, isto é, nas instalações da própria Delaudio (ver reportagem). Talvez porque, como escrevi na altura:
 
'A sala é grande e introduz algum “blooming effect” (eu escrevi blooming, não booming, atenção), que favorece os registos ao vivo e as grandes orquestras, conferindo-lhes escala'.
 
Há também demasiado lixo na corrente eléctrica dos hotéis e alguma sobrecarga, e isso pode ter alguma influência no resultado final. O tweeter de fita soou-me um pouco 'verde' - seria um novo par de PL300?



Também é verdade que não tive o tempo, a calma e o sossego proporcionado por uma audição privada. Apesar disso, não ouvi nada que me fizesse mudar de opinião sobre o excelente desempenho desta equipa audiófila. 



Nas instalações da Delaudio 'ouvi, por exemplo, a melhor interpretação da Abertura em mi maior do poema sinfónico “Tannhäuser”, de Wagner, por Solti, à frente da fabulosa orquestra de Chicago, numa gravação Decca de 1958, sobretudo o hino em si maior. A orquestra transborda de emoção erótica e ecoa com enorme carga dramática no Medina Temple, na Universidade de Illinois. Este é um poema sinfónico sobre a oposição entre o amor carnal e o espiritual. E é isso que o Esoteric G 0Rb nos dá: a carne e o espírito da música'. 

 
A Delaudio está de novo na Premier League do Highend.
 

 
ESOTÉRICO
 

 


GENEVA/NAD (ver videos em Media)

 


IMACÚSTICA
 

 


EAT/METRONOME/KRELL/MAGICO (ver videos em Media)

 
  

It’s a kind of magic


Depois de ter vituperado a ideia peregrina de misturar highend com electrodomésticos sonoros, na FIL de má memória, sou o primeiro a elogiar a nova postura da Audio de lhe conceder tratamento VIP com room service e tudo.


Reclamei dignidade para o highend e, embora as condições idealizadas nunca atinjam o ideal, passe a redundância, seria difícil encontrar hotel com mais classe que o Palácio, que foi refúgio da aristocracia caída em desgraça com a guerra e judeus ricos de passagem para o novo mundo. Mesmo em situação de crise a aristocracia não perde os seus pergaminhos. E o highend é a aristocracia do áudio.


Por muito que custe aceitar aos arautos dos amanhãs que cantam, nenhum país progride sem elites e haverá sempre uns que cantam melhor que outros. Assim é também com os sistemas de som. Cada um de nós acha que é tão bom como os melhores, ou que o nosso sistema de som supera muitos dos ídolos de pés de barro pagos a peso de ouro que tivemos oportunidade de ouvir sala sim, sala não.


Até no futebol há quem defenda que Cristiano Ronaldo não vale o que custa e que o Mourinho não passa de um pedante, convencido e arrogante. Visto do sofá, aquilo é  só empurrar a bola... e se tivesse tirado este para mandar entrar aquele, o resultado teria sido outro.


O que está um servidor a fazer no meio do campo, quando podiam ter lá posto uma gira-discos analógico? E a relva? Está demasiado alta, abafa o som. Campos pelados estimulam a reverberação, toda a gente sabe. Os centrais estão demasiado afastados e há um buraco no palco sonoro. Bola rente à relva é que é bom. Jogo muito alto só pode resultar em distorção. Não somos todos nós treinadores de bancada, desportistas de sofá?








Afinal o que têm as Magico de mágico? Não passam de colunas vulgares com preço inflacionado? Ao meu lado, oiço dizer: as minhas colunas B&W de mil euros tocam muito melhor. Esta é uma reacção natural e até saudável. Faz parte da natureza humana. O provinciano parolo acha tudo o máximo. O parolo snob desdenha para esconder o provinciano que há em si. Mas criticar depois de pesar os prós e os contras é um dever de cidadania. 

Significa isto que todos temos direito à nossa opinião. Mal do mundo se todos estivessem de acordo ou, pior ainda, tivessem medo de expressar o que sentem. Devemos dizer sempre, gritar o que nos vai na alma, escrever até: as Magico são fantásticas; as Magico desiludiram-me; gostei assim-assim; são boas; não prestam, pronto.


Contudo, do mesmo modo que não se deve condenar uma pessoa sem conhecer bem o processo, convém informarmo-nos primeiro, e só depois tirar conclusões:










Conheci as Magico nas CES 2005, na sala da Jeff Rowland. Já na altura, Jeff, que foi o padrinho das Avalon, disse-me: as Magico são algo de muito especial. Seriam as colunas que eu gostaria de ter fabricado.
 





Continuei a seguir a carreira das Magico e na CES 2007 tive o raro privilégio de ouvir as M(ighty)6. A magia estava lá toda, como se Mr. Wolf pretendesse dizer-nos: este é o objectivo final de todo o verdadeiro audiófilo. O caminho faz-se, hélas, caminhando por itinerários alternativos sem portagem: V2, V3, M3, M5.











Na CES 2008, o som das V3 já não podia ser apenas uma coincidência. As Magico não o são só de nome, pensei.











Finalmente este ano, na CES 2009, as M5, arrebataram a crítica. Da TAS à Soundstage, passando pelo Hificlube onde eu publico numa língua que ninguém entende. Entretanto, já Ricardo Franassovici tinha incluído a marca no seu vasto portfolio. Ricardo tem 30 anos de experiência. E pode dar-se ao luxo de escolher o que quer e o que não quer representar. A Apogee e a Threshold perceberam tarde de mais o que significa perder um distribuidor como a Absolute Sounds. Mesmo correndo o risco de melindrar Dave Wilson, apostou forte na Magico, ao ponto de se deslocar propositadamente a Portugal para as apresentar no Audioshow. Caso raro: ele próprio passou horas a fazer a demonstração! Mais: as M5 que a Imacústica apresentou no Hotel Palácio são par único na Europa, e ainda cheiravam a verniz...
 



Entrevista com Ricardo Franassovici (Absolute sounds Of London) sobre as Magico



 
Depois disto, antes de nos pronunciarmos negativamente devemos dar às Magico M5 o benefício da dúvida? Será que tanta gente experiente de vários quadrantes está equivocada, e não ouviu aquilo que alguns treinadores de bancada toparam logo ao primeiro vagido: no tom, no timbre, na imagem, no enfoque, na dinâmica?
 













 



Clique em Play para ver video                                             Full Screen 
 
Quando uma coluna de som permite distinguir uma tal diferença entre fontes analógica e digital, isso não significa que a transparência e a resolução são do mais elevado nível? Quando uma coluna tem a capacidade de “estacar”, após um transitório violento, sem o mais leve resquício de “overhang”, isso não significa que os altifalantes de graves são tão rápidos quanto os médios e o tweeter? O paradigma electrostático realizado com altifalantes convencionais, as vantagens sem os inconvenientes.

Quando num show se exige a uma coluna ainda “verde” que reproduza em público Saint Saens, em vez de Livingston Taylor, Michell Jonasz em vez de Rebecca Pidgeon, isso não significa que podemos ter total confiança nas capacidades do produto? Eu tenho. E gostaria de as ter a jogar na minha equipa. A elas e ao Cristiano Ronaldo: rápido, poderoso, finta na passada, marca de bola parada, chuta com os dois pés e é bom de cabeça. As M5 também. Só têm ambos um defeito: custam muito dinheiro. E a vaidade de quem sabe que é bom...


                                                 LUZ&SOM  


 



AVANTGARDE (ver videos em Media)



 


 
A minha relação com a Avantgarde é antiga. Demasiado antiga quando damos connosco a contar os anos. Conheci Mathias Ruff em Paris, há mais anos do que gostaria de admitir aqui.








Uns franciús de uma empresa chamada Il Ingenieri apresentaram uma coluna de corneta integral (Ruff não ficou nesta foto), que parecia uma estranha formiga, daquelas que, na Guiné, quando nos filavam, preferiam morrer a largar, e que os audiófilos americanos apelidaram carinhosamente de “Yosemite Sam”, aquele cartoon de longos bigodes e chapéu texano, que tem mau feitito e dispara sobre tudo o que mexe. Mais tarde (muito mais tarde) a Jadis adoptou-a, e passou assim a ser a famosa Eurythmie, de que só se fabricaram 11 pares. Vendem-se no ebay por uma pipa de massa. Mathias estava lá e fiquei com a ideia de que o projecto era dele. Holge Fromme, que é casado com uma brasileira e diz umas coisas em Português, contratou-o para a Avantgarde e, desde então, temo-nos encontrado em tudo o que é show audiófilo por esse mundo fora.

Escrevendo sobretudo para jornais, tentei “apimentar” as minhas reportagens com elementos mais ou menos exóticos para convencer os editores a manter as secções com o ganho em audiências que colunas como as Avantgarde proporcionam: ficam sempre bem nas fotografias por serem exóticas, estranhas e belas...


Assim, as Avantgarde tiveram um lugar privilegiado em todas as reportagens que publiquei, e de que passo a transcrever alguns exemplos, que podem ler na integra clicando nas referências sublinhadas. Chegaram mesmo a “fazer capa” da reportagem da CES 2003 (abrir 2 pdfs na secção Media), a primeira vez que ouvi as Trio+BassHorn.
 




Hão-de reparar que os meus comentários variam do gosto ao desgosto, dependendo mais das circunstâncias que das Avantgarde, que são o género de coluna de som cuja “performance intrínseca” nada nem ninguém pode ter a veleidade de afirmar que é assim ou assado: já ouvi do sublime ao passable; já me deram vislumbres estonteantes da alma da música, a visões tenebrosas do inferno do som, que vive dentro de certos discos, e que eu preferia nunca ter visto...


Não me admira, pois, que as opiniões no Audioshow 2009 fossem tão díspares, tão desencontradas e, paradoxalmente, tão genuínamente certeiras. As Avantgarde tanto nos cospem na cara obscenidades acústicas, prenhes de agressividade e raiva, como nos cobrem de beijos húmidos de sensualidade harmónica e imagens quase tangíveis de uma realidade que antes desconheciamos, e em cuja expectativa passamos a viver. Como se dentro delas habitassem estranhos seres da floresta mágica da música, que brincam com o ouvinte antes de lhe dar a conhecer a verdade, que se esconde atrás da cortina de nevoeiro, e nunca chega a dissipar-se com os sistemas menores. Não é fácil viver com elas, tanto física como acusticamente. Mais difícil é viver sem elas, depois de experimentar o que antes só podíamos julgar...


Delas já disse elogios, gabei-lhes as virtudes. Delas já disse cobras e lagartos. Delas já disse palavras simpáticas de frustração envergonhada:


Highend 2003, Frankfurt
 
As Trio+BassHorn, na máxima força (seis unidades de graves!) alimentadas pelo «poderoso» amplificador AvantGarde 5: 2 watts de classe A pura! Caramba, pareciam 1.000W! Menu seleccionado de LP e SACD. Fiquei embasbacado! Com as unidades BassHorn, as Trio transformam-se completamente: desaparece o «efeito de corneta», os registos médios ganham um corpo natural, e soa tudo tão real, tão «ali» que chega a assustar. Claro que precisa de uma sala só para o sistema. No meu caso, teria de ir dormir para a rua...



HIGHEND 2004, MUNIQUE








 
Meus amigoszz, vou-lhes dizer: vocês são virgens em áudio até ouvirem as Trio/BassHorn! Aquilo sopra, respira, resfolga como um puro-sangue...




CES 2005
 
As MetaDuo (a mãe das Mezzo que ouvimos no Hotel Palácio) foram a grande surpresa em Las Vegas: uma tentativa de Mathias Ruff e Holger Fromme criarem umas Trio+Basshorn em versão compacta (e doméstica). Mas as MetaDuo estão muito longe das Trio+BassHorn, que são uma coisa do outro mundo. Depois de ouvir as Trio+BassHorn em Munique, as expectativas são sempre demasiado elevadas. Achei o som algo frio e pouco envolvente.

Highend 2007, Munique





Basta olhar para impressionar. Uma pessoa entra numa sala destas e sente-se pequenina. Mas depois de ter ouvido as Trio Omega com o BassHorn de três módulos, il n'y a plus rien. Com dois módulos é bom, mas o som estava algo agressivo. Com uma excepção: quando puseram a toc
ar o LP Stripped, dos Rolling Stones. Uau!




Highend 2008, Munique (pág 3)

É verdade que estavam lá as extraordinárias Avantgarde Trio+MaxHorn a soprar decibéis de encher o olho, numa sala-montra mais adequada para exibir do que para ouvir o “monstro”. Salvaguardadas as respectivas distâncias (e o processamento cerebral selectivo é fundamental nestas situações), eu preferi ouvir as Nano colocadas em apertos no Audioshow de Lisboa. Eu sei que a comparação tem foros de escandalosa. Mas da mesma forma que a beleza está nos olhos de quem vê, também é possível procurar beleza sonora para lá daquilo que nos foi dado a ouvir naquele ambiente vermelho de fogo. O “monstro” soou-me quase arrogante na sua exibição de força e classe, alimentado pelos amplificadores AvantGarde One. O som é grande, avassalador no sopro atmosférico da sua dinâmica incomparável. Mas deixa-nos algo desconfortáveis, inquietos na nossa insignificância face à dimensão excessiva do que nos é proposto. Sentimo-nos engolidos por esta sound machine. Será preciso ultrapassar os limites da razoabilidade para cumprir a simples função de tocar música? As Avantgarde estão vermelhas (ou estarão verdes?)...e por isso não prestam como as uvas da raposa da fábula?...





Contudo, nunca me deixaram indiferente. Chamei-lhes até, num artigo publicado na revista de bordo da Air Luxor, “As Trombetas do Paraíso”. Ou funil das “Línguas da Sogra”, num artigo intitulado “Cornetear”, que pode ler aqui na integra.


Não me arrependo de nada. Porque sei que um dia, quando menos esperar, elas me vão abrir de novo a portas do céu audiófilo.


Não foi o caso, no Audioshow 2009. Mas haverá cenário mais adequado para as demonstrar que a nobreza palaciana do Salão Imperial? Poderão os ouvidos ouvir quando os olhos açambarcam os sentidos?...   
 
 
 
TRANSOM 
 


NAIM/NUFORCE/B&W (ver videos em Media)


 
TOPAUDIO
 
 

CHORD/JM LAB (ver videos em Media)

 
 
 


Em Outubro de 2008, publiquei o texto abaixo na secção de Notícias do Hificlube. O meu desejo cumpriu-se: as Utopia III foram apresentadas no Audioshow 2009. 


A principal característica física e a mais óbvia é a capacidade de contorcionista das colunas: dobram-se para “focar” a imagem num ponto único; ou abrem-se em leque se as vir de costas. É por isso que lhes chamo coluna...vertebral.


O desenvolvimento começou em 2006, e Jacques Mahul deve ter-se inspirado nas Sonics que fora exibidas no Highend 2006 de Munique, cuja foto que publiquei então no Hificlube se reproduz abaixo.


Protótipo Sonics apresentado no Highend 2006, Munique

 

 
As Utopia utilizam o famoso tweeter de Beryllium e os altifalantes de médios Power Flower, mas a principal novidade é o revolucionário woofer electromagnético. No lugar do habitual motor “passivo”, as Utopia III Grande EM utilizam alimentação externa para poder regular a potência do íman, regulando assim o amortecimento a gosto do ouvinte e das características da sala. Cada woofer pesa 24 quilos!

O painel de controlo nas costas da coluna permite regular o tweter, médio e grave em 1 458 configurações possíveis! Caramba, não deve haver sala que lhes resista...


O preço anda pelos 70 000 euros. Mas pode optar pelas Scala ou pelas Diablo (em baixo)...
 



 
 Nota: fotos Utopia Focal-JM Lab (direitos reservados)
 
 
 FOCAL-JMLAB (clique para ver um video das Utopia III grande EM)
 
Utopia é a impossibilidade tornada realidade pela arte e pelo génio
 
Admito que a apresentação das Grande Utopia EM no Audioshow 2009 foi uma estreia também para mim. Jacques Mahul só demonstra as novidades por convite em Las Vegas, e eu este ano não tive tempo de me deslocar aos Hotel Paris onde, noblesse oblige, a Focal recebe os distribuidores e os jornalistas. A verdade é que não recordo de ter lido qualquer apontamento de reportagem, e as Utopia não são assunto que passe despercebido. Não admira, pois, que tenham sido uma das 'Grandes' atracções do Audioshow 2009.
 
A primeira vez que entrei na sala, pensei para comigo: das 1 458 configurações possíveis eu teria por certo escolhido outra. O potencial estava lá todo - e esta será a melhor coluna alguma vez produzida por Mahul: nos planos da qualidade (tecnologia e componentes), classe (acabamentos), musicalidade, controlo, dinâmica, timbre, tonalidade, nada lhe falta. Apenas senti que faltava corpo, resolução e densidade aos registos médios, o que lhes conferia uma ligeira retracção na presença de que resultava algum ênfase no grave e uma exposição excessiva do agudo.
 
Da electrónica Chord não se espera outra coisa que não seja controlo e equilíbrio e eu sou fã da tecnologia de conversão DA de Robert Watts, cuja carreira acompanho há 20 anos.
 


Robert Watts, quando ainda era o dono da Deltec/DPA (Londres, 1986)

 
Indigo apresentado este ano em Las Vegas, por exemplo, utiliza o mais sofisticado conversor alguma vez concebido por Watts, mesmo superior ao do actual 'Red' que, aparentemente, estava a ser utilizado no sistema complementar de apoio.

 
Quando lá voltei no Sábado, tinha nascido um novo dia. Apesar do aparato físico, a Grande Utopia é um gigante bondoso para o ouvinte e para a música e a sensação de registos médios 'slightly laid back' para utilizar uma expressão inglesa mantinha-se. Provavelmente, é tudo uma questão de alterar a curvatura ou o factor Q(ualidade) do grave. Que diferença em relação a Sexta-feira, apesar de tudo: mais liquidez no agudo, textura nos médios e peso específico nos graves - gravitas por oposição a gravidez indesejada.
 


O Chordette no topo do Red Reference

 
O material finalmente aqueceu, pensei. Mas foi Carlos Abreu que me desvendou o mistério: o Chordette. Trata-se de um brinquedo interessante e genial que permite converter sinais digitais enviados por Bluetooth a partir de computadores e telefones, e que também pode receber sinais de um transporte digital. Mas não é um QBD76 nem um 'Red'. E, num sistema com este poder de resolução, isso nota-se do mesmo modo que é fácil distinguir uma aguarela de um óleo de uma paisagem acústica pintada pelo mesmo artista. Na sexta era o Chordette que estava a tocar, no sábado era o 'Red'.
 
Só tenho pena de não poder testar um par de Grande Utopia III EM na minha sala, que é mais uma alcova de amor pelo áudio que uma suite de hotel. Talvez as Scala que ouvi no Vila Italia...
 



VIDEOACÚSTICA
 

 


MCINTOSH/TANNOY (ver video em Media)

 
Nota:
Ir para a página 2: AUDIOSHOW_PARTE 2: SÁBADO GORDO
 
 
 












VIDEOS DO AUDIOSHOW 2009
 
Para ver os vídeos:

  1. Na secção Media (em cima à direita), seleccione o video
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  5. De preferência utilize auscultadores.


Nota: Todos os vídeos foram registados como uma câmara SONY HDR-SR11, Full-HD 1080. Foi utilizada a mínima resolução possível, e os vídeos posteriormente comprimidos em formato ASF, pelo que a imagem não faz justiça à excelente qualidade da imagem HD possível de captar com esta câmara.
 





Audioshow 2009 Parte 1: Sons E Imagens Comentadas


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