DCS SCARLATTI TRANSPORT/DAC/CLOCK
O dCS Scarlatti é como o TGV: estupidamente caro, provavelmente desnecessário, e acaba por cumprir a mesma função de nos dar música que o comboio a vapor, leia-se o gira-discos de vinilo, só que é mais rápido, mais prático e mais moderno.
Quando António Almeida, da Ajasom, me perguntou se eu queria dar uma voltinha num comboio digital de 50 000 euros com apenas três carruagens, saltei logo para o estribo mesmo em andamento (já tinha passado antes nas estações da Absolute Sound e Stereophile).
Tenho de admitir que, conhecendo-me A. Almeida, é preciso coragem para correr o risco de eu vir depois a “achar” que o Scarlatti não era o melhor leitor CD/SACD do mundo e arredores. O que, convenhamos, pelo preço que custa, é o mínimo que se exige: ninguém paga 50 000 euros por algo que não seja o estado absoluto da arte digital. Pode o António ficar descansado. Quanto aos “arredores” não sei, mas o dCS Scarlatti é o melhor que passou no meu mundo: já ouvi parecido, os Esoteric P03/D03/G0Rb, por exemplo (ver em Artigos Relacionados), mas nunca testei nada igual, muito menos melhor.
O Scarlatti de 3 carruagens é, pois, o melhor de todos os comboios digitais que já pararam na estação de Alcabideche. E diz quem sabe que o de 4 carruagens é ainda superior...
Antes que o Louçã se atire a mim, alegando que é um escândalo um leitor SACD/CD custar mais que o seu próprio PPR, socorro-me das palavras da Manuela de que se deve “deixar os ricos comprar iates, desde que paguem os impostos”, e revejo-me ainda no espírito de modernidade informática de Sócrates, pois só assim é possível progredir. Ainda que o progresso do Scarlatti seja tal que, ao pé dele, os leitores CD vulgares não passam de... Magalhães.
O que se segue não é um teste formal, é o relato de uma experiência pessoal, demasiado breve, hélas, para ser consequente e definitiva. Mas o que ouvi bastou-me para desejar que todos os leitores CD/SACD soassem assim...
Três desejos, um amor
Three coins in a fountain
Through the ripples how they shine
Just one wish will be granted
One heart will wear a Valentine
Make it mine, make it mine, make it mine
Frank Sinatra Three Coins In The Fountain
dCS Scarlatti CD/SACD Transport
dCS Scarlatti DAC
dCS Scarlatti Clock
O dCS Scarlatti é composto por três elementos: transporte, conversor (prévio) e “clock” digital. Recentemente, foi adicionado o “Upsampler”, também testado pela Stereophile, mas que a Ajasom ainda não tinha disponível. Até foi bom assim, porque a quarta peça só iria aumentar a complexidade da experiência. Aliás, eu já ficava satisfeito com o duo Transporte/DAC, e foi com esta configuração que iniciei as hostilidades.
A arte de cavalgar todo o disco
O dCS Scarlatti não é muito diferente das propostas similares da Esoteric. A
drive é até uma VRDS Neo e a opção (única) de
Upsampling DSD por
default tanto para CD como SACD trouxe-me à memória experiências anteriores com os excelentes (e muito mais baratos Teac/Esoteric). Contudo, a capacidade de
upsampling de sinais
PCM até 88,2kHz, 96kHz e 176.4kHz, disponível nos Esoteric
só é possível aqui com recurso
ao 4º Elemento, o “Upsampler”, assim como a ligação USB com ligação assíncrona (bidireccional), tão importante na era dos
downloads de alta resolução.
Como seria de esperar, o sistema de transporte/leitura portou-se à altura dos pergaminhos “esotéricos” ao fazer a prova de obstáculos da Pièrre Verany com uma perna à costas: 2 mm nos dropouts simples e 2,5 mm nos dropouts sucessivos! Só não toca CDs com um buraco de bala...
O transporte e o DAC podem ser ligados via cabo coaxial, Toslink, BNC/SPDIF, AES/EBU e Firewire (norma 1394). Para tornar simples o que parece difícil, segui a sugestão do fabricante de utilizar a ligação Firewire para o sinal tanto de CD como SACD e BNC para sincronizar o transporte com o
master clock do DAC. O Scarlatti Clock ficou no banco à espera de entrar em jogo. E já que estava numa de simplicidade absoluta, explorei a hipótese de ligação directa do DAC ao Krell Evo 302, por meio de cabos balanceados. Na
mouche!
Houve quem conseguisse ouvir diferenças com a ligação Dual AES/EBU para melhor. Sinceramente não percebo como, porque sem o Upsampler, o Transporte limita-se a enviar PCM 44,1kHz para o DAC por apenas uma das saídas AES/EBU, mesmo que as duas estejam ligadas. A imaginação tem destas coisas...
De uma maneira geral, prefiro que o sinal faça umas voltas de “aquecimento” no prévio McIntosh C2200, mas o DAC tem a opção de 6 Volts e como o circuito é integralmente discreto, o resultado agradou-me logo. Tanto mais que as Sasha são bastante sensíveis, pelo que a pressão sonora atingiu níveis bíblicos – e igualmente divinos na qualidade.
Aqui chegado, fico na dúvida se foram as Sasha que ganharam com a companhia do Scarlatti ou viceversa. Seria estúpido da minha parte tentar convencer alguém que o Scarlatti é 50 vezes melhor que um leitor CD/SACD de mil euros ou 5 vezes melhor que outro de dez mil euros. Mas a verdade é que, desde que ele partiu (e escrevo na dor da sua ausência), as Sasha perderam algum do seu encanto, o que só prova que não há nada como fontes fidedignas para as Sasha nos darem boas notícias...
Os Chord DAC64/QBD76, Emm Labs CDSA SE, Esoteric X-01D2 e X-05, Krell Evo 505, McIntosh MCD500, Playback Designs são todos excelentes e fortemente recomendados pelo Hificlube (ver Artigos Relacionados). Não é preciso escalar o Everest para ser feliz. Mas vá lá dizer isso aos alpinistas que já atingiram o cume...
A velha história do CD que soa como LP