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2009

Eppure Si Muove Ou A Vã Glória Dos Cabos



 
Eppure si muove

A minha relação com os cabos não tem sido fácil. Por um lado, a razão diz-me que as diferenças entre os diferentes tipos e marcas não passam de um alucinação auditiva ditada pela fé nos «white papers» que os fabricantes fazem subrepticiamente chegar à minha caixa de correio. Os relatórios escritos em jargão técnico terminam sempre com conclusões extremamente positivas sobre as vantagens da utilização de uma determinada tecnologia ou arquitectura interna. A mim sempre me ensinaram que cobre é cobre (mesmo quando banhado a prata ou ouro) e que os electrões não são esquisitos: tanto lhes faz ir de lá para cá como de cá para lá (não é verdade Prof. H. Onofre?). Pelo menos é assim com a electricidade. Ora, é sob a forma de sinais eléctricos que a música flui pelos cabos de um sistema de som até ser transdutada em energia mecânica pelos altifalantes. Por isso qualquer fio de candeeiro devia ser suficiente para cumprir a função de transmitir os sinais de um lado para o outro. Ou não?!...





Há mesmo quem diga que os cabos são um négócio da China, e eu próprio já os designei por «perfumes do áudio». É com os perfumes que os criadores de alta costura fazem a folha e não com aqueles vestidos espalhafatosos que ninguém compra.
 





Acontece que, por qualquer motivo que já desisti de tentar compreender, há cabos que «soam» melhor que outros. Em alguns casos, a diferença é tão abissal que chega a ser embaraçosa. Podia exibir aqui os meus conhecimentos debitando palavrões como capacidade, impedância, resistência e de como as relações entre elas afectam o desempenho eléctrico de um cabo. Mas, tal como na religião, o mistério da fé reside em acreditar no que não tem explicação racional e evitar fazer perguntas que não têm resposta.




É um facto que a grande parte das afirmações que se fazem acerca das propriedades e características dos cabos não passam de marketing. Num artigo que publiquei no DNA, intitulado “O cabo das Tormentas', escrevi:


“Todos eles se arrogam de uma ou outra característica técnica a raiar as artes alquímicas. Seja como for eu prefiro um som «perfumado» a um som a cheirar a suor - e alguns são um autêntico pivete acústico..
Nota: este artigo pode ser lido na integra aqui:

 



Aliás, num outro artigo publicado em Junho de 2003, no Notícias Magazine, escrito em jeito de humor, eu já brincava com a situação:


“Fio de cobre com 99,99999% de pureza a €1.000, vestido pelo Armani com uma manga de protecção fantasista, cuja função é mais visual que acústica”.
Nota: o artigo pode ser lido na integra aqui:
 





Nunca tive, portanto, qualquer relutância em aceitar os argumentos dos dois lados da barricada. Contudo, o dogmatismo e o fundamentalismo podem “cegar” (neste caso, ensurdecer). E os meus trinta anos de experiência provaram-me que há diferenças entre cabos, que são audíveis, mesmo através de vídeos que estão disponíveis no Hificlube:

Demonstração da Nordost no Highend 09


Comparação auditiva de cabos interconnects no auditório da Delaudio


Reparem que eu não estou a fazer juízos de valor. Sou o primeiro a admitir que em certas circunstâncias o proverbial “fio-de-candeeiro” até pode dar bons resultados. E isto porque, como muito bem foi afirmado no debate, o “jogo eléctrico” entre indutância, resistência e capacidade determina o efeito de “filtragem”, pois em última análise um cabo não é mais que um filtro muito suave de passa-baixas. De tal forma, que o que devia ser um “straight wire”, é muitas vezes, por absurdo, utilizado para “igualizar” os desequilíbrios tonais de um dado sistema de som. Com a vantagem sobre os igualizadores paramétricos e afins da suavidade e da ausência de rotações de fase...





Dando de barato que um cabo é um filtro de passa-baixas, logo com consequências audíveis, quando muito, no topo superior do espectro, vulgo agudos, todas as alegações sobre as virtudes dos “graves” de determinado cabo não passariam de “alucinações” colectivas por efeito placebo, segundo depreendo da leitura de alguns posts.




A ser asssim, e reparem que eu aceito o argumento do placebo como válido, por que estranha razão a simples adição de um supertweeter, que só reproduz frequências acima dos 12kHz, numas colunas de som, afecta audivelmente o carácter do grave? Não o desempenho do altifalante de graves em si, atenção, mas a nossa percepção do seu contributo acústico. Do mesmo modo, experimentem ouvir um solo de contrabaixo com e sem o tweeter ligado (nas colunas que permitem a bicablagem). Facilmente verificarão que, embora o contributo do tweeter para a reprodução do som do instrumento seja praticamente nulo, as características tímbricas deste se alteram audivelmente. Assim é também com os alegados filtros de passa-baixas, ou seja, os cabos, embora numa medida infinitamente inferior.




Quanto à direccionalidade dos cabos, os electrões não são esquisitos (Prof. Henrique Onofre dixit). Curiosamente, tendo pedido a uma prima minha, também Professora do IST, que analisasse espectralmente os efeitos da passagem de corrente eléctrica sempre no mesmo sentido em cabos de áudio, esta concluiu que havia alterações na disposição da estrutura molecular. E quando eu já clamava vitória, arrumou-me com esta teoria: de vez em quando convém inverter o sentido do fluxo de electrões nos cabos, evita o surgimento de bolsas de oxidação!...




Contudo, no caso dos interconnects pseudobalanceados, como o Arataca by Holbein, em que a malha só está ligada, creio, numa das extremidades, pode dizer-se que a direccionalidade faz sentido...




Outro dos mitos do universo dos cabos é o “skin effect” ou “efeito de superfície”, que – está cientificamente provado – afecta a transmissão das altas frequências provocando desfasamentos temporais em relação às baixas frequências. Ora isso só se verifica nas muito altas frequências, e nunca nos limites da banda áudio.




Contudo, Heinrich Ralf, um “alucinado” alemão, apresentou numa das reuniões da AES, um “white paper” sobre o “efeito de superfície” em áudio e criou um dispositivo passivo, que designou por Gaborlink, que permite controlar esse efeito na banda áudio. Nota: sobre o relato das minhas experiências com o Gaborlink podem ler aqui:

E sobre o efeito audível do Gaborlink podem fazer as vossas próprias experiências abrindo o Online_demo aqui:


O facto das pequenas diferenças serem audíveis por uns e não por outros não tem necessariamente a ver com surdez, mas antes com a importância que cada um lhes atribui. Para certas pessoas os pormenores são muito importantes, outras preferem apreciar o todo em detrimento das partes. É a capacidade de abstracção que permite a uns estudar no ambiente ruidoso de um café, enquanto outros exigem o silêncio de biblioteca para se poderem concentrar.



Qualquer sistema de som mediano reproduz música sem distorção aparente. Mas, tal como sucede nas interpretações de peças musicais por diferentes músicos, são as «nuances» que distinguem o génio do meramente competente. «Nuances» que se perdem no caldo de microdistorções que ocorrem na transmissão do sinal, umas provocadas por fenómenos de natureza física outras electromagnéticas. Todos os cabos alteram o sinal original e todos funcionam também como antenas captando ainda ruído ambiente que mascara as subtilezas interpretativas.




O prazer da audiofilia está exactamente na busca incessante do componente certo no lugar certo. Privar os audiófilos do gozo da demanda com o argumento da alucinação colectiva, é negar o objectivo último da audiofilia: encontrar o Graal em vez de ficar sentado à espera de Godot...




Manter o espírito aberto é fundamental. A Igreja só 500 anos depois pediu desculpa a Galileu por não ter aceitado a sua defesa da teoria heliocêntrica de Copérnico. Eu não quero esperar tanto tempo...









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