A Alemanha é, sem dúvida, o país que melhor soube preservar a tradição analógica, mesmo quando – e, sobretudo, quando – o espectro da morte iminente se desenhou no horizonte. O video que se segue foi registado no Domingo, um dia calmo, porque, na Sexta-feira, havia uma multidão de viniófilos de roda, é o termo, dos discos.
No CD a música é uma complexa trama de números cabalísticos; não há contacto físico entre a agulha de luz e o disco; e o próprio acto de reprodução é regulado à distância por controlo tão remoto quanto asséptico: não há desgaste, nem risco, no duplo sentido da palavra. Eis porque haverá sempre quem prefira sofrer os efeitos perversos da electricidade estática, o desespero dos empenos, a angústia da morte anunciada das espiras, em troca do prazer de ouvir e coleccionar LP raros, que se vão tornando objectos de colecção. Ou talvez por isso...
«Retira-se o disco da capa com dois dedos leves, qual hóstia sagrada em acto litúrgico. Coloca-se o disco no prato e faz-se descer o braço. Há quem consiga apontar a agulha com a precisão de um cirurgião, que só depois segue pelo seu pé o tortuoso caminho, contrariando a força centrífuga e lavrando sons enterrados na superfície ondulante de espiras hipnóticas, numa fritura branda e estranha para quem já nasceu na era digital. A arte de baixar e levantar manualmente o braço do gira-discos devia ter um capítulo na Ars Amandi, de Ovídio. Quando a agulha penetra a espira em profundidade, inicia-se o coito musical, que pode durar apenas o tempo de uma faixa ou um lado completo: A ou B. Até o virar do disco tem um efeito de suspensão narrativa, um sentimento de puro gozo de antecipação, que se perdeu com o CD, tal como o intervalo no cinema.
ACOUSTIC SOLID
Passar pela galeria da Acoustic Solid, é como passear por um jardim de flores multicoloridas e perfumadas.
CLEARAUDIO
A novidade é o Innovation, já considerado como o gira-discos mais “acessível” da marca, con controlo de velocidade por raios infravermelhos. Dizem as revistas alemãs que uma “Inovação” técnica sem precedentes.
No LP a música é representada pelo tempo de actuação de uma bailarina que evolui em pontas de diamante sobre a superfície ondulante do disco ao ritmo de 33 rpm, no espaço limitado pelo raio de acção do braço. No CD, tal como nos relógios digitais, o tempo musical é apenas uma representação numérica. Nos gira-discos, tal como nos relógios analógicos, é o espaço percorrido pelos ponteiros que determina o tempo: o que passou e o que ainda falta passar. Enquanto no analógico o tempo existe em função do espaço, no digital só o tempo existe - daí a importância da precisão do «clock» e os efeitos perversos do «jitter» na performance dos leitores-CD.
CONSONANCE
Com base de granito branco (?). Ou será mármore? Sóbrio e bonito.
Ao contrário do leitor-CD, o gira-discos não tem a função «repeat». Cada audição de um LP é assim um acto consciente e voluntário: todos os rituais se cumprem na repetição de gestos sagrados e imutáveis, segundo Lèvy-Strauss.
DA VINCI
Talvez a peça mais espectacular do certame deste ano. Uma verdadeira peça de arquitectura futurista.
O CD foi lançado no mercado com o arrogante slogan «perfect sound forever». Passados apenas 20 anos, está prestes a ser substituído pelo Super Audio CD e pelo DVD-Audio. Com ele cai também o mito da eterna juventude.
D.KLIMO
Com 4-braços é o sonho de todos os reviewers do analógico.
DR. FLEICKERT
EAR
O Master Disc, de Tim Paravicini.
EAR
HORO
Um gira-discos em forma de piano de cauda c/ braço de arco de violino! Dedicado a Bill Evans. Italiano, claro...
O tempo, em si, sem a componente espaço, não passa de uma abstracção. Ao determinar o tempo musical em função do espaço, o gira-discos tornou-se, paradoxalmente, um objecto de arte intemporal.
MONTEGIRO
Montegiro Lusso
Mais uma marca italiana de arte analógica, eu diria mesmo arte sacra, tal a religiosidade que envolve os gira-discos. Cada modelo é fabricado de um material diferente: O Legno, como o nome indica é de madeira e bambu; o Lusso, de alumínio e acrílico.
Felizmente, a Delaudio albergou a Thorens. E em boa hora o fez, porque nunca os gira-discos estiveram tão na moda. Depois de uma ameaça de fecho, a Thorens mostrou de novo a sua pujança. Aliás, ao nível do highend não há crise. A crise reside na electrónica de consumo...
TRANSROTOR
Transrotor Orion Reference mit rack
É a marca ex-libris da Alemanha e do Highend Show. A beleza, riqueza e qualidade dos seus giradiscos é única e inimitável. Este ano apresentou o Argo (no video em baixo). Mas a perenidade desta arte torna-a imune às modas.
No CD a música é uma complexa trama de números cabalísticos; não há contacto físico entre a agulha de luz e o disco; e o próprio acto de reprodução é regulado à distância por controlo tão remoto quanto asséptico: não há desgaste, nem risco, no duplo sentido da palavra. Eis porque haverá sempre quem prefira sofrer os efeitos perversos da electricidade estática, o desespero dos empenos, a angústia da morte anunciada das espiras, em troca do prazer de ouvir e coleccionar LP raros, que se vão tornando objectos de colecção. Ou talvez por isso...
«Retira-se o disco da capa com dois dedos leves, qual hóstia sagrada em acto litúrgico. Coloca-se o disco no prato e faz-se descer o braço. Há quem consiga apontar a agulha com a precisão de um cirurgião, que só depois segue pelo seu pé o tortuoso caminho, contrariando a força centrífuga e lavrando sons enterrados na superfície ondulante de espiras hipnóticas, numa fritura branda e estranha para quem já nasceu na era digital. A arte de baixar e levantar manualmente o braço do gira-discos devia ter um capítulo na Ars Amandi, de Ovídio. Quando a agulha penetra a espira em profundidade, inicia-se o coito musical, que pode durar apenas o tempo de uma faixa ou um lado completo: A ou B. Até o virar do disco tem um efeito de suspensão narrativa, um sentimento de puro gozo de antecipação, que se perdeu com o CD, tal como o intervalo no cinema.
ACOUSTIC SOLID
Passar pela galeria da Acoustic Solid, é como passear por um jardim de flores multicoloridas e perfumadas.
CLEARAUDIO
A novidade é o Innovation, já considerado como o gira-discos mais “acessível” da marca, con controlo de velocidade por raios infravermelhos. Dizem as revistas alemãs que uma “Inovação” técnica sem precedentes.
No LP a música é representada pelo tempo de actuação de uma bailarina que evolui em pontas de diamante sobre a superfície ondulante do disco ao ritmo de 33 rpm, no espaço limitado pelo raio de acção do braço. No CD, tal como nos relógios digitais, o tempo musical é apenas uma representação numérica. Nos gira-discos, tal como nos relógios analógicos, é o espaço percorrido pelos ponteiros que determina o tempo: o que passou e o que ainda falta passar. Enquanto no analógico o tempo existe em função do espaço, no digital só o tempo existe - daí a importância da precisão do «clock» e os efeitos perversos do «jitter» na performance dos leitores-CD.
CONSONANCE
Com base de granito branco (?). Ou será mármore? Sóbrio e bonito.
Ao contrário do leitor-CD, o gira-discos não tem a função «repeat». Cada audição de um LP é assim um acto consciente e voluntário: todos os rituais se cumprem na repetição de gestos sagrados e imutáveis, segundo Lèvy-Strauss.
DA VINCI
Talvez a peça mais espectacular do certame deste ano. Uma verdadeira peça de arquitectura futurista.
O CD foi lançado no mercado com o arrogante slogan «perfect sound forever». Passados apenas 20 anos, está prestes a ser substituído pelo Super Audio CD e pelo DVD-Audio. Com ele cai também o mito da eterna juventude.
D.KLIMO
Com 4-braços é o sonho de todos os reviewers do analógico.
DR. FLEICKERT
Conheci-o este ano nos EUA. Robusto, sólido. E, dizem, de uma estabilidade impertubável.
EAR
O Master Disc, de Tim Paravicini.
EAR
Os Forte em cor de madeira natural e em preto lacado. Das válvulas aos gira-discos foi um passo. A filosofia é a mesma: qualidade. Desta vez, conheci-os primeiro em Portugal, na sala da Imacústica, no Audioshow 09.
HORO
Um gira-discos em forma de piano de cauda c/ braço de arco de violino! Dedicado a Bill Evans. Italiano, claro...
O tempo, em si, sem a componente espaço, não passa de uma abstracção. Ao determinar o tempo musical em função do espaço, o gira-discos tornou-se, paradoxalmente, um objecto de arte intemporal.
MONTEGIRO
Montegiro Lusso
Mais uma marca italiana de arte analógica, eu diria mesmo arte sacra, tal a religiosidade que envolve os gira-discos. Cada modelo é fabricado de um material diferente: O Legno, como o nome indica é de madeira e bambu; o Lusso, de alumínio e acrílico.
THORENS
Felizmente, a Delaudio albergou a Thorens. E em boa hora o fez, porque nunca os gira-discos estiveram tão na moda. Depois de uma ameaça de fecho, a Thorens mostrou de novo a sua pujança. Aliás, ao nível do highend não há crise. A crise reside na electrónica de consumo...
TRANSROTOR
Transrotor Orion Reference mit rack
É a marca ex-libris da Alemanha e do Highend Show. A beleza, riqueza e qualidade dos seus giradiscos é única e inimitável. Este ano apresentou o Argo (no video em baixo). Mas a perenidade desta arte torna-a imune às modas.