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2009

J.gordon Holt Morreu

J.gordon Holt Morreu
 

J.Gordon Holt 1930-2009 (Stereophile) _ direitos reservados

Como coincidência foi o meu primeiro encontro com Holt em Las Vegas, circa 1999. Tinha marcado um encontro com John Atkinson e Holt estava junto, na sala da Thiel. Ele era um dos meus ídolos audiófilos. Acendia os cigarros uns nos outros. Et pour cause, morreu de enfisema...


Admirava a cultura técnica de algibeira com que JGH descrevia o que ouvia na sua Stereophile ainda em formato de bolso. Aliás, inspirei-me no acrónimo JGH com que identificava os seus escritos para assinar-me JVH na revista Imasom.


E lembro-me da minha desilusão quando me vi perante aquela figura frágil, insignificante quase, o cinto para lá do último furo, segurando as calças em desespero de causa, e os óculos sempre em equilíbrio instável na ponta do nariz. Tinha o corpo leve e a arguta curiosidade de um pássaro. Olhou-me por cima das lentes como se fora uma ave rara vinda de um qualquer país exótico.


O que mais me chocou foi a aparente dificuldade auditiva que se intrometia teimosamente no diálogo possível entre o ídolo e o seu fã. Ou talvez fosse do desfasamento entre o meu inglês meridional e o seu sotaque do Colorado. Excuse me? A voz era rouca, soprada, queimada pelo tabaco, adivinhando-se já no tom pesado da respiração e no timbre gasto das consoantes o gráfico de distorção da saúde.


Morreu no dia 20 de Julho, ao meio-dia. No mesmo dia e mês em que o meu pai morreu, e à hora a que eu nasci. Um deu-me a vida, o outro inspirou-me uma certa forma de a viver: ambos fundámos uma revista de áudio cuja filosofia era o som pelo som. Também ele teve de abandonar a revista que fundou. Todo o mundo é feito de mudança.



Morreu no dia em que o homem deu na Lua o pequeno passo que fez saltar toda a humanidade. Ou talvez não. Há quem diga que foi o embuste do século. As imagens terão sido obtidas em estúdio no deserto do Nevada. Ou talvez não...
 





















Será a crítica de áudio também um embuste, não por ser subjectiva mas porque a objectividade afinal parece ter demasiadas variáveis de ...estúdio?

JGH escreveu um artigo intitulado “Why do hifi experts disagree”, de cuja leitura pelo próprio autor Robert Harley fez um registo áudio histórico utilizando um microfone diferente para cada parágrafo, que foi editado como a Faixa 5 do Stereophile Test CD STPH 002-2 e podem ouvir, abrindo o respectivo ficheiro em Media (copyright Stereophile). A sequência é a seguinte:


Shure SM57, AKG D190E, Sennheiser MD441, electrovoice RE20, Coles 4038, B&K 4006, Crown PZM, Milab LC25, Neumann TLM170, AKG C414B, Neumann U87, Neumann U47FET, Neumann U67, Telefunken, U47, Telefunken ELAM251, AKG C12, AKG C12, EAR The Mic.


A voz soa diferente de microfone para microfone. E nenhum deles soa como o original. So much for the myth of the primordial absolute sound. Aliás, o JGH que eu conhecia da escrita na Stereophile também não se parecia nada com o original. Terão os microfones preconceitos como nós, humanos?...


Descansa em paz JGH. Fica-nos a tua voz. E obrigado também pelo teu legado audiófilo. Eu por cá continuo a trabalhar no meu. Até um dia...
 
Será que ainda verei o homem chegar a Marte?

J.gordon Holt Morreu


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