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2009

O Poder Dos Iões

O Poder Dos Iões


Enid, que escrevia na TAS, chegou a sugerir que o tipo de lava-loiça que se utilizava na cozinha afectava o som na sala! Nada que se comparasse, contudo, com a paranóia esquizofrénica de Peter Belt, na qual até eu cheguei a embarcar.


E não só eu: lembro-me de um disco de plástico com bolinhas que se esfregava no CD para alterar a polaridade da carga electrostática, cujo efeito deixou Jeff Rowland de boca aberta, numa apresentação de produtos novos da Esotérico, no Meridien, no Porto. Tanto que lhe ofereci o estranho “estabilizador de antiestático”.


Peter Belt enviava-me regularmente “samples” de bugigangas, cada qual a mais inverosímel, com folhetos mal amanhados nos quais se explicava o princípio “activo” e o modo de utilização: alfinetes d’ama, pinças de plástico, autocolantes coloridos do tipo holograma, cremes, óleos, mangas de plástico helicoidais para os cabos, um sem fim de produtos comprados numa loja chinesa e vendidos a preços esotéricos por alegadamente terem sido “tratados” com cargas que afastavam o “mau-olhado” do som. Alguns deles, por estranho que pareça, tinham um extraordinário efeito de placebo.


Os alfinetes eram colocados nos reposteiros; as pinça serviam para colocar os discos na gaveta sem lhes tocar com as mãos; os cremes e óleos aplicavam-se em todas as superfícies, dos chassis dos aparelhos aos cabos; os hologramas eram colocados em pontos estratégicos dos discos e das gavetas dos leitores-CD.


O problema foi quando ele começou a garantir que ter o lenço dobrado em triângulo no bolso resultava num som melhor que quando dobrado em quadrado (não explicava se podia estar ranhoso ou não...). Ou pior ainda: quando tentou provar, com base numa confusa teoria esotérica, que colocar duas moedas de libra sobre um CD (não o que estava a tocar, claro), junto ao leitor-CD, melhorava drasticamente o som. Mas ia ainda mais longe no desvario: tinham de ter a efígie da Rainha Isabel II. Eram as únicas que funcionavam...


Aí eu pensei, vou dizer que já não mora ninguém neste endereço.


A versão alemã de Peter Belt é Ingo Hansen. Claro que, neste caso, é tudo mais científico, mas continua a ser preciso ter muita fé para acreditar.


Vem isto a propósito de um posto colocado no blog de Stephen Mejias, na Stereophile, no qual se conta que um tal de Chris Vogel descobriu que ionizar negativamente os CDs melhora o som. Ora isto não é novidade: há ionizadores à venda há muitos anos como o Zerostat; e outros mais sofisticados cujos efeitos, pretensos ou reais, já foram até apresentados pela Soundeclipse, no HighEnd 2007, que se realizou no Porto.
 


Paulo entrega a Rui o CD ionizado (Highend07_Porto)
 
 

Lâmpada de ionização negativa (Soundeclipse)
 
 


A diferença está em que Vogel utiliza para ionizar negativamente os CDs um simples secador de cabelo! Vai daí fui investigar se o secador de cabelo da minha esposa, um Remington, também tinha ionizador negativo (a ideia é eliminar a estática do cabelo). E não é que tinha mesmo!
 
 



 
 

Experimentei a quente e a frio. Nada. Ou os meus ouvidos com a idade já não detectam estas subtilezas, ou então é a idade que me deu finalmente juízo...


Com a potência máxima, a principal vantagem foi soprar o pó dos discos! Mas não deixe de fazer a sua própria experiência. Só um conselho: deixe a sua esposa sair primeiro para as compras, não vá ela pensar que desta vez você se passou completamente...


 


O Poder Dos Iões


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