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2009

Playback Designs Mps-5

Playback Designs Mps-5



 



 
O design é sóbrio e sólido com sujestões trapezoidais



De uma empresa chamada Blue Light Audio, seria de esperar um leitor-Blu-ray para áudio highend. Contudo, o Playback Designs MPS-5 é “apenas” um leitor-CD/SACD. O meu primeiro contacto imediato de 3º grau foi na CES 2009. Ainda que não soubesse qual o seu contributo no cômputo geral do som, do qual faziam parte outras parcelas importantes como o protótipo do amplificador monobloco DartZeel e as colunas Evolution Acoustics, a verdade é que a qualidade da água que chega à foz depende muito da pureza da nascente.



 
Logo ali fiquei entusiasmado com a perspectiva de poder vir a testar a curto prazo no meu estúdio um exemplar do MPS-5. Rui Calado, que me acompanhava na auspiciosa ocasião, deixou escapar a inconfidência de que havia interessados em distribuir a Playback Designs em Portugal. De facto, pouco tempo depois fui contactado por Miguel Carvalho, da Ultimate Audio que me propôs uma audição preliminar sem compromisso, apenas pelo prazer da descoberta íntima desta nova espécie da classe dos CD/SACD.

Ricardo Franassovici, na entrevista que concedeu em vídeo ao Hificlube, defende que não devemos “embarcar” em aventuras com novas marcas sem que estas cumpram os requisitos mínimos de qualidade para poderem ser consideradas highend. Tal como os grandes cantores líricos, músicos ou futebolistas, só de cinco em cinco anos surge um que justifica o investimento e o esforço...


A revista Stereophile, por exemplo, só testa produtos de marcas que tenham um mínimo de cinco distribuidores no EUA. Assim, a maior parte das novas marcas acabam por ser reveladas através de sites audiófilos, Positive Feedback, Six Moons, etc., e nem sempre pelas melhores razões - muitos deles desaparecem do mercado como apareceram: rapidamente e sem deixar rasto.


O Hificlube gosta de apostar nos jovens e nas novidades, e está sempre aberto a divulgar produtos cujo curriculum justifique uma audição preliminar, com eventual publicação dos resultados, como é o caso do MPS-5, sobretudo depois de ter ouvido antecipadamente o seu elevado potencial.


Andreas Koch, curriculum superlativo


Não que o curriculum do seu criador, Andreas Koch, a maior autoridade mundial no domínio do processamento digital, não fosse mais que suficiente para o recomendar: trabalhou com a Studer Revox e a Dolby Labs; foi o responsável pela concepção dos notáveis conversores da EMM Labs e, last but not the least, foi contrado pela Sony para construir de raiz a primeira mesa de mistura digital DSD de 8-canais, a famosa Sonoma, que mais tarde evoluiu para um software de 32 canais compatível com qualquer PC.


Ora, quando este homem coloca um leitor CD/SACD no mercado, e afirma que é o “estado da arte”, he means it!. E não é um crítico amador de um recôndito país à beira mar plantado que tem competência técnica para o contradizer. O que não o impede de publicar a sua opinião – o direito de expressão é, de facto, a maior virtude da democracia.
 

 



 
O Playback MPS-5 e o cabo Stealth (power cord)




Exposto este “disclaimer”, o que se segue é uma análise subjectiva do desempenho do Playback Designs MPS-5, integrado no contexto de um sistema composto por: Sony Vaio PC (já vamos ver porquê), leitor CD/SACD Sony XA777es, conversor Chord DAC 64, prévio McIntosh C2200 (valvulado por J.Martins, da JMAudio), amplificador Krell Evolution 302, colunas Sonus Faber Concertino (originais) e Martin Logan Summit X (teste em preparação), cabos Nordost (interconnect), Siltech (power cord), Black Slink/Sixteen (interconnect longo pré/amp e cabo de coluna) e ainda, cortesia da Ultimate Audio, Stealth (power cord).


Trapézio sem rede
 
 







Dispenso-me de enumerar todas as características e funcionalidades do MPS-5, que podem ler aqui, mas ressalvo alguns aspectos que considero importantes e até distintivos sem a preocupação de seguir uma ordem descritiva e metódica, ou seja, descrevo-os tal como me “saltaram à vista e aos ouvidos”:

O design é sóbrio e sólido, esbatendo-se a solidez aparente na leveza do traço, com sujestões trapezoidais, e a opção pelas duas cores contrastantes (alumínio natural e negro anodizado) que conferem uma falsa ilusão de slimness, logo negada pela constatação física das dimensões e o peso de cerca de 15 quilos. Os botões de selecção e controlo foram alojados no bordo superior com sinalética discreta. O controlo remoto é igualmente sóbrio e funcional, adoptando nas costas as delicadas nervuras, que têm no aparelho funções estéticas e antiressonantes e no controlo úteis funções antiderrapantes.


Em fase com Mariza


De relevar a tecla Phase que pode ser determinante para o fine tuning do som dos discos. Transparente, de Mariza, é um CD paradigmático do efeito da chamada “fase absoluta”, com as faixas “desalinhadas”, é a expressão que me ocorre, no tempo e na fase, dependendo da sessão de gravação: a fase absoluta/invertida (não confundir com em-fase/fora-de-fase) tem aqui um efeito semelhante ao campo/contracampo de uma objectiva, focando/desfocando Mariza em relação ao acompanhamento musical adicionado a martelo a posteriori. Mas a voz, ah essa voz quente e dolente!... É uma diferença subtil mas audível.


Campeão olímpico
 


 
A gaveta é excelente, elegante, estável e de uma precisão cirúrgica


A gaveta é excelente, como seria de esperar de uma encomenda OEM à Teac: elegante, estável e de uma precisão cirúrgica nos movimento de abertura e fecho. Como suporte visível do sistema transporte/leitura é uma das responsáveis pelo excepcional desempenho do MPS-5 na difícil prova de obstáculos do famoso disco-teste da Pièrre Verany.


Sabe-se como a precisão da leitura é fundamental para evitar o recurso ao circuito de correcção de erros, que sobrecarrega a fonte de alimentação e introduz jitter por indução mecânica e electromagnética. Ora o MPS-5 ultrapassou sem um soluço sequer drop-outs simples de 2,50 mm (!) e sucessivos de 1,50 mm (!!), mesmo quando associados a distâncias entre pistas muito inferiores à norma. Não será o recorde mundial, que pertence nos drop-outs simples (com soluço inicial) ao Accustic Arts One (4 mm, mein Gott!!!) e (sem soluços) ao antigo Cambridge CD1, de Stan Curtis, com 3 mm (!!!!), neste caso com utilização massiva (o CD1 tinha contador de erros) de correcção e automuting. O MPS-5 não parece utilizar qualquer truque electrónico, apenas boa engenharia mecânica, para bater o recorde olímpico (corresponde a 9 metros no salto em comprimento!) e, pasme-se, vencer a própria Esoteric no seu terreno de eleição...


Não admira, pois, que o MPS-5 funcione melhor como leitor integrado. Não é tão bom como conversor externo, apesar das garantias do fabricante de que todo o jitter induzido pelo transporte (incluindo um PC portátil) é eliminado pelo sistema de buffer em cascata PDFAS. O “lock” com qualquer tipo de transporte é, contudo, instantâneo e perfeito, mesmo através da entrada USB. Com fonte PC/USB, a resolução máxima de apenas 48kHz. Mas o Playback vai aos 24-bit/192kHz com ligações externas SPDIF, AES e Toslink, assim a sua placa gráfica o permita.


First in, first out


Há um limite que nenhuma tecnologia de conversão D/A pode ultrapassar, o imposto pelo pecado original cometido pela Philips/Sony de estabelecer como norma para o CD os 44,1 kHz como frequência de amostragem e 16-bit de resolução. Pode-se “oversamplar”, “upsamplar”, criogenizar, fazer figas, baralhar e dar de novo, que as cartas do baralho serão sempre as mesmas. Há quem defenda que o CD sabe melhor ao natural, como a Audio Note, que nem filtragem utiliza, e quem opte por frequências de amostragem múltiplas como a Esoteric, ou estratosféricas, como a Chord e a EMM Labs.


O Playback Designs pertence a esta última categoria, o que não admira, pois foi Andreas Koch quem concebeu os conversores D/A dos EMM. Não vamos entrar aqui numa discussão estéril sobre de que lado está a razão. Já ouvi bons exemplos de qualidade em ambos os lados da barricada.


Pessoalmente, considero que as topologias gate array, os filtros optimizados no domínio temporal e a “bufferização”, propostas por Robert Watts, que estão na base do DAC64 e suas variantes, se aproximam mais do desidério de uma grande gama média coerente, palpável, verosímil e natural, tal como eu gosto e se experimenta com o LP.


Andreas Koch optou aqui por algo semelhante: o frequency arrival system  não é mais que um algoritmo sofisticado que controla um circuito FIFO (first in first out), tal como o utilizado por Watts para minimizar o jitter.


Por outro lado, as tecnologias de conversão múltiplas, propostas pela Esoteric, em especial quando associadas ao re-clocking, por master clock externo, reproduzem o som do CD com uma precisão, definição e controlo geral, que não estão ao alcance do DAC64.


Resta a tecnologia K2, concebida pela JVC, e aplicada ao entretanto descontinuado Reimyo CDP777 (e também utilizada nos discos XRCD), que é talvez a que melhor reproduz a “cor” do som, ou seja, o espectro harmónico que nos permite identificar algo como “real”.


Gémeos distintos


Já tive o grato prazer de fazer uma audição preliminar ao leitor CD/SACD EMM CDSA, que é filho de um casamento anterior de Andreas Koch, com a mesmissima carga genética do MPS-5, menos a ergonomia, a estética e a construção externa. A personalidade, o carácter, os princípios e os valores equivalem-se. Não admira, pois, que tenham os mesmos caprichos e o mesmo feitio: funcionam mal a frio. Toda a topologia dos circuitos de conversão e do andar de saída é discreta, nada de DACs “off the shelf”, e AmpOps só onde não possam fazer estragos. A frequência de amostragem é também “puxada” até ao infinito: 128 x44,1=5.644,8, o dobro da utilizada para o SACD! O que significa que tudo o que escrevi sobre o EMM se aplica também ao MPS-5:  


Et pour cause, o MPS-5 soou-me como um “misto” do que melhor já ouvi nos vários exemplos dados, embora a sua sonoridade intrínseca seja basicamente a do EMM Labs, aqui aliada à precisão mecânica dos Esoteric. Em termos de construção, a EMM está para a Toyota como a Playback Designs está para a Lexus. A qualidade paga-se, embora o preço de 15 000 euros que custa o MPS-5 me pareça manifestamente exagerado.


Carimbo 3T


Tentando abstrair-me do efeito deletério da minha memória auditiva, consegui “isolar” o som do MPS-5: o grave é absolutamente notável e leva o carimbo 3T do Hificlube: tenso, intenso e extenso. Nem a Krell conseguiu atingir este notável nível de controlo e poder visceral. A gama média segue-lhe as pisadas e, talvez por ser igualmente musculada, lhe falte um pouco de corpo (gordura?), que se configura numa sensação de recuo cenográfico e de discrição na presença dos solistas em palco, quando comparada com a do DAC64, por exemplo.


Depende dos discos e do volume de som, mas é uma sensação recorrente. Pelo menos dois ouvintes independentes sentiram o mesmo, embora, quando lhes foi pedida uma única palavra para descrever a sensação, considerassem o DAC64 “expansivo” e o MPS-5 “neutro”. O meu filho, alegadamente mais “webmaster” que “soundmaster” foi peremptório: “o som do MPS-5 é mais ...eh...moderno”.


Nunca a dicotomia filosófica do copo meio cheio do DAC64 e meio vazio do MPS-5, tendo afinal ambos o mesmo volume de líquido acústico, foi tão difícil de definir, sobretudo porque afinal estão ambos igualmente cheios e tudo depende da perspectiva.


Reforcemos a metáfora para uma melhor compreensão: se olharmos para o palco sonoro como um aquário onde nadam músicos, o DAC64 introduz o tradicional efeito de lente, tudo parece maior e palpável. A diferença é subtil mas suficiente para contrariar a tendência do CD para soar “magro” por oposição ao LP.


Será admissível a recriação da realidade? Respondo com uma pergunta: será a realidade o que está registado no CD?


Melhor que ao vivo
 



O MPS-5 ligado ao PC Vaio por USB a 44,1kHz



Graças ao MPS-5 ouvi pela primeira vez o “verdadeiro” som dos vídeos que fiz na CES 2009 – até aqui só os tinha ouvido através de auscultadores. Bastou ligar o Vaio ao MPS-5 com um simples cabo USB. Agora com colunas de banda larga e amplificação a condizer, pude constatar que nem todos os “sons” de que gostei mais “lá” foram os que gostei mais “cá”.


Nas gravações o “som ambiente” é mais evidente que no próprio local, pois o cérebro tende a compensar o efeito de reverberação, subtraindo-o subrepeticiamente da equação. No meu estúdio, que é mais “surdo”, o cérebro ouve a “sala” da gravação como fazendo parte de um todo acústico inalienável. Não é possível subtraí-la da banda sonora porque faz parte da música...


Neutralidade suiça


O MPS-5 é, sem dúvida, o mais neutro dos leitores CD/SACD, mas essa neutralidade é, hélas, extensiva às “cores” e às “texturas” da pauta musical. Depois do notável desempenho do MPS-5 no teste da Pièrre Verany, sou o primeiro a admitir que talvez ele vá buscar ao disco apenas a verdade, toda a verdade e nada mais do que a verdade. De facto, à medida que o tempo corria, o palco ganhava luminosidade e o corpus sonorus substância. Seriam estas nuances fruto do aquecimento do material ou do meu envolvimento pessoal? Com a idade, talvez eu tenha desenvolvido uma perspectiva mais romântica (cínica?) do som, daí o gosto serôdio pelas válvulas de antanho e as colunas electrostáticas.


Há muito tempo que não oiço o Reimyo CDP777 (que teve, aliás, um nota medíocre no teste Pièrre Verany). Mas lembro-me que o mais me atraiu nele foi exactamente a forma como reproduzia as “cores” e as “texturas” que, provavelmente, admito-o sem dogmatismos, não são mais que “colorações” e “distorções”. A empatia nem sempre se verifica pelas melhores razões, ou os homens seriam todos monogâmicos como os pinguins.


Mas em todas as actividades humanas, até na Medicina, não é Miguel?, o factor emotivo continua a ter uma importância fundamental: chamem-lhe ilusão, fé, crença; chamem-lhe presunção, sugestão, preconceito.


O Playback Designs MPS-5 veio engrandecer a galeria dos melhores leitores CD/SACD que tive a honra de ouvir recentemente integrados no meu sistema: EMM Labs SA, Esoteric X1D2, Krell Evolution 505, Reimyo CDP777 (CD). A classificação relativa depende mais de si, dos seus gostos, prioridades e sistema complementar que dos aparelhos. Embora eu defenda que o gosto não pode nunca ser a pedra de toque na avaliação de um equipamento de som, a diferença entre eles só vem confirmar que a alta fidelidade - em especial o highend - tem tanto de arte como de ciência, e que a riqueza cultural da humanidade vai felizmente continuar a depender da sua diversidade. Para mim o Reimyo CDP777 continua a ser o alvo a abater. Venham mais cinco.


Produto: Playback Designs MPS-5 _leitor CD/SACD highend

Distribuidor: Ultimate Audio

Preço:  15 000 euros

 
Contactos:
email: [email protected]

Telemóvel: 914928304

Website: http://www.ultimate-audio.eu/



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