JVH, the badge ao peito, no corredor do poder audiófilo (Venetian Hotel, Las Vegas 2010)
Este ano o Hificlube tinha tudo montado para ser o primeiro em todas as etapas deste autêntico rallypaper. E até conseguimos numa primeira fase: um dia antes de começar a CES2010, já estavamos a publicar informação importante. E nos dias seguintes continuámos embora a um ritmo mais lento, pois não é possível andar no Venetian a ouvir e fotografar equipamentos, a fazer entrevistas e ao mesmo tempo estar fechado no quarto do hotel Mirage a editar. Ainda por cima com um tempo óptimo – o sol do deserto brilhava lá fora – numa cidade cuja filosofia é exactamente tentar tudo para que as pessoas não fiquem nos quartos, a não ser por motivos óbvios...
Um obstáculo técnico, entretanto já ultrapassado pelo nosso webmaster Pedro Henriques, obrigou o Hificlube a alterar os seus planos editoriais, com um compasso de espera que nos fez perder algum tempo em relação à concorrência internacional. Assim, vamos começar pelo fim, literalmente, porque The Show tem tendência para acabar.
À BEIRA DO FIM
Numa última tentativa desesperada para sobreviver, o certame audiófilo paralelo The Showinstalou-se no velho e iconográfico hotel Flamingo, cujo famoso néon é um dos ex-libris de Las Vegas (na foto desligado e fotografado à luz do dia).
O Flamingo, apesar da idade, não está ainda decrépito e regurgitava de gente, como todos os outros, aliás (não sei onde vão buscar tanta gente: todos os casinos estavam cheios, não necessariamente de jogadores...).
O Flamingo ficar a 5 minutos a pé do Venetian, ao contrário do que sucedia antes com o Alexis, pois tinhamos de apanhar um miniautocarro para lá chegar, mas aquilo estava às moscas como sempre. É verdade que fui lá no Domingo, com algumas tendas já a serem desmontadas, mas o cenário geral é como podem ver nas fotos abaixo.
E não me surpreende, a avaliar pela dificuldade que eu tive em encontrar as salas onde se demonstravam os equipamentos. No hotel o pessoal tinha uma vaga ideia de que se realizava ali qualquer coisa relacionada com a CES...
Finalmente, lá encontrei um velhote (nos EUA trabalha-se até morrer, o que é isso de ficar reformado a jogar às cartas no jardim...) com um cartaz que dizia: The Show lá em baixo...
A única pessoa presente na Jaton era o fabricante, entretido a ouvir o seu próprio sistema.
Noutra sala, que nem me dei ao trabalho de identificar, via-se a “dona da loja” a desfolhar revistas como quem espera a vez no cabeleireiro
Mesmo assim a CES não é festa sem uma visita ao The Show.
Os principais destaques vão para a Ensemble que caiu na asneira de aceitar um “disco pedido” que deve ter sido gravado numa acústica de casa-de-banho. Seguiu-se uma peça de música clássica, claramente melhor.
Ouviu-se um conjunto composto pelas colunas Natura, e a série Sorondo: leitor Dirondo (transporte Philips e DACs 24/192), amplificador integrado híbrido Fuoco. E ainda prévio Previvo e amplificador Evivo. Interessantes os nomes dos aparelhos, acabamentos impecáveis e sobriedade suiça. Os preços reflectem a origem: tudo na casa das dezenas de milhares...
Inultrapassável é a simpatia da equipa Ensemble.
John Atkinson também por lá andava, pois estava interessado em testar o novo monobloco da DarTzeel. Fui encontrá-lo à conversa com Hervé Delatraz e Jonathan Tinn. Aliás, por pura coincidência, fizemos o show praticamente juntos. Hervé rogava-lhe que não se esquecesse de utilizar o interconnect de 50 ohms e John a garantia-lhe que sim. Já ouvi falar nas vantagens deste cabo com os DartZeel.
O novo amplificador monobloco NHB-458, apresentado na forma de protótipo na CES 2009 e finalmente em produção, alimentava um par de colunas Evolution Acoustics, tendo como fonte o leitor CD/SACD Playback Designs.
Sem dúvida alguma, o melhor som do The Show.
Seguia-se a curta distância o som proporcionado pelas novas Magnepan 1.7 Umas quasi-ribbon integrais. A demonstração previa som surround 5.1 mas eu tive a sensação de só ter ouvido som estéreo, apesar do “envolvimento” proporcionado pelos painéis. Aparentemente, o som surround seria demostrado na 2ª parte da apresentação.
Ou a afinação estava muito discreta ou eu estava sentado muito à frente. Seja como for, o que ouvi era de grande qualidade, com os tons naturais a que as grandes Magnepan nos habituaram ao longo dos anos. Se considerarmos que nos EUA pedem menos de 2 000 dólares pelas 1.7 estamos perante a “pechincha” audiófila do ano.
Alimentadas por Bryston 28B levaram-me a pensar que o sub estava ligado. No final garantiram-me que só os painéis frontais estavam ligados e que os graves não tinham “aditivos”. Very impressive, indeed.
Do restante, não reza a história, talvez com algumas excepções:
Os Kronzilla da KR Enterprises, além de serem impressionantes (aquelas válvulas são espectaculares!), tocam sempre bem em todas as circunstâncias.
E as Soundlab Millennium, mesmo apertadas numa sala claramente inadequada, continuam a dar a ilusão de que os cantores estão escondidos lá atrás e que vão aparecer a qualquer momento: peekabboo!
As Dynastattocavam na sala ao lado mas já não me convenceram tanto. Claro que são muito mais domésticas e em conta...
Gostei ainda de ouvi as Laufer-Teknik, que não conhecia, ou pelo menos delas não guardei memória. São mais umas colunas de altifalante único, alimentadas por um integrado da Behold Gentle (não entendo como é que ainda ninguém pegou na Behold em Portugal): coerência, integração e bom equilíbrio tonal. Talvez o grave desse passos maiores que o pé e perdesse a cabeça de vez em quando...
Nota: Já dizia a minha avó: depressa e bem não há quem.
Da Ultimate recebi a informação que estas colunas são, de facto, as Ascendo C8 (não admira que tenha gostado da coerência, integração e bom equilíbrio tonal). E ninguém melhor do que eu deveria saber isso, porque as ouvi em Munique também c/ amplificação Behold Gentle e tinha gostado bastante, embora as tenha preferido c/ válvulas (na altura eles chamavam-lhe C8 Renaissance, creio). Ei-las (em cima) fotografadas pelo Hificlube no Highend 2008.
As Tyler Decade D1, novas para mim também, pareciam ter muito músculo e pouco rastilho, muito peito e pouco fôlego. Fiquei ali à espera que explodissem finalmente e nada. Mais valia ter utilizado também amplificadores da Belcanto.
Talvez o som estivesse baixo, talvez o disco não fosse o ideal. Um dos erros dos demonstradores é optar por faixas que demoram a “desenvolver”. Quando aquilo atinge um climax, já não está ninguem na sala. Aliás, a única pessoa na sala era eu e saí entretanto...
O mesmo se passava com os belissimos Wavac HE833, em claras dificuldades para alimentar as Venture numa sala enorme. Os Wavac são para aplicações intimistas, quase zen...
Já os Antique Sound Lab não tiveram problemas em levar ao colo as enormes cornetas da Classic muito sensíveis, e também algo coloridas (como todas as cornetas, aliás...). Veja o video 'Medley of Sounds' em baixo).
E havia por lá também as fantasias do costume:
Do Japão vieram as Evanui Prima, umas estranhas colunas de altifalante único, que me atrairam muito mais pelo design que pela performance. Esta história dos altifalantes únicos de diâmetro reduzido que reproduzem todo o espectro áudio não passa de conversa bem intencionada.
Já as Haniwa são um caso mais sério. Em especial os modelos de topo com correcção DSP. As Kubotek aqui apresentadas são apenas uma necessidade comercial imposta pelo mercado. E não, não tocam tão bem como as irmãs mais velhas que tenho vindo a ouvir em Munique.
De altifalante único, mas ajudadas por uma linha-de-transmissão interna, as Teresonic, com um amplificador também da Teresonic, tocaram mais alto do que seria de esperar de um Lowther, cujo som característico me deixa sempre um pouco tenso: limpo, coerente mas claramente colorido.
As ArtStudioexibiam um enorme cartaz informando que tinham sido eles a projectar as colunas da Ferrari mas a mim soaram-me mais como um Fiat 600, com jantes especiais e volante de competição, a armar ao pingarelho...
Para os leitores ficarem com uma ideia mais concreta do que se ouviu preparei um “medley” em video das diferentes salas que podem abrir em baixo.
Uma visita ao The Show termina obrigatoriamente na sala da Not For Sale.
Sala psicadélica da Not For Sale
Num ambiente esotérico e psicadélico, ouvia-se rock e bebia-se muito. Do psicadélico ao “cadélico” vai a distância de apenas mais um copo de tinto. E havia mais garrafas escondidas na casa-de-banho...
O que eu acho graça é que eles se estão borrifando para quem entra ou sai. A pessoa entra, apanha um copo (lavado, espero), enche, bebe, sai e ninguém lhe pergunta quem é e ao que veio...