Ao fim de tantos anos a visitar “hifishows”, aprendi a tomar rapidamente o pulso ao mercado local. O Salon Hifi de Paris é, sobretudo, uma mostra de distribuidores e não de fabricantes. E o que eles exibem no “show” é aquilo que se vende (ou querem vender) ao grande público.
Jarre AeroSystem One
“Le Salon” não é, pois, o certame para encontrar as novidades de fábrica, embora elas também existam por lá. Veja-se o caso da Jarre, de Jean Michel Jarre, lui-même. A AeroSystem One é uma coluna (na verdadeira acepção do termo) monobloco, com amplificação própria, compatível com todos os tipos de iPod e iPhone.
E era aqui que eu queria chegar, ao iPhone. O bater forte do pulso do mercado francês (mundial?) diz-me que a principal revolução no áudio se está a verificar nas fontes. Com mais ou menos engenho, os tipos de transdutores utilizados nas colunas de som já foram todos inventados no século passado.
O mesmo se pode dizer da amplificação, apesar da subida vertiginosa da Classe D rumo ao highend (veja-se, ou melhor, oiça-se o caso do D- Premier da Devialet).
Mas é nas fontes de som que as coisas estão, de facto, a mudar sem esperança de retorno. Todos os distribuidores parecem estar apostados em vender-nos uma qualquer caixa de som activa, com uma ranhura no topo, para colocar um ou outro destes ubíquos acessórios quotidianos começados por i.
Soundcast OutCast
A Soundcast não é tão elegante como a Jarre. Parece um aspirador modernaço. Mas neste caso a iDock pode ser colocada em qualquer lado e a transmissão do sinal faz-se sem fios.
Parrot Zikmu by S+ARCK
A Parrot utiliza o mesmo princípio, valendo-se da Wi-fi e da Bluetooth para receber os sinais musicais do telefone e do iPod.
Elegantérrimas, são activas (Classe D, what else?) e utilizam painéis planos NXT para os médios e agudos, e um woofer que dispara para baixo.
Geneva Modèle S+DAB e M
A Geneva já é nossa conhecida, pois é distribuida pela Esotérico, de João Cancela. Esta é mais do tipo caixote, uma espécie de iDock gigante. A vantagem é que tem um som muito suiço, cheio, encorpado e mais natural que as suas congéneres fininhas tipo modelo de alta costura francesa.
O carrocel da Torre Eifell é uma tradição que resiste ao tempo - o giradiscos analógico também. Até quando?...
O pessoal do analógico está velho. Salvo honrosas excepções de alguns revivalistas, anda tudo na casa dos 50 para cima. E o CD, apesar, de ser o formato mais vendido, vai ser ultrapassado pelos ficheiros musicais informáticos. Não é pois surpresa para mim que a grande maioria das fontes no Salon de Paris fossem os iPhones, iPods e, para os audiófilos exigentes, os servidores dedicados, mais ou menos dependentes do iTunes.
Depois das minhas próprias experiências com downloads de alta resolução e CDs ripados para discos rígidos, ainda é menos surpreendente que algum do melhor som que ouvi em Paris tivesse como fonte um servidor e, hélas, já não o velho gira-discos de antanho com o prego a lavrar as espiras ondulantes.
Gira-discos Pierre Riffaud
Eu sei que noutros tempos já escrevi autênticos poemas de amor ao LP ( pesquisar Arte Analógica) de que não me arrependo. Mas os tempos são outros e eu não quero ficar agarrado ao passado – e muito menos afundar-me com ele.
É que os bons servidores, libertos dos erros de leitura do CD, cumprem agora a verdadeira promessa do som digital sem digitalite.
E de que outro modo podemos ter acesso a faixas ou álbuns completos com qualidade “mastertape” a 24 bit-96kHz, ou mesmo 192kHz?
Em boa verdade vos digo: habituem-se. Um CD ripado para um disco rígido e reproduzido pelo sistema AirStream W10, da Micromega, soa melhor – muito melhor – que o original! E isto sem passar dos 44,1kHz...
TEAC SR-100i
Claro que não se pode dizer o mesmo da maior parte das fantasias audiófilas, na forma de cilindros, cubos, esferas e charutos (o Zeppelin da B&W soa extravagantemente bem, tanto que a Teac resolveu copiá-lo...), num conluio entre departamentos de marketing e de investigação com que as marcas brindam os consumidores.
Mas lá que são muito práticos, são. E hoje em dia o mercado feminino tem uma palavra importante a dizer. Daí as formas, daí as cores..
Quanto aos jovens, parecem já ter nascido com o iPhone como um apêndice do corpo. E quando vêem os “velhotes” a escolher LPs, arquivados em caixas de papelão (ver video do carrocel), para juntar à colecção que já ocupa todas as paredes da sala de estar, eles não conseguem evitar um sorriso.
Sabem que basta ligar pelo iPhone para a Spotfy para terem acesso instantâneo e gratuito a 10 000 000 de faixas de música gravada! Leu bem: 10 milhões de faixas musicais gratuitas! (bom, na verdade, se não quer levar com anúncios a toda a hora, não é gratuito: paga-se € 4,99 por mês; e se quer melhor qualidade de som – 320Kbit/s – tem de pagar €9,99 pelo pacote Premium).
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