Num único fim-de-semana, em Paris, fui exposto a várias versões da realidade musical. Ouvi sistemas que me deram a clara sensação de estar perante a realidade: um cantor, um grupo de cantores, uma orquestra, uma banda pareciam corporizar-se subitamente na sala perante os meus olhos. E essa sensação não era exclusiva de nenhum tipo especial de fonte, transdução ou amplificação. Estado sólido ou válvulas, Classe A ou Classe D, Cd, Lp ou Server, todos eles podem alcançar esse desiderato quando bem implementados.
Mas haverá alguma tecnologia capaz de se substituir na reprodução de um piano real, tocado por um pianista real, num espaço real?
Talvez o Yamaha Disklavier E3 seja o que mais se aproxima desta realidade, até porque o que toca é o próprio piano, apenas se substitui quem o toca por um robot digital, que não existe como tal, e é apenas uma emanação do pianista.
Yamaha Disklavier E3
As teclas parecem estar a ser percutidas por um fantasma ou pelo homem invisível. Até que descobrimos que aquilo tem amplificação e sistema sonoro integrado. E ficamos na dúvida sobre o que estamos afinal a ouvir.
VRAI MUSIQUE
Sem qualquer dúvida sobre o que é pureza de som original, fiquei eu no Auditório do hotel (com excelente acústica), onde perante um público reduzido (20 pessoas, não mais, ou talvez menos...), François Pinet tocou magistralmente um piano Yamaha de cauda.
François Pinet en concert (videoHD)
Pinet, que tem um currículo notável de concertista, com algumas das melhores orquestras do mundo, tornou o que devia ser um concerto esgotado num saraupara amigos, interpretando sobretudo Chopin para meia-dúzia de gatos, enquanto nas salas do hotel o público, de saco plástico na mão e pose de guru, sentava-se solenemente a ouvir pianos reproduzidos por sucedâneos electrónicos.
No dia seguinte, tive ainda oportunidade de assistir ao concerto de jazz intimista de Alexandre Saada, outro jovem com um currículo musical invejável e um extraordinário domínio das nuances e dos silêncios, dos ritmos e das harmonias, do improviso e da composição. Desta vez, o público seria composto por 10 pessoas, e acho que uma delas era a namorada...
Alexandre Saada en concert (videoHD)
MUSIQUE AU METRO DE PARIS
Em sociedades com esta, que não é muito diferente da nossa, não admira que os talentos acabem a tocar nos corredores do metro de Paris.
De la vrai musique au métro de Paris (videoHD) E a dar concertos por tostões, enquanto se estoiram milhões em sistemas de som, que nunca serão capazes de se substituir à realidade, na qual, afinal, ninguém parece estar muito interessado.
MUSIQUE VRAI
Mas, como em tudo na vida, há sistemas que se aproximam mais daquilo que eu considero real, mesmo quando a minha realidade pode ter muito pouco ou nada a ver com a sua, caro leitor. É por isso que eu gravo e registo em video aquilo que ouvi. Embora o YouTube me informe que, tal como em Portugal, as escutas são ilegais, e, portanto, não servem de prova em tribunal.
À chacun son goût...
BEST SOUND Por uma questão de facilidade de acesso e visionamento, optei por dividir os “melhores sons” em estado sólido e válvulas. Comecemos por estas até porque eram poucas mas boas. TUBES
1º MADOtec
2º AUDIONOTE
3º AUDIOPHILE
YOU AIN'T HEARD NOTHING YET
The best tube sound in Paris (videoHD)
SOLID STATE
Estado sólido havia muito e nem todo bom. Aqui tive mais dificuldade em classificar os “sons”. Os bons estavam muito próximos entre si. Especialmente estes 4 exemplos, como fica patente no visionamento do videoHD.
Não esquecer que havia dezenas de outros sistemas em demonstração. Este são os finalistas e todos eles merecem a vitória. A ordem pela qual aparecem no video é, pois, aleatória.
No video (ver abaixo), talvez o sistema da Goldmund/Tanagra Iris seja o que soa melhor (os leitores que se pronunciem).
Segue-se o da Micromega, B&W e Vienna Acoustics. Mas cá está: a realidade que os leitores ouvem (utilize auscultadores, de preferência) não é a realidade que eu ouvi.
Chamem-me eterno romântico, mas a voz de Nat King Cole saía de dentro das Vienna Musik como uma emanação do além. De arrepiar. Amplificação Cyrus, fonte Meridian.
Só que o microfone (captação longínqua) “apanhou” demasiada reverberação da sala. Nota: as condições de luz eram péssimas, e uma má imagem afecta também o sentido de audição, por arrasto psicológico...
Na sala da B&W, ouviu-se um Mighty Sam McClain poderoso, gutural, gravilhento e empolgante c/amplificação Classé. Havia lá mais público que no auditório !...
Mas o som das 800D foi captado, em mais de 50% do vídeo, com o microfone apontado para trás. Assim não vale...
Na Micromega, o som foi captado em cima, sobre o lado esquerdo, e o coro negro (não-identificado), que tinha um baixo emocionante, soa muito mais presente e com muito menos reverberação que os restantes. Ora, não sendo as condições iguais não é justo estabelecer diferenças.
The best solid state in Paris (videoHD) Mas, pergunta o leitor, não se passou o mesmo com as válvulas? Não. As salas eram todas no mesmo piso e iguais. E o sistema MADOTec era o claro vencedor.Aliás, este terá sido o som mais transparente e menos electrónico que ouvi em Paris. O que, por si só, não faz dele uma boa proposta comercial. O mundo gira como bola colorida entre as mãos de uma criança. E não é possível fazer parar o tempo...
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