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2011

De Profundis: Jl Audio “fathom” F212



 

JL Audio Phatom f212
(foto publicitária do fabricante) 


Por amor à música, acabamos muitas vezes por fazer-lhe a vida negra, mesmo quando o negro é de piano lacado. Também por isso, não convém confundir phatom com o phantom, do “Fantasma da Ópera. A presença do f212, apesar de fantasmagoricamente assustadora no efeito acústico, é bem palpável na presença visual.


Phatom é uma medida de profundidade marítima. Em inglês antigo, significava também o acto de abrir os braços em toda a sua extensão para abraçar alguém, correspondente à braça romana (de ponta a ponta dos dedos), que equivalia a oito palmos. Se fossem palmos de terra, também se adaptavam bem: a maior parte dos subgraves estão actualmente mortos e enterrados, e os sistemas de som tendem por isso a ignorá-los.


A JL AUDIO não podia, pois, dar melhor nome ao modelo F212: PHATOM. Ele arrasta-nos até às profundezas oceânicas da oitava primitiva, que se sente mais do que se ouve, e confere ao palco sonoro uma amplitude colossal (para utilizar um termo muito em voga), que nos envolve e abraça. É esta, aliás, a principal vantagem da utilização de um super sub como Phatom: o palco - é como mudar de T1 para uma vivenda com piscina em frente ao mar...


Não tenho testado ultimamente equipamentos com a frequência dos bons velhos tempos. Quando escrevia no DNA, publicava numa base semanal, por dever de ofício. Hoje atingi o ponto em que me dou ao raro luxo de não trabalhar por dever, apenas por prazer. Ora, um subwoofer (e logo um duplo subwoofer!), que, não só vem imaculadamente lacado em negro piano, como exige a preciosa ajuda de um carregador do dito, era a última coisa que me apetecia testar, neste Verão envergonhado que agora acaba.


Assim não entendeu o Nuno Cristina (Ajasom, o importador oficial) que, em conluio com o meu filho, colocou na garagem à minha revelia um caixote “colossal”, que levou a minha esposa a pensar que eu lhe teria comprado uma máquina de lavar nova...


Não é a primeira vez que testo subwoofers. Sugiro que leiam os artigos relacionados, que contêm informação técnica preciosa, numa linguagem simples e directa, para melhor entenderem como a tecnologia de reprodução de subgraves evoluiu, ultrapassando a maior parte dos problemas associados com a integração de um “sub” num sistema de som e, sobretudo, o seu acoplamento acústico com a sala, que, desde sempre, tem sido o busílis da questão.


Apesar de terem sido escritos há quase uma década, eu próprio vou servir-me de alguma dessa informação neste artigo, porque, descontadas algumas noções erradas de polaridade e fase, as leis da física são imutáveis, assim como as relações do homem com o ambiente que o rodeia.


Permitam-me que transcreva algumas frases avulsas desses artigos para os incentivar à leitura integral (basta clicar no título do artigo respectivo):


Ser posto de lado ou a um canto, nem sempre tem uma conotação negativa. No caso dos «subwoofers» é até uma coisa boa.


Na dúvida paus, costumam dizer os jogadores de cartas: coloque o «sub» num canto que é onde faz mais mossa, e pronto.


Os «subs» só reproduzem baixas frequências, que são omnidireccionais, logo tornam difícil «localizar» de ouvido a fonte do som. Assim, em teoria, tanto podem ficar ali como acolá. Mas a tendência para fabricar colunas de som cada vez mais pequenas obriga a subir a frequência de corte para compensar, logo a maior parte dos «subs» estão ainda activos nos registos que correspondem à voz humana. O nosso ouvido está por natureza «afinado» para a voz e detecta facilmente de onde vem aquele bum-bum. Logo, quanto mais baixa for a frequência de corte melhor, o que significa que idealmente as colunas principais têm que ter uma razoável resposta de graves à partida.


Os melhores «subs» são os que nos permitem regular o volume, a frequência de corte e a fase, mas a maior parte dos que se vendem em «pacotes» prontos a usar não permitem afinações.


O subwoofer é como um cão grande que rosna: se lhe dá muita trela acaba por ter medo dele.


O ajuste da frequência de corte é como bater ovos com azeite e mostarda para fazer maionese: é preciso manter os elementos todos ligados. Muito baixa e o som fica anémico; muito alta e o «sub» mete-se onde não deve e os sopranos ficam com voz de tenor.


Tal como no futebol, também no áudio há sempre um elemento que, sem dar nas vistas, faz o trabalho pesado: o subwoofer.


No dia em que ouvir todas as notas fundamentais dos sons graves escondidos na cave dos seus discos, vai tornar-se baixo-dependente.


O “samba de uma nota só» de muitos «subwoofers» tem uma importância relativa quando integrados num sistema AV: nas cenas de acção não há nuances, há porrada e fundamentais de baixa frequência. Daí que as pessoas fiquem satisfeitas com o papel de mau que o «sub» desempenha na fita. O problema é deixarem-no ligado quando ouvem música também: as notas fundamentais têm de estar harmonicamente relacionadas com os tons e sobretons reproduzidos pelas colunas principais.


Muitos sistemas de som já há muito tempo que não sabem o verdadeiro significado de grave, porque isso obriga a compromissos, que não se compadecem com a falta de espaço físico e potência eléctrica. Por outro lado, os chamados sistemas trifónicos de trazer por casa, literalmente (2 satélites + uma caixa de graves), praticam o “truque baixo” de inflacionar uma determinada gama de frequências (80-100Hz), oferecendo-nos gato por lebre. E nós comemos e calamos, porque há anos que só nos servem coelho de capoeira. O “g’anda baixo” é só mesmo isso: um mito popular veiculado pelos PAs de discoteca a debitar música, perdão, ruído, a 109dB, e onde reina o anabolizante, o alcóol e a droga, enquanto a ASAE se entretem a perseguir o tabaco (o que se aplaude, diga-se).


Depois, temos os sistemas AV, que reproduzem uma amálgama indiferenciada de notas, quando não mesmo uma única nota repetida até à exaustão, centrada nas chamadas frequências telúricas (25-45Hz), sem nenhuma informação harmónica, cujo único objectivo é impressionar o pagode com o impacto das explosões e outras confusões avulsas tão abundantes nos filmes de acção americanos, filmados em barracões mal frequentados com paredes interiores verdes e muitos computadores para completar o “patchwork” fora de horas, enquanto os actores bebem um copo ou vão para a cama uns com os outros.


JL AUDIO “FATHOM” f212      


Começo sempre por achar que testar “subs” é uma chatice e acabo viciado naquela massagem subcutânea, que primeiro se estranha e depois se entranha, e nos faz vibrar o vil esqueleto. Os graves e os subgraves fazem parte da música – e não só como veremos – e é curioso como nos habituámos a dispensá-los, como os excedentários da função pública, ao mesmo tempo que sentimos imediatamente a falta de agudos num sistema. Mas o chamamento da terra e a batida do coração no útero materno deixam marcas indeléveis no nosso ADN.


O Phatom f212 é de “dois canos” sobrepostos, que é a única metáfora que me ocorre para descrever o poder de fogo dos dois altifalantes de 12 polegadas autoamplificados (3kW!!). Felizmente, traz consigo um kit de “primeiros socorros”, composto por um microfone calibrado e um software interno denominado ARO, Automatic Room Optimization” que “analisa” a sala e “limpa-a” de gorduras, como mais facilidade que o Victor Gaspar vai conseguir limpar as “gorduras” do Estado, logo ele que é magrinho, enquanto a classe média, que é a potencial compradora do f212, está às portas da anorexia nervosa.


E é logo durante o teste de afinação - e também com o botão Demo, quando ficamos com a sensação de que o Phatom não está activo, e afinal está e bem a trabalhar lá em baixo nas catacumbas do som - que você vai sentir a primeira dose de adrenalina (e o primeiro susto). O nível Ref é fixo, ao contrário do volume que pode ser aplicado depois: a massagem das vértebras estruturais do seu edifício de habitação, entre os 20-200Hz faz estremecer tudo na sala: janelas, portas, discos, bibelôs. Segure os copos na cristaleira!, ou vai ouvir a sua mulher a praguejar na cozinha (já sei que vou ser acusado de machista primário, ou mesmo chauvinist pig, pelas leitoras que “googlam” os meus textos para “inglanês”)...


A partir daí, pode (e deve) tomar os comandos. Eu preferi comutar o “Level” para variável, e ajustei o volume a gosto. Assim como a polaridade, que com o sub colocado no meio das colunas (um par de Ktêmas), me soou melhor com inversão a 180 graus.


Já a Fase fia mais fino, literalmente. O ideal será pedir a ajuda de alguém para rodar o botão, enquanto você está sentado na “sweet spot”. Mas eu tenho muita experiência, e fiz tudo sozinho. A Fase é o “tempo”, no sentido de “pace and rythm”, de compasso, e afecta a noção de “distância”, portanto o conceito de “acompanhamento” também se aplica aqui muito bem, como quando estamos a correr em grupo e encontramos o nosso próprio ritmo a par e passo com os outros. No meu caso, atingi a perfeição da “passada” com o LP Filter nos 12dB/oitava, o LP Freq nos 45Hz e a Fase nos 225.


Tenho pena que o f212 não tenha uma entrada High Level, porque facilita o “entrosamento” com o amplificador que alimenta as colunas principais, mas os comandos disponíveis funcionam tão bem que rapidamente obtive aquilo a que eu chamo o “ponto-de-rebuçado”.


Acabo como comecei. O JL Phatom f212 (e pensar que se podem utilizar vários em cadeia!) é um autêntico processo de “overkill”, para quem não pretende mais que ouvir música num auditório pequeno, no estilo, “pronto, não batam mais no ceguinho”. Talvez seja mais apropriado para tirar todo o sumo das banda sonoras de filmes de acção.


O problema é esta relação de amor-ódio, que se estabelece pouco e pouco, disco a disco, com o ouvinte. Um cena canalha de quase “bate-me, que eu gosto”.


Há quem diga que só quando “batemos no fundo da vida” nos conhecemos a nós próprios. Passa-se o mesmo com a música: quando nos anichamos confortavelmente no seu útero, embalados pelo bater profundo do coração, renascemos para a vida e para a música, que nunca mais nos parece inteira, completa, integral, depois de carregarmos no botão de “defeat”. Sentimos como se nos tivéssemos autoinfligido uma “derrota” pessoal (defeat, do you catch my drift?, the pun is intended...).


E o mais curioso é que, se desligarmos a “música” para ouvirmos apenas o f212, ele nem parece estar lá (com os olhos fechados, claro, que, ao abri-los, ele é bem grande e dá logo nas vistas!). 

Os graves profundos emanam da mãe-terra, que nos viu nascer, e vive ainda em cada um de nós, mesmo quando não está presente, está inscrito no nosso código de ADN. Por isso, nós somos capazes de viver sem os graves do JL Phatom f212.  Mas não é a mesma coisa...

FOLLOW-UP

O JL Audio Phatom f212 passou com distinção o difícil teste de Spanish Harlem, do famoso álbum The Raven, de Rebecca Pidgeon (Chesky Records). Na abertura da faixa, o baixo segue uma progressão clássica, que cobre praticamente todo o espectro de graves, centrada nas seguintes frequências:
 
49   62      73      65      82      98      73      93      110

O que acontece normalmente é que a primeira nota de 49Hz soa com um nível um pouco mais baixo que os 82 ou 93 Hz. E os 65Hz e 73 Hz às vezes soam exagerados, revelando ondas estacionárias na sala. Depois de submetido ao ARO, o f212 reproduz a entrada com uma linearidade espantosa! Só tem de regular o volume para o f212 não tomar conta da música...


Fabricante: JL AUDIO
Representante oficial em Portugal: AJASOM

JL AUDIO PHATOM F212 


FEATURES:


Unbalanced Inputs:
Stereo or Mono (two RCA jacks)
Balanced Inputs:
Stereo or Mono (two female XLR jacks)
Output To Slave:
Balanced (one male XLR jack)
Input Modes:
Master or Slave
Level Modes:
Reference (fixed gain) or Variable from
full mute to +15 dB over reference gain
Power Modes:
Off, On or Automatic Signal-Sensing
Light Modes:
Off, On or Dim
Low Pass Filter Mode:
Off, 12 dB per octave or 24 dB per octave
Low Pass Filter Crossover Frequency:
Variable from 30 Hz  130 Hz
Polarity:
0 or 180 degrees
Phase:
Variable from 0  280 degrees
E.L.F. Trim:
Variable from 12 dB to +3 dB at 25 Hz
Automatic Room Optimization (A.R.O.):
with included, laboratory-grade
calibration microphone, defeatable


 


SPECIFICATIONS:


Enclosure Type:
Sealed
Driver:
Dual 12-inch (nominal diameter)
Frequency Response (anechoic):
20 - 97 Hz (+/- 1.5 dB)
-3 dB at 19 / 110 Hz
-10 dB at 15 / 157 Hz
Effective Piston Area:
168 sq. in. / 0.1084 sq. m.
Effective Displacement:
574 cu. in. (9.4 liters)
Amplifier Power:
3000 watts RMS short-term
Dimensions (H x W x D):
31.96 inches x 14.92 inches x 20.39 inches
812 mm x 379 mm x 518 mm
All height dimensions include feet, depth dimensions include grilles.
Net Weight:
220 lbs. (100 kg)
Cabinet Finishes:
High-Gloss Black or Satin Black


 


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