OS MEIO-PESADOS
FOCAL SCALA UTOPIA
Sala Topaudio/Absolut Sound&Video: Chord/Focal/AudioFidem
Carlos Moreira recebeu-me com a habitual simpatia fruto de uma amizade de 30 anos. E não esteve com rodeios: Senta-te aqui para ouvires o melhor som do show!...
A sala era relativamente pequena, e eu até estou habituado a ouvir no “campo próximo”. Há menos reflexos secundários, logo o atraso temporal, em relação ao som primário, não é suficiente para “borrar a pintura”. O meu estúdio privado de audição não tem mais que as dimensões da sala da Topaudio/Absolute Sound&Video. Mas as minhas sessões de trabalho são muitas vezes solitárias – e a sala está tratada com Tube Traps e painéis reflectores, 'iludindo' assim a proximidade das paredes laterais.
Num show, é diferente: há mais gente, mais barulho, mais confusão, e um sistema deste gabarito exigiria um pouco mais de espaço para respirar e poder ser admirado como merece. Assim, a ilusão de profundidade do palco sonoro ficou algo limitada pela realidade física que a envolvia.
Num aspecto, Carlos Moreira tinha, de facto, razão. Já ouvi as Focal Scala Utopia nos quatro cantos do mundo – e nunca tinha gostado tanto como agora no Pestana Palace.
Conheço bem a electrónica Chord, aliás, utilizo um DAC64 há muitos anos, como uma das minhas referências digitais. E sei que a conjugação astral Focal/Chord é filha da luz, isto é pode, em certas circunstâncias, soar analítica, no bom sentido de alta resolução e claridade e não de algo asséptico e ofuscante.
A única variável nova aqui, além da sala, claro, eram uns cabos para mim desconhecidos da Audiofidem, de nome Nexus, creio, o que a avaliar pelo desempenho até revelou ter nexo causal...
Sala Topaudio/Absolut Sound&Video: Chord/Focal/AudioFidem
Os cabos de coluna estavam curiosamente colocados sobre ameaçadoras armas de arremesso político: “pedras da calçada” (em granito, creio). Uma encenação interessante, que não me desestabilizou (pensar no efeito de um calhau daqueles na tola, por exemplo), e a que não atribuí grande relevância acústica. Mas a verdade é que as Scala soaram “rock solid”, mesmo com...jazz!
A tonalidade geral era sobre o seco (leia-se: isenta de colorações eufónicas), sem ser estéril, se bem que tonalmente acima da linha da neutralidade absoluta, não mais que uma fracção de oitava, diga-se, o que contribuia para o recorte dos instrumentos (oiça-se o corpo e a presença do sax), que raramente se experimenta neste contexto, pelo que, no conjunto, os timbres soaram-me correctos e sápidos no ouvido. Apreciei, sobretudo, a complexidade e densidade das texturas, que, aliás, estão também patentes no registo áudio.
Por deformação profissional, dei comigo a apreciar a música, ao mesmo tempo que fazia mentalmente a análise das suas componentes estruturais. Para evitar que a ilusão de profundidade fosse coarctada pela falta de espaço atrás das colunas, estas tinham sido inteligentemente colocadas quase a meio da sala para contrariar essa circunstância.
Deste modo, a extraordinária precisão da imagem estereofónica, com perfeita definição e colocação espacial de todos os sons, produziu um surpreendente cenário holográfico de rara verosimilhança, com inacreditável sensação de relevo, aquém e além da linha de fronteira das colunas, sem prejudicar a notável solidez e focagem da bem texturada imagem central.
Video HD: Chord/Focal Scala
MAGICO S5 Sala Imacústica: Ps Audio/Constellation/Magico
As S5 são as únicas colunas da Magico que me levariam ao altar. São a consecução da filosofia da marca de que só é possível reproduzir arte (leia-se música gravada) a partir de uma sólida base científica. Que Wolf me
perdoe, mas a série Q (a Q1 é uma excepção) soa-me mais a science fiction que a “história da arte”. Eu sei que as medidas são perfeitas. Eu sei que os computadores as adoram, e não lhes encontram sequer defeitos. Eu sei que a crítica americana as considera absolutamente fantásticas. E sou o primeiro a admitir que, depois de alguma exposição à neutralidade do som das “Q”, as outras colunas soam (quase) todas a “caixa”.
As “Q” são por muitos consideradas um 'mau' hábito que, uma vez adquirido, é impossível de abandonar, porque alegadamente damos connosco a ouvir colorações de “madeira” nas outras colunas que nunca antes tínhamos detectado. Seria assim como ser submetido a uma lavagem acústica ao cérebro. Mas para isso já tinhamos as Quad, com as suas limitações, mas também sem os limites da caixa...
Admito também que talvez eu nunca as tenha ouvido com a amplificação certa como aqui com as S5, embora a Spectral, habitual parceira da Magico, no Highend, de Munique, tenha muitos dos genes dos Constellation, sendo filha de um dos progenitores.
Quem sabe se os Constellation não foram afinal o segredo do que se ouviu na sala da Imacústica/Magico?
Passei por lá na Sexta-Feira, e fiquei com mixed feelings. O som estava ainda cru. É verdade que foi uma “visita de médico”. E, contudo, o mesmo acontecera na visita às Focal Scala, que me suscitaram reacções imediatas bem mais positivas.
Sala Imacústica: Ps Audio/Constellation/Magico
Mas, no Domingo, fiquei por lá mais tempo, sentado na “sweet spot” (onde fiz as gravações áudio, que se ouvem neste vídeo sem processamento, embora as imagens sejam editadas) e fiquei rendido (nos registos naturalistas e não de estúdio) à transparência geral do ar envolvente; à claridade acústica que iluminava tudo de música, numa sala em persistente penumbra: da boca do palco à parede de fundo; rendido à suave uniformidade dessa iluminação, com cada interveniente perfeitamente localizado; e, sobretudo, rendido à estabilidade da relação espacial entre eles. E só eu sei o quanto é difícil alcançar um relacionamento destes na cena audiófila mundial...
As vozes dos sopranos eram ao mesmo tempo dinâmicas, acutilantes e pungentes, no duplo sentido anglosaxão de poignant; e, paradoxalmente, moldadas por uma estrutura cristalina de elevada pureza tímbrica, às quais o meu registo áudio não faz sequer justiça (ouve-se, hélas, algum efeito de sobrecarga do microfone nos registos mais altos). Nota: como o som não estava muito alto, não acautelei o nível de captação, mas as vozes de sopranos líricos não são pêra-doce para os limitados microfones das câmaras de video ... A profundidade da sala conferia ao som uma atmosfera de emocionante magnificência atmosférica, esplendor acústico, grandeza de alma harmónica, e nem a inevitável ressonância da estrutura do edifício (felizmente a sala estava cheia de gente) me impediu a imersão mental na reverberação natural da gravação, permitindo ao cérebro resolver claramente o paradoxo da ambiência do cenário virtual (estúdio/sala de concerto) versus a ambiência do cenário real (o da sala da Imacústica).
Ora, isto é algo que só possível de resolver quando toda a informação disponível nos está a ser disponibilizada na integra. Quando o cérebro precisa de “vasculhar” o som, em busca de “deixas” ambientais e dos frágeis equilíbrios dos sinais de baixo nível que as contêm (não confundir com os graves), depressa se distrai – e nós com ele - do processo musical em curso, e eis que a ilusão de presença física se desvanece e a emoção perde-se irremediavelmente, porque deixa de ter a fé audiófila como sustentáculo do real.
É no realismo da ilusão que reside o segredo do verdadeiro highend.
Já não é a primeira vez que oiço os Constellation em ambiente de “show”, e ouso afirmar que terão sido responsáveis por muito do que aqui escrevi. Com as Magico S5 sobressaiu o distinto padrão da musicalidade do vácuo aliado ao controlo do estado sólido e uma dinâmica que nunca nos sobressalta, antes nos exalta.
Naquele dia, àquela hora, nas circunstâncias e pelas razões aqui descritas, este foi o “Melhor Som” do Audioshow 2012. Reitero que (ler a Introdução da Parte 2) ninguém pode afirmar que um 'som' é melhor que todos os outros, em termos absolutos. Mas nesta demonstração em particular, o conjunto PS Audio/Constellation/Magico S5 demonstrou ter, na sua arquitectura musical, uma quota parte substancial de elementos acústicos raros que definem a minha concepção de highend.
Admito que se tratou , porventura, de uma feliz coincidência de factores de natureza material e psicológica, que terá deixado marcas indeléveis na minha memória auditiva, e não de uma realidade insofismável, que não possa ser contrariada, estando eu aberto ao escrutínio democrático dos distribuidorers e leitores, que visitaram o Audioshow, e terão opiniões divergentes e igualmente válidas, desde que fundamentadas.
Significa isto que os Constellation são capazes de elevar as (relativamente) modestas Magico S5 à altura da fabulosa tríade Alexia, Altair, Isis (Ver Parte 1: Os Peso-Pesados)? Claro que não, seria mesmo um absurdo afirmar tal coisa. Significa apenas que eu terei estado à hora certa, no lugar e com o estado de espírito certo. Aliás, não tivesse eu voltado lá no Domingo, e seriam agora as Focal Scala a cantar de galo...
Video HD: PS Audio/Constellation/MagicoS5
TAD REFERENCE ONE
Sala Ultimate Audio Elite: TAD
As TAD Reference One podiam sem favor ter sido incluídas nos “Peso-Pesados”. Têm qualidade, preço e ... peso suficiente para isso. Mas esta não foi, hélas, a sua melhor apresentação, convenhamos. Eu já vi o “demo show” de Andrew Jones várias vezes e em vários lugares: em Las Vegas, em Nova Iorque e também em Lisboa. Já as considerei, aliás, como Best Of Show, da CES, uma proeza difícil de alcançar, tendo em conta a concorrência feroz e os interesses comerciais em jogo.
Podia até defender que esta minha decisão se ficou a dever apenas à sensação de déja vu : o mesmo discurso, as mesmas músicas, o mesmo sistema... E talvez por isso não lhes tivesse atribuído a importância que deveras têm na hierarquia audiófila, porque se perdera o efeito de surpresa. Nada disso. Não me pauto por preconceitos e juízos de valor tão óbvios e mesquinhos.
Sala Ultimate Audio Elite: TAD (c/Andrew Jones)
Naquela sala, tendo Andrew Jones optado pela largura, por razões práticas (ou acústicas), o som das TAD, já de si tonalmente “escuro”, embora harmónica e dinâmicamente superlativo, ganhou excesso de peso e ainda mais densidade textural, perdendo no processo alguma da velocidade e transparência intrínseca que o caracteriza.
Se nunca as tivesse ouvido (e refiro-me às TAD, e não ao espectáculo do Andrew que, como todos os shows de pura magia, perde o encanto com a repetição...), tê-las-ia de bom grado juntado ao trio Alexia, Altair, Isis, porque é esse o lugar delas por justiça e mérito.
Mas aquela sala em particular, apesar de ser 'viva' (a reverberação é audível no registo áudio), sofria de uma vibração (o soalho?) que, ao afectar a definição do grave, introduzia uma inusitada soturnidade no som, que não faz parte do ADN das excelentes TAD. Mesmo e apesar da excelência das matrizes digitais, com que Andrew Jones nos brinda show após show, como a de Bob Scaggs, que se ouve no video, e que eu ando a ver se lhe “saco” há demasiados anos sem sucesso...
VideoHD (720/1080p): TAD&Andrew Jones
HORS-CONCOURS
Vi mas não ouvi as Gryphon Atlantis e as Estelon XA, óbvias candidatas ao cinturão de 'Meio-Pesados'. Sempre que passava por lá, eram as Rockport Altair que faziam – e bem – as honras da casa. Mas tenho registos de video de ambas: as Gryphon a actuar recentemente na loja de Benfica da Ultimate Audio Elite e as Estelon, já este ano também, em Paris...
Sistema Gryphon: Mikado/Diablo/Atlantis
Sistema Gryphon: Mikado/Diablo/Atlantis (videoHD registado na loja de Benfica da Ultimate Audio Elite)
Instalação Estelon c/ electrónica a válvulas Ayon
Video HD da instalação Estelon, no Salon Hifi de Paris (2012)