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2012

Imacústica – Porto – Alexia, Clockwork Orange



 


Estava de novo na presença das Wilson Audio Alexia e do Constellation Centaur, que tinham actuado, semanas antes, em Lisboa, no decorrer do Audioshow, embora em palcos diferentes, além de outro equipamento complementar de apoio, que também marcara presença no evento: o transporte PS Audio Perfect Wave, o Audio Research Digital Media Bridge Reference DAC e o prévio Constellation Virgo. Cablagem: Nordost, na companhia de outros fiéis seguidores da religião audiófila, jovens que eu não conhecia – e que me conheciam apenas do meu exercício de “escrítica”, e com os quais se estabeleceu de imediato uma comunhão musical. 


 


PS Audio Perfect Wave transport



Audio Research Digital Media Bridge Reference DAC



Tinha assim, uma vez mais, a oportunidade de comprovar a minha tese sobre a importância da sala na performance dos sistemas de som, sobretudo os de génese highend. Mas havia algo que eu precisava de “tirar a limpo”: em que medida tinha sido afinal a Constellation a responsável pela empatia que criei com as Magico S5, no Pestana Palace.


 


 



De facto, apesar de tratado acusticamente, o auditório da Imacústica-Porto não é isento de pecado, pois é quase preciso encontrar com régua e esquadro a sweet spot , tanto para as colunas como para o ouvinte, para evitar “desencontros” com o grave. Contudo, as condições de audição (silêncio, tempo disponível, estado de espírito, afinação do equipamento, etc.) eram muito superiores às que presidiram à experiência lisboeta.   Mestre Luís Campos tinha marcado previamente as sweet spots, no chão com fita, incluindo a da minha cadeira, e estabelecido judiciosamente as novas relações de força dos equipamentos já referenciados, pelo que foi só sentar-me e “pôr ao fumeiro”. 



As Alexia estavam agora a ser alimentadas pelo Constellation Centaur e a fonte era um conjunto híbrido de transporte PS Audio e DAC Audio Research, em modo bypass, sendo o volume regulado pelo prévio da Constellation, um cocktail de autor “a laLuís Campos”...


Bastou ouvir o dueto Maria Gadu/Caetano Veloso para perceber que as Alexia estavam em grande forma vocal. Ouvi-las tocar no Pestana Palace foi bom, sem dúvida, mas não passou de uma lap dance comparada com o “acto” propriamente dito. Há um abismo entre a coreografia erótica, pública e inconsequente, e a intimidade reprodutiva da alcova.


É preciso tocar para compreender, ensinava Roland Barthes nos Fragmentos do Discurso Amoroso. Por tocar, aqui, entenda-se “ser tocado”, como numa epifania, quando o contacto com a essência do ser nos permite ver finalmente a sua imagem completa e una.


Foi preciso um Constellation Centaur para as Alexia se apresentarem perante mim na sua completude. Do som do Centaur, emana uma suave luminiscência, que nos permite, de facto, ver a música na sua essência primordial, sem necessidade de apresentar os intérpretes sob a luz dos holofotes, porque têm brilho próprio. Uma luminiscência natural, que não sou capaz de definir, nem com o auxílio da doçura das válvulas nem com o rigor dos transístores.


Admito que o Centaur não tem a complexidade textural do Dan’Agostino (ver Artigos Relacionados: Momentum, Master and Commander), nem a dinâmica dos Krell ou a liquidez dos Audio Research. O Centaur interage com a fina tessitura do nosso pensamento, permitindo que cada um de nós leia a “sua” partitura e faça a interpretação pessoal do que está a ouvir, como se entrasse num misterioso mundo interior a que nunca tinha tido acesso antes. Eu dou um exemplo:


Além de Mestre Luís Campos, comungaram nesta liturgia sónica Ricardo Oliveira e Ricardo Pimentel, dois jovens leitores confessos do Hificlube, que eu só conhecia de nome. Mais tarde, juntou-se-nos Pedro Neves, músico e pianista. Ouvia-se, então, Pat Metheny e Charlie Haden, a pedido.


Ricardo Oliveira e Ricardo Pimentel, sentados atrás de mim, compraziam-se alegremente no irrepreensível sentido rítmico de Haden e no virtuosismo técnico de Metheny, estabelecendo comparações com actuações ao vivo a que assistiram, e que tinham indelevelmente gravadas na memória, e eu podia sentir a felicidade do reencontro com Metheny nos seus rostos; já Pedro, ao meu lado, chamava antes a atenção para o rigor metronómico da dupla; enquanto eu estava mais concentrado na forma como Haden parecia convidar Metheny a afastar-se da cadência em ditirambos melódicos, mantendo a referência (metronómica, segundo o Pedro), que lhe permitia o reunião no tempo certo. Tempo de que afinal nunca tinha saído, tal a arte musicológica...


E no entanto, por caminhos e emoções diferentes, todos concordávamos com a excelência musical do que tínhamos acabado de ouvir.


É esta capacidade de nos permitir ver a beleza particular de uma árvore, sem perder a consciência da natureza divina da floresta, cujos efeitos ambientais de cor, luz, ar podem até ser mais evidentes com outras soluções de amplificação, que distinguem o Constellation Centaur, e o tornam no parceiro ideal das Wilson Audio Alexia, porque as deixam exibir a sua verdadeira personalidade.


 


Imacústica-Porto- PS Audio-AR-Constellation- Wilson Audio Alexia - Maria Gadu/Caetano Veloso Nota: os videos têm resolução fixa de 1080p (clique no ícone HD para confirmar HD On). Com ligações lentas, poderão demorar algum tempo a carregar.
 

O Centaur permitiu às Alexia revelar a admiração, tão ténue que é quase subliminar, da pupila perante o mestre, que se adivinha na voz sensual de Maria Gadu durante o dueto; e encontrar finalmente a fadista na alma de Mafalda Arnauth, que em Lisboa esteve ausente em parte incerta, embora a voz e o corpo estivessem bem presentes.


   


Imacústica - Porto - Alexia canta o fado (Mafalda Arnauth - Povo que lavas no rio)
Nota: os videos têm resolução fixa de 1080p (clique no ícone HD para confirmar HD On). Com ligações lentas, poderão demorar algum tempo a carregar.


E foi também o Centaur que possibilitou ainda que o meu pensamento, hélas demasiado poluído pela audiofilia, se abstraísse das mazelas do registo histórico, e se emocionasse deveras com Carlo Bergonzi, no apogeu da sua carreira, interpretando magistralmente a ária do Pagliaccio, no final do acto 1, da famosa ópera verista de Leoncavallo (eu, e não só: aos 1:37 ouve-se o Luís a reter a custo uma lágrima furtiva, enquanto Canio canta “Ri, palhaço, do teu amor desgraçado! Ri da dor que envenena o teu coração!). A comédia acabou, manchada pelo sangue da tragédia!    
Imacústica - Porto - Carlo Bergonzi - Pagliacci
Nota: os videos têm resolução fixa de 1080p (clique no ícone HD para confirmar HD On). Com ligações lentas, poderão demorar algum tempo a carregar.
  Não admira, pois, que outro grande melómano e audiófilo emérito (ver em Artigos Relacionados: “Um homem, dois sistemas” e “Brinquedos no sotão”), que entretanto se juntou ao grupo, tivesse confessado que se sentia tentado a passar o Natal em família com o rei mago Centaur, renegando Gaspar DarTZeel.

Também eu gostava, se ainda acreditasse no Pai Natal...


Manuel Dias não me deixou sair sem beber mais um trago de música italiana brejeira, servido no copo de cristal das Sonus Faber Venere 2.5, alimentadas por Krell Phantom 3/Evolution 2250, com fonte Audio Analogue Maestro 192/24:


 


Imacústica - Porto - Sonus Faber Venere


Disclaimer: o som dos videos é apenas exemplificativo e não representativo da real qualidade de som do sistema demonstrado. O HIFICLUBE aconselha a audição das Wilson Audio Alexia “ao vivo”.

 


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