ROCKPORT TECHNOLOGIES
Há anos que sigo e persigo a carreira da Rockport, sobretudo nas minhas deslocações a Las Vegas, pois até agora não havia hipótese de as ouvir em Portugal. O casamento da Ultimate e da Audioelite permitiu, entre outras vantagens, aumentar o investimento disponível em novas representações. Depois da Estelon, eis que a Rockport se apresentou ao público português, no palco onde já antes se podiam ouvir, em excelentes condições de audição, as Evolution, TAD e as YG Acoustics, para nomear apenas a principal concorrência. Depois de várias tentativas, foi possível agendar uma visita relâmpago, tendo sido recebido por José Júdice e António Domingos, na ausência dos Grão-Mestres da arte audiófila Jorge Gaspar e Rui Calado, em gozo de merecido descanso.
Numa panorâmica geral da sala de exposição, que serve agora também de estúdio improvisado para primeiras audições, descobri ainda outra nova representação, a da Audeze, que fabrica os únicos auscultadores que se podem arrogar de fazer concorrência aos famosos Stax. Ao contrário destes, que utilizam o princípio de transdução electrostática, que obriga à utilização de um driver de alimentação, os Audeze são isodinâmicos, como as Magnepan, e podem ser ligados directamente à fonte ou prévio.
Vi por lá também uns monitores da TAD que não conhecia e as deliciosas KEF LS50, de que tenho um par em audição no meu estúdio, e que irão por certo ganhar mais um prémio EISA para a KEF, além de componentes de várias marcas representadas, como a Ayon e a ASR, e outras não-representadas, creio, como a Cello (Palette) e a Viola, provavelmente objectos de retoma e de... desejo.
Mas eu tinha ido lá para ouvir os dois modelos da Rockport disponíveis: Mira e Avior.
MIRA
As Mira (MkII, com unidades de médios em fibrade carbono) exibiram-se no estúdio aberto, com amplificação ASI e fonte Ayon CD5/Aurender. José Júdice sentou-se aos comandos do Ipad e ouviu-se um pouco de tudo, tendo eu registado dois videos para os leitores do HIFICLUBE.
O primeiro foi registado com a câmara em movimento, no campo próximo, e pretende dar uma panorâmica de todo o sistema. A 'Elise' que se ouve foi gravada em directo e posteriormente editada, daí os cortes na sequência musical.
O segundo foi registado com a câmara fixa num tripé, a uma distância de 3 metros e meio (suba um pouco o volume para compensar, sobretudo no trecho de blues e na peça para piano), ouvindo-se excertos de trechos musicais variados. O ruído de fundo (sopro) é induzido pelo prévio da câmara. Aqui e ali ouve-se alguns sons do exterior, nomeadamente tráfego automóvel, e o Júdice a surfar ondas de música com clics no iPad... Na linha de todas as Rockport, as Mira têm um som de uma precisão exemplar sem afectar a musicalidade. Gostei particularmente da forma como reproduziram a 'mão esquerda' de Aubrey Hilliard. Não é apenas o tom e o timbre do piano, é a 'intenção' e a 'atitude' que deixam passar.
AVIOR
As Avior são da mesma raça, mas trata-se de um 'animal' de outro porte. Aqui, sem dúvida, 'you get what you pay for'. O grave é mais seco e menos 'eufónico' que o das Mira (até pelo padrão de dispersão: os woofers estão montados lateralmente nas Mira), mas a transição entre gamas é mais fluida, eu diria mesmo que a transição entre os múltiplos altifalantes é 'seamless', o que só abona em favor de quem concebeu o excelente crossover; e a 'textura' do som é harmonicamente mais integrada, embora no plano tonal os registos médios graves das Mira sejam subjectivamente mais 'quentes'. Digamos que as Avior não são umas Mira mais caras e com maior largura de banda. São colunas diferentes para gostos e... carteiras diferentes...
E se é verdade que o registo datado de Jacques Brell foi tratado como mais 'simpatia' pelas Mira, as Avior têm uma presença e uma dinâmica que, por si só, respondem aos que 'acham' que mais dinheiro não significa melhor som. E aqui incluo não só a electrónica TAD mas também o tratamento acústico da sala, que nos faz inocentemente querer ouvir a volumes proibitivos em outras circunstâncias.
Embora tenha optado apenas por reproduzir no video a actuação de René Marie (editado), e não os mesmos excertos utilizados com as Mira, que foram, no entanto, devidamente ouvidos também, a diferença na qualidade geral do som neste video, em termos de dinâmica, presença e potência intrínseca, diz tudo. A actuação da família Rockport, num palco perto de si, é um espectáculo a não perder. Esqueça a crise e deixe-se surpreender este Verão, em Lisboa. Nem só de praia vive um homem, caramba!...