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Em setembro, publiquei aqui o relato da minha primeira audição das Wilson Audio Watt/Puppy 50th anniversary a solo, num dos auditórios da Imacustica.
Entretanto, fui a Londres para participar na Gala da EISA e para fazer a cobertura do UK HiFi Show, em Ascot. E foi lá que ouvi um par das novas Watt/Puppy, alimentadas por um par dos novíssimos Audio Research Reference 330M com válvulas KT170.
Pois, foi um sistema exatamente igual a este que fui agora ouvir à Imacustica, mas com as Puppy acolitadas por um par de subwoofers Loke que, depois de ter sido utilizado no ‘concerto’ dos Supertramp estava bem ‘quentinho’.
A música
Só que, desta vez, o auditório estava reservado para um ‘compagnon de route’, de longa data, grande audiófilo e melómano que, tendo assistido ao referido concerto e ficado impressionado com a mais-valia da participação dos Loke, em apoio às Watt/Puppy, me convidou para descobrir com ele como eles se portariam com música ‘séria’.
Pouca música é tão ‘séria’ como a composta por Wagner e Berlioz, com as suas grandes massas orquestrais e o dramatismo romântico, por vezes até sinistro, dos temas que os inspiram.
Há, contudo, uma gravação que sobressai de todas elas, não só pela interpretação de Georg Solti à frente da Orquestra e Coro da Sinfónica de Chicago, com José van Dam, Kenneth Riegel e Frederica Von Stade, mas pela inexcedível qualidade do registo da Decca (CD414 680 2) e da sua ‘árvore de microfones’ (voltaremos a este tema, num próximo artigo), que captou na perfeição, não só o som da orquestra, coros e solistas, mas também do Medinah Temple, onde foi gravado. Mesmo para quem não gosta de música clássica, este é um verdadeiro disco de demonstração.
Abençoado aquele que tem um sistema, uma sala e uma casa suficientemente afastada dos vizinhos para poder ouvir este disco a níveis de concerto ao vivo.
A audição
A Decca consegue colocar-nos em frente à orquestra, no Medinah Temple, em Chicago, em termos de espaço tridimensional; e o impacto, sobretudo dos metais e percussões; e a presença dos solistas e dos coros, são avassaladoras. Ou como comentou o meu parceiro de audição, chegamos ao fim esgotados mas felizes e, por certo, não tão amaldiçoados como Fausto.
Já não é a primeira vez que ouvimos este disco juntos, na companhia de Manuel Dias, o nosso amável anfitrião. Aliás, já o referi, na minha análise ao som das novas Watt/Puppy, lembrando o que escrevi quando ouvi o mesmo disco ‘interpretado’, então, pelas Wilson Audio XLF:
‘Os naipes de metais rasgaram com garras poderosas a espessa trama sonora tecida pelos terríficos tímbales, as vozes demoníacas, os sopros sibilinos e as cordas ensandecidas’.
A experiência auditiva
E foi assim que fomos colocados em sentido pela poderosa reprodução da ‘Marcha Húngara’: caramba, os metais como que rasgam o ar no canal direito; e os timbalões lá no fundo do palco deixam-nos com as palmas das mãos a suar;
Foi assim que acompanhámos Fausto na sua descida ao abismo infernal: La course à l'abîme, onde as almas e os demónios são todos homens (coro masculino); e o consequente Pandaemonium: ‘Ha! Irimiru Karabrao!’, em linguagem satânica;
Foi ainda assim que subimos ao céu com Marguerite em: Dans le ciel: ‘Laus! Laus! Hosanna! Hosanna!’, onde só há mulheres (coro feminino), acabando com o mito do sexo dos anjos.
Ou talvez porque Solti quis enfatizar a qualidade etérea e angelical das vozes femininas, pois a partitura de Berlioz prevê um coro misto. Ouvindo melhor, há vozes masculinas lá bem no fundo. Com um sistema destes, cada nova audição é uma nova descoberta.
As comparações
E damos connosco, não a analisar a qualidade do som, porque esse é um dado adquirido, mas a discutir interpretações e a comparar versões. A de Colin Davis, com a Orquestra Sinfónica de Londres, por exemplo.
Nas passagens mais enérgicas, como a Marcha Húngara, não há comparação possível: Solti e a Decca ganham com as mãos atrás das costas.
Mas Davis retrata melhor os sentimentos íntimos de amor, dor e sofrimento, como em Le roi de Thulé (chanson gothique), com uma interpretação magistral de Marguerite por uma Josephine Veasey mais jovem e ‘sonhadora’, já a anunciar a tragédia, e menos ‘recatada’ (apagada?) que Frederica Von Stade, talvez intimidada pelo domínio de Solti. A gravação da Philips tem menos espaço e ar, e por isso é mais intimista, adequando-se melhor a esta cena (11).
Na versão de Solti/Decca, a obra é-nos colocada à frente dos olhos, com tal transparência, que conseguimos distinguir pormenores ínfimos como o da sequência de integração tonal do coro masculino e dos contrabaixos (as vozes começam duas oitavas acima e vão descendo até acompanharem a morte das cordas baixas) que ilustram a ‘integração’ ou ‘aceitação’ de Fausto do seu destino infernal: ‘Epilogue sur la terre: "Alors, l'enfer se tut’.
Coisas do diabo!
Mas ele há coisas do diabo! Antes de terminarmos a sessão audiófila, Ricardo Polónia propôs a audição de uma faixa de música de fusão, pelos Fourplay (Cherry Records), que integra o famoso guitarrista Lee Ritenour, o baixista Nathan East, o teclista Bob James e o incrível baterista Harvey Mason.
Conclusão
Se o leitor não gosta de música clássica, vale a pena ir à Imacustica só para ouvir este disco. Tal como o meu companheiro de audição, vai ficar a perceber qual o efeito dos subwoofers Loke num sistema de som. Um som dos diabos! No bom sentido, claro…
Para marcações: IMACUSTICA