A história do gira-discos laser
Robert E. Stoddard, um jovem engenheiro americano, da Universidade de Stanford, desenvolveu esta tecnologia em 1988. Os primeiros modelos foram comercializados sob a marca Finial sem grande sucesso. Na altura, o CD ganhava adeptos e o Finial tinha alguns problemas técnicos. Stoddard debatia-se com os fracos índices de reflexão dos discos, os diferentes ângulos das cabeças de corte das matrizes analógicas e a sensibilidade à sujidade nas espiras. Stoddard acabou por vender a patente à ELP, empresa japonesa criada com o objetivo de melhorar e comercializar o único gira-discos do mundo capaz de ‘tocar’ LP com ‘agulhas’ de luz.
A experiência de ouvir com o ELP
Ouvi o ELP pela primeira vez em 1999, no Highend Show, de Frankfurt, e juro que resulta mesmo! Lembro-me que o som era semelhante ao dos CD, mas com os estalos dos LP, o que me deixou perplexo.
A tecnologia por trás do ELP
O ELP utiliza cinco feixes laser para recuperar das espiras já gastas o som analógico original: um para o canal esquerdo, outro para o canal direito (nos LP estéreo), dois para garantir que o braço de leitura se mantém estável sobre o centro das espiras; e o quinto para manter o braço sempre à mesma distância do disco (no caso dos discos empenados, por exemplo). Fotodíodos medem a luz refletida e traduzem a impressão ótica em sinal elétrico. Não há qualquer processamento digital do sinal: é analógico puro!
A vantagem do ELP
ELP tem vantagens que nos habituámos a associar ao CD: abre-se uma gaveta para colocar o disco, ao fim de uns segundos surgem no mostrador todas as informações habituais: tempo total, número de faixas, etc. Pressiona-se a tecla play e a audição começa: pode selecionar faixas ou as funções repeat e pause e até ajustar a velocidade em passos de 0,1 rpm; no fim, desliga-se automaticamente.
Como não há contacto físico, alguns dos problemas dos gira-discos convencionais também não se verificam: influência do ângulo de ataque horizontal e vertical da agulha, compensação do peso de apoio e da força centrípeta, distorção por efeito geométrico das espiras mais próximas do centro do disco, desequilíbrio entre canais, feedback acústico, empenos, excentricidade, etc., desde que os defeitos sejam moderados.
O desafio do ELP
Mas um problema persiste: os discos têm de ser sempre previamente lavados e aspirados, ou o som tem mais estalos que uma máquina de pipocas. Com discos de 78 rpm de 1904, o problema ganha, como se calcula, outra dimensão. É que, ao contrário do ‘prego’, que lavra, literalmente, as espiras, arrastando com ela a sujidade, o ‘laser’ não tem esse poder de arrasto.
Uma solução elegante é reproduzir o disco uma só vez e registar o som numa matriz DSD para arquivo e posterior edição. Ouvir uma ou mil vezes não produz qualquer efeito de desgaste no disco, mas o mesmo já não se pode dizer de processos agressivos de limpeza. Aliás, foi para funções de preservação e arquivo de discos raros que o ELP foi criado, não para tocar LP em casa diariamente. Para isso há gira-discos de 200 paus a 200 mil euros.
A maioria dos discos monofónicos antigos têm a parede exterior das espiras em péssimo estado, pois era nesta que o ‘prego’ das velhas grafonolas se apoiava no seu caminho para o centro do disco. O ELP até tem um seletor que nos permite optar pela parede interior menos gasta. E com os LP muito gastos também pode ‘afinar’ os ‘lasers’ para ler a parte das espiras em melhor estado. Mas atenção: só toca discos pretos. Esqueça os discos de vinil coloridos.
Em 1999, eu ainda não fazia gravações das minhas audições, mas Jerfo, um membro do fórum Quadraphonic, disponibilizou algumas gravações obtidas com o seu ELP. Aqui fica, com a devida vénia, a ligação:
I've ripped the first side of the album "Better Than Live" by Larry Coryell and The Brubeck Brothers for your listening pleasure. It was a direct to disc recording from 1978 that has never been re-released and it's unlikely that it ever will, so I don't feel too terrible about sharing it. You can download them from my OneDrive link here: ELP Rips . The sound clips are 24/96 and completely unedited - no click removal, no normalization, no limiting, etc. - Jeff
O futuro do ELP
Escrevi isto sobre o ELP, em 2004, no DN. Mas será que o ELP ainda existe? Fui confirmar, e parece que sim. Não só existe, como a nova versão LT-Master foi melhorada, e garante bons resultados, não sei se com menos estalos e fritadeira. O preço continua elevado (20 mil euros), mas já os vi à venda na Ebay por 5 mil. Os interessados podem visitar a página da ELP aqui.
Nota: Há muitas novidades de equipamentos em trânsito para o Hificlube. Mas os produtos com origem no Reino Unido ficam, por vezes, retidos na alfândega, ou são mesmo devolvidos, porque falta um papel, como no tempo da outra senhora, e fico com uma folga na agenda. Assim, fico com mais tempo para vasculhar o meu arquivo e poder contar a história desta foto do ELP, obtida na audição de 1999, em Frankfurt.