JVH foi ouvir as Alexx V, na Imacustica-Lisboa, sob a égide do saudoso Luís Campos, no cumprimento da promessa solene de as ouvir em seu nome. Promessa cumprida.
A minha audição das Alexx V, na Imacustica-Lisboa, alimentadas por monoblocos DarTZeel NHB-486, com cabos Transparent Audio Opus II G6 (únicos na Europa!), com fonte dCS Vivaldi One (Air Force III para o analógico) foi de natureza privada e solitária, embora o Pedro Duarte entrasse na sala, de vez em quando, a perguntar se era preciso alguma coisa…
Mas eu queria muito estar sozinho, em reflexão, para tentar ultrapassar o choque de nunca mais poder ter o Luís Campos ao meu lado, como quando testei as Alexx originais.
Eu sei que sou um crítico chato, que durante a audição está constantemente a pedir alterações de última hora: vamos experimentar mudar os cabos, colocar as colunas mais para trás ou para a frente, abri-las ou fechá-las, comparar o som do pórtico reflex frontal aberto com o traseiro (ver fotos).
E, no caso das Alexx V, que são netas das Wamm, apetecia-me meter as mãos nas réguas e elevadores dos três módulos articulados, cujas relações geométricas influenciam as relações de fase. Mas não me atrevi.
As Alexx V são como as Divas da ópera - e igualmente caprichosas. Já as originais eram assim. E quando elas se recusavam a fazer o que nós queríamos: ou porque o agudo não estava a integrar bem, ou o grave a ‘descer’ o suficiente, o Luís contava sempre as histórias de Divas que se recusavam a cantar apenas porque a água no camarim não era a da sua predileção.
E o Luís lá voltava pacientemente a ajustar os ‘degraus’ das Alexx, sussurrando-lhes ao ouvido, como um ‘encantador de cavalos’, que os acalma e consegue convencê-los a saltar mais alto ou a correr mais rápido, apelando à energia latente, e incutindo-lhes confiança e vontade de vencer.
‘Vamos agora ouvir música de cinema’, dizia ufano. John Williams e Hans Zimmer, não há nada melhor para elas mostrarem o que valem, garantia. - Vamos nisso… anuía eu.
E logo se ouvia a banda sonora de ‘O Gladiador’ ou ‘Batman’ e de tantos outros blockbusters, com graves telúricos e uma reprodução de espaço e ambiência que fazia desaparecer as paredes do auditório.
Mas o Luís não estava lá. Ou talvez estivesse.
Pelo que, em sua memória, toquei antes alguns dos discos que tinha utilizado no teste das Alexx originais.
Sempre que eu ‘calçava os sapatos de crítico’, o Luís abstinha-se de fazer comentários, apenas meneava a cabeça em aprovação com a minha escolha de música; ou mostrava desacordo, com gestos subtis, respirando mais fundo, e mexendo-se na cadeira incomodado, desejando intimamente sacar das suas referências discográficas: gravações mono da Callas, por exemplo.
'Aqui, estava no auge, amigo Zé Victor… que Voz, que capacidade dramática!...A Callas tinha tanto de divino como de diabólico…'.
Um dia levei-lhe um comparativo de ‘Casta Diva’, cantada pela Callas, a Bartoli e a Angela Gheorghiu. Passámos a tarde a ‘tirar-teimas’. No fim, ganhava sempre a Callas em mono, porque provocava mais… arrepios!
Em muitas das minhas gravações, registadas no Auditório da Imacustica, ouve-se o Luís a murmurar ou a escolher os discos, fazendo clic-clac com as caixas de plástico.
Mas o Luís não estava lá. Ou talvez estivesse.
Quando toquei ‘Le temps passé’, de Michel Jonasz, que tem uma grave telúrico e trepidante. Ou quando enchi o auditório com o Bosendörfer, de Valentina Lisitsja, tocando Liszt, num registo de Peter McGrath, esse mesmo, o embaixador da Wilson Audio, que já nos visitou várias vezes.
Ou a Sinfonia do Novo Mundo, o mundo onde afinal nasceram as Alexx V, e que tão bem as retrata: dos pianissimi, aos crescendos e aos tutti orquestrais.
Eu já escrevi tudo o que tinha a escrever sobre as Alexx V aqui.
Agora vim ouvi-las pela primeira vez, com expectativa e sem preconceitos, e o resultado final ficou registado em vídeo para a posteridade.
Só que já não é possível ouvir, nas minhas gravações, a presença discreta do Luís. Mas sente-se. De tal modo, que dei comigo a falar sozinho, como se estivesse acompanhado.
Mas o Luís não estava lá. Ou talvez estivesse.
Porque o Luís ficou gravado na minha memória, e o som das Alexx está indelevelmente associado à ‘Arte de montar colunas em toda a sala’ deste inesquecível ‘encantador de colunas’.
Deus permitiu-te, amigo Luís, que ainda tivesses tido o prazer de ouvir (e ‘encantar, com a tua arte e sabedoria) as Wilson Audio Alexx V, no Porto.
A estreia europeia das Alexx V no Porto foi assim premonitória. Hélas, foi também a tua última. E se havia alguém que a merecia eras tu. A minha promessa de as ouvir, por ti, em Lisboa, está cumprida. Agora vou deixar-te descansar em paz. Para sempre.
Requiescat in Pace, amigo Luís Campos.
Para mais informações e marcações: IMACUSTICA