Uma fotografia antiga de uma coluna eletrostática Sony espoletou este artigo sobre uma grande personalidade do áudio: Mori san.
No processo quási arqueológico de organização do meu espólio audiofotográfico, que se estende por várias décadas e se encontra arrumado por ‘camadas’, encontrei esta foto de capa de Yoshihisa Mori (1941-2018), que me trouxe à memória acontecimentos do passado distante.
Conheci Mori san na década de 90, numa apresentação da Sony, em Portugal. A título de curiosidade, pois não se tratava de um produto comercial, Mori mostrou-nos esta coluna eletrostática Sony, um modelo conceptual em cujo desenvolvimento tinha participado.
A partir daí, passámos a encontrar-nos todos os anos na CES, em Las Vegas; e, mais tarde, no Highend, em Munique, onde, após deixar a Sony, se apresentava como repórter freelance e promovia marcas nipónicas.
Yoshihisa Mori, que era muito parecido com John Lennon, na sua fase Yoko Ono, projetou para a Sony os primeiros gira-discos, braços e células, tendo patenteado a bobina em forma de oito e a agulha de diamante de 1 quilate para as células da Final Audio. Mas foi como o rosto da tecnologia SACD, da Sony, que ganhou a alcunha de Mr. SACD.
Em 2001, publiquei no DN um artigo sobre esta importante personalidade do áudio mundial, intitulado “Mori San”, que podem ler aqui integralmente em pdf, e de que passo a transcrever alguns excertos:
Sabem que entendo a alta fidelidade, não como um conjunto de objectos de consumo, mas como reflexos de alma dos seus criadores. Ora essa relação objecto/sujeito é difícil de estabelecer quando o fabricante é uma multinacional sem rosto. Até nesse pormenor a Sony teve o cuidado de «dar a cara». Melhor, de «dar uma cara».
Mori san, que tem extraordinárias parecenças físicas com John Lennon, é um audiófilo em estado puro, que tem do som a mesma visão poética que eu tenho. O som como algo que tem, não uma função física, mas antes um princípio activo emocional. O SACD tem a particularidade – que só não é única porque sempre esteve presente no LP – de nos reconciliar com a música ao nível espiritual, porque o cérebro não precisa de estar em alerta permanente para tentar descodificar no conteúdo das «amostras» a substância do todo, como sucede com o PCM (CD).
Mori faleceu em 2018, deixando um lugar vazio à mesa do áudio highend, que nunca foi preenchido, tal como Ken Ishiwata, da Marantz. Ambos tinham da vida uma perspetiva budista, de paz e serenidade.
Aqui fica a homenagem que faltava ao homem, ao poeta, ao cientista e ao amigo.
Descanse em paz, Mestre.