Os auscultadores estão outra vez na moda.
Será porque as pessoas moram em casas com paredes de papel, e os vizinhos se queixam nas reuniões de condomínio; será porque começaram cedo a abusar, ao espetarem nos ouvidos “earbuds”, ligados a iPods no máximo, desde tenra idade, e agora estão surdos e precisam de ouvir o som mesmo em cima (ou dentro) das orelhas; será porque actualmente é a forma mais eficaz de ouvir os novos ficheiros de alta resolução, de uma maneira que nenhuma coluna de som consegue sequer aproximar-se em termos de pureza, riqueza de detalhe e informação e ausência de efeito de sala; será por puro egoísmo: a música é minha e de mais ninguém?
Houve marcas que sempre estiveram mais ou menos bem instaladas no mercado do highend headfónico. Estou a lembrar-me inevitavelmente da Stax. Mas quem não conhece a Sennheiser, Beyerdynamic, AKG, Ultrasone? Enfim, deve haver mais de 100 marcas e 1000 modelos diferentes para todos os gostos e carteiras.
Entretanto, apareceram no mercado recentemente novos candidatos sérios à categoria de melhor do mundo, utilizando novas tecnologias de transdução, como a Audeze e a Hifiman.
O Highend Show, de Munique, é o lugar ideal para degustar o som de 5 auscultadores diferentes em 5 minutos, embora me pareça uma prática pouco higiénica: sei lá se o tipo que os utilizou antes de mim lavou as orelhas ou tem piolhos...
Mas há muito tempo que andava com vontade de tirar a limpo – é o termo - se os novos e antigos concorrentes conseguiam bater os famosos Stax, pelo que comecei por ouvir os auscultadores mais caros do mundo, os Stax SR09, que custam 5 500 euros (sem contar com a unidade de alimentação que custa outro tanto), e depois fui ouvir os Audeze LCD2 e LCD3, Ultrasone Edition 12, Hifiman e Sennheiser HD 700/800, para tentar perceber em que medida os SR09 justificam o preço.
Este teste não tem qualquer valor científico, pois nem as condições de ambiente e tempo, nem a música e amplificação diferente, podem servir como termo de comparação.
Senti-me como um mestre de xadrez que joga simultaneamente contra vários oponentes em vários tabuleiros e tem de decidir depressa - e nem sempre bem.
Além disso, este grupo de auscultadores utiliza ainda princípios de transdução muito diferentes: os Stax são electrostáticos (daí a necessidade de uma unidade especial de alimentação); os Audeze e Hifiman 500 são isodinâmicos (utilizam um princípio muito semelhante ao das colunas Magnepan e não são fáceis de alimentar); os Ultrasone e Sennheiser têm elevada sensibilidade, são dinâmicos e utilizam altifalantes ditos convencionais, embora tenham muito pouco de convencional. Mas isso fica para um teste formal a cada um deles, se a oportunidade se proporcionar.
Primeiro ouvi os Stax com uma unidade de alimentação a válvulas, depois a transístores. Preferi esta última. Estarei a perder qualidades audiófilas, pensei? 0 som era mais limpo e informativo com transístores, só isso. Havia uma espécie de cortina gasosa com as válvulas. Registei a referência na minha memória auditiva e parti à aventura.
O som mais parecido com o dos Stax é o dos Sennheiser HD800. Os médios e agudos são luxuriantes de informação, em ambos os casos. Há um ligeiro brilho mas zero de agressividade.
O grave do Stax SR09 é articulado e mantém a transparência até ao limite da oitava final, o do HD800 é mais impositivo e tem mais impacto. Os HD800 têm o som mais espectacular do grupo, em termos de presença e ritmo – daí o enorme sucesso mediático.
Fiquei desiludido com os Hifiman (não tenho foto, sorry), que surpreendentemente me soaram com excesso de brilho (ainda que também do tipo não-agressivo). Havia um claro desiquilíbrio tonal entre graves, médios e agudos. Tonnaly uptilted, diria um crítico anglo-saxão. A crítica americana, aliás, coloca-os nos píncaros, I wonder why? Estariam mal afinados, ou teriam sido mal tratados pelas centenas de visitantes antes de mim? Um segundo par soou-me exactamente igual. Seria da amplificação inadequada?
A experiência mais interessante foi a dos Audeze LCD2/LCD3. Ou seja: não há comparação possível. O LCD3 é tão melhor que o LCD2 até parece soar demasiado cheio, quase pastoso, embora em ambos os casos a extensão e projecção do grave seja espantosa, a melhor do grupo.
O LCD3 vale bem o que custa ainda que a construção seja um pouco artesanal. O Stax está um ponto acima da linha de neutralidade; o LCD3 está um ponto abaixo, logo mais ao meu gosto: prefiro alguns aspectos do lado Yin da vida, misterioso e duradouro nas emoções, que o lado Yang, mais luminoso e extrovertido, mas também mais efémero nas convicções.
No SR09, a informação é explícita; no LCD3 é implícita. Em ambos os casos, a qualidade musical é excelente, mas o SR09 custa quase cinco vezes mais que todos os outros (sem contar com o driver) e não me soa 5X melhor que nenhum deles. Admito que o som é mais requintado que o de todos os outros também...
O novo Ultrasone Edition 12 consegue o milagre de se situar algures entre o grupo Stax/Sennheiser e os Audeze. A construção é soberba, o conforto de utilização excepcional e o equilíbrio tonal judicioso. Não tem a filigrana harmónica dos Stax, o impacto dos Sennheiser e a natureza quase ecológica e ambiental do som dos Audeze. Contudo, consegue conciliar bem todos estes aspectos, num todo harmonioso e coerente, ainda que um pouco distante.
A. Almeida, da Ajasom, emprestou-me recentemente um par de Edition 8, mas o Edition 12 (baseado no flagship Edition 10) é muito superior, e justifica, portanto, uma audição atenta, logo que esteja disponível.