A Villa Cordelinna Lombardi foi o palco da apresentação da Ex3ma
As festas de apresentação do Fine Sounds Group (que engloba marcas como a Sonus Faber, McIntosh, Audio Research e Wadia) são um acontecimento em si mesmo.
O programa está sempre tão bem elaborado e é tão bem executado que, por vezes, chegamos a pensar que ganhámos uma viagem de sonho num daqueles concurso de televisão, e nos esquecemos do verdadeiro motivo da presença de dezenas de jornalistas e distribuidores do mundo inteiro.
Do programa constava uma visita guiada à maravilhosa exposição de pintura “Verso Monet, Storia del pasesaggio dal Seicento al Novecento”, na Basilica Paladdiana, à qual voltaremos em próximo editorial, porque se tratou de uma experiência marcante na minha vida cultural.
E é sempre de cultura que se trata na Sonus Faber. Da cultura da empresa. E da universalidade da cultura italiana. Já quando da apresentação das THE Sonus Faber (aka Fenice), em Veneza, cuja reportagem podem recordar aqui, a apresentação foi precedida de uma visita a uma exposição de arte moderna.
Ainda hoje me recordo pelas piores razões, porque nunca tinha estado com um grupo de pessoas dentro de um útero de uma mulher!...Muita da 'arte' da arte moderna reside na descrição pelo próprio artista do que é suposto estarmos a ver. E quem não vê, ou é estúpido ou não tem arte.
Há excepções, claro, e já vi muitas obras extraordinárias – da nossa Joana Vasconcelos, por exemplo.
Vicenza fica perto de Veneza, e não tem a mesma importância histórica e arquitectónica. Por outro lado, tem a vantagem de ser uma cidade calma, sem o burburinho das hordas de turistas que os cruzeiros despejam na (outrora Sereníssima) cidade dos canais e das gôndolas.
Mas Vicenza tem a marca de Palladio por todo o lado, e a arquitectura monumental da cidade tem o seu distinto traço romântico de génese neo-clássica. Assim, no intervalo de refeições informais e jantares de gala, os cerca de 180 convidados fizeram visitas guiadas à iconografia paladdina: a Basilica, o Teatro Olimpico...
Estes encontros têm o objectivo de estreitar e fortalecer laços de amizade, de conhecer pessoas do mundo inteiro e de fazer novos amigos. A nosso núcleo base era composto por este vosso escriba, Ricardo Franassovici, Manuel Dias e Paulo Soares. A que se juntavam ao jantar Alan Sircom (Hifi+) e Ketan Bharadia (What-Hifi).
Por afinidade linguística - a nossa pátria é a língua portuguesa - o nosso grupo-base fez amizade com o casal brasileiro Henry e Rosana Lua. Henry, da Audiogene, deslocou-se de S. Paulo para assinar um contrato milionário com a equipa da Sonus Faber.
Ricardo Franassovici, que é francês, de origem romena, vive em Londres, já viveu em Portugal e no Brasil, e sente-se Português de gema, e domina na perfeição cinco línguas, incluindo o italiano, era o nosso elo de ligação universal. Literalmente, porque esteve sempre ligado ao mundo via telemóvel.
Ele e o Manuel Dias, que resolvia problemas em Portugal e fazia negócios, enquanto empurrava uma pizza com um espumante manhoso.
Henry Lua, da Audiogene, de S.Paulo, vai assim passar a ser o distribuidor exclusivo da Sonus Faber para o Brasil, logo será um dos maiores do mundo, e recebeu de parte do team Sonus Faber o correspondente tratamento VIP, porque negócio é com Mirko...
Os leitores que têm seguido a reportagem do Hificlube já puderam apreciar estes videos e fotografias dos principais motivos de interesse turístico e arquitectónico, e bem assim da belissima paisagem campestre que rodeia a cidade. Mas fica sempre bem para ilustrar o texto.
A estratégia comercial da Sonus Faber é bem reconhecida pela maior parte dos presentes habituais: primeiro dá-nos um banho perfumado de cultura italiana, incluindo a gastronomia, depois segue-se a vertente tecnológica, que incluiu a satisfação de um desejo latente: cada um pôde sentar-se ao volante de um Pagani Huayra. Menos eu, que andei a fotografar o sorriso dos outros: o dever acima do prazer...
Quando o sistema de som do Pagani Huayra, concebido pela equipa da Sonus Faber, com base em materiais ultraleves e rígidos, como a fibra de carbono, foi demonstrado no Highend 2013, eu sabia que Paolo Tezzon e Livio Cucuzza tinham algo na manga, e o anúncio prévio da reedição de um modelo clássico da marca era a deixa que eu precisava para “adivinhar” que vinha aí uma nova Extrema, tal como publiquei na Parte 1 desta reportagem.
Aliás, cheguei a especular que, sendo o Fine Sounds Group dono da Wadia, esta nova versão teria um altifalante traseiro activo, alimentado em Classe D e controlado por DSP.
Ainda não foi desta. Mas li agora mesmo uma mensagem misteriosa de Livio Cucuzza, que, referindo-se às Ex3ma, reza assim em italiano: In realtà vorremmo che ex3ma rimanesse unica, ma di certo qualcosa rimarrá nell’aria...
Para bom entendedor, nem é preciso traduzir...
Ora, como só vão ser produzidos 30 pares de Ex3ma (estão todos previamente vendidos e mais houvesse, mesmo ao preço de ocasião de 30 mil euros...).
E o molde foi destruído pelo próprio CEO Mauro Grange, na nossa presença, com a ajuda preciosa de Michael Fremer, recorrendo a um martelo de demolição, o que isto significa é que “nós”, comuns mortais, vamos num futuro próximo (Highend 2014 de Munique, talvez?) ter novidades nesta área. Qual área? Noi vedremo...
Porque a Audio Research (integrado Galileo) e a Wadia também vão apresentar modelos novos em Munique.
Claro que serão modelos (fala-se das Lilium (Lyrium?), umas Aidinha...) sem a exclusividade da Ex3ma, que, segundo Mirko Sanna, Director Of Sales, serão montadas uma a uma por técnicos da Sonus Faber em casa dos felizes contemplados; e estes, por sua vez, agora segundo promessa solene e pública de Mauro Grange, terão o prazer (ou não!) de receber a visita de 3 críticos de renome internacional para dar a sua opinião sobre o resultado final em qualquer ponto do mundo! E o vencedor fica com as colunas e recebe o dinheiro de volta.
Será que ouvi bem?!...Não só ouvi como registei em video para que não restem dúvidas.
A promise is a promise, Mauro! That is if you are a business man and not a politician...
Até pelo esforço e capacidade de trabalho demonstrada, Michael Fremer é um forte convidado a fazer do painel de 3 jornalistas. Pela sua simpatia e camaradagem, eu voto nele!
E desejo ainda que o Manuel Dias/Imacustica (ou um seu cliente) seja o vencedor. Seria uma bela prenda do 28º Aniversário. Apenas por espírito patriótico, porque como se ouve no video Michael comentar em off, os jornalistas, e cito, 'só recebem dinheiro por debaixo da mesa...'.
Villa Cordellina: as Ex3ma entram em cena de burka
Conhecem a lenda sobre El-Rei de Portugal que ia ouvir cantar o fado embuçado? A cena das THE Sonus Faber, em Veneza, repetiu-se.
As Ex3ma estiveram em palco o tempo todo cobertas com uma burka, enquanto a distinta audiência assistia impaciente a um concerto de várias peças para clarinete e guitarra; além de cerca de duas horas de narrativa comercial primeiro e técnica depois, que ia criando suspense no público à medida que se aproximava o grande momento da descoberta: debaixo da capa estava o segredo...
Sentado na primeira fila, registei tudo em video, tendo editado e publicado apenas uma pequena “amostra” das pormenorizadas descrições artísticas e técnicas. De qualquer modo, os leitores do Hificlube já tiveram acesso a toda a informação através do press-release em pdf e dos excelentes videos promocionais da Sonus Faber.
A mim o que me interessava, uma vez que as notícias na net correm mais depressa que fogo em palha seca, era repetir a proeza de Veneza: não só captar em video o levantar do véu, como ser o primeiro a fotografar das Ex3ma. E consegui!
E também fomos os primeiros a publicar uma foto na net. Para isso contei com a inestimável colaboração de Paulo Soares (Imacustica) que, quando o meu telefone LG falhou miseravelmente a ligação à rede, as fotografou com o iPad e enviou de imediato o ficheiro para o meu filho Pedro Henriques.
Cinco minutos depois, andava eu alegre como um miúdo, no meio de uma multidão de copo na mão (eles, não eu!, só bebi água, juro...), a mostrar-lhes a “proeza”. You did it again, José!, regozijou-se Mauro Grange com um abraço amigo, ao mesmo tempo que confessava perante a surpresa de Ricardo Franassovici, Manuel Dias e Paulo Soares, que tem o link do Hificlube em speed dial para mostrar a reportagem sobre as THE Sonus Faber aos clientes e amigos.
São estes pequenos nadas, que são muito, e nos motivam a continuar a trabalhar, na área cada vez mais restrita e exclusivista do highend, que os fiéis veneram, os invejosos desdenham e os jovens ignoram.
Doug Schneider, da Soundstage, visitou a fábrica à socapa uns dias antes e tinha uma reportagem em stand-by. O exclusivo é um segredo que se conta a toda a gente in sotto voce com a promessa de que não conte a ninguém. Claro que todos contam tudo a todos. Só que eu carreguei no gatilho primeiro, enquanto ele andava de copo na mão...
Por exemplo: numa conversa almoçarada, Ricardo revelou-me uma novidade que a Devialet vai apresentar em Munique, levantando apenas a ponta do véu. Não posso dizer mais do que isto, que era pouco ou nada, e fechou-se em copas. Afinal já descobri: trata-se de um novo firmware de 'Speaker Active Matching', que vai poder ser descarregado no site, e que permite corrigir problemas temporais de fase entre o amplificador e cada modelo individual de coluna de som, que vai sendo adicionado à lista incialmente disponível! Um segredo de polichinelo, portanto...
Life would be a mistake without music
Foi a partir desta citação em inglês de Nietsche ('Ohne Musik wäre das Leben ein Irrtum”, no original em alemão), que Mauro Grange abriu o seu notável discurso de encerramento, de profundo humanismo, versando sobre a importância da música nas nossas vidas, desde o som do primeiro choro à multiplicidade de timbres das vozes dos seres humanos; e, sobretudo, a sua universalidade enquanto forma de comunicação global entre os povos.
Por isso, Mauro está optimista quanto ao futuro da indústria do áudio, e considera que o nosso trabalho conjunto deve ser o de “trazer a música de volta ao lar”, numa era em que ela é sobretudo ouvida em movimento, no carro, nos transportes públicos, nos passeios a pé e no desporto. Temos de produzir e divulgar produtos que as pessoas tenham de novo prazer e orgulho em ter em casa, como elementos decorativos funcionais e objectos de culto e veneração.
Há uma luz ao fundo túnel da indústria áudio, um túnel de acesso às artes da representação, como o imaginou Palladio no Teatro Olimpico, de Vicenza.
Salvé, Mauro!
Há aqui um claro apelo ao culto iconográfico que me leva a vaticinar que a McIntosh e a Sonus Faber terão uma importância cada vez maior no portfolio da Fine Sounds, sobretudo a primeira, cujo carisma nos EUA está ao mesmo nível da Harley Davidson.
Não sei mesmo se a Fine Sounds Group não vai passar a ser a McIntosh International Group.
The taste of the pudding is in the eating
Parto do princípio que os leitores não estão interessados em conhecer em pormenor o menu do jantar de gala de cinco pratos e duas horas de degustação, que se seguiu à cerimónia de apresentação, e terminou com uma banda de country-rock de goelas abertas e muita distorção (amplificação a válvulas!...), que me obrigou a proteger os meus preciosos ouvidos, pois tendo-as visto, às Ex3ma, eu agora só pensava em ouvi-las.
No dia seguinte, depois do Pagani Show, no adro da fábrica da Sonus Faber, em Arcugnano, onde dezenas de adultos, homens sobretudo, mas mulheres também, se divertiam como crianças grandes ao volante (só para a fotografia, claro) de um fabuloso Pagani Huayra estacionado, o numeroso grupo dividiu-se entre os “ouvintes” e os “visitantes”.
Claro que este vosso escriba moveu todas as influências (obrigado Ricardo, obrigado Manel...) para ser colocado no grupo dos que ouviram as Ex3ma primeiro e visitaram a fábrica depois.
A visita à fábrica que, aliás, eu já conhecia quando da apresentação das Stradivari, então incluído num grupo muito restrito (R.Franassovici, Ken Kessler e Martin Colloms) e na augusta presença do saudoso Franco Serblin, foi guiada depois pelo simpático Fiore Cappelletto, na companhia do casal Paul Miller (Hifi News).
Por razões técnicas, de conforto e logística, Paolo Tezzon demonstrou ele próprio as Ex3ma e exigiu que só entrassem 3 pessoas de cada vez, depois de uma longa espera, que nos permitiu fazer umas fotos na câmara anecóica, de onde fomos corridos quando tentámos fechar a porta para ouvir o som do silêncio.
Primeiras impressões auditivas
Vivi três anos com umas Extrema originais, alimentadas por monoblocos Krell, e posso afirmar que o ADN é o mesmo mas o carácter é diferente. Nem seria de esperar outra coisa com os novos materiais envolvidos no projecto.
As Extrema estão para as Ex3ma como os filmes em película Eastmancolor do passado estão para o cinema 4K do presente. Perdem-se as cores quentes e saturadas, ganha-se em controlo, precisão, detalhe mirífico e silêncio intersticial.
Perdem-se os grandes espaços e a violência gráfica dos western americanos, ganha-se no intimismo do grande cinema de autor europeu, complexidade tonal, atenção ao detalhe, pureza tímbrica e enfoque fino.
A Ex3ma parece mais pequena que a Extrema mas tem os mesmos 30 litros de volume interno, o que a coloca na categoria de banda limitada. Contudo, o ABR traseiro (cuja acção pode ser eliminada para permitir colocá-las junto a uma parede, como as Duette 2), confere-lhes uma extensão controlada da oitava inferior sem interferência com os modos da sala.
A Ex3ma é muito mais fácil de alimentar que a mãe, e não precisa de monstros de Classe A para dar o seu melhor. À vista só estava o leitor CD da Wadia, com a saída variável ligada a um amplificador mistério (um Audio Research de 100W), escondido debaixo da mesa.
Salivo só de pensar nas Ex3ma alimentadas por Dan D’Agostino ou Constellation.
Segundo Paolo, os altifalantes precisam de muitas de horas de “queima” até que a “lâmina” harmónica perca o gume afiado, que pode tornar o som artificial e sibilante. Se é assim, estas estavam “bem queimadinhas”.
O que eu ouvi (e registei em video) foi um som natural, sem ênfase em nenhum ponto do espectro: o tweeter de berílio com vaporização por pó de diamante tem uma vivacidade contida, a gama média é rica de pormenor sem excesso de detalhe (vozes compostas e correctas), muito “ar” (o som do violino solo era de cortar a respiração), uma velocidade estonteante dos transitórios; e o ABR de carbono confere-lhes um ritmo contagiante, com passo certeiro e a compasso. Falta alguma coisa? Sim: escala dinâmica.
Eu disse escala e não escola. Essa está lá toda e é tipicamente Sonus Faber sob o reinado de Paolo Tezzon. E não é preciso ir à escola para saber que quem quer (e tem poder de compra) já possui umas Aida ou as THE Sonus Faber. O que não falta é escala geométrica em largura e profundiade.
As Ex3ma foram colocadas por Paolo, bem afastadas entre si e com mais de 30 graus de “toe-in”. Eu tê-las-ia colocado mais próximas e menos apontadas ao ouvinte. Mas quando me sentei na sweet spot, verifiquei que o foco das vozes era perfeito: sólido e estável. À chacun son goût...
Para Portugal vem apenas um par. Adivinho uma guerra para ver quem casa com esta linda princesa italiana, mesmo com um dote de 30 mil peças de (e)ouro. Eu pela minha parte já fico contente se me convidarem para a boda...
HIFICLUBE agradece a Manuel Dias a extensão do amável convite de Mauro Grange a JVH para o acompanhar nesta experiência maravilhosa.