JVH foi a Benfica para ver e ouvir o alinhamento que a UAE vai apresentar no Audioshow 2019. Saiba o que o espera, no hotel Intercontinental, lendo esta previsão do Hificlube.
Sempre que vou à UAE, faço reserva antecipada, como num restaurante ‘gourmet’, que está na moda e cozinha pratos exclusivos e inovadores, com base em ingredientes sofisticados.
Normalmente, os ‘pratos’ vão sendo apresentados por ordem de grandeza – de preço e tamanho – e foi assim, uma vez mais, com apenas uma curiosidade, comecei pela sobremesa: morangos com natas, daquelas com lactose, muito colesterol, e tudo o que faz mal e sabe bem…!
Kii Three + BXT, um sistema ‘simples’, ao qual não falta nada…
De facto, as Kii Three, com os módulos de graves BXT, em cor de morango eléctrico, tinham acabado de chegar à UAE – e vão actuar no Audioshow 2019, acompanhadas pelo ‘streamer’ Antipodes CX, embora na foto conste um gira-discos, este estava lá só para ‘enfeitar’. Um sistema ‘simples’, ao qual não falta nada.
Quando testei as Kii Three, fiquei surpreendido pela ‘precisão matemática’ destas notáveis monitoras activas, concebidas por Bruno Putzeys:
‘No modo Phase/Exact, o som é de uma precisão ‘científica’ – eu não disse analítica: os 6-altifalantes soam como uma só unidade de banda larga. Ouvir música com as Kii Three não é apenas um prazer, é algo de entusiasmante, excitante mesmo.’ Ler teste integral aqui.
Agora com o módulo BXT – e mais 8 altifalantes, por canal! - o que já era ‘entusiasmante, excitante mesmo’ é também deveras impressionante: pelo poder, pelo ataque, pela velocidade, sem perda de coesão, apesar da multiplicidade de altifalantes activos. O grave ganhou um peso e solidez inauditos numa coluna de porte médio e domesticamente aceitável, tanto em termos de tamanho como de design.
O conjunto foi demonstrado no ‘showroom’ da UAE, em campo aberto, portanto, sem os benefícios de um auditório dedicado e tratado acusticamente. Com todos os comandos em modo flat, as Kii apresentaram as vozes e os instrumentos tão focados no palco sonoro, que é possível apontá-los a dedo um a um, individualizando-os, sem se perder a noção de contexto.
Estou certo que no modo Exact (ler teste) teria sido ainda mais espectacular. Se fossem realmente morangos, não falhava um com o garfo…
Em antecipação, numa primeira análise, sujeita a revisão posterior, após audição crítica mais exaustiva, poderei afirmar que as Kii Three + BXT, cujo preço é de 27 mil euros (que já inclui amplificadores e DACs), só perdem para sistemas 3 x mais caros, na reprodução da ambiência e do ‘ar’ e nas dimensões do palco sonoro, em faixas de música clássica e – mesmo assim - não sei se o facto de não terem sido demonstradas num auditório dedicado terá tido alguma influência neste aspecto.
De resto, pedem meças a alguns pesos-pesados, quando convidadas para reproduzir a batida poderosa de Jah Jah Know dos Groundation, a níveis de concerto ao vivo, com uma projecção, impacte e ritmo contagiantes.
O segundo prato, servido por Maître Gaspar, já era de ‘sustância’ e de ingredientes múltiplos, no qual só as colunas custam 30 mil, com o prévio Pandora a custar outro tanto, a que se juntam ainda os 35 mil do Antileon Evo:
Colunas B&W800D3
Dac Gryphon Kalliope
Preamp Gryphon Pandora
Power Gryphon Antileon Evo
Cabos Audioence SX
Condicionador Torus Power RM16
E o que se ganha com este investimento considerável? Ar. E não estou a referir-me à piada política de que qualquer dia vamos ter de pagar o ar que respiramos.
E o que se ganha com este investimento considerável? Ar.
Aqui o que se paga é o ganho em resolução, que nos permite ouvir claramente o ar dentro da sala de concertos (estúdio), como no caso do Allegretto, da 7ª de Beethoven, por Bernard Haitink e a London Symphony Orchestra.
O palco expandiu-se em todos os planos, sobretudo na profundidade, e ouvia-se o decay das notas com mais facilidade. As B&W800 D3 gostaram de se sentir apoiadas pelo braço forte do Antileon Evo, e deram o melhor de si mesmas, com um agudo doce, mas extenso e arejado.
Com Jah Jah Know, perdeu-se algum daquele impacto na boca do estômago, proporcionado pelas Kii Three + BXT, porque o auditório 2 da UAE deixa escapar alguma da informação de baixa frequência para o exterior. Mesmo assim, talvez o melhor som que já ouvi das B&W800 D3.
Ao contrário, o auditório principal da UAE já é ao nível de guia Michelin, e todos os equipamentos soam invariavelmente bem ali, pelo que no Audioshow 2019 não é de esperar uma qualidade semelhante, considerando que estes três sistemas vão tocar à vez, durante uma hora, na mesma sala, fazendo-se a ‘dança das cadeiras’ nos intervalos.
Seria pedir muito, apesar de saber que a UAE vai montar uma extensa área de painéis acústicos nas paredes da sala do hotel Intercontinental.
Colunas Raidho TD4.8 estreia
Dac CH C1 Mono DAC com Clock T1 Estreia
Streamer Antipodes CX+EX combo
Preamp CH L1
Fontes Alimentação CH X1
Mono Gryphon Mephisto Solo (estreia)
Cabos Audience FrontRow (estreia)
Condicionador Torus Power AVR16
Rack Rogoz
Esta é a pièce de résistance do alinhamento da UAE, com um custo total de cerca de meio milhão (!), pelo que, se a quer ouvir em condições ideais, sugiro que faça como eu e visite a loja de Benfica, depois do ‘show’.
Os intérpretes aparecem do nada e as Raidho TD 4.8 desaparecem do todo. Houdini não faria melhor…
E voltamos à ‘vaca fria’, já que estamos a desenvolver uma metáfora gastronómica. O que se compra com meio-milhão? Ainda mais ar e mais puro! Mais resolução! Mais informação! Mais extensão dos extremos de frequência! E um palco sonoro a perder de vista…
Das notas de piano, que introduzem a voz quente e sensual de Melanie de Biasio, morrendo depois lentamente como bolas de sabão na acústica electrónica do estúdio; à perfeição do registo audiófilo de My Favourite Things, cantada – e reinventada – por Youn Sun Nah; e ao espaço dramático do Acto 4 das Bodas de Fígaro, com os intérpretes a surgirem de rompante e a evoluírem no palco sonoro; ou à complexa simplicidade de Cielito Lindo, da colombiana Marta Gomez, ouvi de tudo um pouco do muito que me foi sendo servido por Miguel Carvalho.
Então Me Diz (The Blower’s Daughter), por Simone, é uma daquelas canções que nos obrigam a ficar ali quietinhos, sem respirar, para não quebrar o sortilégio da notável interpretação da cantora brasileira. O meu coração vacila entre esta canção e Paixão; ou então Lágrima, por Bethania, que também fazem parte da selecção habitual do Miguel.
O registo de estúdio é mauzinho, pois o engenheiro de som exagerou nos graves, incluindo na voz de Simone, que soa ainda mais ‘macho’ do que até ela própria gostaria. Curiosamente, as guitarras estão no ponto.
Mas a partir dos 2:18, entra um baixo sintetizado poderoso e cavernoso, na ordem dos 35Hz, que as Raidho TD 4.8, com as rédeas bem seguras pelos Mephisto, reproduzem com uma perna às costas, num auditório que se aguenta sem uma ressonância ou queixume.
Isto, se reproduzido no hotel Intercontinental, vai levar os hóspedes a pensar que esta é uma réplica do terramoto de 1755…
A visita não terminou sem outra grande novidade. Para não correr riscos com as asneiras dos técnicos de som, Miguel Carvalho vai passar nas demonstrações master tapes da STS Analog Experience (15 ips) de alguns dos mais famosos LPs audiófilos de sempre.
Se as Raidho TD 4.8 já tocam assim Então Me diz, então eu vos digo que com estas master tapes vai ser algo de muito especial…
Para mais informações: ULTIMATE AUDIO