CES 2022, o oásis da Harman no deserto do áudio high-end
JVH lembra os tempos áureos da CES de Las Vegas, uma feira virtual de eletrónica virtual, onde este ano só a JBL e a Mark Levinson apresentaram produtos dignos de referência no mundo do áudio high-end.
Se o mundo não tivesse mudado tanto numa década, hoje estaria em Las Vegas para fazer a reportagem da CES, como fiz durante quase 30 anos. Hoje a CES é uma feira virtual sobre tecnologias virtuais.
Ainda bem, porque já nada justificaria voar 15 horas, ser tratado como lixo na ‘Immigration’ e comer lixo nas companhias áreas internas americanas; ou pior: ficar horas (ou dias!) preso em aeroportos por causa da neve.
Na CES, o áudio high-end é hoje apenas uma lembrança, que ficou registada para sempre no Hificlube.net e, sobretudo, nas páginas em quadricromia do DN/DNA.
As reportagens eram um misto de crónica de som e crónica de viagem, na qual se escrevia sobre tudo: das novidades em eletrónica de consumo aos restaurantes da moda e aos espetáculos de Las Vegas.
Os mais saudosistas podem ver em baixo algumas cópias em pdf de artigos e reportagens publicadas no DN, ou abrir mesmo no final os quatro Artigos Relacionados publicados no Hificlube (não perca). Como exemplo, pode ler já aqui um texto sobre o culto da água numa cidade plantada no meio do deserto de Nevada.
Quando comecei a fazer as reportagens da CES para o DN, já lá vão mais de 30 anos, a feira do áudio high-end, propriamente dita, ainda se realizava no Sahara, um hotel decrépito, a cheirar a mofo, que mais tarde foi demolido, ou melhor implodido, ao melhor estilo americano.
E onde decorria também simultaneamente o ‘Adult Porno Show’, com o seu cortejo de aberrações humanas e exemplares únicos e exóticos, como exóticos eram também muitos dos equipamentos áudio demonstrados - assim como o custo.
O período áureo do áudio highend foi na era do ‘Alexis Park’, um ‘resort’ pacato fora da cidade onde não havia nem porno, nem jogo, com centenas de fabricantes expondo os seus produtos em blocos de apartamentos isolados de rés-do-chão e 1º andar, implantados num imenso jardim ondulado à volta de uma piscina, que me obrigavam a andar quilómetros, subindo e descendo escadas, até o sol brilhante do deserto desaparecer no horizonte, para acumular toda a informação necessária que, depois de tratada se resumia a algumas páginas coloridas do DN com dezenas de fotos exclusivas.
Ao lado, tinha lugar o ‘The Show’, um certame paralelo para quem não tinha lugar no Alexis por falta de espaço ou dinheiro.
Mais tarde, o então designado ‘High Performance Audio’ hospedou-se no luxo do Venetian, um hotel magnífico, bem situado na ‘Strip’, a avenida dos grandes hotéis-casino de Las Vegas.
E com ele regressou o ‘Adult Porno Show’ que atraía 80% da multidão que se acotovelava nos corredores amplos do centro de congressos, enquanto nós disputávamos um lugar nos elevadores para os andares 29, 30, 31, 32 e 35, onde distribuídos por suítes em longos corredores, os fabricantes demonstravam as suas últimas concepções electrónicas na arte de bem reproduzir som.
JVH em directo dos corredores do Venetian, espreitando para salas vazias (CES 2010)
Logo em 2010, publiquei o vídeo acima, que volto a reproduzir aqui, que mostra o cada vez menor interesse em relação ao áudio highend (a CES não é aberta ao público em geral, apenas aos profissionais e à imprensa), com os expositores ansiosos conversando nos corredores e as salas vazias, muitas vezes apenas ocupadas pelo próprio expositor, enquanto na ‘Feira da Electrónica’, que se realiza no LVCC (Las Vegas Convention Center), 150 mil pessoas se entrechocavam para ver o último ‘gadget’.
E o inevitável aconteceu.
Na CES, o ‘High Performance Audio’ entrou em decadência. Muitos fabricantes, representantes e jornalistas deixaram de estar presentes, numa cidade com preços de alojamento e alimentação cada vez mais caros e onde se tinha de esperar uma hora na fila para apanhar um táxi, um autocarro e até para o pequeno almoço, que era pago à parte e custava entre 15 e 30 dólares!
De 30 anos de CES, ficam-me as memórias de estadias em hotéis luxuosos, jantares sumptuosos e espectáculos fabulosos. E alguns dos melhores ‘shows’ de hifi a que já assisti ou audições privadas em que participei, e que tenho orgulho de ter registado nas páginas do DN até 2006 e no Hificlube até 2011. Além de ter assistido ao nascimento de algumas das principais tecnologias áudio e vídeo: CD, DAT, MiniDisc, DCC, DVD, HD-DVD, DTS, Blu-ray, LCD, LED, OLED, 4K e os primeiros ficheiros de áudio a 96/24.
Nota: No fim do artigo, os leitores do Hificlube podem abrir cópias em pdf ( c/ capa e 8 páginas, basta fazer scroll down para ler na integra) da reportagem da CES 2003: Parte 1, The Zoo; Parte 2, Alexis Park e The Show, que mostra bem o ambiente de euforia electrónica que se vivia então em Las Vegas, quando até no LVCC, carinhosamente chamado ‘The Zoo’ pela imprensa audiófila, ainda havia áudio de qualidade e highend e os produtos mais exóticos eram expostos no Alexis Park e, sobretudo, no ‘The Show’ (ver CES 2003 – Parte 2).
Expostos nestas páginas históricas estão alguns dos produtos e pessoas mais icónicas do Highend, como Nelson Pass, o guru lusitano Luís Pires e o recém-falecido Arnie Nudell, da Genesis, em fotografias exclusivas.
Junto ainda 3 crónicas, que escrevi entre 1999 e 2011, sobre o ambiente social e turístico de Las Vegas, tendo como pano de fundo os hotéis New York (este no rescaldo do atentado às Torres Gémeas), Paris e Bellagio, que vale a pena ler para perceber o que é Las Vegas, enquanto destino turístico de eleição dos americanos.
Novidades em áudio High-End da CES 2022
JB Lansing
A Harman Luxury Audio apresentou o monitor compacto ativo com streaming, amplificação de Classe D JPL 4305P e DAC 24 bit/192kHz. Além da ligação sem fios Chromecast, Apple Air Play e Bluetooth, o monitor poder ligado por cabo Ethernet e USB e tem ainda uma entrada analógica por jack de 3,5mm. É também compatível como MQA e Roon.
A unidade de compressão de altas frequências é reforçada por uma corneta e alimentada por um amplificador de Classe D de 25W; a unidade de graves de 5,25 polegadas tem carga por sistema reflex duplo e 125W de amplificação. A tonalidade pode ser ajustada com comandos frontais.
O sistema é composto por uma coluna-mestre, com todos os comandos no painel frontal e uma coluna secundária, que podem ser interligadas por cabo ou sem-fios, caso em que a resolução máxima baixa para 96kHz.
Mark Levinson
Mark Levinson ML-50 comemorativo
A Harman apresentou um par de monoblocos ML-50 comemorativos dos 50 anos, inspirados nos modelos mais icónicos da marca, numa série limitada a 100 unidades.
Assim, o ML-50 é inspirado no famoso ML-2, de 1977, no tempo em que Mark Levinson, o homem, ainda dava o nome - e a cara - à marca.
Uma da particularidades do ML-50 é a tampa transparente que deixa ver os circuitos internos. Já os LED que iluminam o interior em vermelho ou branco já me parecem excessivos. Mas pode desligá-los...
O ML-50 funciona em Classe A (20W) e é capaz de debitar até 425W /8 em Classe A/B. É integralmente balanceado e tem entradas RCA e XLR.
O preço nos EUA anda pelos 50.000 dólares (por par de monoblocos).
Mark Levinson ML5909
Auscultadores sem fios No.5909 afinados para a curva Harman, ainda hoje considerada standard por muitos fabricantes, com uma unidade única de 40mm em berílio.
A bateria do No.5909 tem carga para 34 horas (ou 30 em modo de cancelamento ativo) e carrega até 6 horas em apenas 15 minutos. No modo 'Ambient Aware', é possível baixar o nível de cancelamento para poder ouvir algum do ruído ambiente, por razões de segurança.
O modo 'Smart Wind Adaption' permite atender o telefone em dia de vento com um mínimo de interferência.
Funciona sem fios em modo Bluetooth aptX, e com cabo USB-C de 3,5mm. O preço nos EUA é de 999 dólares.