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‘O Universo de Shostakovich’, por Ferreira Rocha, na Imacustica-Lisboa

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Ferreira Rocha regressou ao palco da Imacustica-Lisboa agora para apresentar ‘O Universo de Shostakovich’, sobre o mais significativo e complexo compositor do século XX, cuja obra é inseparável da realidade política e social da União Soviética, então sob a égide de Estaline.

Os convidados foram recebidos ao som da valsa nr.2 da Suite para Ballet #2, a que se seguiu uma interessante palestra de cerca de duas horas, composta por breves introduções de 24 excertos musicais selecionados por Ferreira Rocha, com o apoio de Patrick Eisinger, violoncelista da Orquestra Gulbenkian, que seguiram uma ordem cronológica, permitindo-nos assim conhecer antecipadamente, não só os acontecimentos históricos, que influenciaram a sua obra, mas também o estado de espírito do compositor subjacente a cada criação.

As obras da juventude, marcadas pela tradição clássica russa, mas ainda com algumas inovações importadas da música ocidental, como a deliciosa variação de ‘Tea For Two’, ou a Polka, da Suíte#1 para Orquestra de Jazz. Ou as primeiras Sinfonias, ainda compostas sem o jugo de Estaline.

Estaline, depois de ter considerado a sua 4ª Sinfonia 'um caos em vez de música', proibiu oficialmente a Ópera Lady Macbeth de Mtsenk por 30 anos!, e colocou Shostakovich sob vigilância política, o que o obrigou a utilizar o subterfúgio da ironia para ‘esconder’ o desencanto, no meio do otimismo oficial do triunfo do comunismo.

A Quinta Sinfonia, por exemplo, que Ferreira Rocha optou – e bem - por não referir, tem um final triunfante que, dependendo da interpretação, pode revelar a ambiguidade da conformidade forçada e até alguma melancolia, que o regime não podia aceitar.

Mas Shostakovich também era um patriota e as Sinfonias nr. 7 e 8 são retratos dramáticos da guerra contra os nazis. A Sinfonia nr.8, também conhecida por ‘Stalingrad’, pinta com notável realismo o som das sirenes e do bombardeamento de Leninegrado (Alegro non Tropo), seguindo-se o silêncio ensurdecedor da morte e da destruição (Largo).

O sistema de som, composto por colunas Wilson Audio Alexia V + Subs Loke, amplificação Robert Koda e fonte dCS Vivaldi DAC+Upsampler e Rossini Player, com cabos Transparent, reproduziu a obra de Shostakovich, tão notável quanto difícil de interpretar e reproduzir, com elegância e precisão, respeito pelos tons, timbres e dinâmicas e oferecendo um palco sonoro cinematográfico:

  • Das subtilezas cromáticas da Dance nr 1 da Suite#2 às explosões dinâmicas das crónicas dos períodos mais turbulentos da história russa;
  • Da complexidade perturbadora do Trio para Violino, Violoncelo e Piano (com Martha Argerich!) ao belíssimo hino ‘The Flame Of Ethernal Glory’;
  • Da alegria da música para cinema de ‘The Gatfly’ ao Adagio, em jeito de Requiem, da Sinfonia #15, que escreveu pouco tempo antes de morrer.

O domínio técnico, a complexidade emocional e o subterfúgio da ironia para, tal como Fernando Pessoa: "…chegar a fingir que é dor a dor que deveras sente", tornam Shostakovich o maior compositor do século XX, e um dos maiores de todos os tempos.

Enquanto crítico de áudio, agradeço a Ferreira Rocha esta aula de história da música e a Manuel Dias (Imacustica) a maravilhosa experiência de voltar a ouvir um sistema de som que merecia uma sinfonia de Shostakovich. Só não sei se Estaline iria gostar…

 

Imacustica Ferreira Rocha Shostakovitch


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