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Eu já tinha visitado a Ajasom, em dezembro, para ouvir as Kharma. Na ocasião, as Exquisite-Midi (€92.000) tinham ficado no banco e foram as DP9 Signature (€40.000) que fizeram as honras da casa, com amplificação McIntosh MA12000.
Desta vez, no meio de uma curiosa exposição de gira-discos, que iam do acessível Project ao inatingível Nagra Reference Turntable, passando pelos Bergmann de suspensão por almofada de ar e braço tangencial, ouvi as Exquisite-Midi, acolitadas por um sistema fabuloso, tendo como vedeta convidada o Streamer Pink Faun 2.16 Ultra (€30.000), uma nova distribuição da Ajasom:
Sistema em demonstração na Ajasom
- Streamer/Server
- Pink Faun 2.16 ultra
- DAC
- Nagra Tube Dac + Classic PSU
- Pre
- Nagra Classic PRE
- Power
- Nagra Classic AMP
- Colunas
- Kharma Exquisite Midi
- Cabos de Sinal & Coluna
- Kimber Select de prata
- Cabos de Corrente
- Shunyata Sigma & Alpha
- Cabos Digitais
- Shunyata Omega & Sigma
- Filtro de Corrente
- Shunyata Everest
- Mesas
- Finite Elemente Pagode Edition
O fauno rosa: streamer purista
O Pink Faun 2.16 Ultra é um streamer purista que nem sequer tem conversor digital-analógico (DAC) incorporado, nem tem controlo de volume, saída de auscultadores, um transporte CD para ripar CDs ou até mesmo um ecrã. É fornecido com uma unidade interna SSD de 1 TB como padrão, que não foi utilizada como armazenamento para esta demonstração. Também vem com um sistema operativo baseado na aplicação Euphony Audio, que não parece ser fácil de dominar.
No fundo, é um computador de 30 kg com um sistema operativo Linux concebido para eliminar todas as fontes de ruído, incluindo o ruído induzido por vibrações. Isto foi conseguido através da utilização de um sub-chassis com padrão de favos e de várias fontes de alimentação (3 transformadores blindados) com uma capacidade de mais de 800.000 uF, com base em condensadores Nichikon, que nem um amplificador de 500 W desprezaria.
O conceito é bem conhecido na gíria audiófila como "overkill", porque como toda a gente sabe ou pensa que sabe, um streamer sem um DAC interno não pode fazer qualquer diferença na qualidade de som do sistema associado. Ou será que pode?
Os engenheiros da empresa holandesa Pink Faun acham que sim. É por isso que não se pouparam a esforços (e despesas) para desenvolver o que acreditam ser o melhor (e um dos mais caros) streamers do mercado de áudio atual. Utilizam relógios OCXO para eliminar o jitter e RAM em vez dos usuais buffers para garantir baixa latência.
Ouvi ‘coisas’ que nunca tinha ouvido antes.
O nome Pink Faun pode parecer estranho, admito, mas creio que, tal como o unicórnio mitológico, o que se pretende é passar a ideia da existência de algo impossível que se tornou possível. E o impossível aconteceu: ouvi ‘coisas’ que nunca tinha ouvido antes no auditório da Ajasom.
O silêncio intersticial é de tal ordem que se ouvem coisas que nos passaram despercebidas em outras ocasiões. Mas não é tanto aquilo que se ouve, é mais como se ouve. Eu dou um exemplo concreto, que podem experimentar na vossa própria audição:
Quarteto de Oscar Peterson
Quando entrei, estava a tocar o álbum Alternate One, com Clark Terry, Dizzy Gillespie, Freddie Hubbard & Oscar Peterson (que quarteto, hã!?). Logo ali, percebi que a separação instrumental era superlativa. Mas foi quando soou a voz de Sara Correia em Era o Adeus que ouvi elementos na mistura bem ‘fora-das-colunas’, com componentes percutivos que pareciam soar, não à minha frente, mas ao meu lado!
Fiz um registo, mas este efeito holográfico perdeu-se na tradução, pelo talvez fosse uma ilusão acústica. E como, em termos tonais, o registo original é até um pouco brilhante, optei antes por vos oferecer The Build Up’ por Feist & Kings Of Convenience, que tem silêncios entre notas.
Contudo, depois de Oscalypso, de Erik Friedlander, e de David Radcliff aka The Ghost Of Jimmy Cash, uma voz que me tem assombrado ultimamente, cantando The Sound Of Silence, saí em apoteose com a mais bela execução, que já ouvi, do Adagio de Barber, pela Orquestra Filarmónica de Nova Iorque, dirigida por Leonard Bernstein. Eis que a profundidade do palco sonoro só tinha paralelo na profundidade emocional que o tema nos desperta, algo que já me tinha acontecido antes com um excerto da Pastoral, de Beethoven, pela Orquestra Sinfónica de Pittsburgh, dirigida por William Steinberg.
Droga saudável
Agora a questão que se coloca é saber em que medida este incrível efeito holográfico e de espacialidade se deve ao Pink Faun 2.16 Ultra, às fabulosas Kharma Exquisite-Midi, ou ao sistema como um todo. O Jorge Mendes e o Nuno Cristina, com a experiência de mais horas de audição, acham que o Pink Faun é o catalisador que faltava – não só a este, mas a qualquer outro sistema, diga-se.
Cabe ao leitor ir ouvir, por sua conta e risco, porque estas coisas ‘agarram’ como uma droga, e tirar as suas próprias conclusões. Eu saí com vontade de voltar. Só conhecia os faunos da mitologia. Mas parece que eles existem mesmo no áudio, embora sejam cor-de-rosa e custem uma nota preta…
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