Tudo começou com um teaser post de Jorge Gaspar no Facebook:
E neste dia temos a certeza de termos nas nossas mãos algo de especial.
No nosso auditório, já se encontra disponível para audição aquela que é a mais recente importação da Ultimate Audio Elite: o conversor Trinity DAC, que tanto tem dado que falar nos forums, blogs e revistas de áudio e High-End por este mundo fora! Não é comum que a experiência da audição de um novo componente se torne em algo tão significativo. Convidamo-los desde já a uma visita pelo puro prazer da música.
Ao que eu respondi:
Conheço restaurantes japoneses com menos pratos de sushi que a oferta da Ultimate de DACs gourmet. Uma autêntica orgia gastronómica digital. Só falham numa coisa: é não me deixarem provar primeiro...
E Jorge Gaspar retorquiu:
Como não é de sushi que se trata, não pode ser comido cru, José Victor, por isso quando estiver mais bem cozinhado, já poderás provar! Abraço forte.
Tarde demais, “curiosity killed the cat”, e eu já ia a caminho de Benfica. O Trinity DAC tinha chegado há dois dias, e estava, de facto, ainda um pouco “cru”, ou “verde” se preferirem. O Doutor Miguel, que tinha assistido ao parto, comentou que ele tinha evoluído da translucidez inicial para a fase de luminosidade ofuscante, e que vinha agora a ganhar pouco a pouco o equilíbrio tonal e tímbrico ideal. Foi nesta fase que eu entrei, estaria o Trinity – e estou a especular - a 75% das suas características “organolépticas”.
Se eu só tivesse ouvido os primeiros quinze minutos da praxe (passe o termo) diria que achei o Trinity excessivo: excesso de claridade, de transparência, de resolução e de dinâmica. Tudo coisas boas, diga-se, e que, por isso, costumam ser tomadas em pequenas doses: one man’s medicine is another man’s poison...
Acontece que estacionei por lá mais de uma hora e saí com uma “pedrada”, como se tivesse sido injectado com uma droga alucinogénea: é que comecei a ouvir “coisas” que nunca tinha ouvido, e fiquei viciado. Queria mais...
E, por “coisas”, entenda-se, por exemplo, além de um nível de detalhe inusitado, uma dinâmica avassaladora. Era como se houvesse uma ligação directa entre o microfone e os amplificadores/colunas Gryphon.
Ao ponto de, em alguns casos, ter comentado que, se os engenheiros de som responsáveis tivessem no estúdio como ferramenta de trabalho um Trinity DAC não teriam tido necessidade de fazer uma endoscopia para colocar o microfone dentro da garganta do cantor/a: viam-se as amígdalas!
Isto em ficheiros áudio, na sua maioria com base em CDs insuspeitos, fornecidos ao Trinity por um streamer Aurender W20.
Até os Dire Straits e os Pink Floyd eu ouvi. E a Simone, e a Bethania e o Camané. Nothing fancy, portanto, em termos de “purismo” audiófilo, só para “agradar” ao crítico. Foi uma audição franca, aberta, sem nada na manga, de discos com gravações fabulosas, boas, medíocres e más, quase todas em resolução standard=Red Book (não o do Mao, o da Sony/Philips).
O Trinity DAC não faz prisioneiros. Se o disco é bom, soa fabuloso; se é mau, agressivo, electrónico ou sibilante, é isso mesmo que vai ouvir. O que eu lhe garanto é que, ao fim de algum tempo, o seu cérebro foca-se naquilo de bom que até alguns discos maus têm: detalhe, transparência e dinâmica, por exemplo, o que torna a audição extremamente viciante.
O que diferencia o Trinity DAC dos outros é a ausência de filtragem digital ou analógica (passa-baixas). A sobreamostragem (8X) é obtida pela montagem em paralelo da saída de 8 DACs, sendo a soma das partes obtida por um circuito patenteado Lianotec, que optimiza o sinal tanto no domínio da frequência como temporal. Todos os sinais (apenas PCM) são reproduzidos com a frequência nativa até aos 192kHz-24bit e praticamente sem jitter. Se procura DSD ou DXD, tem de ir bater a outra porta.
A acreditar nas medidas fornecidas pelo fabricante (ler Manual em pdf), o Trinity é o único DAC que eu conheço que consegue reproduzir uma onda quadrada a 10kHz perfeita, sem 'ringing” ou “overshoot”, e apresenta uma resposta ao impulso sem pre ou post-eco. É a incrível velocidade de resposta aos transitórios que nos dá a inacreditável sensação de ataque na audição.
O Trinity surgiu-me nesta curta experiência como o DAC com mais elevada resolução subjectiva, dinâmica, transparência e velocidade, que já ouvi em condições não controladas por mim.
E a musicalidade? Bom, isto é um tema que nos levava longe, pois o gosto pessoal tem aqui um papel importante.
Digamos que se ressuscitássemos Goya, que tinha um problema de visão e pintava figuras alongadas e bicudas, e lhe oferecessemos agora uns óculos de correcção, ele era capaz de culpar as lentes pela distorção...
Alguns fabricantes ouvem a realidade através de filtros que a tornam mais “consensual” e agradável. Por vezes, acabam por deitar o bebé fora com a água suja do banho.
O Trinity DAC coloca-nos o bebé nu e lavadinho nos braços, e atira-nos à cara a água suja do banho, o sabonete perfumado, a esponja molhada e, nos casos em que há faixas com percussão, ainda estamos sujeitos a levar com a banheira em cima!
How any more real can it get?...