O Playstream A5 cumpre com garbo a função de reproduzir a música desmaterializada dos tempos modernos, sem esquecer o eterno LP, exibindo um estilo clássico, no qual os vuímetros de agulhas dançantes são protagonistas. Tudo sem atingir o patamar psicológico dos 1000 euros.
Quando Delfin Yanez me telefonou, dizendo que tinha um novo brinquedo especial para eu ouvir, pensei logo num recém-chegado modelo da Pass, ou num DAC/Streamer da Esoteric. Afinal, eu sou conhecido por gostar de ‘caviar audiófilo’, pelo que não é conveniente servirem-me ‘pasta de sardinha’.
Na verdade são mais as vozes que as nozes: o Delfin já me conhece há demasiados anos, e sabe que não é o luxo que me cativa mas a performance musical, dando de barato o ‘prestígio’ de escrever sobre coisas caras ou raras, como o fotógrafo de moda rodeado de beldades inatingíveis.
‘Le roi c’est moi!’
Acontece que eu já tenho prestígio que chegue, e assim posso ‘dar-me ao luxo’ de escrever sobre o que me apetece e agrada, não tendo que prestar vassalagem, ou dar satisfações seja a quem for.
No Hificlube.net ‘le roi c’est moi!’, quanto mais não seja porque sou eu que lanço os foguetes, apanho as canas e toco a música…
Se um componente áudio, independentemente do preço ou da fama que o precede, tem a capacidade para me fazer companhia agradável durante um período mais ou menos longo de tempo - ou enquanto escrevo, por exemplo, que é a melhor prova de que não me incomoda - sem que eu tenha o desejo de o desligar de imediato, qualifica-se para uma audição crítica, caso contrário volta para o sítio de onde veio. É que nem me dou ao trabalho de o analisar em profundidade, pois não tenho tempo para aturar ‘ruim defunto’. Há pessoas que confiam no meu trabalho e eu não as posso desiludir.
Delfin Yanez: o tempo e o modo
O mesmo se passa com o Delfin, que anda nisto há tantos anos como eu, e encomendou já umas dúzias de Playstream A5, porque, segundo, ele é um amplificador integrado de 80W/canal, bem construído, concebido em Paris e montado no Oriente, e por isso acessível (989 euros c/recetor Bluetooth incluído), adaptado aos tempos modernos, leia-se DAC/streamer, sem esquecer o analógico (entradas Phono MM e MC), que funciona em Classe A/B e, eis o busílis, ‘toca no tempo certo’.
A ‘filosofia temporal’ de Delfin Yanez é bem conhecida dos leitores do Hificlube, e pode ser estudada nos muitos artigos já publicados, que podem abrir na secção Artigos Relacionados, no final deste artigo.
Se o A5 passou no exame do tempo, é bom sinal – literalmente. E não me refiro à obsolescência, antes ao ‘pace and rhythm’ , que o meu colega Martin Colloms (com quem vou em breve voltar a trabalhar, num projeto que por enquanto é secreto) considera essencial para a fruição musical.
Advance Acoustic Playstream A5
Eu escrevo como um músico de jazz toca: improviso sobre um tema para não cansar o leitor e para não me cansar a mim próprio com ‘críticas chapa-cinco’: introdução, descrição, comentário, análise, conclusão.
A Advance Acoustic tem lugar cativo no Highend, de Munique (a propósito, em 2021 vai realizar-se de 9 a 12 de Setembro, clique aqui para ler o comunicado).
Em 2019, a Advance mostrou-me o caminho ‘tudo-em-um’ que pretendia seguir, com os modelos MyConnect: leitor-Cd, leitor-de-rede, rádio FM/DAB e amplificador-DAC.
A Série PlayStream segue a mesma linha, apenas com exceção do leitor-CD, que tem vindo a cair em desuso, e voltando ao design clássico de vuímetros azuis, baixando assim o preço.
A EU não ia substituir a FM pela DAB?
A série é composta pelos modelos A5 (80W) e A7 (115W). Não há CD mas há LP, com entrada Phono MM e MC (alta e baixa). Não ouvi, não tenho gira-discos, sorry. Mas ouvi rádio FM. Quanto ao DAB, não consegui sintonizar qualquer estação. Nem uma. Não sei se as há, ou se é apenas porque não moro em Lisboa. FM funciona bem, mesmo com a antena precária junta.
A EU não ia acabar com a FM e substituí-la pela DAB? Com a alternativa de milhares de estações grátis no TuneIn e iHeartRadio (internet radio), quem quer ouvir DAB? Vai ser mais um investimento público obrigatório para deitar aos porcos…
E depois temos o streaming pago. Da Tidal, no meu caso. Mas é compatível com as outras todas: Spotify, Deezer, Qobuz, Napster, estas últimas se tiver acesso via VPN.
O acesso à Tidal (precisa de assinatura) é possível de várias formas. Eu entrei com o meu iPhone/Android via app da Tidal e liguei-me ao A5 via Bluetooth.
Ao princípio, fiquei um pouco baralhado, porque não encontrava o A5 para emparelhar. Depois, descobri na caixa o emissor Bluetooh XFTB01 (não vai além dos 44,1kHz), liguei-o na ficha respetiva no painel traseiro, et voilá! Se quer a versão HD (FTB02) vai ter de a comprar à parte.
Seja como for, o Bluetooth do meu iPhone velhinho (estou à espera do 13) funciona segundo o protocolo AAC e não dá mais que 44,1 Khz. Também pode ouvir via Bluetooth a música armazenada no seu telefone, claro.
A outra maneira é ligar o A5 à sua rede doméstica via cabo Ethernet ou por wi-fi/WPS (antena incluída), descarregar a App Advance Playstream (gratuita) para iPhone e Android e selecionar a Tidal ou outro fornecedor de conteúdos. O som é bastante melhor. Eu diria mesmo: muito melhor, sobretudo com Ethernet!
Pode assim aceder aos ‘Masters MQA’ na Tidal mas o A5 não é MQA ready (nem Roon ready) e a frequência de amostragem não aparece no mostrador. Talvez vá até aos 96kHz/24 bit com conversão nativa pelo algoritmo da Tidal. Mas não garanto.
Aliás, não pode ligá-lo sequer ao PC. A entrada USB no painel traseiro é apenas para reproduzir música armazenada numa pen, drive ou NAS, à qual pode aceder também com a App. Cuidado, não insira a pen na entrada UPDATE (devia ter um protetor).
A App Advance PlayStream só controla as fontes de streaming. Para todas as outras fontes, incluindo as digitais, e funções vai precisar do controlo remoto (muito completo) ou do painel frontal de controlo (touch buttons), no qual o botão rotativo/pressão do volume é protagonista. Nota: não basta carregar, é preciso manter pressionado uns segundos).
No painel frontal em acrílico, tem ainda as saídas para auscultadores (6,3 e 3,5 mm) ligadas em paralelo. O circuito é composto por um Opamp e dois transístores, com potência suficiente para modelos dinâmicos e no limite do razoável para planarmagnéticos de baixa sensibilidade. O som é de uma maneira geral composto e muito agradável.
Pode configurar o controlo de tonalidade (graves e agudos) em passos de +/- 2dB. O circuito atua numa banda muito larga, pelo que os passos são de gigante: - 2dB no agudo; +2dB no grave é quanto basta. Ou zero mesmo, porque o agudo é doce e o grave bem apessoado. O pessoal da pesada vai gostar de +10dB no grave. Ou da função ‘loudness’…
Cocktail de opamps e bipolares
A Advance Acoustic tem uma mente aberta quanto ao tipo de circuitos que utiliza, que vão das válvulas, aos Mosfet e bipolares, sem enjeitar os amplificadores operacionais.
O andar de phono é baseado em amplificadores operacionais NJM2068. No primeiro andar de ganho, a Advance optou por 4 bipolares, a que se seguem no andar de potência um par complementar 2SB817/2SA1047 em push-pull, com forte polarização em Classe no modo High Bias, cujo comutador está no painel traseiro.
Classe A com classe
Deixe-o estar sempre em modo High Bias: pode aquecer um pouco mais, gastar mais energia, mas, depois de quente (dê-lhe 1 hora), oferece-lhe 10/15 W em Classe A de grande nível, que pede meças a amplificadores integrados bem mais caros e deita por terra os integrados concorrentes de Classe D, sobretudo com CD via cabo coaxial, ficheiros de alta resolução armazenados em disco ótico e streaming Tidal ou a partir de disco rígido.
Quer isto dizer que o A5 se bate com um Pass INT-25, só para não sair do território da Delaudio? Claro que não. Sobre o Pass, cuja análise auditiva podem ler na integra, clicando sobre o nome a negrito, escrevi:
O Pass INT-25 tem o proverbial ‘som de válvulas’ e é um dos amplificadores mais transparentes que já ouvi. Uma transparência que não ofusca, antes ilumina com a chama quente da luminosidade interior das vozes de artistas como Ella Fitzgerald, Fred Astaire, Shirley Horn ou Louis Armstrong, assim ‘ressuscitados’ por gravações com 50 anos!
O A5 é um senhor!
Mas, se considerarmos a (enorme) diferença de preço, ela não se reflete na qualidade do som, ainda menos na versatilidade.
Estou agora a ouvir She’s no Lady, por Lou Rawls e em boa verdade vos digo: estou encantado com o balanço e o ritmo, com a projeção da voz de Rawls, com o entrosamento da banda de apoio. O Advance Acoustic A5 não é uma lady, de facto – é um senhor!
…o grave/baixo do A5 é do melhor que já ouvi a este nível de preço and beyond…
Este é o meu disco preferido de Low Rawls, e utilizo-o sempre para avaliar o tal ‘pace&rhythm’, que torna o embalo rítmico da música tão envolvente. Acho mesmo que o grave/baixo do A5 é do melhor que já ouvi a este nível de preço and beyond. O Delfin sabe ouvir, indeed…
De tal forma, que resolvi fazer uma incursão rápida numa seleção musical que fiz em exclusivo para avaliar em breve o tal projeto secreto sobre um equipamento de preço estratosférico, que será publicado no Hificlube e, em 2021, na HiFiCritic, e que vai de Dean Martin a Sinatra e Aretha; da Sinfonia Fantástica à Oitava de Mahler, fechando com Jen Chapin a cantar You haven’t done nothing yet.
A minha conclusão? Por este preço, You ain’t heard nothing yet!...
Produto:
Amplificador integrado Advance Acoustic Playstream A5
Preço: 989 euros (inclui receptor Bluetooth XFTB01)