Manny Marroquin é originário da Guatemala, mas vive em Los Angeles desde jovem. Engenheiro de som e misturador talentoso, trabalhou com muitos artistas famosos de todos os géneros musicais, desde pop até rock, R&B até hip hop, incluindo Kanye West, Alicia Keys, John Mayer, Rihanna, Bruno Mars e muitos outros que confiam nele porque consegue introduzir mais emoção em todas as faixas que mistura.
Nos Audeze MM500, as iniciais MM gravadas nos auscultadores referem-se assim ao nome de Manny Marroquin, pois foi ele o responsável pela afinação do som (voicing) deste modelo.
A fama paga-se, pelo que os MM-500, assinados por Manny Marroquin vão custar-lhe 2.090 euros.
Uma questão pessoal
Os auscultadores são o componente de um sistema de áudio mais personalizado de todos. Nunca a expressão ‘cada cabeça a sua sentença’ fez tanto sentido, porque a adaptação das cápsulas (almofadas) à nossa cabeça/orelhas é fundamental para um bom desempenho. Depois, diz-se, é tudo uma questão de gosto – daí que três pessoas diferentes possam dar três ‘sentenças’ diferentes sobre os mesmos auscultadores. E todos podem ter razão.
Manny Marroquin ‘afinou’ os MM-500 para as suas necessidades como engenheiro de som e para o tipo de música que normalmente mistura: vozes presentes, claras e limpas; grave sem demasiada extensão mas tensos, com alguma ênfase nos médio-graves para dar corpo às vozes, metais e guitarras; agudos redondos, que se tornam na extensão natural dos médios, e não são cansativos após longas horas de trabalho em estúdio ou na audição prolongada em casa.
Igualização perfeita
Os Audeze MM-500 são dos poucos auscultadores que não precisei de ‘igualizar’ para me sentir confortável durante horas. Significa isto que Marroquin e eu temos uma forma semelhante de sentir e ouvir a música? Talvez.
Mas quando Pedro Henriques os ouviu em Munique, teve a mesma sensação de corpo harmónico e plenitude acústica, e foi ainda mais longe: ‘Esta afinação não vai soar bem apenas com música moderna, os MM-500 devem ser bestiais também para jogos’, disse.
Ora, o que isto significa de facto é que Marroquin, ‘misturou’ o som dos MM-500 para agradar afinal a milhões de ouvintes em todo o mundo, tal como faz com as suas misturas de estúdio.
Assim, não admira que a Audeze tenha apresentado no High End 2023 os MM-100, um modelo mais acessível também afinado por Marroquin.
MM-500 e LCD-5
À primeira vista, que não ao primeiro ouvido, os MM-500 parecem-se com o topo de gama LCD-5. São ambos auscultadores circum-auriculares, planar-magnéticos abertos, que utilizam um transdutor circular de 90mm ativado por uma estrutura de ímanes (14 no total) apenas em um dos lados (single-sided Fluxor).
Mas as comparações acabam aqui. O diafragma do MM-500 é o Ultra-Thin Uniforce, tal como o dos LCD-X, e não o Nano-Scale Parallel Uniforce do LCD-5, embora ambos utilizem um guia de onda do tipo Fazor.
Meio quilo de som
Onde o LCD-5 utiliza carbono, o MM-500 utiliza alumínio e aço e, por isso, é também mais pesado (495 gr.) E, em termos elétricos, o MM-500 é mais sensível (100dB SPL) e tem uma impedância de apenas 18 ohm, compatível com a maioria dos bons amplificadores.
As almofadas forradas a pele (pode optar por camurça) são espessas e fofas, rodeando bem as orelhas sem as magoar. Mas a mola é demasiado tensa (deve ficar mais flexível com o tempo) e a cabeceira de cabedal é mais rígida do que o habitual e não é ventilada. Os eixos graduados de ajuste vertical são também idênticos aos do LCD-5, e são igualmente fáceis de ajustar.
O cabo entrançado protegido por PVC transparente é maleável, agradável ao tato e um pouco mais longo que o habitual na Audeze. O único cabo fornecido tem um Jack de 6,35mm e as fichas são do tipo mini-XLR. Por isso, só os pude ouvir com o meu Chord Hugo 2, que chegou bem para as encomendas.
A mala de proteção em plástico rígido não é propriamente portátil, mas é suficientemente leve para ser transportável.
De volta ao som da música
Voltando ao som, o MM-500 favorece a gama média, e por isso a primeira impressão é de extrema claridade e separação instrumental, com vozes presentes e ricas de informação, mas sem excesso de sibilância ou ênfase nas fricativas.
O MM-500 soa límpido e enérgico, mas também emotivo, bem ao gosto de Marroquin. Já escrevi que foi afinado para soar bem com música eletrónica, mas a música clássica acaba por ser também favorecida pela forma como o MM-500 reproduz os timbres sem colorações eufónicas.
Não os ouvi durante tanto tempo como teria gostado, mas os amantes de música clássica apenas vão sentir falta da ‘largura e profundidade do palco’, em comparação com os LCD-5, por exemplo. Mas pode sempre compensar isso com um pouco de ‘cross-feed’.
Os Audeze MM-500 são talvez os auscultadores que melhor reproduzem a sensação acústica de se estar a ouvir um bom par de monitores de estúdio no campo próximo.
Basta ouvir ‘Mr.Morale & The Big Steppers’, de Kendrik Lamar, o primeiro álbum no qual Manny Marroquin utilizou os MM-500 para fazer a mistura e vai perceber logo o que eu quero dizer por claridade das vozes (com muitos palavrões à mistura, claro), tensão do grave e impacto emocional.