A Audio Note é uma marca icónica conhecida pelos seus amplificadores a válvulas fabricados com rigor e arte no Reino Unido para os audiófilos mais exigentes. Fundada em 1987 por Peter Qvortrup, a Audio Note tornou-se sinónimo de qualidade de som e de refinada estética artesanal.
Com uma base de culto quase religioso de audiófilos e entusiastas, a Audio Note criou um nicho no mercado de áudio topo de gama e cimentou a sua reputação no campo da reprodução de som, impulsionada pela crença de que a ligação emocional entre o ouvinte e a música é de importância primordial.
Os amplificadores da Audio Note são assim concebidos com especial ênfase na preservação da riqueza, textura e nuances da gravação original para uma experiência de audição abrangente e realista.
A Audio Note oferece uma vasta gama de amplificadores a válvulas, desde modelos de entrada de gama até aos seus produtos de topo, como a famosa série Ongaku. Todos os amplificadores são concebidos utilizando uma combinação inovadora de tecnologias de válvulas e transformadores projetados para proporcionar a reprodução de som mais pura possível.
A Audio Note tem um sistema único e bem estruturado para categorizar os seus produtos com base na qualidade e desempenho. Este sistema abrange oito níveis, sendo que o Nível 0 e 1 (cablagem de cobre) é o nível de entrada e o Nível 7 representa o auge ao nível da construção e do desempenho (Ongaku, com cablagem de prata pura). De referir que o Ongaku integrado custa mais de 80 mil euros.
Audio Note Cobra – Nível 2
O Cobra é um amplificador integrado a válvulas push-pull que se situa no Nível 2 (cablagem de prata) na hierarquia da Audio Note. Oferece um som de alta qualidade com cablagem de prata utilizada apenas em pontos críticos do caminho do sinal e componentes e técnicas de construção de melhor qualidade, em comparação com os produtos de Nível 0 e 1 (Cobre).
O amplificador Cobra é assim uma opção mais refinada para os audiófilos que procuram estar sempre um passo à frente das ofertas de nível de entrada, mantendo um bom equilíbrio entre desempenho e custo.
O que é extraordinário é o facto de a topologia push-pull do Cobra não afetar em nada a expectativa da perceção daquilo a que se chama ‘Som Audio Note single-ended’. O segredo parece estar, pois, nos transformadores.
Veneno viciante
Nesta análise, vamos explorar o Audio Note Cobra, um amplificador push-pull a válvulas que utiliza pêntodos EL34, conhecidos pelo seu som rico e notável desempenho a um preço acessível. Quando ouvir música com o Cobra vai sentir como eu o ‘veneno’ viciante da sua musicalidade a correr-lhe nas veias.
O Audio Note Cobra tem 3 entradas RCA de nível de linha e, surpresa!, 3 entradas digitais (Coaxial/176, 2kHz, Toslink/96kHz e USB/48kHz). Também tem um terminal de terra, mas não pense que tem entrada Phono, é só para controlo de ‘hum’ de alguma fonte mais mal comportada eletricamente. Não é compatível com Bluetooth, mas o simples facto de se poder ligar fontes digitais a um amplificador a válvulas clássico já é de louvar.
16 bits à antiga
O chip conversor é o ‘velhinho’ D/A Philips TDA1543 de 16 bit. Embora as suas especificações digitais possam não impressionar atualmente, o que importa é a experiência de audição com este amplificador. Com os seus 27 watts por canal de potência ‘pentode push-pull’ de Classe A, o Cobra utiliza uma mistura de válvulas Electro-Harmonix EL34s de produção recente para o andar de potência; e NOS ( 2 x GE 6AU6 e 5670), que proporcionam um notável desempenho áudio a um preço acessível, no andar de entrada e de ganho. A corrente de polarização é regulada automaticamente.
Os transformadores de saída com núcleo em C são fabricados em exclusividade pela Audio Note e, como já disse, são o principal segredo da receita AN. Na fonte de alimentação, a retificação de corrente é efetuada por um circuito de estado sólido.
A caixa de metal preto tem o painel frontal inclinado, para facilitar a acessibilidade, ao mesmo tempo que lhe confere um toque de estilo simples e ficaz. O Cobra vem sem grelha de proteção, por isso tenha cuidado com as crianças, pois as EL34s aquecem bastante. Também é fornecido um controlo remoto para maior comodidade de utilização.
Compatibilidade Roon - mas não “Roon-ready”
Utilizei duas fontes digitais para esta análise auditiva: o meu leitor Oppo para CD/SACD, com o seu próprio DAC, ligado com cabos Transparent Audio (entrada analógica); e com uma ligação digital coaxial (também Transparent) para comparar o som do DAC interno do Cobra, que eu preferi quase sempre para minha surpresa: soou um pouco mais redondo, mas também mais cheio e com melhor textura.
Também experimentei a entrada USB, alimentando-o com ficheiros áudio do meu computador, ou correndo o Roon. Atenção: o Cobra não é Roon ready e surge identificado apenas como USB AUDIO DAC generalista. Mas reproduz tudo, incluindo ficheiros MQA a 352,8kHz. Faz downsampling para 48kHz e de 24 para 16 bit. E funciona perfeitamente com o protocolo Wasapi (ver foto). Tão bem, aliás, que eu adorei a doçura quente do som digital, sem aquela crista de brilho excessivo, que se confunde com informação.
Quando testei o Leitor-CD 4.1 x e o integrado P1 SE já tinha tido a mesma sensação de incrível naturalidade do som. Ou, como diz o próprio Peter Qvortrup:
Nem tudo o que se ouve, se pode medir; nem tudo o que se pode medir, se ouve…’. Quanto menos bits, melhor é o som: 16 bits chegam perfeitamente ‘if done right’!...
E ainda:
‘Our DACs measure like a bag of nails, but the sonic improvements are really quite considerable’
Recentemente, testei o amplificador SE Western Electric 91E, que custa 21 mil euros. Ora, nem toda a gente tem disponibilidade financeira para comprar um amplificador a válvulas deste preço. Mas nem por isso precisa de se privar da maravilhosa experiência acústica e emocional que é ouvir música reproduzida pela tecnologia de vácuo, pois o Cobra custa 'apenas' 5.490 euros, o que é barato pelos padrões Audio Note.
Prós e contras das válvulas
Já todos sabemos quais são as vantagens e desvantagens da utilização de válvulas: o som é mais quente, natural, rico e orgânico, em função do padrão típico de distorção de 2ª harmónica. Por outro lado, a baixa eficiência resultante da perda de energia sob a forma de calor; a potência limitada e a impedância de saída elevada resultam num fator de amortecimento mais baixo, logo com menor controlo sobre colunas de baixa impedância e sensibilidade, sobretudo no grave. E já nem falo nos custos de energia, até porque convém ligá-lo um pouco antes de começar cada audição.
Uma forma de Arte
Mas, acredite em mim, isto são tudo coisas de que se vai esquecer rapidamente, quando começar a ouvir música com o Cobra: pianos, vozes, guitarras, metais, cordas, sopros, teclas, tambores, tudo soa tão natural, tão palpável, que ficamos incrédulos quando as medições em laboratório nos provam que estamos a ouvir mais distorção do que seria desejável. Talvez por isso, eu um dia tenha escrito sobre os amplificadores a válvulas o seguinte:
“Ao traço definido e metódico, mas frio, do transístor, prefiro mil vezes a mão trémula do pintor de vácuo guiada pelo ardor da paixão; à precisão matemática dos ângulos e das perspetivas, prefiro a convivência caótica das linhas e a ambiguidade das sombras. A Arte não tem de ser a própria natureza ou a sua imitação fiel. A reprodução exata está limitada pela realidade. A Arte não.”
Eu sei o que estão a pensar: o objetivo da alta fidelidade é reproduzir e nada mais do que a verdade. Sim, mas o próprio disco começa logo por ser uma representação da realidade – não a verdade.
Oiçamos, pois, um pouco de Arte com o Cobra
Nota: O Cobra alimentou um par de colunas DeVore micr/O durante todo o período de análise.
Notas de audição
“Belafonte: Live At Carnegie Hall" foi gravado em 1959, quando as válvulas ainda reinavam no mundo do áudio doméstico e profissional. Belafonte faleceu recentemente, mas este marco histórico continua a ser uma das melhores gravações ao vivo alguma vez feitas - que apenas um amplificador de válvulas como o Cobra pode recuperar.
"Belafonte: At Carnegie Hall"
Uma verdadeira montra viva para os extraordinários talentos de Harry Belafonte, como cantor e contador de histórias. O Cobra transmite todas as subtilezas vocais, inflexões e nuances linguísticas, permitindo ao ouvinte apreciar a excelência da sua arte.
A capacidade do Cobra para reproduzir o ambiente ao vivo e a acústica do Carnegie Hall é também simplesmente impressionante, transportando o ouvinte através do tempo e do espaço para o Carnegie Hall.
"Salamander Pie"
Este álbum mostra as capacidades extraordinárias de Jay Leonhart como contrabaixista e as suas narrativas vocais perspicazes, cheias de humor e de espírito crítico, por vezes cruas e sarcásticas, sobre a vida quotidiana. O álbum é também uma montra para o pianista Mike Renzi, cujo talento acrescenta a narrativa musical às histórias de Leonhart.
O contrabaixo é reproduzido com notável clareza e precisão pelo amplificador Cobra. As linhas de baixo de Leonhart apresentam uma resposta de baixa frequência forte, focada e natural, demonstrando a capacidade do amplificador para lidar com as nuances e complexidades quase humanas deste instrumento vital, fazendo esquecer os limites físicos das pequenas Devore micr/O. O som rico e quente do contrabaixo complementa bem a voz de Leonhart, resultando numa apresentação harmoniosa e equilibrada.
"The Hunter"
Apresenta-nos a voz inconfundível de Jennifer Warnes, interpretando canções de vários compositores, que abrangem diferentes géneros como pop, rock e country. O álbum é conhecido pela sua excelente qualidade de produção, o que o torna na escolha ideal para avaliar equipamento de áudio.
Ao reproduzir o álbum através do amplificador Cobra, a voz de Warnes surge com uma clareza, calor e presença notáveis. Faixas como "Way Down Deep" e "I Can't Hide" demonstram a capacidade surpreendente do Cobra para reproduzir linhas de baixo sólidas e profundas.
Mais uma vez dentro dos limites de extensão das colunas Devore, o Cobra proporciona uma resposta de graves controlada e cheia de matizes, servindo de âncora à música e acrescentando profundidade à experiência de audição geral.
Fleetwood Mac - "Rumours":
A variedade instrumental e vocal de "Rumours" permite uma avaliação abrangente das capacidades do amplificador Cobra, que brilha, literalmente, ao reproduzir as harmonias e vocalizações exuberantes em faixas como "Go Your Own Way". Também o impacto emocional da música é intensificado na faixa "Never Going Back Again", uma vez que cada guitarra e voz são reproduzidas com um realismo impressionante. De facto, é difícil ‘voltar atrás’ depois de ouvir isto.
Produto: Audio Note Cobra integrated tube amplifier
Preço: €5,490
Distribuidor: EXAUDIO