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A 607 S3 é o modelo mais barato da Série 600 de entrada da Bowers & Wilkins, e também a melhor forma de ter umas colunas B&W sem ter de pagar o preço associado aos modelos de prestígio da marca.
Não tem, como é óbvio, o luxo e a qualidade de som das colunas da nova Série 800 D4. Mas, como dizem os anglo-saxões: you get what you pay for. E por 800 euros (já as vi à venda por 680 euros na JLM) não se pode pedir muito mais, tanto em termos de construção (design, acabamentos) como de conceção (altifalantes, filtros).
A concorrência é forte, por isso, a maioria das marcas (a B&W incluída) deslocaram a produção para a Ásia para baixar os custos e poder assim satisfazer uma faixa mais alargada de mercado.
Um produto desta qualidade custaria pelo menos o dobro se fosse fabricado em Worthing, como são ainda as Nautilus e os modelos da Série 800 D4.
Contudo, um preço de 800 euros não deixa de ser um esforço financeiro considerável para os jovens, que vivem em quartos apertados e são o principal alvo comercial.
O preço das 607 S3 subiu pouco mais de 100 euros, relativamente ao modelo que vem agora substituir, as 607 S2 Anniversary, que foi um sucesso de vendas, embora não tenha sido assim tão bem recebido pela crítica, que lhe apontava e com razão - algum excesso de agudos e falta de entrosamento.
Crítica e realidade
A crítica de áudio é um pouco como a crítica de cinema, na qual uma elite de escribas pagos à palavra desanca nos filmes de ação que os jovens gostam de ver, enquanto venera obras cinematográficas densas e chatas para intelectuais de meia-idade.
Ninguém pode acusar os ‘realizadores’ da Bower&Wilkins de não saberem fazer colunas com bom som, pois foram eles que ‘realizaram’ as Nautilus e as suas sequelas. Ideias e ‘know-how’ não faltam, meios técnicos para ‘realizar’ os projetos também não. É tudo uma questão de orçamento e prioridades. E a B&W sabe o que os jovens gostam de ouvir e podem comprar.
In medio virtus
É certo que as 607 S3 continuam a ter aquele ‘brilhozinho nos olhos’, que sempre caracterizou o som da B&W 600 Series. Contudo, o novo tweeter de titânio tem um som mais doce que o de alumínio; e o tubo de carga, inspirado nas Nautilus, é mais longo e reduz as ressonâncias internas, absorvendo mais eficazmente a onda traseira.
O som é regra geral mais entrosado, porque o altifalante de médio-graves (Continuum de 13 cm com motor reforçado) e o tweeter (de dupla cúpula com diafragma e anel de titânio, pela primeira vez em oito gerações) estão montados muito mais próximos um do outro; tão próximos, aliás, que apresentam até uma ligeira sobreposição.
O tubo de carga do sistema reflex é também mais longo, o que melhora a extensão do grave (não as encoste demasiado à parede, ou podem fazer pum-pum). Assim, as 607 S3 têm mais ‘baixos’ do que seria expectável de um corpo tão pequeno, e a gama média tem agora muito mais presença, corpo e ataque.
Mais graves significa também mais vibrações de caixa, pelo que a B&W teve o cuidado de reforçar também o travejamento interno, embora este não seja crítico numa coluna com apenas 30 x 16,5 x 20,7 cm.
Os bornes niquelados estão agora colocados lado a lado para facilitar a bi-cablagem (neste caso, não se esqueça de retirar os shunts); e os componentes do filtro também são de melhor qualidade, pelo que os 100 euros de subida no preço são mais que justificados.
Filme de ação
As 607 S2 tinham talvez ‘ação’ a mais no topo superior do espetro sonoro, e soavam demasiado vivas. Mas é assim que a malta nova gosta de ouvir música, porque foi assim que educaram os ouvidos: a ouvir o som de auscultadores portáteis e telemóveis. Já a minha geração foi educada a ouvir o som BBC, com ênfase na gama média e não no agudo e no grave.
Tal como na política, é ‘ao centro’ que se ganham as eleições. Talvez por isso, as novas 607 S3 tenham agora um equilíbrio tonal mais consensual para agradar tanto aos jovens radicais como aos menos jovens conservadores e moderados.
Peso-pluma
Habituado como estou a ouvir colunas de elevado calibre (no peso, no tamanho e no preço), as 607 S3 são do tipo ‘peso-pluma’ (pesam menos de 5 Kg cada), mas gostei do design simples e do acabamento em negro mate integral, incluindo a grelha, que nunca utilizo. Pode optar ainda por branco ou cor de madeira natural (carvalho) com painel frontal cinza num agradável jogo de contrastes tonais.
A impedância nominal é de 8 Ohm, mas baixa para menos de 3 Ohm aos 200 Hz e a sensibilidade de 84 dB é relativamente baixa. Para melhorar o equilíbrio tonal foi preciso baixar a impedância (reforçando o o grave) e baixar a sensibilidade (domando o tweeter), pelo que convém casá-las com um amplificador com boa capacidade de corrente (amperes, não necessariamente watts).
Já não tenho comigo o delicioso Musical Fidelity A1, com o seu sotaque britânico de Classe A, mas tenho o pequeno Naim NAIT 50th Anniversary, e elas gostaram da companhia do seu famoso compatriota. Contudo, o coreano e mais poderoso HiFi Rose RS520 cumpriu também com garbo a tarefa de lhes dar música. Nem era preciso tanto. Um NAD ou um Marantz dentro da mesma gama de preço é quanto basta, aposto.
O som é vivo, aberto, dinâmico, muito transparente e informativo, e tem um ataque surpreendente.
As B&W 607 S3 não são ‘colunas audiófilas’ tout court, como o são as Sf Concertino (originais), que tenho aqui comigo. Mas são mais modernas no design simples e no som, vivo, aberto, dinâmico, muito transparente e informativo, e com um ataque surpreendente para umas colunas tão pequenas.
Têm, claro, as limitações impostas pelas leis da física em termos de extensão do grave (52Hz – 6dB, relativo a 200Hz) e de pressão sonora máxima possível. Mas o tubo reflex foi sintonizado para dar um agradável ênfase ao grave, compensando assim a vivacidade do tweeter.
Se puxar muito por elas, o som pode endurecer um pouco (os pianos, por exemplo). Nada de muito grave, passe a expressão, porque nunca são aborrecidas de ouvir.
You Got Me, baby!
A voz de Adam Naas, em You Should Know (Brothers and Sisters), não soou com o corpo e estrutura tonal a que estou habituado, mas reproduziu bem o ritmo ‘soul’ sublinhado pela percussão com acentos vivos e cintilantes de metal.
You Got Me, por Colbie Caillat, fez jus ao título, embalando-me no espírito pop com laivos de country, num jogo melódico de voz e guitarras com a bateria a marcar o tempo sobre uma base razoavelmente sólida de baixo.
E, quando eu pensava que o baixo era ‘de uma nota só’, eis que Inge Marie Gundersen fez a pergunta que me bailava na mente: Will You Still Love Me Tomorrow?, com o piano, a bateria e o baixo bem definidos e com boa articulação. Pois pode ter a certeza que, se as comprar hoje, amanhã vai continuar a gostar das 607 S3...
Seguiu-se A walk On the Wild Side, por Lou Reed, Another One Bites the Dust, pelos Queen e Fifty Ways To Leave Your Lover, por Paul Simon (ah, aquela bateria!). Foi você que pediu uma boa dose de sentido rítmico?
Não esquecer que, embora tenham sido aqui utilizadas como par estéreo principal, em última análise as 607 S3 foram concebidas como satélites traseiros de um sistema multicanal da série 600. Portanto, não espere que se portem com uma coluna-de-chão full range. Mas, se as ouvir nos escuro, elas enganam bem…
Há hoje no mercado muitas colunas que fazem concorrência às 607 S3, pelo que sugiro uma audição comparativa, antes de qualquer compra. Mas se a marca B&W é importante para si e o seu orçamento não vai além de 1000 euros: this is it!
Para mais informações, contacte a Sound United