A designação anglosaxónica ‘follow-up’ aplica-se normalmente quando o crítico de serviço ‘revisita’ um produto que foi entretanto melhorado, ou pretende esclarecer alguns aspectos que não tenham ficado claros na primeira abordagem.
Ora, eu nunca testei o leitor de rede Cambridge Azur 851N, portanto esta não podia ser uma ‘critica de continuidade’, mas antes a utilização do trabalho já realizado na apreciação em profundidade do leitor de rede Cambridge CXN, cujo teste podem – e devem – ler aqui, se ainda não o fizeram, pois é fundamental para a compreensão deste artigo e sempre evita que eu me repita.
E isto porque tudo o que então escrevi sobre o CXN se aplica integralmente ao Azur 851N. Com os olhos tapados, nada parece ter mudado de substancial. Já com os ouvidos bem abertos, a conversa é outra…
Porquê, então, perder tempo quando o CXN se pautou na ocasião como um ‘Best Buy’?
Bom, o Azur 851N veio parar-me às mãos via o meu filho Pedro Henriques, e eu não resisti a ‘dar uma voltinha’ para concluir que se o CXN era – e é – um ‘best buy’ o 851N é um ‘best sound’, isto se a minha memória auditiva não me falha. Daí, apeteceu-me partir à descoberta: e só isso justifica pagar um pouco mais de 500 euros em relação aos cerca de mil euros do CXN?
Bom, o 851N tem uma construção mais robusta (e menos elegante, diga-se) e mais saídas digitais: dupla coaxial e óptica, tripla entrada USB; e conexão AES/EBU XLR que o CXN não tem, além da mais importante para mim: Ethernet para ligar ao meu NAS Synology com 800 ficheiros áudio de alta resolução.
Mas continuam ambos a não ter entradas analógicas (se é que alguém as utiliza hoje em dia) e – incompreensivelmente – nem saída para auscultadores o que, tendo em conta a qualidade do circuito de conversão D/A, era uma importante mais-valia. Pensei que era desta...
Há também quem diga que o sistema operacional é mais rápido. Não posso confirmar nem desmentir. O que vos garanto é que a opção por conversores D/A da Analog Devices 24-bit em modo diferencial, no lugar dos Wolfson, foi quanto bastou para tornar o som mais carnudo e natural, melhorando ainda no departamento rítmico e na ‘impactância’ do grave que é agora mais autoritário e dominador.
A separação estéreo e estabilidade e solidez da imagem são também mais notórias. O som de uma maneira geral tem mais cor (não confundir com ‘colorido’) e textura e o detalhe está bem incorporado no corpus sonicus, tal como o álcool num bom vinho: só se sente o efeito quando o engenheiro de som abusa do gargalo. Ora a culpa não é do vinho é de quem não sabe beber…
A sensação de ausência de jitter está ao nível do actual estado da arte a preços exorbitantes, o que vale bem os 500 euros.
O 851N oferece ainda a possibilidade de optar por três tipos de filtros digitais: Linear, Minimum Phase e Steep. Num osciloscópio, as diferenças são bem óbvias ao nível da resposta impulsiva e em frequência; na audição já não são assim tão óbvias. Ao fim de uns dias de experiências, vai acabar por preferir um deles, e esquecer. Foi o que eu fiz: optei pelo Min e não mexi mais.
Se foi na minha conversa, e comprou o CXN, neste momento não deve estar nada arrependido. Se o revendedor (ou o distribuidor Support View) for na sua conversa e lhe proporcionar um upgrade para o 851N, não hesite. Pode ser mais do mesmo, mas agora vem com uma cereja no topo do bolo acústico…
Se o CXN tinha o mestrado, o Azur 851N é doutorado em redes digitais pela Universidade de Cambridge.