JVH deixou-se enfeitiçar pelo canto desta sereia escandinava, um ser híbrido de voz melíflua, capaz de atrair mesmo os audiófilos mais exigentes.
A Copland é uma marca dinamarquesa discreta, especialista em amplificação a válvulas, que só lança modelos novos ‘quando o rei Ole faz anos’.
A Copland é a obra de uma vida ao serviço do áudio de Ole Moller, e é 100% dinamarquesa: desenho, produção e montagem. Nos anos 80, chegou a ser associada da Primare.
Hoje é uma empresa orgulhosamente só, no bom sentido de quem tem uma filosofia própria e a quer manter, sem modas ou seguidismos, mas com pragmatismo escandinavo.
Ole Moller, 30 anos de experiência
Por 'modas', entenda-se, por exemplo, que Ole Moller considera as válvulas superiores aos transístores, mas não enjeita a aplicação destes quando se justifica, como é o caso do CSA100; por seguidismo, entenda-se que não utiliza soldadura ponto-a-ponto, pois considera que as placas de circuito são mais práticas e cumprem bem a sua função; por pragmatismo, Ole Moller não hesita em utilizar no CSA100: válvulas, transístores (FEt e bipolares) e um DAC, embora a Copland seja mais conhecida pelo purismo do vácuo, nos seus amplificadores integrados analógicos, como é o caso do notável CTA408 e CTA405, apresentados no Highend 2018.
A Copland já tinha utilizado a tecnologia híbrida há 20 anos, no integrado CSA28 (que faz lembrar o Cello La Palette), mas não tinha saída para auscultadores, e muito menos DAC, claro.
Para ser um moderno tudo-em-um, ao CSA100 só falta a função de Streamer, que eu supri, servindo-me do computador.
Nota: a função de streaming via Bluetooth aptX está disponível como opcional.
E, já agora, um andar de Phono MC, além do MM.
Nota: não tenho giradiscos, pronto já disse!, pelo que não testo habitualmente andares de phono. Aqui fica o reparo e o pedido de desculpas aos indefetíveis cultores do vinilo de 180 g, que está outra vez na moda. Só faltam as calças ‘à boca de sino’...
Copland CSA100
O CSA100 iria ter honras de apresentação mundial no Highend 2020 (cancelado devido ao Covid19), pelo que, tal como acontece hoje no futebol, exibiu-se sem público via internet, e só agora chegou às minhas mãos.
Trata-se de um amplificador integrado híbrido de 100W/8 ohm (+180W/4ohm), que utiliza uma única válvula (duplo tríodo) no primeiro andar de ganho para atacar um andar de potência de estado sólido.
A válvula singela trata exclusivamente do ganho de tensão para garantir a máxima linearidade à partida, passa o testemunho para um circuito de AMOS-FET, que ataca por sua vez o andar de potência bipolar e o circuito de realimentação.
O sinais digitais que recebe pelas entradas coaxial, ótica (2x) e USB são descodificados por um DAC ‘Sabre’ ES9018 Reference 32-bit, compatível com PCM384kHz e DSD256. Compatibilidade confirmada em pleno, nos testes.
Nota: Não é compatível com MQA ou Roon, mas funciona na perfeição via descodificador MQA integrado da Tidal (máx 96kHz) e via System Output da Roon.
O painel traseiro tem entradas RCA Phono, 3 X não-balanceadas, 1 x XLR balanceada; saída de prévio (variável), Tape (fixa).
O Copland CSA100 é integralmente construído em metal, à exceção dos pés de suporte, com um painel frontal em alumínio sólido de 10mm, anodizado a negro (pode optar pela cor natural).
A marca Copland está gravada em profundidade na placa (um pormenor de requinte), onde pontificam três aberturas circulares, que albergam: ao centro, a roda de leds e o respetivo lettering identificativo das fontes, que são selecionadas pelo botão rotativo à esquerda; do lado direito, numa posição simétrica, o controlo de volume contínuo calibrado em dB – de 0 a 70.
A única diferença de lay out entre este integrado híbrido/DAC e os ‘analógicos’ puros reside no pequeno botão rotativo que seleciona as fontes digitais: Bluetooth (opcional), coaxial, ótica (2 x) e USB.
Como todos os amplificadores que utilizam válvulas, há um breve tempo de espera (35 s) entre ‘ligar’ e ‘tocar’, enquanto os filamentos do duplo tríodo aquecem.
O que já é menos usual é este circuito valvulado implicar a inversão de fase na saída. Se é sensível à fase absoluta, inverta a ligação de fase de ambas (ambas!) as colunas.
Eu acho que sou sensível, mas sinceramente não ouvi diferença nenhuma; e se a há depende muito dos discos: a hipótese de serem gravados em fase absoluta – no todo ou em parte - é fifty-fifty, portanto metade das vezes está certo (ou errado), tal como todos os outros.
Potência para dar e vender
A potência imediatamente disponível, quando se ‘toca’ no acelerador (ou remoto), mesmo que ao de leve, denuncia logo que o CSA100 não é um amplificador a tríodos. O meu colega Paul Miller mediu 715W/1 ohm (!), em condições dinâmicas, pelo que o CSA100 está aí ‘para as curvas’ com qualquer coluna de som, incluindo as Magico A1, como pude comprovar. Nota: teste das A1 em progresso.
O CSA100 é um amplificador integrado de elevada potência e baixa distorção analógica (de 2ª harmónica) e jitter digital ao nível do estado da arte (20 psec!).
Luminosidade binaural
Além da energia, o som tem uma luminosidade interior que favorece a gama média, conferindo-lhe estrutura e textura e, sobretudo, uma ‘espacialidade’ quase holográfica, que torna as audições uma experiência física e emocional, como num jogo imersivo, no qual os músicos parecem surgir do nada, a partir de mundos paralelos, que se multiplicam ao gosto do engenheiro de som encarregado da mistura.
…o som tem uma luminosidade interior que favorece a gama média, conferindo-lhe estrutura e textura e uma ‘espacialidade’ quase holográfica…
Esta incrível característica holográfica é extensível ao andar de saída para auscultadores e manifesta-se de uma forma que classificaria de quase binaural.
Deixem-me dar-lhes um entre muito exemplos possíveis, disponível na Tidal, contrariando a tendência da crítica para se socorrer de discos físicos raros e exclusivos, a que poucos têm acesso: L.O.V.E. por Nat King Cole.
Nota: opte pela versão original, há uma versão remastered em MQA, que não me parece tão bem conseguida.
Jogar em profundidade ou na ‘lateralidade’
Hoje em dia, é possível recriar na mesa de mistura uma ilusão perfeita de profundidade. Nos anos 50, a maior parte dos registos eram em mono, e as versões estéreo eram mais do tipo duplo-mono, buscando-se antes o efeito de ‘lateralidade’: o cantor era colocado ao centro e tudo o resto era dividido pelo canal direito e esquerdo, ficando os músicos amontoados em campos opostos.
Neste caso, temos Nat ao centro, o piano e os naipes de cordas à esquerda; e os metais, contrabaixo e bateria (pedal de pratos ou chimbau) à direita. Mas o que é mais notável é que o circuito de amplificação de auscultadores do Copland CSA100 nos permite apreciar de uma forma notável o ‘engenho’ secreto do engenheiro de som.
L.O.V.E. com ‘distanciamento social’
Nas gravações atuais, temos ‘planos de profundidade’: os críticos referem-se muito a esta ilusão de espacialidade virtual. Em L.O.V.E. temos ‘planos de lateralidade’, com cada instrumento ou grupo ocupando o seu espaço próprio, com mais ou menos ilusão de afastamento do ouvido direito (e esquerdo), sem nunca se atropelarem.
Até a DGS iria aprovar este ‘distanciamento social’…
…se não gosta de ouvir com auscultadores, porque os sons parecem estar todos dentro da sua cabeça, experimente o Copland CSA100…
Já ouvi isto dezenas de vezes com auscultadores, e nunca tinha ouvido esta separação de forma tão definida: no canal direito, a trompete está mais próxima e presente e rouba o palco ao chimbau, tendo atrás (neste caso, um pouco mais à direita e acima) os trombones de vara, enquanto o contrabaixo tem uma posição menos definida, mas não menos importante, no contexto rítmico; o restante naipe de metais ocupa a extrema direita e a posição do chimbau é, no final, ocupada pela tarola ou caixa com uma precisão milimétrica e um ataque impressionante.
Se não gosta de ouvir música com auscultadores, porque os sons parecem estar todos dentro da sua cabeça, deve a si próprio esta experiência de audição com o Copland CSA100: vai dar consigo a abrir os braços para ‘mostrar’ aos amigos a posição onde julga estar a ouvir os instrumentos…
Que outros colegas críticos, antes de mim, tenham ignorado, ou apenas referido en passant o amplificador de auscultadores do Copland CSA100, como se fosse mais um ‘add on’ sem importância, leva-me a colocar uma dúvida pertinente: terão, de facto, ouvido com atenção?
Com auscultadores abertos, como os Hifiman HE1000, este efeito é ainda mais espetacular. Já tinha testado os Hifiman Ananda, com um amplificador dedicado Copland DAC215. Mas nada me tinha preparado para esta notável performance do CSA100.
Da potência que sobra ao crossfeed virtual
O amplificador de auscultadores Copland CSA100, além de potência de sobra (talvez o mais potente que ouvi até hoje, really!), parece ter integrado um circuito de crossfeed muito eficaz, que não é referido em lado nenhum nas especificações, talvez porque afinal não existe, e é antes a excecional separação estéreo do CSA100 que produz este efeito.
A verdade é que esta ‘amplidão’ também está patente, ainda que em menor grau, na reprodução com colunas de som, que eu designo como um ‘efeito’, à falta de melhor palavra, mas é tudo menos um ‘defeito’.
… a sensação de you are there, pour me another drink, please, que se experimenta com Mary Stallings At the Village Vanguard…
O Copland CSA100 sabe distinguir ‘holograficamente’ o que é artificial do que é natural: a ambiência eletrónica, por exemplo, em faixas como Hey, Now, ou If You Want, dos London Grammar; da ambiência natural de Belafonte At The Carneggie Hall; ou a atmosfera mais intimista dos concertos para violino de Haydn, por Isabelle Faust e a Orquestra de Câmara de Munique, ao mesmo tempo que nos entrega incólume o timbre único do Stradivarius ‘Sleeping Beauty’, de 1704, que ela toca magistralmente; ou ainda aquela sensação de you are there, pour me another drink, please, que se experimenta com Mary Stallings At the Village Vanguard.
Just because
E ainda, a mistura natural/artificial de Because, do álbum ‘Love’, cantado pelos Beatles em harmonia vocal, acompanhados apenas pelo canto dos passarinhos, bater de asas de pombas, o zumbido das abelhas na sua doce labuta diária e o vento que sopra suave nas árvores, e me transporta em memória para o fantástico espetáculo que dá o nome ao disco, a que assisti no Mirage, de Las Vegas, com som ultrasurround envolvente.
DXD e DSD
Uma última palavra para a excelência do DAC do CSA100, sobretudo com ficheiros de muita resolução DSD e DXD via JRiver: das improvisações para piano de Ola Gjeilo em DXD 352kHz, ao final da 1ª Sinfonia de Mahler, pela Filarmónica de Budapeste, em DSD256. Sem mácula.
Nota: com Windows tem de instalar a driver Asio Amanero Combo 384.
Ole Moller conseguiu resolver com o Copland DCS100 (3.950€) a difícil equação entre a luminosidade intrínseca das válvulas e o ataque e poder dos transístores, sem afetar as qualidades ‘organolépticas’ que caracterizam ambas as tecnologias de amplificação, fazendo sombra a concorrentes próximos, com características semelhantes, como o excelente Cambridge Edge A (5.950 €).
Facebook - video de apresentação por JVH
Produto: Amplificador integrado híbrido Copland CSA100
Preço: 3.950 €
Distribuidor: IMACUSTICA