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Dali iO12 – o melhor de dois mundos

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Eu sou um audiófilo da velha guarda e, embora tenha rapidamente adotado o digital e o streaming, continuo a preferir auscultadores com fios a auscultadores wireless. Os Dali iO12 oferecem ambas as soluções num único pacote. A escolha é sua.

Até agora, os auscultadores sem-fios e com ANC de que mais gostei foram os Focal Bathys (€800), que ganharam um prémio Hificlube em 2023. Mas para quem está habituado a ouvir auscultadores abertos planarmagnéticos e eletrostáticos topo de gama de 3 mil euros, é um desafio aliciante testar os Dali iO12 Wireless Headphones, dinâmicos e fechados, que custam apenas €999.

Apesar de a Dali não ser um fabricante especializado em auscultadores, ainda que tenha dois modelos (iO4 e iO6) no catálogo, os novos Dali iO12 são apresentados como sendo de categoria HighEnd, com características que os distinguem da concorrência, como o funcionamento em modo passivo total.

Incluem ainda os seguintes acessórios:

  • Bolsa de transporte rígida
  • Cabo USB-C de 1,2m para carga e USN-Audio
  • Cabo de 1,2 m com mini Jack stereo
  • Cabo de 3,0 m com mini Jack stereo
  • Adaptador de Jack de 3,5 mm para 6,3 mm
  • Adaptador para Jack duplo de avião.

Ser ou não ser Highend, eis a questão

A designação de qualidade Highend é como a água benta: cada qual toma a que quer. Mas a Dali garante que os iO12 são de qualidade highend em tudo: na construção, na tecnologia e no som. Contudo, a prova do algodão reside na qualidade do som: o aspeto mais importante de qualquer análise crítica. Cabe-me assim a mim confirmar ou infirmar esta audaciosa declaração, num mercado onde se degladiam marcas de auscultadores realmente Highend como a Audeze, Focal, Hifiman, Meze e Stax, só para citar algumas.

Todos os botões de controlo são físicos e estão montados no auricular direito.

Todos os botões de controlo são físicos e estão montados no auricular direito.

1. Construção, design e materiais

Os Dali iO12 não têm um app de controlo, ao contrário dos Bathys. Todos os botões de controlo são físicos e estão montados no auricular direito. O anel interior controla o volume: toque no topo para subir; em baixo para descer. Ao centro, toque uma vez para play/pause, duas para avançar a faixa, três para retroceder. Só consegui utilizar estes controlos no modo Bluetooth.

No anel exterior, ao alcance do polegar, estão montados os botões de pressão para a única igualização possível: Bass e HiFi (flat); e On/Off, ou Ativo/Passivo. O botão ANC (redução ativa de ruído) fica do lado oposto, numa posição esquisita, mas ainda assim ao alcance do indicador ou do polegar: On/Transparency/Off.

Nota: o modo Transparency permite a audição clara de anúncios públicos em aeroportos ou nos aviões e comboios, mesmo quando se ouve música alto.

A ativação dos diferentes modos é anunciada em inglês por uma voz masculina, demasiado alta. Ao fim de algum tempo, torna-se irritante por ser desnecessária. E não se pode desligar? Parece que não.

No anel exterior do auricular direito, estão ainda montados os ‘leds’ piloto da bateria e do modo Bluetooth, e a entrada USB-C, pois a entrada do cabo analógico/Jack é o único componente a residir no auricular esquerdo.

As almofadas são basculantes para facilitar o ajuste vertical mas o formato é retangular (quase quadrado)

As almofadas são basculantes para facilitar o ajuste vertical mas o formato é retangular (quase quadrado)

Chocolate negro e macio

Os Dali iO12 apresentam-se na cor única de chocolate negro, e o ‘design’ é de uma simplicidade desarmante: sem molas à vista e suspensões metálicas complexas do tipo geringonça. Apenas uma cabeceira forrada de pele, com mola interior e duas hastes deslizantes de alumínio dourado para ajuste personalizado, enquanto o suporte das cápsulas em plástico rígido é pivotado para permitir o ajuste lateral.

As almofadas são basculantes para facilitar o ajuste vertical, mas o formato é retangular (quase quadrado), uma opção estranha para um modelo que se pretende circumaural. Quem tem orelhas grandes terá alguma dificuldade em acomodá-las no interior das almofadas. As minhas orelhas são de tamanho médio e as almofadas servem à justa, mantendo embora a selagem acústica, a qual é muito importante para a correta reprodução dos graves dos auscultadores.

As almofadas podem ser facilmente substituídas, e são forradas de pele macia e genuína, ao contrário das da concorrência, que utilizam pele sintética e começam a pelar ao fim de pouco tempo. Sobretudo, quando se vive em climas húmidos, ou perto do mar: os meus Hifiman, já vão no terceiro par de almofadas e parece que sofrem de psoríase.

Os iO12 colocam-se e retiram-se da cabeça com gestos simples, são muito confortáveis durante horas, embora não sejam dos mais leves e isolam as orelhas do ruído exterior, mesmo sem o ANC ativo.

Nota: as almofadas são da mesma espessura atrás e à frente, mas uma pequena bossa na parte inferior traseira das almofadas promove o isolamento junto à protuberância occipital externa.

Só pela qualidade de construção, os Dali iO12 já mereciam ser considerados Highend.
Os altifalantes dos Dali iO12 utilizam tecnologia de ponta: SMC (Soft Magnetic Composite

Os altifalantes dos Dali iO12 utilizam tecnologia de ponta: SMC (Soft Magnetic Composite

2. Tecnologia

Altifalantes

A unidade full-range de 50 mm, com cone rígido de polpa de papel, continua a tradição da Dali de fabricar altifalantes de baixa distorção e coloração e boa resposta dinâmica, sem compressão. Mas um dos maiores avanços destes auscultadores é a utilização de SMC (Soft Magnetic Composite). O SMC, um material sintético não-condutor eletricamente, mas muito condutor magneticamente, é utilizado em todas as peças dos motores dos seus altifalantes para reduzir a distorção causada por correntes parasitas, com exceção do diafragma e dos ímanes de neodímio-ferro-boro.

Ou seja, os Dali iO12 utilizam tecnologia originalmente desenvolvida para as colunas topo de gama Kore (Ver Artigos Relacionados no final). Ser mais Highend do que isto seria difícil.

Amplificação

Os Dali iO12 são auscultadores sem-fios ativos (e também passivos, já lá vamos). A amplificação está a cargo de dois amplificadores de Classe D em ponte, concebidos para responder às exigências de elevada eficiência, baixa distorção e longa duração da bateria (+35 horas).

Conectividade

Pode ligar os Dali iO12 de quatro maneiras diferentes:

  • Bluetooth
  • USB-C (96kHz-24 bit)
  • Cabo/Jack de 3,5mm em modo ativo (DSP, ANC e Bass)
  • Cabo/Jack de 3,5mm em modo integralmente passivo

3. Qualidade de som

Com Bluetooth, acho que algo se perde ‘na tradução’, mas ultimamente a evolução deste protocolo de transmissão tem sido notável: longo alcance e maior estabilidade e transparência.

O Bluetooth dos Dali iO12 tem as limitações que todos conhecemos, apesar de utilizar aqui os codecs aptX-HD mais avançados. Mas o som é macio, cheio, apenas com alguma falta de transparência, quando comparado com a ligação USB-C. E com cabo/jack em modo ativo, a resolução máxima é de 48kHz–24 bit, porque o sinal analógico tem de ser convertido primeiro para digital (DSP).

Assim, a melhor qualidade de som obtém-se com USB-C em modo ativo (96kHz-24 bit); e cabo/jack em modo passivo, dependendo da qualidade do DAC externo, claro. Neste último modo, não há gasto de bateria (DSP, ANC e Bass desativados) e o sinal analógico passa apenas por um filtro passivo.

Nota: Sem música, o cabo analógico (Jack) revestido a tecido produz um ruído ao roçar na roupa, ou ao deslizar os dedos pelo cabo, como nas cordas de um contrabaixo, que é depois amplificado passivamente pela cápsula do auscultador esquerdo. Quando a música está a tocar, é quase impercetível. Mas continua lá e, se isso o incomoda, substitua o cabo que acompanha os auscultadores por cabo revestido de material plástico. É remédio santo!

4. Audições

Ouvi os Dali iO12 ligados ao meu Samsung S23 Ultra via Bluetooth (aptX-HD) e também via USB-C, utilizando como fonte o streaming da Tidal: não só o som da música, mas também o das chamadas telefónicas foi sempre de grande qualidade. Ainda via cabo USB-C/A (fornecido), e utilizando o JRiver como media player, liguei-os ao meu PC para ouvir ficheiros de alta resolução; e depois liguei-o com cabo USB C/A ao meu Hifi Rose RS520, que o reconheceu imediatamente e produziu os melhores resultados com esta ligação digital (96kHz-24 bit).

Ouvi os Dali iO12 ainda com cabo analógico e o adaptador fornecido de Jack de 3,5 mm para 6,3 mm, tanto no modo ativo como passivo, alimentados pelos amplificadores/DAC da iFI Audio Zen 3 e Diablo 2 e ainda com o adorável iFI Go bar Kensi (Jack 3,5mm).

Como já referi, no modo ativo, o sinal analógico fornecido pelo DAC externo é redigitalizado pelo DAC interno (48kHz 24 bit) para se poder aplicar o processamento digital (DSP), a redução de ruído (ANC) e a igualização (Bass).

O DSP é automático (não há um App de controlo e igualização) e confere ao som um efeito semelhante ao dos circuitos cross feed (mais espacialidade, e também mais grave, mesmo sem o modo Bass ativado). A gama média tem mais corpo e é mais presente e projetada. Com o modo Bass ativado, o grave ganha quantidade, mas perde qualidade, porque o filtro, centrado nos 70Hz, afeta todo o espetro entre os 30 e os 200Hz. Ouvi quase sempre em modo HiFi.

O modo ANC é dos mais discretos que já ouvi e reduz apenas parte do ruído exterior, sobretudo sons graves e contínuos, sem afetar demasiado o som da música. Há auscultadores, cujo sistema de redução de ruído é muito mais eficaz, mas deita o bebé fora com a água suja do banho. Não é o caso dos Dali iO12.

No modo passivo, poupa-se na bateria, mas perdem-se todos os efeitos do DSP, ANC e Bass e os controlos de volume, avanço e retrocesso. Em contrapartida, a qualidade de som é excelente e ao nível do melhor que já ouvi com auscultadores dinâmicos fechados.

Faixas selecionadas

Ouvi mais de 50 faixas de álbuns variados, sempre com grande prazer auditivo. Mas a morte recente de Fausto Bordalo Dias, impõe-me a justa homenagem de apenas referir ‘Por Este Rio Acima’ (1982), uma obra-prima da música popular portuguesa inspirada na ‘Peregrinação’, de Fernão Mendes Pinto.

O álbum combina elementos do Fado e da música folclórica portuguesa e de influências africanas, com grande complexidade lírica, melódica e, sobretudo, rítmica, com arranjos musicais elaborados, e utilização de instrumentos de percussão tradicionais, flautas, guitarras, piano, etc.

A voz de veludo de Fausto carregada de emoção e os coros masculinos, femininos e mistos guiam-nos numa produção tão luxuriante como as paisagens tropicais que a obra evoca.

Esta é uma obra de essencial da discografia de Fausto, sendo de audição obrigatória, tal como os auscultadores Dali iO12, que me trouxeram Fausto de volta.

RIP

Conclusão

Eu, JVH, confirmo que a declaração da Dali Audio de que os auscultadores Dali iO12 são um produto de categoria Highend é verdadeira: na qualidade de construção e de materiais, na tecnologia e na qualidade de som (modo passivo). São assim fortemente recomendados e apresentam-se já como o primeiro candidato ao prémio Hificlube de Auscultador sem fios do ano 2024.

Dali iO12 pads

Todos os botões de controlo são físicos e estão montados no auricular direito.

As almofadas são basculantes para facilitar o ajuste vertical mas o formato é retangular (quase quadrado)

Os altifalantes dos Dali iO12 utilizam tecnologia de ponta: SMC (Soft Magnetic Composite


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