Vamos começar pelo fim.
O Bartók é o melhor DAC/Streamer/Headamp que eu já testei. Ponto. Mas é também o mais caro: 14.500€. E nem por isso é isento de crítica. Portanto, se continuar a ler esta análise, está por sua conta e risco, porque, no final, a tentação de o comprar é irresistível…
Bartók é o melhor DAC/Streamer/Headamp que eu já testei. Ponto. Mas é também o mais caro: 14.500€.
Confesso que o Bartók já tinha estado chez JVH. Só que não me entendi com a App de controlo que, além de mal concebida, não me dava acesso ao MQA da Tidal. Com Roon funcionava bem, garantiram-me na Imacustica, mas eu não utilizo a Roon; e, além disso, nunca tive problemas com o acesso a MQA/Tidal mesmo com streamers de baixo custo da iFI e da Pro-Ject.
Entretanto, a dCS anunciou a plataforma universal Mosaic, em Munique, para substituir as múltiplas Apps individuais dos diferentes modelos e, quando Raveen Bawa, Director de Vendas da dCS, nos visitou, por ocasião da exibição das Wamm, na Imacústica, mostrou-me as vantagens da nova aplicação, que é mais rápida, completa, intuitiva e fácil de utilizar.
Na ocasião, tive a oportunidade de ouvir o Bartók integrado num sistema fabuloso, com umas colunas que conheço bem – as Wilson Audio Sasha DAW – com amplificação DarTZeel e selecção musical de Raveen e Alan Sircom (que gosta de ouvir música electrónica a abrir). Embora o Bartók não estivesse a atacar directamente os novos DarTZeel NHB-468, era audivelmente óbvia a importância do seu papel no conjunto, fornecendo um sinal analógico puro ao prévio da DarTZeel.
Primeiro tudo-em-um da dCS
O Bartók é o primeiro tudo-em-um da dCS, incluindo Streamer (ou Network Renderer=leitor de rede), DAC, prévio-de-linha (pode - e deve - ligá-lo directamente ao amplificador), ao qual se juntou, como opção (obrigatória, digo eu), um amplificador dedicado de auscultadores, com saídas simples (Jack) e balanceada (XLR 4 pinos).
Trata-se de um produto complexo e sofisticado, que substitui o Debussy, aproveitando a efeméride do 30º Aniversário da dCS. O Bartók utiliza a mesma tecnologia de ponta digital dos modelos Rossini e Vivaldi. Apesar do preço elevado, não se pode assim considerar caro pelos padrões dCS, pois responde a todas as solicitações de reprodução musical dos tempos modernos, com um nível de performance técnica e sonora insuperável (as medidas obtidas em laboratório pelo meu colega Paul Miller, da Hi-Fi News, disponíveis na internet, são ao nível do estado-da-arte absoluto).
Arrisco mesmo dizer que o DAC é tão bom quanto o dos topos de gama da dCS, embora uma afirmação tão ousada obrigasse a uma comparação A/B, que aqui foi feita de memória, logo é tão subjectiva quanto falível.
O Bartok mede bem e soa bem.
Teria sido para mim fácil escrever: é o melhor! Porque é. E ficar por aqui. O Bartók é pelo menos o melhor que eu já testei, pois deixo sempre a porta aberta para o futuro. Mas para mim 'analisar' é ir ao fundo da questão para poder informar os leitores em consciência.
Aliás, o Bartok é à prova de futuro: basta fazer os updates disponibilizados online ou em CD. Para já é compatível com todos os formatos conhecidos, incluindo PCM 24bit-384kHz, DSD128 e MQA; permite streaming via Ethernet a partir de um NAS ou serviços de música online como a Tidal, Qobuz e Spotify e faz upsampling automático de todas as frequências de amostragem para DXD ou DSD. A decisão é dele (e não pode ser desactivada). A opção por DXD (default)ou DSD é sua.
Mas isso não tem nada de extraordinário, diz o leitor e com razão. Sim, de facto, se lerem o meu teste ao iFI iDSD, por exemplo, verificam que este também ainda vai mais longe no upsampling para PCM 24bit-704kHz ou DSD1024. E, neste caso, a decisão até é sua, pois pode optar ainda pela reprodução Bit-Perfect, isto é, sem upsampling, o que não é possível com o Bartók, como é confirmado por Raveen Bawa:
‘Upsampling is active by default. The upsampling cannot be deactivated.’
E, no mostrador do iDSD, aparecem as duas frequências: a nativa e a de upsampling. No dCS Bartók, só aparece a frequência do ficheiro original. Porquê? pergunto eu. Raveen Bawa responde:
‘The Bartok DAC will display the sample rate of the data being received. The upsampling option is user selectable and once set the user knows what the upsampling is set to, DXD or DSD. The same for the Filters. This information can easily be accessed, as you say, from the Mosaic App and can be easily changed if the user wishes to do so. Changes to the Filter or Upsampling from the App is applied on the fly as and when selected.’
Nota: o upsampling por defeito permite-lhe ouvir videos do You Tube a 352kHz ou em DSD. Embora a qualidade seja determinada pelo original em MP3, melhora um pouco. Não se esqueça de desactivar o buffer para não afectar o sincronismo.
O Bartók reproduz até DSD128 nativo via entrada USB A assíncrona, a partir de ficheiros guardados numa pen, com uma qualidade de levar qualquer um às lágrimas (por não o poder comprar…), mas apenas em DSD DoP via PC/USB B com JRiver. Sem perda aparente de qualidade, admito. Mesmo sabendo-se que o sinal andou por dentro de um ambiente ruidoso como é o do PC. No manual não há referência ao isolamento galvânico, mas eu utilizo o JitterBug da Audioquest.
Portanto, se você utiliza o JRiver no seu PC como leitor de rede, não se esqueça de o configurar primeiro para reprodução via DoP, além de instalar previamente a dCS Asio Driver (disponível na Net) e de configurar a entrada USB para Class 2 no Bartók. Ora, se DoP são as iniciais de ‘DSD over PCM’, será que afinal estamos a ouvir PCM em vez de DSD com o JRiver? Raveen Bawa explica:
‘That is the correct way to use JRiver with Bartok. DOP is a format that was devised by dCS, which dCS then made open for other manufacturers to use, to allow the transfer of native DSD audio (where the interface is only being used as a transport mechanism) and does not involve any loss of DSD data – it does not involve any conversion of DSD to PCM.’
Argumentos de venda, precisam-se
Vamos, então, partir em busca de justificações para uma diferença de preço 5X superior:
1.O prestígio da marca dCS?
Sim, ajuda sempre na percepção do valor do produto. Ter um Bentley não é o mesmo que ter um Toyota, embora ambos tenham quatro rodas e cumpram a função de o transportar pelo mesmo trajecto para o mesmo local à mesma velocidade.
2.Design e ergonomia?
O Bartók é uma caixa quadrada enorme de 44 cm de lado e 17 de altura, de linhas direitas sem nada que a distinga, com um painel frontal, que não é esculpido em baixo relevo como o do Vivaldi, e um mostrador alfanumérico modesto, que nem sequer mostra a capa do álbum, como o do Naim Uniti Atom, nem é do tipo touchscreen como o do NAD M10.
Os botões são demasiado pequenos, tal como pequena é a fonte do lettering preto sobre cinza, quase ilegível para os olhos já cansados de quem o pode comprar, e que tornam a operação directa (sem App Mosaic) um pesadelo para iniciados, até perceber que tem de jogar com a tecla de menu e as teclas Filter e Input, que afinal também são teclas ‘de setas’, ou com o controlo de volume (demasiado leve e sensível). Já que se pode girar o controlo de volume para seleccionar elementos do menu quando activo, porque não se pode também pressionar para activar a função Enter, algo que foi inventado pela Sony há 20 anos e permite configurar com uma única mão? Para isso serve a App e só precisa do polegar...
Ficou confuso? Pois…os bons filmes e os bons livros não são os mais fáceis de entender, mas o esforço é recompensado no final…Trust me.
3.Será o peso?
A caixa é construída a partir de espessos painéis de alumínio e pesa 17 quilos; a tampa superior é totalmente inerte e não tem um som de lata quando percutida. Basta tocar-lhe, ou tentar pegar-lhe ao colo, para perceber que a dCS não brinca em serviço.
Mas, desde quando tamanho e peso é argumento? pergunta o leitor. Bom, o peso muitas vezes é também o resultado de uma fonte de alimentação bem regulada, com transformadores separados para as secções analógica e digital, como é o caso do Bartók.
4.A tecnologia, então?
O circuito de conversão RingDAC é exclusivo da dCS e constitui uma tentativa bem sucedida de combinar a conversão monotónica ‘single-bit’ com ‘bitstream’, obtendo assim uma conversão do tipo DSD com 4,6 bits, cujos 24 valores variáveis possíveis são comparados por meio de um algoritmo complexo com os 48 níveis fixos do circuito RingDAC, substituindo de uma assentada as limitações do bit único típico da DSD e a modulação por largura de impulso do bitstream. Claro que isto é uma simplificação de algo complexo e engenhoso.
5.O filtros, talvez?
Todos os bons DACs oferecem hoje uma colecção de filtros para nos entretermos a experimentar nos primeiros dias, depois acabamos por optar por um ou outro, e esquecemos. O que têm estes filtros de tão diferente, então? O Bartók utiliza os mesmos filtros do Vivaldi! que custa uma pipa de massa.
Os filtros 1-4 são do tipo linear e adequados para todos os níveis de amostragem. Quanto mais elevado o número, mais cedo o filtro actua, logo mais audível é o ‘corte’ nos agudos. Assim, os filtros 5 e 6 só devem ser seleccionados com amostragens respectivamente acima de 96kHz e 192kHz. O filtro 5 é do tipo ‘minimum-phase’ (ringing mínimo), com menos extensão em frequência e optimização temporal. Nunca utilize o filtro 6 com ficheiros Red Book (44,1kHz), pois perdem vida.
A diferença pode ser visível nas medidas de laboratório mas é subtil na audição. Como regra genérica, utilize os Filtros 1-2 para música com maior largura de banda (clássica e jazz) e 3-4 para rock, pop, etc. Eu gosto do Filtro 3 para tudo (PCM), mas não apostava a vida num teste cego.
Com ficheiros DSD, a regra é a mesma. Quanto mais alto o número mais cedo o filtro actua. Aqui a função dos filtros é reduzir ou eliminar o ruído de conversão (noise shaping) acima da banda áudio.
O Filtro 3 é um bom compromisso geral. O Filtro 4 começa a actuar logo acima dos 20kHz e, portanto, é a negação da vantagem da maior largura de banda do DSD. Fique-se pelo 3 que foi a conta que Deus fez, mas não deixe de experimentar o Filtro 1 que é full range ( - 8,5dB aos 100kHz!), correndo o risco (remoto) de colocar o seu amplificador em oscilação. Se ouvir distorção, mude para o Filtro 2 (-21 dB aos 100kHz) ou 3 ( -3dB aos 60kHz e – 23dB aos 80kHz) . Eu nunca ouvi outra coisa que não fosse um som excelente com todos os filtros. Jitter digital e distorção analógica não fazem parte do ADN da dCS.
6.MQA
Há ainda um outro filtro M1 que é activado por defeito com sinais codificados em MQA. Atenção: o Bartók só faz a descodificação integral (até à resolução original de 24 bit/352,kHZ) nas entradas USB2 a partir de ficheiros MQA guardados numa pen ou hard drive, por exemplo); ou via Network (Tidal com acesso pela App Mosaic).
Se aceder à Tidal com o seu computador e o ligar ao Bartók na entrada USB1, o Bartók só faz o desdobramento final, o que significa que não pode desactivar na configuração o conversor MQA da própria Tidal responsável pelo desdobramento inicial até aos 96kHz. Se o fizer, o ícone MQA não acende. Agora já sabe porquê.
Os melhores resultados com a Tidal obtêm-se assim com a App Mosaic e ligação por cabo de rede (utilizei um Nordost Ethernet), condição em que a descodificação MQA integral é operada pelo Bartók sem interferência do conversor da Tidal.
Nota: ‘Full decoding and rendering of MQA data from the Network and USB2 inputs. Final rendering of unfolded MQA data only from the other inputs.’
7.E o amplificador de auscultadores é uma mais valia?
Sem dúvida, embora seja uma opção: pode comprá-lo sem este módulo e poupa 2.500 euros. O amplificador é independente e foi concebido como um módulo isolado com a colaboração de alguns dos principais fabricantes de auscultadores, que deram as suas sugestões: Abyss, Audeze, Focal, HIfiman e Mr. Speakers.
Debita de 0,2 a 6V em Classe A para garantir a potência ideal para cada tipo e tecnologia de transdução e tem saída balanceada também. O circuito Crossfeed (mistura um pouco do canal esquerdo no direito e vice-versa para recriar a experiência de audição com colunas) é dos mais eficazes e naturais que ouvi até hoje, talvez por ser tão subtil. Só precisa de subir um pouco o volume de som para compensar.
Para ouvir com auscultadores tem que seleccionar a função no botão Output, ou vá à App onde também pode activar/desactivar a função Crossfeed. Há modelos em que a simples inserção da ficha dos auscultadores activa a função e desliga o andar de prévio, e ainda guardam memória do último nível de volume utilizado. Fica a nota à atenção da dCS.
8.A App Mosaic?
Hoje em dia, todos os DACs e Streamers, mesmo os mais baratos, são comandados por Apps instaladas no telefone ou no iPad. Algumas são exclusivas, outras de uso universal. Quase sempre grátis. A Mosaic é exclusiva da dCS e veio pôr alguma ordem na confusão de Apps diferentes para cada modelo.
A Mosaic funciona bem, é compatível com iOS e é também grátis na Apple App Store. O Meu iPhone é um modelo antigo e mesmo assim aceitou a App, embora com uma ou outra lacuna, como fazer Search na Tidal. Com modelos de iOS mais recentes isso não acontece.
De resto, comandou todas as funções do Bartók, menos Balance, que está desactivada por defeito quando se utilizam auscultadores, o que tem alguma lógica, pois o equilíbrio entre canais aqui não faz muito sentido. Se estiver a utilizar o andar de prévio de linha, o Balance já funciona na App.
Selecção de fontes: UPnP, USB, Deezer, Qobuz, TIdal, Radio, Podcasts, Spotify.
Nota: Selector de Fase e Volume sempre disponíveis na App.
Modos:
Audio (Upsampling DXD/DSD; Filtros PCM/DSD; Headphone Output/Crossfeed; Line Level); Display (Brilho); Device (Wordclock para ligação a relógio externo); System Test (Channel Check, Channel Swap); Support (para Updates de firmware).
Então, o que distingue o Bartók?
O som, caramba!, o som até enternece, diria Eça de Queiroz se vivesse agora. ‘É apenas um DAC. Mas que DAC! Há nele uma pujança heróica que prova raça’, digo eu, parafraseando Eça que parafraseava Camões’.
Este é o melhor DAC/Streamer/Headamp que já ouvi a qualquer preço, em qualquer tempo, em qualquer lugar. É neutro de alto abaixo. E tem uma ‘alma façanhuda’ que nos faz perdoar até uma ou outra ‘insuficiência’ ergonómica. O amplificador de auscultadores é tão bom que justificou finalmente o investimento nos Hifiman HE1000, que mandei vir da China, muito antes da Imacústica se tornar distribuidora oficial. Até o circuito Crossfeed funciona melhor que todas as múltiplas implementações que já testei, das analógicas às digitais.
…o melhor DAC/Streamer que já ouvi a qualquer preço, em qualquer tempo, qualquer lugar. É neutro de alto abaixo. E tem uma ‘alma façanhuda’...
Um som bem balanceado
A saída balanceada ajuda, eu sei, mas mesmo com ligação por jack o controlo do agudo, a transparência da gama média e a extensão e recorte do grave são perfeitos, com todos os géneros musicais. Invariavelmente. Infalivelmente. Insuperavelmente.
O Bartók pode ser seco como um Martini, sem nunca ser frio ou analítico; tem uma doçura intrínseca que nunca é enjoativa; e é luminoso sem ser brilhante. O que mais salta de imediato ao ouvido é a transparência ser também extensiva ao grave, algo raro no campo digital, permitindo seguir linhas sincopadas mas distintas de baixo e percussão numa mesma faixa, com elevado grau de separação sem perder a envolvência rítmica. Há uma coerência musical que só pode ser fruto do baixíssimo nível de jitter. O motor do Bartók foi afinado com a precisão de um Fórmula 1. Que são afinados no computador – e de ouvido!, eu sei porque já estive na fábrica da McLaren, em Inglaterra.
Siga-se, por exemplo, a linha de baixo cantante em Just To Be Loved, por Al Jarreau, do álbum ‘Tomorrow Today’, disponível na Tidal; ou a linha de baixo mais pujante e extensa em Bring Me Joy, do álbum ‘My Old Friend’, com George Duke, que funciona como uma cama de pétalas para apoiar o ritmo funk do saxofone.
Na mesma ‘linha’ de baixo pujante, rítmico, dançante, oiça-se o jogo da guitarra baixo e do pedal de bateria em In The Name Of Love, por Grover Washington Jr., do álbum ‘Winelight’ em formato MQA. Uau! Ou o trabalho do baterista Harvey Mason, dos Fourplay, em 101 Eastbound, perseguido pelo baixo insistente de Nathan East sobre uma camada espessa de fretless bass sintetizado, reproduzida pelas teclas de Bob James, num funk sambado de cortar a respiração.
É verdade que com auscultadores planar-magnéticos de baixa sensibilidade vai ter de utilizar o ganho máximo de 6V. É verdade que cheguei a andar perigosamente perto do nível máximo, com velocidade de cruzeiro nos -20dB. É verdade também que comecei a alucinar, porque a abundância de detalhe fino me deixava ouvir coisas em que eu não queria acreditar, mas que os factos confirmavam. Vou dar-lhes um exemplo muito curioso:
O mistério da paragem de autocarros
…o controlo do agudo, a transparência da gama média e a extensão e recorte do grave são perfeitos com todos os géneros musicais. Invariavelmente. Infalivelmente. Insuperavelmente…
Toda a gente conhece o famoso Cantate Domino, da Proprius, gravado em 1976, em Estocolmo, na OscarKyrken, uma igreja neogótica, provavelmente durante a noite para evitar – sem sucesso - o ruído do tráfego automóvel nas redondezas.
Quando Marianne Mellnas canta ‘Frojda dig, du Kristi brud’ (versão a 88,2kHz da HDTracks) é assim possível ouvir, logo no início da faixa, um ruído de fundo não identificável, que uns atribuem ao movimento dos carros lá fora, outros ao prévio dos microfones Pearl TC4, ao ruído de fita do Revox A-77, ou ao mais plausível ar dentro da igreja, e até ao ventilador do orgão.
Até agora. A partir de 0:54, e durante uns segundos, logrei ouvir o que parece ser um autocarro na paragem lá fora, que arranca e se afasta depois lentamente. Fiquei surpreendido e curioso. Será possível?
Fui ao Google Earth, e não é que há ali uma paragem de autocarro perto! Pode não significar nada, como também pode significar que o dCS Bartók resolveu um mistério de 40 anos.
Live at the Village Vanguard
Já estou a ouvir os puristas a argumentar que ‘sons’ não são música. Mas esta capacidade para recuperar as deixas ambientais, permite-nos também usufruir em pleno da discreta interacção entre Mary Stallings, os músicos e o público, em ‘Live At the Village Vanguard’, ao mesmo tempo que nos deliciamos com a plasticidade ‘swingante’ do seu canto que vai do ‘vozeirão’ gutural ao sussurro sensual e introspectivo; e ainda o fraseado, a estrutura, os contrastes e também as sobreposições tonais e de texturas da voz com o saxofone de Ron Blake, enquanto a pontuação melódica do piano paira sobre o substrato sincopado de contrabaixo e bateria.
Sabendo-se que sou um crítico dedicado ao highend, é raro ficar encantado com o modelo mais barato de uma qualquer marca, o contrário é mais habitual. Pois o dCS Bartók veio inverter esta tendência.
Tal como Oscar Wilde, tenho gostos muito simples, fico sempre satisfeito com o melhor: Bartók.
Para mais informações: