Ouvi a barra de som Dione na minha sala na função de stand-alone, tendo como única fonte externa, além do streaming, o meu televisor Xiaomi 4K de 55 polegadas, ligado por cabo HDMI (ARC), sem o apoio de qualquer subwoofer ou satélites traseiros; ligações que a Dione, aliás, nem sequer disponibiliza.
Nota: Pode ligar um leitor Blu-ray por via ótica. O sinal PCM stereo é depois processado para 5.1.2 virtual pelo algoritmo da Dione.
Graves a sério
Esta é a melhor barra de som que já ouvi, incluindo com música e vozes (canto e locução). Isto, claro, depois da calibração automática (imprescindível) e da escolha dos modos acústicos mais adequados ao programa a reproduzir.
A Devialet Dione é a única barra de som com graves a sério para reprodução de filmes de ação sem recurso a subwoofer. O efeito surround é apenas virtual, logo a colocação de ‘sons’ atrás de mim era pouco convincente, mas suficientemente ‘atmosférica’ para dar a sensação de espaço à volta do ecrã e até a ilusão de altura!
Nota: Numa sala de menores dimensões, o reflexo das paredes laterais próximas pode potenciar ainda mais a ilusão de ‘surround’.
Tem um preço de luxo (€2 400), como tudo o que vem de Paris. Mas substitui com vantagem doméstica (pergunte à sua esposa) um sistema de som do mesmo preço, pois tem um design elegante e discreto que não ocupa espaço: não há subwoofers, nem satélites, nem cabos para tropeçar no meio do caminho.
Nota: Colocada na horizontal (ver fotos) debaixo do televisor e sobre um móvel da mesma cor a Dione é praticamente invisível embora seja bem audível.
Urbi et Orb(i)
Dione não é uma simples barra de som, é antes uma ‘base acústica espacial’, com 950W de potência de fogo e um exército de 17 altifalantes (ver diagrama): 9 unidades full range de 41 mm, incluindo a bola central ORB; e 4 de cada lado nas extremidades: um frontal, um lateral e dois apontados para cima (isto com a barra na horizontal).
Os restantes oito altifalantes são de 133 mm, em forma de pista de estádio, montados em dois pares opostos (frente/traseira) de cada lado da ORB, e reproduzem os graves com entusiasmo e energia.
Parecem os quarteirões geométricos de uma cidade (Urbi), enquadrando o monumento esférico da praça central, que simboliza o mundo (Orb(i), pairando sobre um vórtice, que dispara som em todos os sentidos.
Nota: Dione também pode ser colocada na vertical utilizando o kit de montagem. Neste caso, é preciso rodar a ‘bola’ central para que o ícone ‘D’ fique visível. Um giroscópio interno trata do ‘posicionamento’ dos restantes altifalantes.
Ficção científica
Há aqui uma clara sugestão de ficção científica. O altifalante full range esférico (na boa tradição Devialet), composto por uma unidade ativa e duas passivas) faz lembrar os propulsores da nave de Tom Cruise em Oblivion (ver foto acima). Pensando bem, os ‘drones’ também lembram as Phantom (vejam os vídeos disponíveis no YouTube)…
A reprodução do som de Oblivion é mesmo à medida da Dione: dos ataques dos drones às explosões; dos movimentos súbitos no plano horizontal e vertical aos diálogos inteligíveis.
Talvez não seja por acaso que, quando a App deteta Dione na sua rede hifi, surge a seguinte mensagem,: ‘new life found’.
Uma questão de modo
Dione não vem com controlo remoto. Talvez funcione com o da Phantom, não sei. Quando está ligado à TV (ARC) pode subir ou baixar o som com o controlo da televisão e ativar ‘Mute’. Mas pouco mais.
Por isso é fundamental descarregar a App. É com ela que vai poder ligar a Dione ao mundo através da Net via WiFi ou Ethernet, transformando a Dione num streamer. Pode aceder à Spotify Connect, ou fazer streaming de música via AirPlay2 (só para Equipamentos Apple).
Se utiliza Android aceda aos seus ficheiros via UPnP. A alternativa é o Bluetooth que, apesar de utilizar apenas codecs SBC e AAC funcionou de forma bem aceitável com a Tidal.
A App também lhe permite selecionar o Modo adequado ao programa a reproduzir: Movies, Music, Voice e Spatial. Nada o impede de ver o telejornal com ‘Movies’ ou ouvir música com Spatial, por exemplo. Mas se seguir os Modos propostos obtém melhores resultados.
Por exemplo: o registo ao vivo de Jazz at The Pawnshop (Tidal) tem ainda mais ambiência com Spatial. O mesmo se pode dizer do concerto ao vivo dos AC/DC ‘Live at Buenos Aires’. Mas se puxar muito pelo som pode tornar-se algo estridente.
Música com muito conteúdo ambiental, como The Astounding Eyes of Rita, de Anouar Brahem, também soa muito bem com Spatial.
De uma maneira geral, opte por Music (stereo), pois o som fica mais coeso, focado e natural. O mesmo se pode dizer de vídeos de música ao vivo, como os excelentes concertos Tiny Desk. Escolhi 3 concertos para si. Todos eles têm percussão e baixos que põem à prova a reprodução de graves da Dione com música.
Anderson Paak, extraordinário baterista e cantor
Lous and the Yakuzas, música étnica de expressão francesa, absolutamente fantástica de ritmo e sedução
Erykah Badu. E pensar que perdi o concerto dela em Las Vegas por um dia!...
Se achar que é ‘grave a mais’, a única forma de o reduzir é optar por Night Mode. Ou seja, um corte abaixo dos 80Hz que resulta melhor para controlar o excesso de peito das locutoras (na voz…), mas rouba energia à música.
Foi pena a Devialet não ter instalado na App da Dione o igualizador da App dos auscultadores Gemini. Um pequeno passo para a Devialet que seria um salto gigante para a Dione.
Dolby Atmos
Com cinema de ação e de ficção, os graves soam espetaculares e imponentes. A ligação HDMI deixa o televisor a cargo da descodificação Dolby Atmos (Spatial não está disponível com HDMI?) e o poder do som é impressionante.
Experimente o sampler ‘Atmos Sound Test’ disponível no YouTube e aproveite para ver o trailer de ‘Gemini Man’, com Will Smith no papel de um sniper, para testar os graves, os diálogos e o varrimento horizontal (o TGV a passar a alta velocidade no ecrã).
O que me surpreendeu mais foi o som Dolby Atmos do YouTube ser muito melhor que o da Netflix (The Gray Man). Talvez porque o meu televisor Xiaomi não tem entrada eARC apenas ARC.
Se é dos que compram o melhor ou nada, a Dione deve estar no topo da sua short list. Soa natural com vozes, coesa com música e expansiva com cinema. E o poder e extensão do grave é de autêntica ficção científica.
Vou sentir falta da Dione. Muita falta.