As DeVORE Fidelity Micr/O são uma verdadeira proeza da engenharia áudio, tão impressionante quanto a proeza das abelhas que desafiam as leis da aerodinâmica para voar.
Assim como as abelhas para poderem voar evoluíram, ultrapassando as limitações na relação entre o tamanho das asas e do corpo, John Devore desenvolveu umas colunas em forma de cubo – a pior forma conhecida para uma coluna - que nos proporcionam som de alta qualidade.
Esta proeza tecnológica realça o poder da criatividade e da inovação, e mostra que mesmo as soluções mais inesperadas podem gerar resultados extraordinários.
A Micr/O é um cubo fechado (26x26x26 cm) construído em MDF, sem escoramento interno e com um baffle de contraplacado com folheado espesso em madeira natural de carvalho, que vem equipado com os altifalantes e o filtro divisor originalmente concebidos para o modelo DeVORE O/baby: um tweeter VIFA de cúpula de seda, que é também uma variante do super-tweeter das Orangutan Reference, com carga por corneta acústica (integrada no próprio baffle) e um woofer SEAS de 6,5 polegadas com cone de papel. Portanto, não parece ser nada de especial até aqui.
E, contudo, estes cubos discretos produzem um som rico, dinâmico e sem colorações, que superou as minhas melhores expectativas, pois são tonalmente muito agradáveis.
Acompanhe-me, então, enquanto eu exploro esta incrível criação de John Devore que, tal como a abelha, desafia as leis da física para nos dar um desempenho simplesmente inesquecível.
Tamanho pequeno, som grande
O tamanho da DeVORE Micr/O é paradoxalmente uma das suas principais vantagens. A Micr/O é pequena para caber numa estante sem ocupar muito espaço, mas tem tamanho suficiente para produzir som de alta qualidade. Por isso, é a escolha ideal para aqueles que querem um som grande sem ter de investir em colunas grandes.
...estes cubos discretos produzem um som rico, dinâmico e sem colorações, que superou as minhas melhores expectativas...
Estética e versatilidade
As DeVORE Micr/O apresentam-se assim com um design escorreito, porém elegante, que se adapta a qualquer casa ou escritório moderno. As minhas tinham o painel frontal (baffle) no acabamento padrão em carvalho-branco. A qualidade de construção é razoável, mas não ao nível das O/93 e as O/96, que estiveram também sob o meu escrutínio nas últimas semanas. Os bornes são de fraca qualidade e frágeis, se apertar muito podem partir (utilize cabos com bananas em vez de forquilhas).
Compatibilidade
Quanto à escolha do amplificador, as Micr/O não são tão sensíveis quanto as Orangutan O/96 e O/93. Segundo John Devore, as Micr/O têm uma sensibilidade de 'apenas' 89 dB, não sendo assim a melhor escolha para amplificadores a válvulas single-ended como as suas irmãs mais velhas. Seguindo o mesmo código de nomenclatura, deviam chamar-se Micr/O 89.
A relação entre a impedância das colunas e a potência e impedância de saída do amplificador é também crucial, uma vez que a impedância das colunas varia com a frequência. Por conseguinte, é importante escolher um amplificador que as possa alimentar de forma linear em toda a gama de frequências, o que não é o caso dos single-ended.
Mas não precisa de se preocupar, porque, segundo John Devore, a Micro/O tem uma impedância nominal de 8 ohms, que nunca desce abaixo dos 7,5 ohms, em toda a sua gama de frequências: 50Hz a 25kHz. Assim, apesar da sua menor sensibilidade, qualquer amplificador a válvulas decente pode fazê-las atingir um nível de pressão sonora mais do que satisfatório a todas as frequências. Eu utilizei um PrimaLuna EVO 100, com excelentes resultados.
Esta disposição das Micr/O permite fazer uma monitorização de tipo estúdio, com audição no campo próximo. (foto cortesia DeVORE Fidelity)
Em suportes ou na secretária
Pode colocá-las sobre suportes, o que eu também fiz com bons resultados. Mas, se estiver sentado, os seus ouvidos devem estar um pouco acima da altura do tweeter para acompanhar as características da curva polar. Mas eu acho que tocaram ainda melhor sobre a minha mesa de trabalho, onde as coloquei ladeando o ecrã computador, como se mostra na imagem da DeVORE acima, com os tweeters para fora (são simétricas). Esta disposição das Micr/O permite fazer uma monitorização de tipo estúdio, com audição no campo próximo.
A maioria das colunas monitoras de duas-vias não integram bem a uma distância tão curta, nem fornecem graves limpos e tensos tão perto da parede frontal. A Micro/O é uma exceção, pois soa natural e coerente como uma coluna de altifalante full-range único.
Quando colocadas à face de livros ou discos numa estante, os Devore Micr/Os usam-nos efetivamente como um painel infinito (infinite baffle). Foto cortesia DeVORE Fidelity
Interacção mínima, desempenho máximo
As DeVORE Micr/O não têm praticamente interação com o ambiente acústico que as rodeia. Ao contrário da maioria de outras monitoras, especialmente sistemas reflex, que são fortemente influenciadas pelas paredes das salas, as DeVORE Micr/O parecem ignorar as paredes, tanto frontais como laterais.
John Devore diz que, quando colocadas à face de livros ou discos numa estante, os Devore Micr/Os usam-nos efetivamente como um painel infinito (infinite baffle), tornando-as imunes à acústica da sala.
Na audição, utilizei um leitor de rede Rose RS 520, como streamer e amplificador (Classe D), e um amplificador integrado a válvulas PrimaLuna EVO 100, com um DAC Chord Hugo 2, e a Tidal como principal fornecedor de música. Numa configuração de desktop, não precisa de gastar muito dinheiro em cabos. Basta que sejam o mais curtos possível.
Do R&B à música clássica
As Micr/O não soam tão quentes e cheias como as O/93 – esse nunca foi o objetivo - mas também não soam secas ou agressivas. O equilíbrio rítmico promove o envolvimento emocional, tornando as Micr/O um veículo de grande versatilidade para reprodução de R&B, mas encaixando-se como uma luva numa variedade de géneros musicais, desde o jazz aos blues e à música clássica.
… as DeVORE Micr/O transmitem sem esforço a beleza e complexidade da música clássica…
Um exemplo desta versatilidade é o álbum "After Hours" de George Duke, que estou a ouvir enquanto escrevo, embora não seja um álbum de R&B puro, pois contém também elementos de jazz, funk e soul. As Micr/O transmitem-nos não só a atmosfera calma e descontraída, onde sobressaem os teclados com a assinatura de Duke e as participações vocais, como toda a variedade de texturas instrumentais.
As Micr/O transmitem sem esforço a beleza e complexidade da música clássica: das delicadas nuances de uma peça para piano a solo até à majestade de uma obra orquestral, proporcionando um som rico em detalhe e sem colorações tímbricas.
Um bom exemplo é o Concerto para Piano nº 21 em dó maior, KV 467 de Wolfgang Amadeus Mozart, tocado por Maria João Pires.
As Micr/O são, claro, demasiado pequenas para transmitir todo a grandeza da orquestra, ao contrário das colunas de banda larga. Mas reproduzem bem o equilíbrio entre a força delicada da mão esquerda de Maria João Pires e a expressividade da sua mão direita, além dos matizes do fraseado e aquela capacidade única para criar uma atmosfera introspetiva.
No último movimento, Pires interage de forma brilhante com a orquestra, e as Micr/O apoiam-na ao realçar a beleza única da composição de Mozart.
Excelência técnica e emoção
A montagem próxima dos dois altifalantes no baffle resulta num som sem descontinuidades, com um palco sonoro natural, que dá vida à música de uma forma notável. As Micr/O são de caixa fechada, pelo que o grave não é tão extenso, mas morre mais lentamente (pendente suave), e não de morte súbita (pendente rápida), como nos sistemas reflex.
Até a música rock é reproduzida com ataque e dinâmica, enquanto o jazz transpira intimismo e presença. Desde os estados de alma do saxofone de Houston Person, no álbum ‘Reminiscing at Rudy’s’, até às complexidades subtis da bateria de Lewis Nash e da guitarra mágica de Russell Malone; ou a sonoridade cheia do piano de Matthew Parrish sublinhada pelo contrabaixo de Larry Fuller, estas colunas produzem um som rico e detalhado que impressiona sobretudo pela musicalidade.
Equilíbrio no detalhe e musicalidade
O segredo de uma coluna excecional como esta reside no equilíbrio entre o detalhe e a musicalidade. Uma coluna deve reproduzir detalhes suficientes para realçar as ‘nuances’ e subtilezas de uma interpretação sem as deixar sobrepor-se à música.
As pequenas DeVORE Fidelity Micr/O são um passo de gigante no mundo do áudio, tal como as abelhas na natureza…
Dicotomia fascinante
As DeVORE Micr/O representam uma dicotomia fascinante no mundo do áudio. Por um lado, produzem um som tecnicamente excelente com agudos doces, mas presentes, médios informativos e graves tensos e controlados. Por outro lado, também tocam na alma, com o calor da ligação emocional à música, que vai muito para além da perfeição técnica e nos afaga o coração.
Este equilíbrio perfeito entre a excelência técnica da coluna e a reação emocional do ouvinte é o que distingue as DeVORE Micr/O de outras colunas do mesmo tamanho no mercado.
As Micr/O podem parecer dados, mas comprá-las não é uma aposta no escuro.
DeVORE Micr/O: invista em som de qualidade
Nos EUA, as DeVORE Micr/O têm um preço inferior a 4.000 dólares, o que as torna bastante acessíveis para os padrões de Nova Iorque. Na Europa, contudo, custam mais de 5.000 euros, o que não é barato para uma 2-vias de colocar na estante.
As Micr/O podem parecer dados, mas comprá-las não é uma aposta no escuro; é um investimento sólido para quem dá importância à música, como eu.
Afinal, as DeVORE Fidelity Micr/O podem ser pequenas, mas são um passo de gigante no mundo do áudio, tal como as abelhas na natureza…
Para mais informações:
Produto: DeVORE Fidelity Micr/O
Preço: € 5200