Arya significa ‘ar’, mas também ‘melodia’, e o nome fica bem a um par de auscultadores planarmagnéticos de caixa aberta e preço fechado: 1599 euros.
Aos fiéis da Guerra dos Tronos, pode sugerir lembranças de Arya Stark, que também se vestia com uma armadura negra.
Arya é a versão highend dos Ananda, pelo menos no preço, porque a construção um pouco menos ‘plástica’, na aparência (as hastes de suporte são de facto de plástico rígido), não dá ao produto o ‘valor percebido’ de 1599 euros.
Aliás, se bem me recordo, os Ananda (999 euros) vinham embalados numa caixa de pele, enquanto os Arya se apresentam agora numa embalagem de cartão, embora deitados na mesma cama de lençóis de cetim negro.
Auriculares ovo-lacrimais
Os auriculares mantêm a forma ‘ovo-lacrimal’, com amplo espaço para acomodar as orelhas, mas ainda assim menos confortáveis que as versões circulares, porque, por vezes, a ponta toca no maxilar, quando não mesmo no ombro, se inclinar a cabeça.
O peso de apenas 400g é baixo pelos padrões audiófilos, mas ‘pesadote’ para quem se habituou a andar na rua com auscultadores convencionais.
A cabeceira em pele (artificial) e a ‘elasticidade’ da mola em metal ajudam a distribuir bem o peso sem apertar a cabeça num torno. Pode passar horas a ouvi-los.
Uma lágrima furtiva
E, se bem me recordo, a qualidade de som é também muito semelhante aos Ananda, pelo menos no caráter, que é aquela ‘primeira impressão’ que fica, quando ouvimos um par de auscultadores novos.
Isto apesar de utilizar uma membrana da última geração semelhante à do HE1000 V2 e um circuito magnético assimétrico (Stealth), no qual os ímans mais perto dos ouvidos são mais pequenos, logo mais leves e menos intrusivos para o fluxo de som.
Talvez por isso, demorei a decidir publicar esta análise dos Arya. Pois se eu já tinha publicado um artigo sobre os Ananda, que podem ler aqui, em princípio pouco mais teria a acrescentar.
Paradoxalmente, foi a minha ‘exposição’ mais prolongada aos ‘efeitos especiais’ dos Arya, que me levou a querer explorar o produto e a procurar uma justificação para o preço 50% mais elevado.
Será o Arya 50% melhor que o Ananda?
Teria de ter aqui um par de cada – e não tenho – para poder fazer uma análise comparativa minimamente credível.
Mas tenho os HE1000, a referência com a qual comparei ambos, e que utilizo, desde muito antes de haver sequer distribuidor em Portugal, que primeiro foi a Imacustica e agora é o Grupo José Lopes Marques.
O mundo do áudio já parece o do futebol, com os jogadores a mudar de camisola a meio da época…
Publiquei até um teste dos HE1000, na revista britânica HiFi Critic, em Novembro de 2015, que podem ler aqui.
Na altura, não havia nada que se comparasse. Mas a tecnologia evoluiu, e eu também. Apesar de tudo, aqui estão os HE1000 a bater-se hoje com os melhores.
Arya substitui Edition X
Entretanto, a Hifiman já produziu uma boa dezena de outros modelos, dos quais testei também os Edition X (que os Arya substituem) e os HE6SE (agradecia que lessem para evitar ter de me repetir quanto à explicação da tecnologia de transdução planarmagnética).
Ao longo destes 6 anos, eu próprio ‘melhorei’ a performance mecânica dos HE1000, forrando tudo o que é metal com tecido e pele, como se faz com os guiadores das bicicletas e os tacos de golfe, mas aqui para eliminar ressonâncias e vibrações, depois de fixar definitivamente as hastes na posição ideal para os meus ouvidos; e coloquei filtros de espuma fina e aberta por baixo da grelha metálica exterior dos auriculares.
Curiosamente, esta é uma das características que distingue a versão Arya II dos Ananda: a grelha de tecido de proteção, tanto no interior como no exterior dos auriculares que, há quem diga, domesticou o habitual ‘pico’ aos 8kHz.
A outra é a rotação horizontal, que não é possível nos Ananda, para um melhor ajuste ao binómio cabeça/orelhas.
Então, e só por isso pedem mais 600 euros pelos Arya?
Bom, o som dos Ananda é semelhante ao dos Arya em tudo, menos em dois aspetos que, para muitos audiófilos, são essenciais (‘essencial’ é outro dos significados possíveis de Arya) e podem justificar assim a diferença de preço.
Maior distanciamento social
Refiro-me a uma ligeira variação da resposta em frequência, nomeadamente em duas áreas cruciais: o grave, que é mais presente; e a zona de sibilância, algures entre os 7/8kHz (agora menos notória) e que aliadas ao facto de se ter mantido o ‘vale suave’ na área de presença dos 2kH, faz com que haja uma maior sensação de separação, não necessariamente tímbrica, antes ‘ambiental’, uma espécie de ‘distanciamento social’ entre os habitantes dos canais esquerdo e direito, alargando assim o 'perímetro de audição' dentro da nossa cabeça para frente e para os lados.
Vacinação já não é obrigatória
Hélas, nenhum deles tem a inefável transparência dos HE1000, nem a extensão dos extremos de frequência, embora sejam ambos tonalmente mais ‘consensuais’, pois os HE1000 podem soar ‘finos’ na gama média, por aparente ‘falta’ de graves, que estão lá, só precisam é de um ‘empurrão’.
Até porque o segredo reside na qualidade e extensão, e não na quantidade e tensão do grave.
Digamos que todos os Hifiman, com exceção dos HE6SE, melhoram com a ajuda de igualização variável mas tradicionalmente centrada em: +3dB abaixo dos 60Hz, +3dB nos 1,5kHz, -5dB nos 8kHz e -3dB nos 12kHz.
Os Ananda já se safavam muito bem sem ‘vacinação’ obrigatória, os Arya idem, por maioria de razão. Digamos que a igualização é uma ajuda que deixou de ser indispensável para uma boa fruição musical.
Muito depende do tipo de música, do seu gosto pessoal e, sobretudo, das suas orelhas. E eu escrevo orelhas, e não apenas ouvidos, porque o formato do pavilhão auricular funciona para os auscultadores como a sala de audição para as colunas de som.
Até a simples posição da orelha dentro do auricular altera a perceção geral do som, assim como o ajuste das almofadas na cabeça afeta o grave.
Pomo-de-discórdia
Não é por acaso que os auscultadores são autênticos ‘pomos-de-discórdia’ no mundo do áudio, e vêm logo a seguir aos acessórios e aos cabos na escala da polémica: cada ‘cabeça’ sua sentença…
Tal como os Ananda, os Arya podem ser ligados a um smartphone e obter mesmo assim resultados aceitáveis.
Mas o som será tanto melhor quanto maior a potência disponível para os alimentar.
Como não podia deixar de ser, o Chord Hugo II, que continuo a utilizar como referência, é o mínimo aconselhável para atingir resultados highend.
Os Arya traziam consigo um cabo extra, entrançado e transparente. Lindo como um rosário!...
Os Arya vinham acompanhados por um cabo próprio. Ainda assim, o Grupo José Lopes Marques achou por bem juntar um cabo especial Meze 90 (oferta para quem compra uns Arya, creio) entrançado e transparente. Lindo como um rosário!
Toca melhor que o ‘cabo de serviço’? Não posso garantir, mas ‘a cavalo dado não se olha o dente’ e não mais os substituí, porque era capaz de jurar que o agudo dos Arya fica mais ‘líquido’. Efeito placebo? Seja!...
Arya ou Ananda?
Se um pouco mais de conforto na utilização, um palco sonoro mais amplo e um pouco mais de grave são importantes para si, opte pelos Arya;
Se uma poupança de 600 euros, que podem ser investidos num melhor DAC/HeadAmp, lhe parece ser uma solução mais racional; então,
Não deixe de comparar primeiro os Arya com os Ananda.
Produto: Hifiman Arya (auscultadores planarmagnéticos abertos)
Preço: 1599 euros
Distribuidor: Grupo José Lopes Marques