Voltou do lado negro, com um novo amplificador integrado: a força está de novo com a Krell! O K-300i tem o espírito e o poder dos seus antepassados – fala todos os dialectos digitais e consegue comunicar com o universo da música por streaming.
Esta abertura inspirada na Guerra das Estrelas justifica-se, porque Dan D’Agostino, o fundador da Krell, também foi buscar inspiração a uma banda desenhada de ficção científica para dar o nome à empresa.
E, por falar em ‘guerra’, em 2009, o Império Krell deixou-se invadir por alienígenas chineses que expulsaram Dan e a família do trono, tendo ele partido, desgostoso, para o exílio, onde fundou um novo reino: Dan D’Agostino Master Systems, que é hoje um dos mais prestigiados do universo do highend, enquanto a ex-esposa Rondi se mantinha na Krell num papel secundário.
Em 2011, Dan apresentou-me, em Las Vegas, o primogénito do seu novo império: o amplificador monobloco Momentum (ver video em baixo). O resto deste conto de fadas foi narrado em episódios no Hificlube e culminou com a apresentação no HighEnd 2018, em Munique, do guerreiro mais poderoso da Master Systems: o amplificador monobloco Momentum Relentless, cuja actuação com as Wilson Audio Wamm, no palco da Imacustica-Lisboa, foi um sucesso sem precedentes.
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…Rondi foi sempre a verdadeira alma comercial da Krell, e sabe como promover um produto no mercado do highend…
Os investidores chineses tinham subvalorizado a importância de Dan D’Agostino na imagem da Krell – e a sua resiliência, enquanto criador - e começaram a perder quota de mercado. Assim, logo que recuperaram parte do investimento, devolveram o poder a Rondi D’Agostino, que comprou de novo a sua empresa.
Rondi foi sempre a verdadeira alma comercial da Krell, e sabe como promover um produto no mercado do highend, onde a imagem de confiança, a exclusividade e a qualidade de construção do produto são fundamentais.
No Highend 2019, foi ainda exibido o amplificador de phono K300P (foto em baixo), pois na versão K300i SS é apenas amplificador de linha (8.400 €) e na versão Digital (9.900€) tem DAC e Streamer integrado. É sobre esta última versão Digital que nos iremos debruçar hoje.
O novo herdeiro da tecnologia Krell
Rondi apresentou-me o engenheiro actualmente responsável por aplicar as variantes de tecnologias inovadoras, introduzidas ao longo dos anos por Dan, de que a Krell detém a patente, como ‘Sustained Plateau’, agora designada por iBias (abrir pdf sobre a tecnologia‘ Krell iBias, no final do artigo), um compromisso com o qual se pretende obter um funcionamento quasi-Classe A, sem a excessiva dissipação de energia sob a forma de calor (mesmo assim aquece bastante); CAST-Current Audio Signal Transmission, agora Krell Current Mode, que como o nome indica mantém o sinal no seu percurso da entrada até à saída em modo diferencial de ganho de corrente (fully balanced input to output), menos susceptível a interferências externas.
O ex-libris da marca: ‘aumentar a potência disponível em função da descida de impedância’, que permitia `aos Krell serem os únicos capazes de levar as ‘pesadas’ colunas Apogee ao colo, é também preservado mas com limitações (efeitos da crise energética e da pegada carbónica).
…o K300i dobra a potência sobre 4 ohm, debitando 480 W…
Tal como os seus antecessores, o K300i dobra a potência sobre 4 ohm, debitando 480 W, o que excede em muito a potência declarada de 150/8 e 300/4, mas já tem um circuito de protecção para impedâncias mais baixas (480W/2 ohm e 280W/1 ohm).
Esta medida cautelar da relação constante potência-impedância é imposta pela alteração de outra das características marcantes que contribuía para o som Krell: a opção por uma impedância de saída (relativamente elevada para um amplificador a transístores) e que foi agora drasticamente reduzida para 4 x menos (<0,023 ohm/20 Hz. O factor de amortecimento (>347, 20Hz) subiu exponencialmente em conformidade, daí o excelente controlo do grave.
A esta tecnologia, o departamento de marketing da Krell deu o nome de XD-Xtended Performance e disponibilizou-a para ser aplicada como upgrade em todos os amplificadores da marca. Na página da Imacustica, pode ler-se a propósito:
‘Durante o desenvolvimento do amplificador integrado K-300i, a Krell observou melhorias sónicas substanciais ao diminuir a impedância de saída para níveis inferiores ao tradicional. Consequentemente, decidiu aplicar esta técnica à gama atual de amplificadores. As melhorias foram tão substanciais, que necessitaram de uma nova designação - "XD”.’
O Tempo e a Música
Não testava um Krell, desde que Dan D’Agostino saiu da empresa. Tenho antes seguido a sua nova carreira, como quem muda de restaurante para ir atrás do cozinheiro cujos pratos aprecia e gosta de divulgar urbi et orbe.
Dou, como exemplo, os testes que publiquei na revista Hi-Fi News sobre os D’Agostino Progression Preamp e Progression Monoblocks, que podem ler na íntegra, em formato pdf e em língua inglesa (clique sobre os títulos se pretender ler já, ou continue a ler e abra os pdfs no final da página).
Ou este ‘Dan D’Agostino Master and Commander’, sobre o amplificador Momentum Stereo, publicado em 2013 no Hificlube, em língua portuguesa, com referências a Fernando Pessoa e tudo…
A título de curiosidade, anexo também, no final do artigo, os pdfs de artigos que publiquei há quase 20 anos, no DN/DNA sobre Dan e a Krell, mas que não perderam a actualidade, pois mostram onde o K300i foi beber as influências: ‘O Tempo e a Música’ e ‘Krell FBP 400CX’ .
Exercício de crítica comparada
Rondi D’Agostino continua a ter a sua rede de contactos e sabe a importância que os influencers têm no mercado. Aliás, teve comigo a mesma amabilidade, ao convidar-me pessoalmente para testar o K300i, mesmo sabendo que a nível global a minha influência é nula, sobretudo quando escrevo em Português.
Assim, antes de me chegar às mãos, cortesia de Manuel Dias, da Imacustica, o Krell K300i já tinha sido testado por tudo o que é revista de áudio: das internacionais What Hifi? à Hifi-News, da Absolut Sound à Tone Audio, Home Theater e à Audio nacional.
As ‘reviews’ estão disponíveis na internet, pelo que aconselho os leitores a fazer um exercício de crítica comparada, incluindo esta minha humilde opinião, e depois vão ouvir e decidam em consciência.
De uma maneira geral, todas estas ‘reviews’ alinham pelo mesmo diapasão, na forma e no conteúdo.
A arte do copypaste
Abrem com uma breve introdução, a que se tenta dar um toque pessoal, seguindo-se a apresentação e descrição física e tecnológica, tirada a papel químico da press-release ou do manual do fabricante. No caso das revistas publicadas em língua inglesa, está facilitado pelo copy-paste. Não surpreende, pois, que, lendo uma, fica com a sensação de já ter lido todas.
Assim, ficamos a saber que, além da incorporação das já acima referidas tecnologias, como a iBias, uma espécie de Classe A ecológica e a topologia Krell Current Mode, com circuito diferencial da entrada até ao último andar de ganho, o K300i tem um transformador toroidal 771VA com 80.000 uF de capacidade (e principal responsável pelo peso de 24 quilos de peso), que lhe garantem agudos extensos e um grave extremamente dinâmico, segundo a Krell.
Segue-se a descrição física que a simples observação da fotografia dispensaria, mas que faz parte do trabalho de casa do crítico e, nas revistas impressas, serve para encher papel (os críticos são pagos à palavra…).
A caixa em alumínio, com 43 cm de lado e apenas 10 cm de altura, apresenta-se em preto ou prata (no meu caso) e tem um espesso painel frontal, com um bojo central cilíndrico, que exibe o logotipo da Krell e a identificação do modelo; ladeado por duas abas planas.
Do lado esquerdo, as setas de navegação e os botões de selecção de fontes e menu; do lado direito, o mostrador alfanumérico e os botões de regulação do volume. Uma entrada USB A denuncia que o K300i é mais do que um amplificador integrado e oferece a opção por um módulo digital com DAC e Streamer incluído, já lá vamos.
…o K-300i tem saída para auscultadores, segundo a Hifi-News. Olhem que não...
Numa das legendas da crítica da Hi-Fi News, fiquei até a saber que o K300i tem uma ficha para auscultadores (!!?), que Andrew Everard, ou quem escreveu a legenda por ele, confundiu com o receptor de infra vermelhos do controlo remoto. As gralhas acontecem aos melhores, em especial se estiver a olhar apenas para a foto. A vantagem do Hificlube é que, quando metemos água, podemos corrigir mesmo depois de publicado. Uma vez publicado no papel, já não há volta a dar…
Por acaso, eu até gostava que fosse verdade, pois gosto muito de ouvir música com auscultadores e o controlo remoto é pesado, pouco funcional e as dezenas de pequenos botões de alumínio (muitos dos quais não servem para nada) fazem lembrar um instrumento musical de percussão: as maracas.
Mesmo assim, o remoto é preferível à navegação no painel que é pouco intuitiva, à boa maneira de quase todos produtos highend que, em termos ergonómicos, têm muito que aprender com o hifi mainstream. Eu acho que é para os críticos terem alguma coisa secundária para dizer mal…
Segue-se a visita obrigatória aos bastidores (painel traseiro), que a fotografia do dito de igual modo dispensaria, com a enumeração e descrição das várias fichas de entrada e saída:
Além dos terminais para colunas, a secção analógica tem saída para atacar um amplificador externo ou subwoofer (RCA), duas entradas balanceadas (XLR) e três entradas de linha (RCA). No menu, é possível configurar uma das entradas para o modo Theater (bypass), funcionando o K300i apenas como amplificador de potência integrado num sistema AV. Também se pode compensar as diferenças de ganho entre fontes nas diferentes entradas (Level Trim) e seleccionar o filtro digital: Minimum Phase ou Linear Phase.
As fichas que servem o módulo digital estão arrumadas na parte superior do painel traseiro: coaxial (192kHz), óptica (96kHz), USB-B 2.0 (192kHz e DSD128), Ethernet (para as funções de streaming comercial ou de um NAS doméstico) e duas entradas e uma saída HDMI (192kHz/DSD128 e 4K HDR). Já vamos ver como esta opção é mais importante do que simples ligação a uma TV (audio return channel) para ouvir o som através do sistema.
A função de Streamer do módulo digital é controlada pela App mconnect Control, gratuita na Apple e Google App Store, e é compatível como Roon, Spotify, Tidal, Deezer e Qobuz (esta última não disponível em Portugal, mas há formas de a subscrever).
Nota: Na Apple App Store, também está disponível a App Krell mconnect mas não funciona. Opte pela mconnect Control ou Lite.
O módulo digital é compatível com MQA/Tidal. Todos os críticos o referem, porque está no manual, mas parece que eu fui o único que testou esta função, e fiz descobertas interessantes que revelo adiante.
O K-300i vem equipado com Bluetooth HD Qualcomm aptX. Como se sabe, os iPhone não são fully compatible como aptX, ao contrário de alguns modelos Android. A qualidade do som, sobretudo com Tidal Master, é mesmo assim aceitável.
A crítica da crítica
Finalmente, eis-nos chegados à audição crítica, a opinião dita subjectiva. A maior parte dos leitores só começa a ler a partir daqui, quando não salta logo para a conclusão, pois sabe tão bem como nós que tudo o resto é ‘palha’ para encher.
Por isso é que eu gosto de colocar pequenos teasers na descrição, como os referentes à compatibilidade MQA, à importância da saída HDMI ou à misteriosa existência de uma saída para auscultadores, só para compensar quem teve a paciência de ler tudo. Bem haja.
O crítico mune-se de meia-dúzia de discos de que gosta, sobretudo CDs e de alguns files e um ou outro SACD (quanto mais raros melhor) e passa a perorar sobre o que ouviu.
De uma maneira geral, os meus ilustres colegas foram unânimes sobre os principais aspectos que definem a qualidade do som do K-300i. Passo a transcrever breves excertos com a devida vénia, e com os quais tendo a concordar:
‘...it has a big, clean sound that’s as much about clarity and finesse as it is all-out power and drive’. Andrew Everhard, Hifi-News JUL 2019
‘…produces what is arguably the tautest bass we’ve heard from any amplifier at this level.’ What HiFi?
‘Retaining the dynamics and forceful low end that’s made Krell famous with audiophiles the world over, the K-300i is more nuanced and natural in its musical delivery’. Gregory Petan, TONEAudio
…’O K-3001 demonstrou uma solidez e uma visceralidade, que me fizeram lembrar os Krell de outros tempos…’ João Zeferino, Revista Audio & Cinema em Casa, Setembro/Outubro 2019
E podia continuar, pois nenhum deles teve dificuldade em constatar o óbvio: o K-300i tem o poder dinâmico intrínseco dos Krell de antanho, sem a ‘brusquidão’ associada à força bruta, que decorre do significado do seu nome em alemão antigo: ‘Brusco’.
É um amplificador consensual na abordagem aos temas musicais, sem impor em demasia a sua personalidade vibrante e dinâmica, revelando-se neutro q.b, muito linear e mantendo a proverbial capacidade de pára-arranca, com excelente resposta a transientes.
Coca-Cola Zero: todo o sabor menos açúcar
O que mais impressionou no K-300i parece ter sido a elasticidade e tensão do grave, que é também a principal alteração ao tempero original. Digamos que é uma espécie de coca-cola zero: sabe ao mesmo mas engorda menos.
Um factor de amortecimento mais elevado é como dar rédea curta a um garanhão, não o deixando tomar o freio do som. Isto tem vantagens e desvantagens. O tradicional grave imponente – e por vezes excessivo – dos Krell dos anos 90 não desce agora tanto mas também não passa a fronteira dos médios a salto. E o agudo tem mais extensão e menos grão.
Claro que tudo isto começou por serem apenas suposições ou ‘educated guessing’, pois, não tendo eu comigo um Krell dos antigos para comparar e muito menos um par de Apogee (oxalá tivesse!), estava a basear a minha opinião apenas na memória. E utilizar um par de monitoras Concertino para tecer considerações definitivas sobre a extensão dos graves seria, no mínimo, ‘wild guessing’.
Tal como Oscar Wilde, eu tenho a plena consciência de que:
‘ A little sincerity is a dangerous thing, and a great deal of it is absolutely fatal’
Assim, antes de me pronunciar por escrito, fiz audições complementares, tendo utilizado na avaliação o sistema, que podem ver na fotografia abaixo, montado com a amável e eficiente colaboração da equipa da Imacustica, com um par de colunas que conheço bem: as Wilson Audio DAW. E ainda um Krell, dos ‘antigos’, o KSA 100S, como termo de comparação. Algo que nenhum dos meus ilustres colegas se deu ao trabalho de fazer.
Nota: ler sobre a comparação Krell K-300i vs Krell KSA100S no final do artigo
A opinião da opinião (alheia)
O que mais me deixou perplexo nas conclusões a que chegaram os meus ‘honourable colleagues’, como lhes chamaria John Bercow, o Speaker da Câmara dos Comuns, foi terem utilizado na avaliação sobretudo CDs, alguns SACD e um ou outro ficheiro HD, que nunca foi além dos 192kHz. MQA? Nada. Como é que sabem que é compatível?
Por exemplo, como foi transmitido para o K300i o sinal dos CDs? Via cabo coaxial, optando assim pelo DAC do módulo digital, ou via analógica com cabos de ligação?
É que, no caso dos SACD, não é possível transmitir sinal DSD (Direct Stream Digital) via coaxial, muito menos óptica. E não vi nenhuma referência ao facto de isso ser possível via HDMI! Basta utilizar um leitor Universal da Oppo. Até agora só tinha conseguido ‘sacar’ o conteúdo digital de um SACD utilizando uma Playstation 3 da primeira geração, porque a Sony se equivocou e, quando descobriu a ‘porta aberta’, já era tarde. Mas fechou-a nos modelos seguintes.
Nota: na Imacustica tentei transmitir sinal DSD entre um leitor-Universal Sony e o K-300i via HDMI e o circuito de protecção bloqueou imediatamente, permitindo apenas a transmissão de PCM Stereo.
Dark Side Of The Moon em DSD via HDMI
Pelo que se ouviu, HDMI não serve apenas para ligar o K-300i à televisão, função na qual também melhora em muito a imagem, quase como se fizesse upsampling.
Coloquei o SACD de Dark Side of The Moon na gaveta do Oppo BDP-95EU. Liguei-o ao K-300i via HDMI, pressionei Play e voilá, no mostrador surgiu HDMI DSD Stereo. Se o ligar com cabo coaxial, não vai ouvir nada, a não ser que reproduza a camada Red Book a 44,1kHz (SACD híbrido).
A Krell já agora podia ter ido um pouco mais longe e integrar um DAC compatível com DTS e Dolby Atmos. Mesmo sendo apenas AV em 2-canais. Aliás, já são poucos (e, sobretudo, poucas...) os que toleram cinco colunas dentro da sala.
Para reproduzir o Blu-Ray de This Is It, de Michael Jackson, no Oppo, liguei-o ao K-300 por HDMI e este a um monitor TV, também por HDMI. Som PCM Stereo de grande qualidade e uma imagem de elevada resolução, com excelente contraste e talvez apenas um pouco de saturação a mais, facilmente corrigida.
Estamos aqui, portanto, perante uma importante dupla mais-valia do módulo digital: ‘aceita sinais sob formato .dsf (DSD Storage Facility)’ via HDMI e não apenas USB B, além de vídeo até 4K e HDR.
Nota: parto assim do pressuposto, quiçá abusivo, de que os meus queridos colegas ouviram os SACD descodificados pela fonte e não pelo DAC do K-300i. E, provavelmente, os CDs também…
Ser ou não ser MQA Studio, eis a questão
O K-300i não é bem um Streamer é mais um Renderer. Para navegar na Tidal exige, além da subscrição Hifi/Master, a App mConnect instalada no iPhone ou no iPad. Sempre que se reproduz uma faixa codificada em MQA, surge no mostrador a certificação MQA Studio com a respectiva frequência de amostragem.
O K-300i não é compatível com ficheiros MQA nativos como os que tenho armazenados no NAS e em disco rígido. Ou seja, são correctamente reproduzidos, mas não surge no mostrador a certificação MQA Studio de que estamos a ouvir uma cópia da matriz original.
Mas vai muito além do que promete o manual (e do que transcreveram os meus colegas críticos) pois é fully compatible com streaming MQA da Tidal até 352.8kHz (ver foto acima)
Os milhares de faixas disponíveis em MQA na Tidal têm resoluções entre 44,1 e 192 kHz. A maior parte são a 88,2 ou 96 kHz. Mas há também álbuns da etiqueta 2L a 352,8kHz, como o Magnificat de Andersen, que soa glorioso e… divino.
Resolução digital máxima: 192kHz/24-bit? Olhem que não…
Mas a resolução máxima do DAC do K-300i não é 192kHz? pergunta o leitor mais atento, depois de ler todas as críticas já publicadas. De facto, assim é, também achei estranho e fui investigar.
Segundo o manual o K-300i é compatível com DSD128 nativo, que é reproduzido no JRiver a 11,2MHz, com a informação ‘no changes made’. Já se eu tentar reproduzir um ficheiro DSD256, dá-me como opção fazer o downsampling para PCM 176,4kHz. Até aqui tudo bem, aqui confirmam-se as especificações.
Mas no manual e nas press-release (e nas críticas) também se pode ler que a resolução máxima é 192kHz/24-bit e o K-300i reproduz sem problemas ficheiros PCM384kHz sem qualquer aviso do JRiver de que está a fazer downsampling.
Mandei um email à Krell que me esclareceu amavelmente:
The DAC is limited to 192kHz/24-bits for PCM signals, which would include MQA played from any source. The display may indicate the original sample frequency, which is generated from the file’s meta-data. Audio resolution higher than 192kHz is getting down-converted by the source as the digital module in the K-300i tells the source what it can accommodate and the source will adjust its output accordingly.
Parece que, afinal, é tudo downconverted para 192kHz/24-bits. Mas eu não acreditei nesta explicação de que ‘the source will adjust its output accordingly’. E disse-lhes isso mesmo. Se assim fosse, o JRiver informava imediatamente que a resolução à entrada era diferente da resolução à saída. E o algoritmo do MQA não ia certificar um ficheiro como MQA Studio 352,8kHz se apenas fosse 176,4kHz.
Voltei à carga. A resposta veio rápida:
‘I am told that the digital streaming module we use is only good up to 192kHz/24-bit’
‘I am told’. Hum, parece que o meu interlocutor também não tinha bem a certeza de que assim era. E, de facto, não é. Fui ao catálogo do fabricante do chip:
The ES9028PRO handles up to 32-bit 768kHz PCM, DSD256 via DoP and native DSD1024 data in master or slave timing modes.
Estamos perante um caso único: um fabricante que divulga especificações abaixo das capacidades do produto. O contrário é mais vulgar. O mesmo se passa em relação à potência que é muito superior à declarada.
Insisti, mandei-lhes as fotografias e, antes do fecho deste teste, recebi, agora do departamento técnico da Krell, a seguinte informação que confirma as minhas suspeitas:
‘Pertaining the USB input, we were mistaken. We do support the 384kHz directly.’
Quem procura sempre alcança. Eu procurei. Houve quem não o fizesse...
A prova dos nove
O Krell K-300i soa realmente como um Krell ‘dos antigos’? Só havia uma forma de o provar: era comparar ambos no mesmo sistema com a mesma fonte e as mesmas colunas e cabos. E foi o que fiz com a indispensável colaboração de Paulo Soares e Pedro Duarte, da Imacustica – Lisboa.
Quis o destino que um Krell KSA-100S estivesse na Imacustica para afinação da polarização (já concluída) e o seu dono acedeu amavelmente a que fosse incluído neste teste único. O Krell KSA-100S já utiliza a tecnologia Sustained Plateau (agora iBias) e tem uma potência real semelhante.
Como fonte, foi utilizado um Vivaldi One, que não é o ideal para atacar o DAC do K-300i, pois não tem nem saída digital coaxial nem HDMI. Mas o que se pretendia aqui era comparar os ‘amplificadores’, e aí o Vivaldi One tem argumentos incomparáveis nas saídas analógicas balanceadas, e o K-300i ficou assim com uma dupla função: prévio (para atacar o KSA-100S) e amplificador integrado.
A primeira comparação inevitável é visual. Ao pé do K-300i, o KSA-100S é um monstro pesado de metal preto, com dissipadores do tipo rapa-canelas, bem ao gosto da época, em que ainda se pensava que: ‘os amplificadores e os homens querem-se feios e a cheirar a… cavalo!’
Na comparação sónica, é imediatamente óbvio que partilham o mesmo ADN. Mas são diferentes. E nada melhor que um par de Wilson Audio Sasha DAW para tirar-teimas.
Digamos que o KSA-100S ainda tem o tempero ‘D’Agostino’: mais redondo, mais escuro, com menos extensão do agudo e com um grave mais enfático e profundo, que dá corpo aos registos médios inferiores e se apresenta numa textura envolvente de tecido macio e quente.
O K-300 não é só mais moderno nas especificações (e no design!). Tem também um som mais jovem, mais aberto e mais focado, com excelente inteligibilidade; e um grave mais seco, rápido e definido de grande qualidade.
No KSA-100S há uma maior homogeneidade sonora, o que confere algum aparente ‘conforto’ musical subjectivo ao ouvinte, dispensando-o de se concentrar nas partes para se deleitar no todo; o K-300i, até pela sua ‘juventude’, gosta de chamar a atenção para os pormenores, exibe maior separação dos intervenientes em palco e apresenta a música de uma forma mais frontal – não me refiro ao posicionamento mas à atitude…
O ‘timbre da voz’ é exactamente igual, como as vozes de um pai e de um filho, que tantas vezes confundimos ao telefone. O KSA-100S com nuances de barítono, o K-300i de tenor heróico.
Conclusão
O Krell K-300i Digital (9.900€) é um amplificador integrado moderno no design e nas funcionalidades, com especificações muito superiores às declaradas (ler artigo na integra), tanto na vertente analógica como digital (da potência à resolução) e com uma ligação HDMI de potencialidades surpreendentes, sendo compatível com DSD e 4K HDR.
Ao contrário do que sucedia no século passado, os Krell têm concorrência europeia de peso dentro da categoria de preço dos 10 mil euros. Mas não são Krell – um apelido que, estou certo, vai voltar a ter no presente o prestígio do passado.
Para mais informações: IMACUSTICA