O Lumin Network Player foi o maior desafio que já enfrentei no campo digital. Senti-me como um ratinho de laboratório, que tem de percorrer um complexo labirinto informático, até atingir o delicioso queijo: DSD nativo.
Ao contrário de outros “players” e “DACs”, que se ligam a um PC por cabo USB, e cumprem de imediato a sua função, o Lumin precisa de um disco NAS para armazenar a música e funciona apenas via rede, ligado ao seu router de internet (o da Zon funciona e tem a vantagem de aceitar pendrives) por cabo CAT 6 (250Mhz): não é tecnicamente possível fazer streaming de DSD sem fios - e sem soluços - devido à quantidade de informação que é preciso transmitir.
Mas há mais: vai precisar de um iPad (iPad mesmo!) para correr o Lumin app que controla todas as suas funções. Acontece que, descarregado o app, chega-se afinal à conclusão que não é possível aceder a todos os ficheiros musicais que estão no disco NAS, sobretudo os que têm terminação .dff. Ou seja, tinham logo de ser os ficheiros DSD nativos, que são à partida a principal razão para investir num Lumin!...
Nota: quando ouvir o Lumin reproduzir cópias de CD em resolução nativa, upsamplada até 176,4kHz ou mesmo DSD, vai rapidamente perceber que há muitas outras razões que justificam o investimento de cerca de 6 mil euros, incluindo a reprodução bit perfect de ficheiros digitais de todas as resoluções nativas conhecidas ao cimo da terra, do MP3 ao DXD!
Para chegar ao pote, é preciso esforço (e conhecimentos de informática)
Para que o iPad “veja” os tais ficheiros .dff (atenção: eu não escrevi “reproduza”, porque isso está exclusivamente a cargo do Lumin) tem de instalar também, desta vez no seu PC ou portátil, o MinimServer (há outros programas mas este é gratuito e aconselhado pela própria Lumin).
Nota: o portátil pode estar ligado ao router por wireless, porque se limita a alojar o dito programa, não interfere na conversão/reprodução.
MinimServer que, por sua vez, não é fácil de configurar. Está confuso? Também eu. E ainda há quem pense que afinar braços e células de gira-discos é complicado. Era muita areia para a minha camioneta, apesar de já ter milhares de quilómetros de áudio digital, pelo que solicitei a colaboração do meu filho Pedro Henriques, que pôs tudo a funcionar sobre rodas em pouco mais de meia hora. Olha, afinal era fácil!...
Nota: a avaliar pela forma como o meu neto de 5 anos utiliza o iPad e joga World of Warcraft no computador, a capacidade “informática” deve estar na razão inversa da idade, pois comigo o “guerreiro” recusa-se a cumprir ordens e vai para onde quer.
O potencial interessado em comprar o Lumin tem, claro, a excelência do apoio técnico da Ultimate Audio Elite, pelo que pode e deve começar a ler esta “novela digital” a partir da Fascículo 2. Deste modo, nunca vai saber como foi possível chegar ao “queijo” tão depressa.
O nosso querido líder diria “ir ao pote”, porque o formato DSD (Direct Stream Digital), que está na base do SACD, é o proverbial pote de oiro que, reza a lenda, está no fim do arco-íris digital, e iria arrumar de vez com a polémica analógico/digital. Será assim?
S. Francisco HighendShow 1997
A primeira vez que ouvi DSD foi, em 1997, muito tempo antes de se falar em SACD, portanto. A Sony estava na altura a promover o DVD, e apresentou as primeiras colunas DSP do mundo. A reportagem foi publicada no DNA.
On the side, a Sony divulgou o formato DSD que tinha criado para proteger os arquivos analógicos da Columbia/RCA, nos quais tinha investido milhões. E trouxe uma parafernália técnica numa van para provar que a cópia digital era exactamente igual ao master analógico, pelo que o património discográfico dos séc. XX estaria assim protegido para todo o sempre.
Quando ouvi DSD nativo, pensei: qual LP, qual CD, qual carapuça! A estrutura intrínseca e densidade de informação só era comparável a um master a 30 ips de Brother Where You Bound, dos Supertramp, que tinha ouvido nos estúdios da EMI, em 1985.
Dois anos mais tarde, em Milão, a Sony apresentou-me o SACD. Ouvi, gostei, ainda gosto, mas não era mesma coisa. Porquê? Os ficheiros nativos (no SACD têm a terminação .dsf ) são comprimidos pelo algoritmo de codificação dst para “caber” no disco, sobretudo os multicanal mas também muitos estéreo.
Quando ouvir um ficheiro musical DSD puro e duro vai perceber a diferença (duro aqui refere-se apenas ao disco rígido, atenção...). Ora o Lumin é actualmente um dos poucos veículos digitais que o permitem, sem precisar de hipotecar a casa.
Nota: a dCS, como sempre, é pioneira no domínio digital, e o Vivaldi é o melhor exemplo disso, mas custa uma pequena fortuna.
Agora, pergunta o leitor: não há para aí já tantos DACs muito mais baratos que reproduzem DSD? E o próprio JVH não testou recentemente o Wadia Intuition que “converte este mundo e o outro” na perfeição?
Sim, é verdade. Mas todos eles reproduzem DSD via DoP (DSD over PCM). Então e não é a mesma coisa? Sim, é “quase” a mesma coisa. Talvez por isso eu tenha preferido o DXD ao DSD com o Intuition (ler teste em Artigos Relacionados). Há até quem diga que é exactamente a mesma coisa.
De facto, o PCM aqui funciona como uma “portadora” do sinal DSD. É um protocolo de transmissão por USB, concebido pelo génio de Andreas Koch, da Playback Designs, também distribuida pela UAE, e que é a única marca que ombreia com a dCS na inovação tecnológica.
A verdade é que, embora não seja “reconvertido” para PCM, quase todos os DACs anunciam o sinal DSD64 como 176,4kHz; e DSD128 como 352,kHz (que são as frequências PCM a 24 bit correspondentes).
O Intuition, que utiliza o mesmo DAC chip Wolfsen do Lumin, obriga a configurar o Media Player (J.River) para DoP, mas no mostrador aparece, de facto, DSD64 e DSD128, pelo que não serve “gato por lebre”. Simplesmente, o gato é simpático e leva a lebre ao colo para a ajudar a passar no cabo USB, para utilizar uma linguagem simples e evitar maçar os leitores com questões demasiado técnicas, disponíveis na internet para os mais audazes...
Nota: o Intuition reproduz DSD128 (5.6448MHz), o Lumin não vai além de DSD64 (2.8224MHz). Do mesmo modo, o Lumin não funciona com cabo USB (nem, aliás, com qualquer outro cabo, além do CAT (cabo de rede), pois não tem entradas digitais, só saídas! (além das analógicas, claro), uma lacuna que, sendo o Lumin de arquitectura aberta, pode vir a ser em breve colmatada: as fichas estão lá mas, por enquanto, só servem para fazer updates de software...). Com um DAC desta qualidade uma entradazita, nem que fosse coaxial SPDIF dava jeito...
LUMIN Network Player - Fascículo 2: grandes esperanças (great expectations)
Lumin Network Player - Fascículo 3: em harmonia com a natureza da música
(continua)