Depois do teatro dos sonhos (as Wamm), JVH assenta os pés na terra para ouvir Melody X, o homem-orquestra da Marantz, um sistema polivalente que custa tanto como um parafuso do D’Agostino Relentless: 800 euros! E explica tudo numa linguagem acessível aos jovens...
A Marantz é uma empresa que aos 65 anos continua jovem de espírito, e sabe responder às solicitações da vida moderna, com base numa fórmula ganhadora que engloba: design, ergonomia, especificações e performance, tudo a um preço acessível, sem comprometer a qualidade.
O sistema integrado Melody X, nome de código M-CR612, constitui-se como o ‘factor X’ desta política comercial, pois por apenas 800 euros oferece: um leitor-CD, rádio FM/DAB, leitor de música em rede (streaming), DAC PCM 26 bit-192kHz e DSD 128, conectividade USB e tecnologia HEOS com app de controlo e funcionalidade multiroom.
Além das ligações analógicas clássicas RCA e digitais: 2 x Toslink para fontes externas, incluindo a TV; ‘analogue out’ (fixo e variável) para um amplificador externo; e Subwoofer Pre-out para ligar um ‘sub’ extra. Todos os sinais analógicos e digitais são previamente processados por default para uma única frequência de amostragem PCM.
Não falta nada
Falta alguma coisa? Andar de Phono para o gira-discos? Será que a este nível e com este ‘target’ faz realmente falta? Duvido. De qualquer forma, todos os sinais analógicos são processados digitalmente. Entradas balanceadas? You are joking, right?!...Por menos de 800 euros, era o que mais faltava… (perdoem-me o jogo de palavras).
Tudo isto num chassis único que incorpora 4 amplificadores de 30W (Classe D), que podem ser utilizados para alimentar dois pares de colunas em salas diferentes (com controlo de volume independente), um único par em ponte (Modo BTL: 2 x 60W), ou bicablado/biamplificado, com amplificação separada para as secções de graves e médio-agudos em cada canal.
Nota: neste último caso, pode ‘jogar’ com o controlo de volume independente para reforçar o grave ou controlar o médio/agudo, embora o Melody X disponha também de controlos de tonalidade.
Tracção às 4-rodas
Esta versatilidade de ‘tracção independente às 4-rodas’ (four wheel drive) pode ser explorada ainda de uma outra forma que nem a Marantz se atreveu a sugerir, partindo do princípio que a terra é comum aos 4 amplificadores: criar um sistema Haffler surround básico, tirando partido do controlo de volume independente.
E como? pergunta o leitor. Simples. Liga o par de colunas principal (colocado à frente) ao andar de saída A, em fase; e os positivos do par secundário (atrás) ao andar de saída B, ligando os negativos de ambas as colunas traseiras apenas entre si.
Depois regula o som dos canais traseiros para que se oiça ‘ambiência’ q.b. e obtém assim uma sensação de espaço extra, que normalmente resulta muito bem com gravações de concertos ao vivo e filmes.
Nota: a Marantz também tem no seu vasto portfolio sistemas multicanal para aplicações AV, portanto se é essa ‘a sua praia’ dê antes uma vista de olhos ao catálogo geral, porque não é esta a função natural do Melody X.
Para conceber o Melody X, a Marantz fez uma lista completa das funções e especificações mais procuradas actualmente pelos potenciais compradores. Para que não restassem dúvidas, não deixou nenhuma de fora e oferece-as a todas (ver acima) num belíssimo cofre compacto, de cantos boleados, em preto ou dourado, com um amplo painel OLED (informação numérica e de texto branco em fundo negro) e comandos lógicos e fáceis de utilizar com ou sem controlo remoto. Um mimo.
O painel frontal é simétrico: na zona central temos a gaveta do leitor-CD, o mostrador OLED e, em baixo, o botão on/off distingue-se pelo tamanho, sendo ladeado por botões de regulação de volume, selector de entradas e ‘back’ (retorno). Nas laterais, encontra botões circulares do tipo toggle switch para navegação do menu (à esquerda) e do leitor-CD (à direita). Todos estes comandos estão duplicados no controlo remoto, pelo que a função no painel é pouco mais do que cosmética.
Nota: por exemplo, se pretender navegar no menu com estas teclas, primeiro tem de activar o ‘setup’ no controlo remoto e não há razão para não continuar a configuração remotamente.
Claro que a Marantz teve de poupar em algum lado para poder vender a este preço. O Melody X é fabricado no Vietnam e, embora pareça de metal, a caixa é construída em plástico. Mas os acabamentos – e provavelmente a durabilidade – são de primeira ordem para um produto de baixo de gama.
Instale a App gratuita no seu telemóvel e sinta-se na sala de controlo da nave Star Trek Enterprise. Pode falar com Alexa, do planeta Amazon, ou com Siri da galáxia Apple…
É com um ‘telemóvel na mão’ que, tal como os jovens de hoje, o Melody X mostra todo o seu potencial. Instale a App HEOS gratuita e sinta-se na sala de controlo da nave Star Trek Enterprise. Pode falar com Alexa, do planeta Amazon, ou com Siri da galáxia Apple via Air Play 2. Ou ainda fazer streaming do seu iPhone ou iPad e até de uma Apple TV; enquanto o Bluetooth lhe permite comunicar também com ‘andróides’.
Os subscritores mais exigentes têm ligação privilegiada à Tidal e Spotify (Deezer, Napster, etc, estas não disponíveis em Portugal, creio).
E, claro, a App dá-lhe ainda pleno acesso a música registada numa pen drive (via USB) ou num NAS (via Ethernet) onde guarda a sua preciosa biblioteca musical.
Está cansado de ouvir sempre a sua colecção? Pode optar pela rádio FM/DAB(?) e Internet radio (Tune-In).
E foi por aqui que começámos, depois de montarmos a antena em T e ligarmos o Melody X a um par de Sonus Faber Concertino, e não sem antes fazer um update exigido pelo sistema que demorou uns 10 minutos.
O sistema DAB foi desligado em Portugal, em 2011, portanto só o FM funcionou. Mas quando se tem o Tune IN, com centenas de rádios disponíveis na Internet, em todas as línguas do mundo, ainda que com qualidade muito variável (de 48 a 192 kbs), a FM só interessa para ouvir no carro.
Depois, experimentei as funções Bluetooth e Streaming, que me deram acesso à Tidal, tanto através da App Heos como da App da própria Tidal (esta com a mais recente configuração Master). O modo Bluetooth não utiliza o mais recente receptor aptX HD que, de qualquer modo, não é compatível com iOS - só Android. A qualidade é, ainda assim, bastante aceitável.
Quando passei para as fontes CD e o meu arquivo NAS com ficheiros de alta resolução, achei que era altura de ligar o turbo, ou seja, passar para o modo Parallel BTL (2 x 60W em ponte). A diferença não é subtil: mais autoridade, sobretudo no grave, e maior projecção e ataque. Portanto, se pretende utilizar apenas um par de colunas é este o modo ideal. Tenha também o cuidado de configurar a resposta (Response) para Flat (linear) e nunca active o Dynamic Bass (uma variante de ‘loudness’), em nenhuma circunstância: mais grave não significa melhor grave.
Os melhores resultados foram obtidos com streaming de ficheiros de alta resolução a partir do meu NAS Synology. O Melody X é compatível com MP3, WAV/FLAC/ALAC PCM 24bit/192 e DSD128. Quanto tentei tocar ficheiros DXD e DSD256, surge no ecrã a mensagem Unable To Play. Mas consegui reproduzir sem problema um ficheiro AIFF 24-bit /174,4kHz.
O amplificador de auscultadores cumpre bem a sua função, sobretudo se utilizar auscultadores dinâmicos. Quando liga os auscultadores, o andar de saída das colunas desliga automaticamente. Eu utilizei um par de auscultadores Pryma com razoável sucesso. Mas tenha cuidado ao introduzir o jack: o contacto nem sempre foi perfeito, pelo menos no meu exemplar. Se isto acontecer, basta puxar ligeiramente o jack para restabelecer o contacto integral.
Conclusão
Em face da enorme versatilidade, tanto das funções digitais, como dos modos de amplificação em Classe D, que são o seu principal factor distintitivo; do design moderno e da ergonomia; e, sobretudo, da excelente relação preço/qualidade, o Hificlube recomenda aos leitores a inclusão deste Marantz CD Receiver Melody X M-CR612 na short list de quem pretende comprar um tudo-em-um, ao qual só precisa de ligar um par de colunas de estante; ou de-chão, se optar pelo modo de amplificação BTL.