A Marantz é uma espécie de pizzaria gourmet: o menu é vasto e os ‘pratos’ são simples, saborosos e acessíveis a todas as bolsas. Os miúdos adoram, os adultos também.
Sobre uma base com provas dadas, adiciona-se ao gosto do cliente a guarnição digital: DAC, Leitor-de-rede e leitor-CD (ND8006); ou com tempero analógico: etapa Phono e amplificação com módulos Hyper Dynamic (PM7000N).
Os modelos Marantz que têm passado pelo Hificlube são assim dos mais fáceis de testar - leia-se, provar. Basta ligar, fazer o ‘quick setup’ e colocar no forno musical.
Na Marantz, umas vezes sobressai o DAC, outras a função de streaming. No PM7000N, a estrela é o amplificador.
Preço/performance imbatível
De uma maneira geral, fico sempre surpreendido com a relação preço/performance. E não só porque tudo funciona como anunciado, mas porque a qualidade de som está muito acima do que seria de esperar de um produto desta categoria. Na Marantz, umas vezes sobressai o DAC, outras a função de streaming. No PM7000N, a estrela é o amplificador.
Já estou habituado a que o DAC cumpra bem até ao limite das suas especificações, com fontes externas via USB e SPDIF; e que a função de streaming me traga numa bandeja a Tidal e a Internet Radio sem hiatos ou hesitações.
Nota: Desta vez, porém, tive um problema com a ligação Ethernet ao meu NAS Synology, mas creio tratar-se de um problema de configuração, que ainda não consegui deslindar. Reconhece que o Synology está em rede, mostra as pastas de música, mas não as abre: ‘no items available’.
…o pequeno amplificador de 60W do PM7000N, por si só, justifica a compra…
No PM7000N, a secção de amplificação sobressai do todo elegante e funcional. Aliás, a excelência do pequeno amplificador de 60W do PM7000N, em termos de baixa distorção, dinâmica, transparência do palco sonoro, claridade da gama média, recorte do grave e surpreendente sentido rítmico, por si só, justifica a compra.
A Marantz nem se esqueceu que há cada vez mais adeptos do LP, e integrou uma etapa de Phono com base num FET (transístor de efeito de campo).
O resto é a deliciosa ‘guarnição’ digital das ‘pizzas’ Marantz que transforma cada audição numa agradável refeição musical.
Vejamos:
A secção de amplificação utiliza os módulos hiperdinâmicos HDAM, integrados num circuito de realimentação de corrente, que tem provado melhor em termos de naturalidade do som que a realimentação de tensão.
HEOS na torre de controlo
O PM7000N e, em particular, a secção de leitor-de-rede (streaming) é controlada pela excelente aplicação HEOS, disponível para Android e iOS, e é compatível com Amazon Music (HD), Spotify Premium e Free (isso mesmo, nem precisa de assinatura), Tidal, claro, e Deezer. Eu utilizo Tidal, mas é bom saber que há outras alternativas.
Se não gosta de ter o telefone ocupado, embora possa utilizá-lo simultaneamente, o PM7000N tem um painel OLED (text only) muito informativo, que pode navegar com o botão rotativo de selecção de fontes e o toggle multifunção.
Com iPhone ou iPad tem a acessibilidade AirPlay2 para controlo fácil de streaming, incluindo via Bluetooth. Se é adepto do controlo por voz, tem acesso via Amazon Alexa, Google Assistant e Siri (Apple).
O DAC é um Asahi-kasei AK4490EQ, substituindo o anterior Cirrus Logic CS4398, com especificação PCM 24-bit/192kHz e DSD 5.6 MHz.
Controlos de tonalidade
O PM7000N tem controlos de tonalidade (agudos e graves) e equilíbrio entre canais. Para os puristas, basta pressionar o comutador ‘source direct’ para os desactivar todos. O som ‘direct’ é sempre melhor, mesmo que os controlos de tonalidade estejam na posição ‘zero’.
Mas os controlos dão muito jeito quando se ouve música com auscultadores para corrigir a resposta em função do seu ouvido e gosto. O amplificador de auscultadores tem potência suficiente para levar um par de Hifiman HE1000 à apoplexia, coisa rara em produto tão acessível. Com auscultadores convencionais tenha muito cuidado com o volume…
Embora admita que, garantidas certas condições técnicas, o LP pode soar melhor que CD e/ou streaming, há muitos anos que me converti ao digital, e não tenho sequer um gira-discos.
Sou da velha guarda, mas abraço rapidamente a evolução tecnológica: ‘coisas’ como o streaming da Tidal. Já não tenho paciência para o ritual do LP, e oiço cada vez menos CDs. A Tidal é tão prática – e está lá tudo!
…a designação ‘N’ (de Network) é já um aviso à navegação, literalmente. E como ele navega bem…
Se é esta também a sua tendência actual, o Marantz PM7000N vai surpreendê-lo muito positivamente, sem desiludir os analogistas. Aliás, a designação ‘N’ (de Network) é já um aviso à navegação, literalmente. E como ele navega bem.
Do Red Book à alta resolução
Liguei-o à minha rede doméstica e a um par de colunas SF Concertino. E não precisei de mais nada para ouvir dezenas de discos a meu bel-prazer: entre eles ‘At Last’, o meu álbum favorito de Lou Rawls, que foi um dos muitos que utilizei para testar as Wilson Audio Sasha DAW para a revista Hifi-News.
A propósito de ‘At Last’ escrevi, então, isto:
At Last [Blue Note CDP 7 91937 2] is my favourite Lou Rawls CD. It has it all: soul, R&B, blues and jazz from an all-star line up that includes Ray Charles and George Benson – with their characteristic throaty voices – and Dianne Reeves who soars along without compression or limitation in ‘At Last’ and ‘Fine Brown Frame’, if somewhat enveloped in mild electronic reverb. Yet that’s the nature of the recording itself. The Sasha DAW simply gives you the truth. Some of the up-tempo tracks, such as ‘You Can’t Go Home No More’ and ‘Room With A View’ are propelled by Tinker Barfield’s bass and Chris Parker’s drums and the speakers nailed the rhythmic urgency in a manner that enthralled with its pace while saxophones, trumpet, trombone and flugelhorn flourished with their respective timbres perfectly portrayed.
É óbvio que estamos aqui perante uma realidade diferente, que nem por isso coarctou a minha fruição de um disco que conheço bem. E, apesar das naturais diferenças dinâmicas, tonais e de palco sonoro, tudo o que escrevi antes se aplica aqui também.
Nem só de ‘ 3 estrelas Michelin’ vive o crítico. De vez em quando, uma ida à pizzaria com a família pode ser uma festa!
Noblesse oblige, também ouvi muitas faixas seleccionadas em alta resolução: de ‘North Country II’ a 192kHz PCM, por Ola Gjeillo, aos Concertos para 2 Violinos de Bach em DSD, por Rachel Podger.
Habituado como estou a ouvir muitas destas faixas em sistemas e componentes highend, que custam centenas de milhar de euros, nunca senti que eu – ou os meus parentes – estivéssemos com os pés na lama por as estar agora a ouvir num modesto Marantz PM7000N, mais acessível (1.299€) que um par de cabos de ligação do sistema utilizado no teste das DAW.
Homenagem à paciência do leitor
Este teste é uma homenagem aos leitores que ao longo de décadas têm seguido e apreciado fielmente o meu trabalho sobre equipamentos inacessíveis, mesmo sabendo que nunca os poderão comprar. Eis a oportunidade de me redimir, logo na abertura do Anno Audiophilus 2020. A partir daqui é sempre a subir…
Nota: A Marantz é representada na península Ibérica, pela Sarte Audio, mas todos os modelos podem ser adquiridos na Imacústica e na loja OnOff, em Portugal.
Para mais informações: